Antom Fente Parada.
Segundo se foram conhecendo os resultados apareceram leituras dispares do resultado eleitoral, como acostuma acontecer em todos os processos deste teor. Os dados permitem primar uns sobre outros subjetivamente para fornecer leituras opostas, mas a realidade de Anova atualmente é a que é, distando muito dalgumas leituras idílicas.
A Permanente atual pus o acento em que Lídia Senra recebeu 85% do
voto emitido. Este dado é verídico e indiscutível, embora seja
duma pobreza analítica maiúscula deter a nossa análise eleitoral
aqui. Segundo a atual Permanente, tal e como se recolhe no site
oficial de Anova-Irmandade Nacionalista:
Máis do 85 por cento das persoas que exerceron o seu
dereito a voto escolleron a labrega Lidia Senra para ser candidata da
lista galega ás eleccións europeas. O segundo posto de Anova na
lista será ocupado por Carlos Lorenzo Simón, da comarca de Ourense.
A participación, a falta de repasar os datos, foi de
máis do 47 por cento, recibindo a candidatura de Lidia 419 votos,
una cifra superior á obtida pola opción 1 –ir en coalición coa
esquerda federal- no referendo relativo ás alianzas. Carlos Lorenzo
recibiu 91 votos.
Con este resultado, unha líder campesiña podería
chegar ao Europarlamento, pois Lidia irá no posto 5 da lista de
coalición na circunscrición única, condiderado un posto de saída.
Dende Anova-IN queremos resaltar a normalidade da
xornada e a radicalidade democrática do proceso.
Lídia Senra recebeu efetivamente 83'3% do voto emitido,
mas é inquestionável igualmente que 63 de cada 100 militantes de
Anova-Irmandade Nacionalista não participaram e que, quem
apostou pela frente ampla no anterior referendo aderiu à abstenção1,
entre outros motivos, porque se considerava que o processo e o
procedimento apresentavam sérias eivas; pelo descontento com a
integração na candidatura estatal de IU; e porque Lídia Senra era
uma candidata excelente que, noutras circunstâncias tenho a certeza
de que teria obtido um resultado muito maior. Então como é que está
o copo, meio cheio ou meio esvaziado?
O referendo transmite mais uma vez uma radiografia da organização
fraturada tanto no seu conjunto como territorialmente, algo que
deveria fazer reflexionar a todos os sectores de Anova se não se
quer cair numa perda constante de contingentes que apenas porão em
evidência a inviabilidade de Anova como novo projeto comum
para o nacionalismo do século XXI. Deixa ver também que Anova,
felizmente, tem um corpo militante muito vivo e plural que evita a
existência de qualquer hegemonia. Após dois referendos fica claro
que Anova não é o partido de Beiras e sim o partido dos seus 1.230
militantes.
Desta arte, Lídia Senra apenas recebeu o apoio dum terço da
militância de Anova, a pesar de ser quase “candidata única”
(vê-se bem em que nenhum candidato tem apoios uniformes em tudo o
território agás ela), de receber o apoio de Beiras e de toda a
atual Permanente (antes de que se conhecesse nenhuma outra
candidatura – e ainda o método de eleição–) e a pesar de ser
uma pessoa com excelente projeção social e uma trajetória
sobradamente conhecida no campo nacionalista.
De 1230 militantes de Anova apenas 419 votaram por Senra, quer
dizer 34% da militância. No anterior referendo para a escolha da
fórmula eleitoral, celebrado em 23 de fevereiro, a participação
foi de 72% (791 votos) ficando desta volta só em 44% (501 votos).
Portanto, houve um 28% menos de participação2.
Tendo em conta o apoio de Beiras e a trajetória e projeção social
duma candidata tão excelente como Lídia Senra uma das conclusões
que se podem tirar é que a atual direção de Anova
“representa” total ou parcialmente entre 20-30% da militância de
Anova. Isto dá-nos ideia de
até onde a II AN de Anova será decisiva para marcar o
rumo de Anova, ora como projeto
político transversal do campo nacionalista, ora como convidado numa
fórmula eleitoral fixa que apenas provocará a sua morte – não
provavelmente no plano eleitoral, mas sim no plano transformador para
o que nasceu–.
Se no anterior processo houve
assembleias que apenas participaram, caso de Cangas ou Carvalinho
controladas pela FPG, desta volta sim o fizeram achegando 81 votos
para a candidatura de Lídia Senra. De
fato, no caso de Cangas, ao levarem meses sem pagar, teve que
atualizar massivamente as quotas para este processo (em que algumas
localdiades receberam até 5 censos pelos numerosos erros contidos a
pesar de estarem quase feitos do antior referendo), pois no anterior
referendo apenas 30 pessoas tinham direito a voto. Sem
estes apoios o resultado teria sido inferior ainda ao colheitado pela
integração em IU no anterior referendo.
Se analisamos territorialmente os
resultados apenas em 15 mesas votaram mais de 10
militantes: nas 7 cidades, em
Cangas, em Teu, em Carvalhinho, em Bergondo, em Ribeira, em Val do
Dubra, no Salnês e no Úmia. Ainda podemos engadir que dessas mesas
com participação significativamente maior do que nas restantes
assembleias de Anova apenas o fizeram num sentido favorável às
posições oficialistas em Vigo (58
votos a prol da integração em IU e apenas 40 agora, votando 45 de
120 militantes), Cangas,
Teu, Ourense, Ponte Vedra, Lugo, Carvalhinho, Bergondo, Val do Dubra,
Ribeira e Úmia.
Vejamos agora todos os resultados
na seguinte tábua, em que faltam ainda alguns dados, xa que os dados que oficialmente se fizeram públicos, remetidos desde organização, não incluíam o censo das mesas (entre outros erros importantes). Marcamos em azul
as assembleias onde o rechaço à integração em IU e ao
procedimento é claro e em verde aquelas que maioritariamente
aderiram as teses oficiais. Existem,
no entanto, bastantes casos em que a correlação de forças é muito
parelha (por exemplo e contra um dos lugares comuns a assembleia de
Vigo tanto no anterior referendo como no atual mostra que as duas
posturas têm um apoio semelhante).
MESA
|
Ana
Mª Vidal
|
Lídia
Senra
|
Eduardo
Garcia
|
Julio
Villanueva
|
Bastida
|
Carlos
Lorenzo
|
Francisco
J. Rial
|
Branco
|
Nulo
|
Papeletas
|
CENSO
|
A
Crunha
|
3
|
22
|
6
|
0
|
2
|
7
|
0
|
0
|
1
|
26
|
134
|
Bergondo
|
0
|
14
|
5
|
0
|
1
|
4
|
0
|
0
|
0
|
14
|
25
|
Ferrol
|
0
|
6
|
0
|
0
|
16
|
2
|
0
|
0
|
1
|
20
|
61
|
Cedeira
|
0
|
3
|
0
|
0
|
8
|
0
|
0
|
0
|
0
|
9
|
|
Taragonha
|
0
|
5
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
5
|
|
Ribeira
|
0
|
8
|
0
|
0
|
1
|
1
|
0
|
2
|
0
|
11
|
|
Val
do Dubra
|
0
|
13
|
0
|
0
|
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
13
|
13
|
Compostela
|
1
|
39
|
5
|
0
|
1
|
6
|
0
|
2
|
1
|
45
|
|
Teu
|
0
|
37
|
0
|
0
|
0
|
2
|
0
|
0
|
0
|
37
|
|
Chantada
|
0
|
5
|
0
|
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
3
|
9
|
22
|
Lugo
|
0
|
11
|
6
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
11
|
|
Marinha
|
0
|
7
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
1
|
8
|
17
|
Montanha
Luguesa
|
0
|
4
|
0
|
0
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
4
|
|
Lemos
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
2
|
0
|
2
|
|
Terra
Chá
|
0
|
1
|
0
|
0
|
3
|
1
|
1
|
1
|
0
|
5
|
|
Val
de Orras
|
1
|
4
|
0
|
0
|
1
|
0
|
0
|
1
|
0
|
6
|
|
Ourense
|
1
|
42
|
1
|
1
|
0
|
32
|
0
|
1
|
0
|
44
|
|
Carvalhinho
|
0
|
20
|
0
|
0
|
0
|
5
|
1
|
0
|
0
|
20
|
|
Maceda
de Trives
|
0
|
4
|
0
|
0
|
0
|
3
|
0
|
0
|
0
|
4
|
|
Límia
|
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
2
|
19
|
Deça
|
0
|
6
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
6
|
|
Baixo
Minho
|
2
|
5
|
0
|
0
|
5
|
0
|
0
|
0
|
0
|
6
|
13
|
Bueu
|
5
|
1
|
0
|
6
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
6
|
12
|
Salnês
|
0
|
4
|
0
|
0
|
1
|
1
|
6
|
1
|
1
|
12
|
51
|
Cangas
|
0
|
61
|
29
|
0
|
1
|
2
|
1
|
0
|
0
|
61
|
78
|
Marim
|
0
|
10
|
1
|
0
|
0
|
6
|
0
|
0
|
0
|
10
|
12
|
Ponte
Vedra
|
1
|
17
|
2
|
1
|
0
|
2
|
0
|
0
|
0
|
17
|
|
Redondela
|
0
|
1
|
0
|
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
0
|
2
|
33
|
Úmia
|
0
|
9
|
0
|
0
|
4
|
0
|
6
|
1
|
1
|
11
|
|
Val
Minhor
|
0
|
4
|
1
|
0
|
0
|
3
|
0
|
2
|
0
|
6
|
76
|
Vigo
|
0
|
40
|
0
|
0
|
1
|
7
|
0
|
3
|
1
|
45
|
|
Diáspora
|
3
|
16
|
2
|
1
|
2
|
4
|
0
|
2
|
0
|
23
|
|
TOTAL
|
17
|
419
|
58
|
10
|
50
|
91
|
15
|
20
|
10
|
501
|
1230?
|
Esta tábua pode ser
cotejada com os resultado do anterior referendo. Duma parte vemos
como existe uma correlação direta entre opção 1 e apoio a Lídia
Senra, que colheita mais apoios do que a opção 1 (mas menos se
descontamos os votos de Cangas e Carvalhinho que não participaram no
anterior referendo). Doutra parte, vemos como o aumento da abstenção
é atribuível às opções 2 e 3 do anterior referendo, assim como o
incremento do voto nulo (de 2 a 10) e o voto em branco (de 3 a 20),
mais significativo ainda ao ser a participação significativamente
menor.
Conclusões
A primeira grande conclusão é que o corpo militante de Anova é
plural, diverso e não responde a caricatura externa de que “Anova
é o partido de Beiras”. Anova mostrou nos dois referendos que é
um organismo vivo, mas profundamente fraturado o que pode pôr em
perigo a sua sobrevivência.
Uma segunda questão é que, a pesar de contarem ambos processos com
o apoio explícito de Xosé Manuel Beiras, que em Anova é muito mais
do que um porta-voz nacional, e a maior parte dos referentes de Anova
(Martiño Noriega, Antón Sánchez...) e da sua atual dirigência,
incluída a FPG,
a maioria de Anova não adere nem a integração com IU nem o
procedimento do atual referendo.
Seria igualmente um erro, e este é o terceiro ponto que cumpre
sublinhar, acreditar que o setor crítico de Anova aglutina essa
maioria. A maioria de Anova nem está com o atual sector oficial
nem está com o atual sector crítico, o que exige um exercício
de responsabilidade coletiva que veremos se pode materializar-se ou
não na II Assembleia Nacional.
A II AN, já que logo, deve incidir em pontos que sim podem
restabelecer pontes e marcar a diferença entre a perda de
contingentes quantitativamente escassos ou quantitativamente
significativos, ameaçando a própria sobrevivência duma organização
com uma implantação social ainda muito pequena, máxime se a
comparamos – ponhamos por caso- com o outro grande referente de
massas do campo nacionalista, o BNG. A militância única, o
método de escolha da direção política e a porta-vozia, o
respeito pelos acordos de que nos dotamos e a volta à
conceção da frente ampla como alavanca para a ruptura
democrática e a unidade de ação da esquerda galega são em
nossa opinião alguns desses pontos sem os quais Anova não pode
completar a decantação associada a tudo processo constituinte que
lhe permita restaurar a irmandade e ser uma ferramenta
centrada na nação galega, assim como o projecto comum do
nacionalismo galego para o século XXI.
Por último, há uma fenda clara entre a Anova rural e a Anova
urbana. Nas assembleias urbanas e a sua contorna prima uma
conceção mais pós-moderna e líquida – associada à retórica da
nova cultura política do que
já tenho falado3–,
enquanto nas assembleias mais vencelhadas ao rural continua a
predominar a linha histórica do galeguismo. A
assunção dum modelo de escolha da direção política nacional
fundamentado no reconhecimento desta pluralidade, através dum
sistema de listagens proporcionais puras em referendo nas assembleias
locais poderia ser uma ferramenta para manter a coesão anovando:
ou seja, a II assembleia nacional encarregar-se-ia de elaborar as
teses e o conjunto da militância poderia em referendo escolher a sua
direção política nacional, a Comissão Ética e de Garantias e
mais referendar, se é o caso, as teses aprovadas pela II assembleia
nacional. A porta-vozia deveria ser escolhida pela nova CN, pois
fazê-lo doutro jeito é cair no erro de eleger uma secretária ou um
secretário-geral.
1Pessoalmente
considerei um erro aderir a abstenção já que esta é muito doada
de ocultar e muito mais difícil de fiscalizar que um voto-protesto
(branco, nulo...). Contudo, e como se verá, a análise dos
resultados territorializados deixa bem claro que há uma maioria de
Anova que não adere nem a integração em IU nem o procedimento
seguido pela direção atual de Anova neste processo.
2No
referendo de 13 de fevereiro a opção 1 (“Que Anova participe
integrada em coligação com a esquerda federal”) recebeu 380
votos (48'04%). A segunda opção (“Que Anova conforme uma
coligação com forças políticas de esquerda nacionalista das
naç4oes sem estado e/ou plataformas cívico-políticas de esquerda
e rupturistas”) obteve 369 votos (46'65%). A opção 3 (não
concorrer às europeias) teve apenas 37 votos (4'68%). No referendo
participaram 791 pessoas, 72'44% com direito a voto.
3“Quê
nova cultura para qual nova esquerda?” em À revolta entre a
mocidade:
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