14/03/2012

Porque não explode o país com 5.273.600 desempregados?

Tirado de Esquerda.net (aqui).  Artigo de Aurelio Jimenez, economista, publicado a 24 de fevereiro de 2012 em El blog salmon. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

Muitas pessoas perguntam como é que é possível que a estrutura básica do país se mantenha de pé com 5.273.600 desempregados.  

A negatividade impregnada no ambiente é terrível. Foto de Paulete Matos

A taxa de desemprego ascende atualmente a 22,85% e aproxima-se dos piores anos do governo de Felipe González, quando chegou a 24,55% em 1994. O certo é que naqueles anos nefastos a população espanhola era mais pequena e o método de cálculo totalmente diferente. Segundo uma análise do Banco de Espanha, se o desemprego daquele ano se calculasse com os critérios atuais equivaleria a 18,2%, o que nos dá uma magnitude da gravidade do problema. Na atualidade, no entanto, os números são cozinhados com sofisticada engenharia estatística e apesar disso superam os cinco milhões de desempregados.



Num país em que uma em cada quatro pessoas não encontra trabalho deveria existir uma crispação social que pusesse em xeque qualquer governo. No entanto, a sensação de calma no nosso país impregna o ambiente com uma falsa sensação de tranquilidade e de nenhuma gravidade. O que está a acontecer connosco? Porque é que esta situação tão dramática não nos faz sair à rua para queimar contentores e exigir soluções? No meu modo de ver, são várias as razões:

- O papel superprotetor da família. Muitos jovens abandonaram prematuramente o ninho familiar em anos de bonança económica: enquanto alguns optaram por partilhar a casa com amigos, outros casaram e deram rédea solta às suas histórias de amor. Com a sua posterior expulsão do mercado laboral, muitos destes jovens não tiveram outro remédio que voltar para casa dos pais, onde nunca lhes faltará um prato de comida em cima da mesa. O papel das famílias nestes casos foi crucial para que o transe do desemprego não destruísse as vidas destas pessoas.

- A economia subterrânea. Segundo um estudo da Fundación de las Cajas de Ahorros (Funcas – fundação das caixas de aforros) a economia subterrânea representa atualmente em Espanha cerca de 21,5% do PIB. Em termos de emprego calcula-se que entre os anos de 2006 e 2008 a economia subterrânea possa ter gerido quatro milhões de empregos. É cada vez mais frequente encontrar pessoas tecnicamente desempregadas que realizam trabalhos para complementar o subsídio de desemprego que recebem do Estado. Esta fraude tornou-se parte da idiossincrasia nacional e mantém-se descaradamente como invisível aos olhos da lei.

- A espera de tempos piores. A negatividade impregnada no ambiente é terrível. Em poucos meses, as pessoas passaram de negar a existência da crise (desaceleração, diziam) a tornar-se conscientes de que o pior ainda está para vir. Perante esta situação, ter trabalho converteu-se num privilégio quando na realidade é um direito constitucional. A cidadania mostra-se indiferente e resignada face a uma possível melhoria da situação económica, já que crê que esta não vai existir a curto ou médio prazo.

A mistura destas três variáveis converteu em suportável uma situação que é totalmente insustentável. E se acrescentarmos a isto a escassa confiança da população na classe política e a perda do espírito sindical, ao serviço do Estado há anos, qual é o resultado? Pois um país desmoronando-se e sem ilusões imerso numa espiral de autodestruição sem precedentes.

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