Os cortes devastadores nos apoios sociais à habitação vão provocar uma “limpeza social” na cidade de Londres, noticiou neste domingo o jornal Guardian.
Segundo autarcas locais da cidade, 82.000 famílias pobres, o que significa mais de 200.000 pessoas, podem ser expulsas da cidade, devido aos preços elevados das rendas e aos cortes nos apoios sociais à habitação, impostos pelo plano de austeridade anunciado na passada semana pelo Governo da coligação de conservadores e liberais-democratas.
Noutras cidades britânicas de rendas elevadas, como Oxford ou Brighton, poderá acontecer uma situação semelhante.
Em Londres, a política governamental tem o apoio do presidente da Câmara da cidade, Boris Johnson, e autarcas conservadores estão já a reservar instalações fora da capital (em Hastings, Reading e Luton), para desterrar as pessoas expulsas de Londres.
David Orr, presidente da National Housing Federation (Federação Nacional de Habitação), considera os cortes “verdadeiramente chocantes” e diz que se os ministros não reconsiderarem os “cortes punitivos” o plano levará a que mais pessoas durmam na rua, do que “em qualquer momento dos últimos 30 anos”.
Mas o governo de David Cameron e Nick Clegg pretende também prosseguir a política de privatizações iniciada por Margareth Thatcher e prosseguida por Blair. Como já vão escasseando os bens e serviços públicos, este governo quer privatizar cerca de metade dos 748 mil hectares de floresta do Estado, até 2020. Os movimentos ambientalistas exigem que os cidadãos possam usufruir das florestas, mesmo privatizadas. Os sindicatos do sector opõem-se à privatização.
O ministro das Finanças de Inglaterra, George Osborne, apresentou esta quarta-feira as novas medidas de contenção orçamental do Governo britânico.
Na Casa dos Comuns em Londres, o ministro explicou que o Governo pretende criar uma taxa permanente para o sector bancário, visando conseguir "o máximo de receitas sustentáveis" e disse ainda estar previsto o despedimento de 490 mil funcionários no sector público nos próximos quatro anos, embora parte desta redução dos quadros seja feita através do congelamento das contratações.
Este é o mais rígido pacote de austeridade do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial e tem em vista uma redução do défice orçamental do país em 156 mil milhões de libras (177 mil milhões de euros).
As medidas, que contemplam cortes orçamentais de 19%, em média, nos vários Ministérios (sobretudo nos da Justiça, do Interior, do Meio Ambiente e da Cultura), irão permitir diminuir os gastos públicos em 83 mil milhões de libras (94 mil milhões de euros) e baixar o défice dos 10,1% do PIB em 2010 para 2,1% no exercício fiscal de 2014-2015. Já os custos inerentes à dívida do país deverão de cair em mais de cinco mil milhões de libras (5,7 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos.
Osborne insistiu na vontade do governo "de cortar o desperdício e reformar a Estado providência", anunciando a supressão acentuada de verbas aplicados nos benefícios sociais: apoio ao desemprego, à habitação e ajudas aos portadores de deficiência. O serviço nacional de saúde e a ajuda externa ao desenvolvimento foram poupados.
O aumento para 66 anos da idade de reforma entrará em vigor a partir de 2020, antes do que o previsto. Para demonstrar que todos serão afectados, os gastos da Casa real terão um corte de 14% em 2012/13.
A BBC, por sua vez, terá o orçamento congelado por seis anos, financiando ela própria o célebre World Service radiofónico, que funcionava até então com uma verba ministerial.
Reforma para a recessão
Repetindo a opinião de alguns especialistas, o líder da oposição, Ed Milliband, acusou o governo de tomar medidas de risco que podem fazer o país mergulhar novamente na recessão" no momento em que a retoma económica dá sérios sinais de fraqueza. Trata-se de uma política "injusta" que incidirá sobre os mais fracos e de um "masoquismo económico", defende.
Também o National Institute of Economic Social Research (NIESR), uma das mais conceituadas entidades de análise económica do Reino Unido, considera que o plano do Governo de coligação liderado por David Cameron aumenta as probabilidades de que a economia britânica enfrente uma contracção em 2011.
A contestação dos sindicatos também já se fez ouvir. Em Londres os manifestantes protestaram contra as isenções fiscais de 19 mil milhões de libras (cerca de 21.600 milhões de euros) que terão os bancos que foram ajudados pelo anterior Governo de Gordon Brown na crise financeira, um valor que serviria para cobrir mais de dez por cento do défice de 155.000 milhões de libras (cerca de 176.000 milhões de euros).
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