14/06/2012

Hollande consegue maioria no 1º turno das legislativas

Eduardo Febbro. Artigo tirado de Carta Maior (aqui).



A França confirmou outra vez nas urnas a mudança de rumo político decidida nas eleições presidenciais de maio passado. A esquerda francesa em seu conjunto saiu vitoriosa no primeiro teste eleitoral após a eleição do socialista François Hollande para a presidência da República.

Ainda que não tenha ocorrido uma “onda rosa”, o primeiro turno das eleições legislativas confirmou nas urnas a continuidade do resultado da eleição presidencial: os partidos de esquerda obtiveram 46,3% dos votos contra 33,9% para a direita da UMP e seus aliados e 14% para a extrema-direita da Frente Nacional (FN). A FN confirma assim sua implantação nacional e se torna a terceira força política do país. Com este resultado, a extrema direita poderia ingressar no Parlamento, de onde está ausente desde 1988.

O Partido Socialista e seus três satélites Partido Radical de Esquerda, Movimento Republicano e Cidadão e esquerdas diversas conseguiram 35% dos votos. A estes votos é preciso somar o aporte dos ecologistas, 5,7% e os 7% da Frente de Esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon. Com esse percentual, a esquerda parlamentar poderia ficar com um leque que oscila entre 305 e 353 cadeiras, muito acima da maioria absoluta (289 num total de 577). Resta saber se o PS alcançará sozinho essa maioria ou se precisará do apoio dos verdes e da Frente de Esquerda. De maneira global, a esquerda totaliza cerca de 9 pontos a mais do que obteve nas eleições legislativas de 2007.

Segundo projeções da Ipsos para o jornal Le Monde, o PS deve obter entre 270 e 300 deputados, a Frente de Esquerda entre 14 e 20, o mesmo para o Partido Radical de Esquerda, enquanto que Europa Ecologia-Os Verdes oscilam em um leque que vai de 8 a 14 deputados. Sem fervor, mas com solidez, François Hollande tem ao seu alcance a maioria necessária para governar.

A direita parlamentar paga o tributo de sua derrota nas eleições presidenciais. Em relação ao resultado obtido em 2007, a ex-governista UMP, de Nicolas Sarkozy obteve 5 pontos a menos (39,57%). No entanto, as projeções para o segundo turno do próximo dia 17 de junho não são alentadoras para a UMP. Transtornada pela derrota nas eleições presidenciais, sem um capitão claro no timão depois da saída de cena de Sarkozy, a UMP, que em 2007 conseguiu 320 deputados, poderá conhecer uma derrota ainda mais severa dentro de uma semana.

No outro extremo, a líder e candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, registrou a progressão mais espetacular nesta consulta. Em linha direta com os altíssimos percentuais obtidos no primeiro turno das eleições presidenciais, Marine Le Pen atropelou em seu feudo de Henin-Beaumont seu rival Jean-Luc Mélenchon com mais de 42% dos votos, ao mesmo tempo que sua força política quase quadruplicou os resultados obtidos pelo pai de Marine, Jean Marie Le Pen, em 2007. Naquele ano, a FN obteve 4,29% dos votos contra os 14% atuais. Se na próxima semana se confirmarem os resultados deste domingo, a Frente nacional poderia ingressar na Assembleia com um ou dois deputados. Além de seu retorno à Assembleia, a extrema-direita prossegue com sua tarefa de destruição da direita tradicional. As porcentagens abrem a porta para o jogo perverso das confrontações triangulares esquerda-direita-extrema-direita. A Frente Nacional pode manter seus candidatos em cerca de 60 circunscrições.

As eleições trazem várias lições: o respaldo ao projeto social-democrata, a emergência de uma Frente de Esquerda que não existia, a permanência dos ecologistas, a força da extrema-direita, o recuo dos conservadores e a desaparição do centro de François Bayrou. O líder do Modem (Movimento Democrático) corre o risco de não ser reeleito em sua circunscrição, enquanto que seu partido apenas roçou 1,5% dos votos. Os eleitores não perdoaram o apoio de François Bayrou a François Hollande entre os dois turnos presidenciais.

O Partido Socialista, por sua vez, conseguiu romper o ciclo das derrotas sucessivas. Havia perdido as eleições legislativas de 2002 e 2007. Em 2002, a direita ganhou 394 deputados contra 141 para o PS. Em 2007, a recém criada UMP, de Nicolas Sarkozy, ganhou 320 deputados e os socialistas 204. A equação sofreu uma reviravolta e, com ela, a opção política. A direita oferecia austeridade, destruição do Estado de Bem-Estar, ultraliberalismo e cortes. A França respaldou nas urnas o caminho social-democrata e se converte assim em uma ilha dentro de um continente dominado pelo lobo das políticas ultraliberais.


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