Antom Fente Parada.
0.- Introdução
Finalmente, como é bem sabido, a militância de Anova decidiu em
referendo apostar por integrar-se na candidatura estatal de Izquierda
Unida por unha estreita margem de onze votos e a pesar do apoio do
porta-voz nacional Xosé Manuel Beiras e das principais caras
visíveis de Anova: Martiño Noriega, Antón Sánchez... Assim,
liquidou-se a aposta pela Frente Ampla, que reiteradamente
defendemos boa parte de Anova1,
já que fora sancionada pela I AN de Anova-Irmandade Nacionalista e
mais pela Coordenadora Nacional, máximo órgão interassemblear, nos
passados meses de setembro e dezembro.
Na I AN de Anova, celebrada em 2013, aprovamos coletivamente como
entendiamos a FRENTE AMPLA, algo que dificilmente pode conjugar-se
com o resultado do referendo, pois plasmar-se-á na integração
antes do que coligação de Anova em IU, enquanto outros atores
semelha que sim vão conformar algo semelhante à frente ampla no
Estado espanhol sendo em parte a expressão política do movimento
15-m (Compromís, Equo, Chunta, Podemos...) e com forças
soberanistas e movimentos da esquerda estatal:
Anova considera que a proposta de frente ampla deve
manter-se para outros âmbitos de atuação com o mesmo caráter com
o que o fizemos no passado julho2:
nacionalismo e à esquerda, com caráter não
excluinte. A concreção da unidade de ação para distintos âmbitos
não é apenas desejável que alargue o abano de colaboradores, mas
também que poda resultar da configuração de alianças com atores
distintos para diferentes âmbitos.
Igualmente, a CN eleita pela I AN aprovara por unanimidade em 14 de
setembro apresentar-se às vindouras eleições de maio com um acordo
que recolhia o seguinte:
a.- Fazer um chamado a todas as forças políticas
galegas nacionalistas e da esquerda ruturista para dialogar e
conformar um acordo de unidade de ação eleitoral para as eleições
europeias sob a fórmula duma frente ampla não excluinte.
b.- Fazer um chamado às organizações políticas, e
também às plataformas e organizações cívicas das outras nações,
para que baixo o princípio do máximo respeito à auto-organização
de cada uma das nações, constituam o seu sujeito político plural
disposto a partilhar com nós numa coligação eleitoral, a luta pela
fim do regime, a rutura democrática e a democracia real.
Aliás, fieis aos nossos princípios de democracia participativa e
real a CN acordou, em 18 de janeiro e sem votos em contra, que fosse
a militância a que tivesse a última palavra: tanto para a
conformação do programa eleitoral de Anova, aprovado em Conferência
Nacional o passado 2 de fevereiro – e que veremos como se respeita
e integra na candidatura de IU onde o posto número 5 de Anova foi
aprovado em Madrid–; quanto para a eleição em referendo das
alianças, onde existiam três opções: não apresentar-se (como
fizeram depois as CUP para evitar uma fratura interna, ou seja pelas
suas condições subjetivas), apostar pela frente ampla até o final
(o que requereria um posterior referendo para aprovar a aliança
concreta resultante que hoje sabemos seria possível com atores da
esquerda das nações sem estado e da esquerda espanhola –Chunta,
Equo, Compromís e provavelmente Podemos e Partido X–), ou a opção
mais conservadora de todas: integrar-se na candidatura da esquerda
federal espanhola com a suposta certeza de termos “blindado” um
parlamentar em Bruxelas. Esta última opção saiu triunfante, em boa
medida pelo apoio do nosso porta-voz nacional mediante carta dirigida
à militância dois dias antes do referendo.
O resultado do refendo produziu a saída de 10 pessoas da
Permanente, entre elas o responsável de relações políticas, cujo
trabalho foi desautorizado, e conhecendo-se logo que, nesses
paradoxos que tem a nova cultura política
da impostura, o peso das negociações com IU e Miguel Reneses
– o representante mais genuíno da burocracia do PCE que controla
IU– fora levado pelo próprio porta-voz nacional e,
principalmente, pelo novo Coordenador da Permanente de Anova: Martiño
Noriega. Desconhecemos quem ou que órgão colegiado o facultou para
tal efeito, desde logo não foi o máximo órgão interassemblear e
direção política de Anova: a CN. Além dalguma baixa que já se
produziu, alguma de bons amigos, o resultado ajustado do referendo
afundou na fratura de Anova e mesmo se ouviram vozes desde a FPG que
qualificavam aos que apostaram pela opção da frente ampla como
elementos “direitosos” que deveriam ir-se para o BNG ou para
CxG3.
A isto engade-se que, embora os demissionários conseguissem
finalmente aprovar que os candidatos ou candidatas de Anova se
escolham em referendo (na CN do 8 de março); que na imprensa e por
parte dos máximos referentes de Anova se apostasse por Lidia Senra
como candidata, opção saudada por Espaço Ecossocialista e Esquerda
Unida que também celebraram a decisão de Anova como uma reedição
da marca eleitoral AGE, a
pesar de que Equo não estará presente. Nem que dizer tem que Lídia
é uma excelente candidata, embora não concorde nas formas da sua
escolha nem em que até
poucas horas antes de rematar o prazo (para postular-se como
candidato qualquer
militante de Anova)
continuara
sem conhecer-se o acordo exato com IU, quando o acordo da CN incluía
a sua publicitação como um ponto essencial (sem votos em contra e
com apenas 2 abstenções).
O
acordo remetido
à
militância
o dia
21 de março
é, ao meu juízo, uma
tentativa pouco sucedida de apresentar uma “candidatura galega”:
a.- Quando a CN do dia 8 decidiu
apostar por um referendo para a escolha das e dos candidatos era de
conhecimento geral que existiram negociações prévias ao referendo
tanto na Galiza como em Madrid. No entanto, na CN, a direção
política de Anova, não se informou de que ainda não existia nenhum
acordo nem esta facultou em nenhum momento a nenhuma pessoa para, no
nome da organização, desenvolver essas negociações. Portanto, na
integração de Anova na candidatura de IU incumpriu-se algo tão
elementar estatutariamente como que a CN é o máximo órgão
interassemblear de Anova, junto à Comissão Ética e de Garantias, e a direção política da nossa organização. Se
se incumpre algo tão básico como as regras comuns de que nos
dotamos em assembleia nacional o corpo militante de Anova-Irmandade
Nacionalista (e há segmentos que o levam fazendo desde a
constituinte) está organização está ao borde da rutura e os seus
princípios ético-políticos apodrecidos.
b.- O acordo está assinado pela parte de Anova pelo companheiro
Martiño Noriega Sánchez, em data tão serôdia como o 21 de março,
e por Rubén Pérez como representante de Esquerda Unida. Esta
tentativa de apresentar uma “candidatura galega”, para ocultar a
integração numa listagem duma força estatal, óbvia que as
negociações se estabeleceram previamente à data do acordo em
Madrid, que o posto reservado a Anova (o número 5) foi aprovado por
IU e não por EU quem deveria assinar o acordo com Anova como
acontece com outros parceiros (ICV). Precisamente, a insistência de
IU Aragón de gerir a incorporação da Chunta foi a que levou a esta
a rachar a sua integração na candidatura de IU e a sua coligação
com Equo e Compromís (frente à que semelha podem incorporar-se
atores como Podemos ou o Partido X).
c.- Reconhece-se expressamente que
Anova se integra – não é uma coligação- na candidatura de IU
tal e como reflete o primeiro ponto do “acordo”: «Anova
concorrerá no quinto posto da lista que Izquierda Unida Federal e
outras formacións están a configurar», algo que subverte algo tão
elementar como a soberania de Anova. Também
é um bocado triste comprovar o trato que recebe a Galiza. Se ICV e
Catalunya têm reservado o segundo posto a Anova não se lhe outorga
senão o quinto.
d.- A “candidatura galega” é
insustentável porque a única candidatura é a de IU tal e como
estabelece a legislação vigente (artigos 221 e 222 da LO 5/1985 do
regime eleitoral): a candidatura ao parlamento europeu é única (a
de IU) com independência de que na Galiza se apresente uma papeleta
em que se incluam apenas alguns nomes dessa listagem.
e.-
A “candidatura galega” conterá nomes de mulheres e homens
propostos por Esquerda Unida, Anova e Espaço Ecossocialista, embora
estes últimos não aparecem recolhidos no acordo remetido à
militância, o que reforça o caráter de simulacro
da “candidatura galega”.
f.-
Acorda-se expressamente que a deputada ou o deputado de Anova
integrar-se-á no Grupo parlamentar de Esquerda Unitária
Europeia-Esquerda Verde Nórdica. Embora concorde no fundo com está
adscrição trata-se, outra volta, de pejar a soberania das decisões
de Anova e dum ponto acordado previamente em Madrid que se recolhe no
simulacro
galego4.
1.- A
FRENTE AMPLA necessária que não foi... ou sim
Reiteramos, mais uma vez, que a frente ampla deve entender-se no
ronsel histórico do frente único propugnado por Nin e no espírito
das frentes populares do período de entre-guerras. Deve inserir-se
na urgente necessidade da esquerda de superar a confusão entre
unidade de ação (necessária) e unidade orgânica (impossível e
empobrecedora das olhadas plurais que tudo processo transformador e
de quebra democrática exige).
Uma frente ampla que entendemos deve procurar-se e que, em nenhum
caso, pode apresentar-se baixo o torna-chuvas dum partido central na
constituição do regime do 78 (o PCE, partido-guia da frente federal
espanhola IU), o que não quer dizer que não se deva fazer um
esforço por integrar essa expressão da esquerda, assim como na
Galiza não se pode prescindir da organização com um tecido social
mais sólido: o BNG.
A FA para fortalecer uma alternativa pela esquerda, que iluda o
eleitorado e conecte com as demandas exprimidas pelo movimento 15-m e
outras expressões de indignação social, que deve converter-se em
rebelião cívica transcendendo a sua liquidez. Apenas assim a quebra
democrática no cenário estatal e europeu é possível, pois apenas
desde a acumulação plural e em igualdade de condições se pode
gerar um polo na esquerda que ponha freio à abstenção e à apatia
de grande parte da cidadania que apenas beneficia os partidos
dinásticos da II Restauração: PP, PSOE e UPyD, forças todas elas
que partilham a ortodoxia ultraliberal em economia política.
Como
demonstraram as experiência de América do Sul, uma esquerda incapaz
de conjugar novas fórmulas e fechada nos seus debates internos foi a
que permitiu a existência duma geração perdida e de década de
retrocessos sociais e de hegemonia ultraliberal – e ainda de
ditaduras militares-. A primeira reação viu da mão do EZLN e o
movimento sapatista e uma década depois da mão do PSUV e Hugo
Chávez em Venezuela. A experiência ensina-nos como uma sociedade
civil fragmentada e instalada no medo, atomizada e com uma
auto-organização muito febril é incapaz de fazer frente a uns
poderes plutocráticos tremendamente hierárquicos, disciplinantes e
organizados. A isto, engade-se que a esquerda europeia está
desnortada na batalha das ideias (ainda na formação dos seus
militantes), fundamentada na impostura e no individualismo (inoculado
pela fase atual do modo de produção capitalista num grau
extremo) e com fórmulas organizativas que tendem a uma liquidez que
não favorece o mais urgente nesta altura histórica: a unidade de
ação.
A
não concorrência das CUP, as especificidades do caso catalão que
conduziram a ERC a concorrer em solitário, a pequena coligação
Bildu-BNG que dificilmente obterá parlamentar nem contribuirá a frenar a imparável implosão do BNG, e a subversão na praxe da
retórica da frente ampla desenvolvida por Anova ao integrar-se em
IU; apresentam os sintomas mórbidos do pior da tradição da
esquerda para que nasça o novo. Afinal, apenas gera ilusão –
especialmente num eleitorado urbano e moço e na classe meia-alta –
a coligação Equo-Compromís-Podemos-Partido X- Chunta Aragonesista,
se bem ainda está no ar. Seja como for, o que se constata é que não
se deram as condições, por irresponsabilidade das cúpulas dos
partidos da esquerda, para deter a abstenção, esganar a maioria
absoluta dos partidos dinásticos (sustentada não o esqueçamos pelo
grosso da classe trabalhadora dos povos do Estado espanhol) e frenar a
perda de fé da democracia da que se alimentam os monstros, neste
tempo que Gramsci definia como o interregno entre o velho e o novo, o
caos sistémico. Como nas postrimerias da bélle époque
é tempo da burguesia enquanto a esquerda é incapaz de recompor-se.
A
irresponsabilidade das esquerdas do Estado espanhol alimenta a
continuidade das políticas ultraliberais, alimenta a atomização
social e, já que logo, reduz os mecanismos necessários para a
retroalimentação da esquerda política e social e, em definitiva, a
contestação social ainda muito minoritária e após a labareda
efémera do 15-m debilitada. A cidadania segue sem olhar uma
alternativa real e clara, o que perpetua a hegemonia dos partidos
dinásticos e a política económica ao serviço do capitalismo
oligopólico de amiguetes políticos5.
Todavia,
a não existência em Eurolândia de soluções em apenas um estado
ditamina que para mover os marcos seja necessária uma praxe real de
frente ampla que, no entanto, tão pouco podemos pretender que seja
única – dada a questão nacional dos diferentes povos com ou sem
estado–, mas devemos ter em mente diferentes frentes amplas
interligadas num mesmo combate que se coordenam e interatuam na praxe
a diferentes níveis.
A ausência de unidade (de ação) na diversidade (organizativa,
ideológica e de horizontes estratégicos) conduz a que as esquerdas
sejam incapazes de erguer uma alternativa que permita acumular forças
através da praxe num duplo âmbito, que ao retroalimentar-se senta
as condições subjetivas necessárias (a massa social necessária e
a ação por volta dum programa de mínimos comuns e realistas) para
a quebra democrática: como poder eleitoral e como poder social em
ação.
Como poder eleitoral para acelerar
a chegada de assembleias
constituintes nos povos trabalhadores do Estado espanhol para a
redação de novos marcos jurídicos socialistas e republicanos que
apostem pela democracia radical, em que se insere o direito a
decidir. Esta é a tradução programática final da única quebra
democrática real. Como poder social, que alimente com propostas e
praxe audaz às organizações políticas nas diferentes lutas
setoriais, reconfigurando as relações realmente existentes de poder
além das instituições e criando espaços para o mutualismo
(assembleias de desempregados, cooperativas,
centros sociais de massas...) e gerando, quando as condições
estejam maduras uma maioria social para uma greve geral indefinida
que permita passar à ofensiva a toda a classe trabalhadora.
De por parte, a decisão de Anova,
em nossa opinião, não é apenas socialmente irresponsável, mas
organicamente suicida já que os diferentes espaços e tempos
necessários para que a sociedade civil erga um novo bloco histórico,
exigem uma coordenação em pé de igualdade para não repetir os
erros do pós-franquismo quando a correlação de forças longe de
permitir uma rutura democrática sentou as bases para a Constituição
de 1978 detendo toda transformação de calado e atafegando
asinha a primavera enxergada pelos povos do Estado espanhol no
tardofranquismo. Um cenário com certas concomitância no observado
na Primavera árabe e
que sublinha a incapacidade das classes meias – hoje dominantes nas
direções políticas das esquerdas- para artelharem fórmulas
sucedidas de rutura democrática6.
Anova caiu no erro de calibrar mal
a dialética entre o desejável e o realmente existente, apostando
por fazer duma marca eleitoral AGE uma fórmula fixa, ainda quando
nem Equo está nessa formulação nem se verificou a incapacidade de
artelhar uma frente ampla como Compromís, Equo, Chunta,
Podemos e outros autores demonstram7.
Assim, as certezas curtopracistas do eleitoral antepõem-se as
necessidades políticas reais de transformação num beco sem saída,
infelizmente também na
análise de Xosé Manuel Beiras quem, no entanto, foi o único em
fazer um exercício notável no plano ideológico de justificação
da escolha de Anova, embora não podamos concordar em deslindar ou
ainda priorizar a questão de classe da questão nacional ou
viceversa. Nem
partilho a teoria dos dois mundos no nacionalismo galega em que a UPG
fechou a organização de
massas da esquerda galega mais representativa nas últimas décadas,
o BNG, nem a teoria dos quatro mundos que estão conformando as
cúpulas da esquerda galega delapidando
um capital político de décadas
numa irresponsabilidade manifesta.
2.- Anova e o nacionalismo: a necessidade duma ferramenta
independentista e socialista para a emancipação social e nacional
do povo trabalhador galego
Cabe,
pois, perguntar-nos pelo futuro imediato de Anova e sobre que podemos
achegar as mulheres e homens que seguimos considerando que devemos
ter a audácia de apostar pela frente ampla e clarificar duma vez se
Anova quer ser uma ferramenta válida para isso ou apenas deseja
enquistar-se em conformar uma sorte de ICV galega.
2.1.-
A esquerda
galega entre
quatro mundos
Para
podermos formular a metáfora
dos quatro mundos no nacionalismo galego fazemos um pequeno percurso
sobre a teoria original dos dois mundos, a teoria dos dois
mundos no nacionalismo galego formulada por Xosé Manuel Beiras e,
como curiosidade,
a teoria dos três mundos de Mao Zedong. Se o leitor já conhece
estas formulações clássicas pode prescindir dessas alinhas.
2.1.1-
A teoria dos dois mundos na socialdemocracia alemã
Em 1871 Wilhem Liebknecht expunha
por vez primeira, num discurso intitulado “Zu Schutz und Trutz” a
tese dos dois mundos mutuamente excluintes. Precisamente a Crítica
do Programa de Gotha de Karl
Marx incide em três concessões que a minoria marxista teve com a
maioria lasellana para conseguir unificar a socialdemocracia na SPD
em 1875: o operismo, o estatismo e o seu escasso internacionalismo.
Era operista,
que é aqui o pertinente para
entender a teoria dos dois mundos,
porque todas as classes eram consideradas reacionárias agás a
classe trabalhadora o que excluia participar do mundo burguês e, já
que logo, das suas instituições. Isto chocava com o exposto por
Marx, por exemplo no Manifesto Comunista,
onde se prestava atenção aos «estamentos
médios» como necessários para que o proletariado pudesse
desenvolver a sua revolução precisamente
por uma proletarização destes estamentos, algo bem certo também na
época atual.
No
Congresso de Erfurt (1891) impõe-se a linha marxista sobre a
lassalliana, mas nem o próprio Engels concorda muito com o programa
– Marx já tinha morto em 1883– . A longo prazo constitui um erro
estratégico de nefastas consequências para a esquerda, se bem
também atingiu logros importantes como erguer um contra-poder do
movimento operário numa sociedade civil hostil, retroalimentando o
seu tecido social com o poder político local conquistado nas urnas.
De fato, a SPD asinha atingiu um terço do eleitorado do III Reich
erguendo-se como o principal partido do Reichstag8.
2.1.2-
Da
teoria dos dois
mundos no nacionalismo galego ao
nacionalismo galego entre quatro mundos
Xosé
Manuel Beiras enunciou numa série de artigos que foram aparecendo no
extinto jornal Galicia Hoxe,
na sua etapa de porta-voz nacional do Encontro Irmandinho e como
principal vozeiro da oposição interna ao centro político do BNG
(conformado pela UPG, que controlava tanto a burocracia do bloque,
quando o seu principal sindicato – a CIG-), a sua particular
Doutrina dos dous mundos no nacionalismo galego.
Artigos que merecem a pena
ser lidos e dá a impressão
que pouco assumidos ainda dentro do universo Anova.
Beiras afirma que «a
actividade política do BNG deu en escorar máis a cada pouco cara o
costado dunha prática institucional autonomista e análoga á usual
nos partidos convencionais, nunha deriva que o arredaba do roteiro
marcado polo seu proxecto xenuino e da cidadanía máis
ilusionadamente identificada con il».
E o hodierno porta-voz nacional de Anova engade:
un
rol determinante a executoria do núcleo dirixente da UPG. En parte,
coido eu, pola sua leitura pesimista do escenário político tanto
intra coma extra-nacional -traducindo un comprensíbel "pesimismo
da razón" nun improcedente "pesimismo da vontade"- e
en parte, coido eu tamén, pola índole ideolóxico-política desa
formación -unha deriva dos constructos M-L da que existen abondas
mostras en diferentes contextos na historia do pasado século, na que
a perda de referentes e o esluimento dos idearios matriciais
confínannos na sua peculiar concepción dos aparellos de poder e o
seu control, nunha sucesiva suplantación da clase revolucionaria
polo seu partido, e diste pola sua cúpula. O primeiro factor
conduciuna a unha estratexia defensiva de "terra queimada"
e encastelamento nas cidadelas do territorio nacionalista, coa
auto-proclamación como baluarte senlleiro do "patriotismo"
dentro da frente e máis a conseguinte avaliación pexorativa do
resto dos seus segmentos. O segundo impelíuna a tentar controlar o
aparato orgaizativo da frente para acadar así o control da sua
presencia e actuación na política institucional.
Assim
pois, o centro do partido (tendência reforçada após Ámio quando
tanto pela direita como pela esquerda o BNG sofre cisões) excluía
qualquer relação com o campo não nacionalista isolando-se numa
sociedade que era maioritariamente não nacionalista, quando não
militantemente oposta ao nacionalismo e à esquerda. Assim, o
anovador desenho frentista do BNG de 1982 convertia-se numa sucessão
de círculos concêntricos com a organização m-l no centro como
partido-guia e as restantes asas da frente
patriótica
como companheiros de viagem.
Isto,
cumpre explicitá-lo, já existia no BNG de 1982, ao menos essa era a
vontade da UPG, e isso mesmo se deteta desde o começo em Anova por
parte da FPG ou em AGE por parte de Esquerda Unida. As
consequências disto rematarão em todos os casos por ser as mesmas:
De
xeito que a estadea do ideoloxema dos "dous mundos” fixo
outravolta reaparición. E nunha versión máis insidiosa e
corrosiva, pois que operaba no interior do recinto da propria frente,
corroía os vencellos da confianza recíproca indispensábel para
manter a coesión entre os diversos sectores ideolóxicos,
esmendrellaba o "proxecto común" e esgazaba o corpo
militante en dous segmentos xerarquizados: o núcleo "patriótico"
e "obreirista" constituído na sua cabeza, e o resto,
progresivamente considerado e tratado como "fofo",
inconsistente e só valedeiro para recibir, acatar e executar as
direitrices e consignas transmitidas por un aparato verticalizado que
a cabeza controlaba virtualmente en exclusiva. A supresión do
dereito dos militantes de base a participaren direitamente, con voz e
voto, nas asembleas nacionais da frente, púxolle o ramo ao proceso
de de-construción do deseño fundacional do BNG baseado na
democracia horizontal participativa -ou sexa, no principio da
"fraternidade".
Aliás, não é difícil ver que se bem o BNG se manteve na sua particular versão dos dois mundos, em Anova foi-se perfilando por sua vez a sua própria teoria dos dois mundos. A asa direita cindida em Ámio, CxG, optou no plano ideológico por linha reformista de esquerda, mas manteve o velho dogma dos dois mundos: o mundo nacionalista e o mundo espanholista. Desde o começo, Anova, sem renunciar a aglutinar na unidade de ação a todo o nacionalismo, apostou por rachar com essa baliza pela conjuntura histórica ainda afirmando-se como independentista. Porém disto falaremos noutra alinha.
2.1.3-
A teoria dos três mundos e o quarto
mundo
A
teoria dos três mundos foi enunciada por Mao na RPCH. Em fevereiro
de 1974 Mao expõe que:
Ao meu juízo, os EUA e
a União Soviética constituem o primeiro mundo; forças intermédias
como o Japão, Europa e Candá integram o segundo mundo, e nós
formamos parte do terceiro. O terceiro mundo compreende uma grande
população. Toda Ásia, exceto o Japão, pertence ao terceiro mundo;
África inteira pertence também a este, e igualmente América
Latina.
Como se pode observar esta teoria
nada tem a ver com a doutrina dos dois mundos da SPD. Em 1921 Lenine
afirmava «existem
dois mundos: o velho, o capitalismo... e o novo mundo em ascenso...».
Em 1919, Estaline afirma que «o mundo dividiu-se resoluta e
irremediavelmente em dois campos: o campo do imperialismo e o campo
do socialismo». Mao assenta
a sua teoria em que, segundo ele, Lenine e Estaline nunca
consideraram que não existissem outras contradições fundamentais
no mundo e que fora impossível outra classificação das forças
políticas mundiais. 9.
Já que logo, para o nosso
propósito mencionamos apenas como anedota esta teoria, especialmente
para os mais jovens que desconhecem em que consistem estas posições.
Outras classificações denominavam Primeiro Mundo ao campo
capitalista, Segundo Mundo ao campo do socialismo realmente
existente, Terceiro Mundo aos estados pobres do campo capitalista e,
por último, começou a circular posteriormente (na década de
setenta) a etiqueta de Quarto Mundo referida aos contingentes pobres
que residiam no Primeiro Mundo.
2.1.4.-
A teoria dos quatro mundos no nacionalismo galego atual
Desde
o começo em Anova a coligação técnica eleitoral ao parlamento
galego foi entendida de dois jeitos: como meio para a acumulação de
forças e como concreção da Frente Ampla não excluinte que Anova
sempre defendeu, ou como fim em sim própria. A aliança com EU como
uma fórmula fixa, embora ampliável. Esta
segunda conceção foi a que, desde um princípio foi amparada pela
FPG através da Posição
Soto10,
que marcou o horizonte
estratégico da formação.
A FPG tentou primeiro
integrar-se no BNG sem sucesso em 1994 e nessa mesma década a já
referida posição traduziu-se numa proposta
de frente ampla que incluíra todo o espetro da esquerda do PSOE com
presença na Galiza o que, começou, junto com Esquerda Unida em
Cangas do Morraço (ACE).
No
entanto, este novo estatismo – inverso ao existente no BNG– foi
ganhando adetos, no que Beiras advertia como o perigo de morrer de
êxito, pelos bons resultados colheitados nas eleições nacionais de
2012 e à FPG uniram-se outros setores de Anova, destacando-se a
assembleia de Teu e referentes como Martiño Noriega ou o deputado
Antón Sánchez (embora as concomitâncias
com a FPG desta sensibilidade rematassem aí). Apresentaram-se como
minoria na I AN e com um sistema de listagens abertas de voto
limitado atingiram uma sobrerrepresentação na direção política
(Coordenadora Nacional). Aliás,
o giro estratégico camuflou-se por trás da luta contra um suposto
“aparato” que sequestrava Anova, confundindo não apenas
burocracia com aparato, mas também recorrendo a uma retórica que
temos analisado noutro local como, quando menos, falta de rigor11.
Na
I AN as duas tendências chegaram a uma solução intermédia na tese
política nas alinhas sobre a Frente Ampla e AGE se bem era uma
disputa fechada em falso. O referendo das europeias, com a adesão de
Beiras dois dias antes do referendo em que por onze votos se impus a
integração na candidatura de IU12,
afiançou este giro estratégico propugnado pelo manifesto “Nós
queremos AGE”13,
se bem já era conhecido que um dos parceiros daquela coligação
Equo não partilharia essa candidatura.
Porém,
há uma sensível diferença entre a posição de Beiras e a do
manifesto. A pesar de que na praxe a integração leva caminho de
converter AGE numa fórmula fixa o porta-voz nacional segue-a
apresentando como algo conjuntural perante a impossibilidade de
artelhar uma frente ampla para o ensaio de quebra democrática, se
bem a evolução das diferentes forças políticas aponta para a
existência dalgo semelhante a isso na coligação Equo, Compromís,
Chunta,
Podemos, Partido X... e outras formações que recolheram o discurso
do 15-m. Dizia Beiras:
A
miña conclusión é que, infortunadamente, o escenario das europeas
como 'ensaio xeral' dunha creba democrática co rexime español
actual xa é ilusorio. Portanto, o enfoque cara unha alternativa de
grande coalición rupturista con ese rexime carece de sentido. Compre
sustituir ese enfoque polo do escenario europeu: o combate por unha
Europa dos povos, dos cidadáns, e social (ou sexa, anti-troika). Ou
sexa, Galiza como nación (suxeito político soberano) en Europa,
navegándomos na corrente (que tende
a ser maré) das esquerdas rupturistas europeas que nos recoñezan
como povo/suxeito político de noso. O ámbito estatal só manten
unha vistualidade: a derivada de ser 'a fortiori' unha
'circunscrición única' para as candidaturas ao Parlamento europeu
que concurran nese ámbito. Doulle primacía ao factor 'esquerda
rupturista' sobre o factor 'custión nacional', pero, ollo:
mesmamente porque non albisco outra dinámica que non sexa a da
esquerda rupturista para avanzarmos na emancipación nacional dun
povo, como é o noso, que non ten hoxendía unha potencia endóxena
de ofensiva cara a independencia análoga/comparábel á de Catalunya
ou Euskalherría. Eis o eixo direicional da miña persoal aposta. A
única condición indispensábel para unha alianza nese espazo e nesa
direición é que os aliados (eleitorais) asuman e respeiten na
prática a nosa condición de suxeito polìtico e que esa nosa índole
resulte amostrada no escenario eleitoral. E o único vieiro que,
dentro da circunscrición única estatal, me semella transitábel
'hic et nunc', ou sexa, eiquí e nestes intres, é o dunha coalición
cunha IU que nos sirva para nos inserir no movemento das esquerdas
europeas (dende Siryza a Linke, dende o Bloco de Esquerda e o PCP ao
Front de Gauche) nas condicións xa eiqui reiteradas. Para iso non me
serve a ALE-EFA (partido europeu e GP no Parlamento da UE dos que son
membros o BNG, EA, ERC), porque o seu único denominador común é a
custión nacional de cada quen, en absoluto teñen en común un
ideario de esquerda e inda menos anti-troika.
Podemos
então assinalar várias questões ao respeito:
a.-
O cenário de “ensaio geral” duma quebra democrática apenas se
vê arretrasado pela irresponsabilidade das direções das esquerdas
e seguirá sendo ilusório enquanto a sociedade civil mais consciente
não obrigue a compreender aos dirigentes das forças políticas a
necessidade do que Andreu Nin denominava como frente único.
O
exemplo de Podemos, Equo, Compromís et
alii constata que era
possível erguer uma alternativa eleitoral que gerara ilusão e
detenha a abstenção na esquerda. A ausência duma alternativa
assim, ou a ausência de Anova nessa alternativa, é duplamente
grave: duma parte porque alimentará a sobrerrepresentação com que
nestes momentos contam os partidos dinásticos e impede visualizar em
amplas capas intermédias da cidadania visualizar uma alternativa
clara aos partidos do regime da II Restauração bourbónica. Doutro
lado, de finalmente conformar-se algo análogo ao proposto por Anova
o fato de não ter-se incorporado Anova deixará a questão nacional
num segundo plano e evitou a possibilidade de incorporar a outras
forças do campo soberanista das nações sem estado a essa coligação
eleitoral que se teria erguido em igualdade de condições como
produto de termos claro a diferença entre a unidade de ação e a
unidade orgânica.
b.-
Não faz sentido tão-pouco antepor agora o plano europeu do Estatal,
como se a formulação
da frente ampla não foram duas dimensões totalmente interligadas.
De fato, no seu momento os defensores, até o final, da frente ampla
defendemos a importância de concorrer nestas eleições, antes de
mais, para termos uma caixa de ressonância da questão nacional e
social galegas em Europa e para tecer alianças a nível europeu para
transcender
o marco europeu ultraliberal14.
c.-
É absolutamente indecente assinalar qualquer paralelismo entre a
listagem de IU e a Frente Popular do 36, porque apenas a frente ampla
não excluinte pode (e apenas em certa medida) apresentar-se como
algo análogo. E é também inexato fazer qualquer correlato com a
decisão do PG de integrar-se na Frente Popular já que naquela
altura fazia-se sobre um programa que incluia a conquista do Estatuto
de Autonomia e, desta volta, a poucos dias de fechar o prazo para
candidatar-se, nem a direção política de Anova nem muito menos a
sua militância conhecia
nada do acordo de integração na candidatura de IU nem
até onde o programa aprovado em Conferência Nacional será
respeitado, quando existe uma única candidatura estatal e, já que
logo, um único programa para a concorrência eleitoral.
d.-
E, por último, é tão insustentável este “giro estratégico”
para uma ICV à galega através de AGE quanto a teoria dos dois
mundos da UPG. É uma
volta às teses de Otto Bauer e uma renúncia ao horizonte
estratégico original de Anova, quando não é reeditar a divisão
das Irmandades da Fala entre os que apostavam pela auto-organização,
que remataria na gestação do PG em 1931, e os que preferiam a
participação em forças políticas não nacionalistas, como a ORGA.
Porque nem num caso nem outro se entende que a relação entre a
questão nacional e a questão social é dialética e inseparável.
Muito mais ainda quando o grosso do soberanismo galego foi e é
«esquerda ruturista»,
embora setores da FPG pretendam disfarçar o liquidacionismo como uma
questão de confronto interna entre a esquerda
e a direita
revionista procedente
do BNG, como se isso for um pecado
original. Novamente,
a nossa proposta punha o acento em garantir o direito a decidir a
partir da construção duma frente ampla de âmbito de estatal que se
artelhasse preferencialmente,
em primeira instância, desde as nações sem estado próprio15.
Em
resumo, transcender a doutrina dos dois mundos no nacionalismo galego
não pode significar renunciar à frente ampla e substituir esta por
uma fórmula fixa que, dada a situação do BNG, põe em perigo tudo
o tecido contra-insitucional erguido durante décadas pelo
nacionalismo galego e,
finalmente, acentua a urgência da esquerda galega de voltar
a sua ação ao reforço da sua implantação e de construir tecido
social, fim ao que se deve orientar toda prática institucional.
Afinal, ao imobilismo dos
“dois mundos” do nacionalismo-espanholismo defendido pelo BNG,
engade-se outra fórmula estática, igualmente perigosa para
conquistar o horizonte estratégico e
defendida por uma boa parte de Anova, e, por último, a perda de
contingentes e da hegemonia entre a sociedade civil. O nosso quarto
mundo, em fim, é a aposta irrenunciável pela unidade de ação
desde a diversidade organizativa que apenas pode enxergar-se através
duma frente ampla não excluinte no eleitoral a que, dada a
irresponsabilidade das direções políticas do campo nacionalista,
devem obrigar a formular as bases bases, a começar pela fraternal unidade de
ação das mesmas. Assim, foi como na França se construi na década
de 30 a Frente Popular que superou às direções dos partidos e à
arroutada doutrina do social-fascismo defendida pelo Comitern.
2.2.-
A Anova precisa como ferramenta de longue
durée para o
nacionalismo galego: frente ampla não excluinte, democracia interna
e militância única
Na
atualidade uma boa parte da militância de Anova não concorda com o
“giro estratégico” dado pela organização e continua insistindo
no horizonte estratégico original de Anova para a emancipação
social e nacional da Galiza através da estratégia da Frente Ampla
não excluinte que deve, antes de mais, favorecer a unidade de ação
da esquerda galega.
A
II Assembleia Nacional de Anova será, com certeza, provavelmente o
ponto de inflexão definitivo para o que quer ser Anova-Irmandade
Nacionalista: ou bem parte duma ICV à galega que faça da “marca
eleitoral” AGE um fórmula fixa; ou bem um ferramenta de longa
durée para o
nacionalismo galego, um projeto de emancipação social e nacional
para o século XXI onde:
a.-
se mantenha a lealdade aos
princípios
originários de Anova e do denominado Novo
Proxecto Común:
socialismo democrático e soberanismo com o horizonte estratégico da
emancipação social e nacional do povo galego, onde a questão de
classe e a questão nacional interatuam dialecticamente na sociedade
sem que poda primar um fator sobre o outro, porque seria fazer unha
abstração anticientífica das contradições existentes no seio do
povo trabalhador galego.
b.-
se aposte decididamente pela militância única e exclusiva em Anova,
pondo fim a um modelo de frente encoberta que apenas contribuiu para
a erosão
da
fraternidade e para
acentuar os interesses
contrapostos dos diferentes aparatos partidários que operam à
margem de Anova.
c.-
se defina que o
eleitoral seja apenas um ponto mais para dar cobertura à ação
social .
d.-
se clarifique a relação
entre a soberania local das assembleias no seu âmbito e a soberania
nacional da organização reforçando o emprego de referendos e
regulando os supostos onde obrigatoriamente estes devam ser
convocados, sem menoscabo de que podam celebrar-se para outros
assuntos.
e.-
Se recupere o projeto de frente ampla como estratégia para acumular
forças e abrir processos constituintes na Galiza, no Estado e em
Eurolândia. Os alvos da frente ampla devem ser: 1.- abrir processos
constituintes fundamentados na democracia radical (incluindo o
“direito a decidir”) e numa economia política ao serviço da
maioria social; 2.- ter capacidade para determinar as políticas dos
diferentes governos conformando um novo bloco histórico que reverta
a hegemonia ultraliberal , 3.- promover políticas ativas de
fraternidade entre os povos trabalhadores para tecer redes de luta
internacionais, 4.-construir na sociedade civil redes de apoio mútuo
como piar duma nova ordem social futura (fraternal).
Todo
o referido apenas poderá conquistar-se desde o respeito pelos
acordos coletivos dos que nos dotamos e desde a observância dos
princípios ético-políticos dos que nos dotamos. A subversão dos
acordos e o não respeito das teses, do marco estatutário e dos
acordos estabelecidos coletivamente, moeda comum durante a curta vida
de Anova, tornam impossível que este poda ser um projeto comum
e uma ferramenta de longue durée para o nacionalismo galego
do século XXI. Estabelece mais uma vez uma divisão –cada passo
mais clara– entre um núcleo estatista que, como uma aristocracia
da militância, moldeia o pensamento coletivo de Anova e apresenta
como único caminho possível o sofisma da AGE ampliável,
como se esta for a única (ou ainda a mais desejável) formulação
da frente ampla; e o resto de Anova que «não
entende» porque precisa de mais tempo para poder assimilar as
formulações dos que “pensam”16.
Em definitiva, uma vanguarda e contingentes “fofos” que a
acompanham e devem entender
ou assimilar sem
mais uma via liquidacionista
do projeto originário
de Anova, do horizonte estratégico histórico do nacionalismo galego
moderno e ainda da auto-organização do povo trabalhador galego como
conditio sine qua non
para atingir a sua
emancipação social e nacional. Repetir o erro de aguardar cartas
outorgadas desde o Estado situa-nos no adro de repetir os erros e a
derrota da esquerda ruturista e não resignada durante a conformação
da II Restauração bourbónica. Apresentar IU como parceiro para a
ruptura democrática e como elemento para a emergência duma nova
cultura política e, por dizê-lo suavemente, obviar trinta anos de
lições e experiências no conjunto do Estado espanhol e é situar a
Anova ao borde da sua ruptura ou o que é pior: da sua metamorfose
num projeto nas antípodas do horizonte para o que foi concebida e,
já que logo, impossibilitando-a como ferramenta válida para a
transformação e a emancipação social e nacional do povo
trabalhador galego.
Galiza,
23 de março de 2014.
1Ricardo
García Caneda e Antom Fente Parada (2014): “Que se joga a
esquerda nas eleições europeias?” em À
revolta entre a mocidade:
2Refere-se
à Assembleia Constituinte de Anova-Irmandade Nacionalista celebrada
o 14 de julho de 2012.
3Abalo,
Mariano (2014): “Hay sectores que
abandonaron el BNG, pero siguen atrapados en esa filosofía”
em Faro de Vigo
(28/02/2014):
http://www.farodevigo.es/portada-o-morrazo/2014/02/28/hay-sectores-abandonaron-bng-siguen/975894.html
O artigo produziu alguma resposta pública como a de Francisco Trigo
“Carta a Mariano (o outro)” em Galicia
Confidencial:
http://www.galiciaconfidencial.com/nova/17985.html
4Por
simulacro entenda-se a
relação de dependência que estabelece Deleuze, como um sistema em
que o diferente se relaciona com o diferente por meio da própria
diferença. Se bem em rigor aqui não há nenhum sistema e apenas
uma relação de dependência clara como a que Varoufakis sublinha
quando afirma em O minotauro global
que Alemanha e o resto de estados excedentários se converteram no
simulacro do Minotauro global. Assim,
por enquanto o Minotauro criava demanda para o resto do mundo – e
é esta e não as empresas individuais as que geram emprego como no
pseudodiscurso económico dos emprendedores– o
seu simulacro deixava
ao resto de Europa sem ela acentuando as relações de dependência.
Essa mesma subordinação, e
não uma relação entre iguais, é a que podemos assinalar para a
integração de Anova na candidatura de IU, um simulacro em todas as
suas dimensões que suplanta a aposta pela frente ampla.
5Domènech,
Antoni (2012): “Un capitalismo oligopólico de amiguetes” em La
Comunidad El País:
http://lacomunidad.elpais.com/la-abadia-de-theleme/2012/6/18/las-castas-rectoras-del-parasitario-y-depredatorio-modelo-de
Fente
Parada, Antom (2012): “A porta giratória no Estado espanhol” em
À revolta entre a mocidade:
http://revoltairmandinha.blogspot.com.es/2012/05/porta-giratoria-no-estado-espanhol.html
6Fente
Parada, Antom (2011): “A primavera dos povos” em Altermundo:
http://www.altermundo.org/a-primavera-dos-povos/
7Beiras
Torrado, Xosé Manuel (2014): “Opinión e posición de X. M.
Beiras para o referendum de Anova sobre eleicións europeas 2014”
em Anova-Irmandade Nacionalista:
http://www.anova-galiza.org/images/II.%20REFERENDUM%20ANOVA%20EL.%20EUROPEAS%20POSICIN%20XMB.pdf
8Para
uma maior informação veja-se Domènech, Antoni (2004), El
eclipse de la fraternidad. Una revisión republicana de la tradición
socialista, Barcelona:
Crítica, pp. 141 e ss.
9Todas
as citações desta alinha estão tiradas de “La
Teoría del Presidente Mao sobre los tres mundos constituye una gran
contribución al marxismo-leninismo”,
disponível em
file:///C:/Users/Ant%C3%B3n/Desktop/Leituras%20pendentes/Artigos%20marxismo%20e%20socialismo/Renmin%20Ribao%20-%20La%20Teor%C3%ADa%20del%20Presidente%20Mao%20sobre%20los%20Tres%20Mundos%20constituye%20una%20gran%20contribuci%C3%B3n%20al%20marxismo-leninismo%20(1977).pdf
10Veja-se
a “Posición Luís Soto” disponível no site da FPG:
http://frentepopular.gl/?p=2004
11Fente
Parada, Antom (2013): “Quê nova cultura política para qual nova
esquerda” em À Revolta entre a mocidade:
http://revoltairmandinha.blogspot.com.es/2013/12/que-nova-cultura-politica-para-qual.html
12“OPINIÓN
E POSICIÓN DE X.M.BEIRAS PARA O REFERENDUM DE ANOVA SOBRE ELEICIÓNS EUROPEAS 2014” em
Anova-Irmandade
Nacionalista:
13“#NósQueremosAGE.
Manifesto de apoio á opción 1 no referendo de Anova-IN para as
europeas” em Anova-Irmandade Nacionalista:
http://anova-galiza.org/images/I.%20NosQueremosAGE.pdf
14Ricardo
García Caneda e Antom Fente Parada (2014): “Que se joga a
esquerda nas eleições europeias?” em À revolta entre a
mocidade:
15Novamente
é Nin quem, como no caso do frente único, tem dentro da esquerda
do Estado espanhol as achegas mais lúcidas sobre marxismo e questão
nacional:
Nin, Andreu (1935),
“Marxismo e questão nacional” em Marxist.org:
http://www.marxists.org/portugues/nin/1935/mes/marxismo.htm
(especialmente a sua última epígrafe “O Proletário e a Questão
nacional”).
Nin,
Andreu (1935), “Els moviments d'emancipació nacional” em
marxist.org:
16Beiras
Torrado, Xosé Manuel (2014), “Asumo a crítica pero os meus
argumentos non foron rebatidos” em La Voz de Galicia,
23-3-2014:
http://www.lavozdegalicia.es/noticia/galicia/2014/03/23/xose-manuel-beiras-asumo-critica-os-meus-argumentos-non-foron-rebatidos/0003_201403G23P16993.htm
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