21/10/2010

Que se passa em Catalunya?

Vicenç Navarro. Artigo tirado e traduzido desde aqui. Ilustraçom de Mikel Jaso.


Durante 23 anos Catalunya estivo governada por umha coligaçom de dous partidos (CIU), um liberal e outro cristao-democráta, coesionados por umha ideologia - o pujolismo- que constituia um nacionalismo essencialista fundado por Jordi Puyol e enraizado no nacionalismo conservador que historicamente tem existido em Catalunya. Este tipo de nacionalismo necessitou para a sua reproduçom o nacionalismo espanholista, de caráter também essencialista, que, com o jacobinismo que o caracteriza, produzia suficiente muniçom para poder movilizar as bases do nacionalismo conservador catalám. Nos debates da televisom pública catalá (TV3) - abusivametne controlada por CiU durante o período pujolista-, as vozes convidadas para apresentar o ponto de vista de Espanha eram sempre porta-vozes de aquele nacionalismo essencialista jabonino, como a Cope, que originavam respostas indignadas das audiências de tais meios contra Espanha.

Estes dous nacionalismos, que se ncessitavam o um ao outro para reproduzir-se, tinham duas características opostas. O nacionalismo espanhol fora vitorioso nas guerras em chao espanhol. Era o nacionalismo de conquista, com características racistas. O seu dia nacional era o 12 de outubro (o Dia da Hispanidade, que se chamava também o Dia da Raça), que celebrava a conquista e o genocídio da populaçom indígena em América Latina. O seu jacobinismo continuava sendo um piar fundamental de tal projecto político-cultural, insensível ao reconhecimento da pluralidade de naçons e regions em Espanha, exigindo umha uniformidade considerada ameaçante polos nacionalismos periféricos, como o catalám.

O nacionalismo essencialista catalám, no entanto, fora derrotado e a sua festa nacional (o 11 de setembro) recordava umha derrota militar. Isto justificava o seu vitimismo (de elevada rendabilidade poítica), o qual perdutou, pois assentou-se numha base real: nom apenas no anticatalanismo jacobino promovido polo nacionalismo essencialista espanhol, mas também na existência dum déficit fiscal o qual o nacionalismo catalám atribuia todos os retrasos em infraestrutura, tanto física como social, em Catalunya. Este déficit era real. Em 2003, era a causa de que um cidadao em Catalunya tivera 965 euros menos per capita do que lhe corresponderia se nom houvera existido esse déficit. Era umha quantidade importante, mas insuficiente, no entanto, para explicar o enorme retraso de gasto público social em Catalunya, o qual houvesse requirido um gasto de 2.735 euros per capita mais do que se gastava para alcançar o nível que lhe coresponderia na UE-15 polo seu nível de desenvolvemento económico.

Na verdade, a maior causa deste enorme déficit era a aliança de classes que se desenvolvera a nível do Estado espanhol entre os promotores de ambos nacionalismos conservadores. CiU e PP fôrom responsáveis das maiores rebaixas de impostos que Espanha tivo durante a época democrática. Esta reduçom durante o período 1996-2004 contribuiu para a enorme subfinanciaçom do Estado do bem-estar de Espanha, incluindo o de Catalunya. Nom foi, daquela, o conflito de naçons, mas a luita de classes, a responsável daquele enorme retraso social (luita de classes que se silenciou nos mídia de maior difusom, dominados por ambos nacionalismos). A burguesia, pequena burguesia e classe média de renda alta tinham um enorme poder, tanto em Espanha como em Catalunya (e continuam tendo-o), resultado dumha Transiçom imodélica que mantivo um Estado de escassíssima vocaçom redistributiva. Espanha e Catalunya som os países que tenhem maiores desigualdades na UE-15. O nacionalismo essencialista espanhol tem umha base popular, com amplo apoio em grandes sectores da classe trabalhadora espanhola, que fôrom sensíveis ao argumento que confunde igualdade de direitos para todos os espanhóis com uniformidade. O sucesso do PP e de UPyD basa-se, precisamente, na influência que 40 anos de ditaduta tivérom em reproduzir a imagem dumha Espanha uniforme, homogénea e centrada em Madrid. Tal situaçom, no entanto, nom se produziu com o nacionalismo essencialista catalám, pois grandes sectores da classe trabalhadora em Catalunya som imigrantes doutras partes de Espanha de fala castelhana, pouco sensíveis ao pujolismo. Daí que tal tipo de nacionalismo nom tivo este arraigo popular nos centros urbanos de Catalunya. Disto deriva-se que a abstençom da classe operária era essencial para a vitória de CiU nas eleiçons autonómicas.

Esta situaçom começou a mudar, porém, com a mudança de Govern em 2003, estabelecendo-se o governo tripartito de esquerdas, vitória baseada num programa de claro corte social-demócrata, o mais progressista que existiu em Catalunya desde 1939. Esta esquerda tinha umha visom distinta de Catalunya, na verdade oposta à de CiU, já que a sua base social e os interesses das classes que representava eram distintos aos de CiU. Na verdade, os que defendêrom a identidade catalá com mais afouteza durante a ditadura fôrom estas esquerdas. todos os dirigentes do Govern Tripartito luitaram contra da ditadura. A maioria dos dirigentes do Governo nacionalista nom o figeram, com algumhas excepçons, como a do presidet Pujol.

A visom de Catalunya das esquerdas era distinta à de CiU, pois nom era umha visom essencialista, mas orientada a melhorar o bem-estar das classes populares. O gasto público social cesceu muito notavelmente, reduzindo-se o enorme déficit que tinha Catalunya com o promédio da UE-15. Durante estes anos, Catalunya viu as reformas mais substanciais nos distintos sectores do Estado do bem-estar que acontecêrom nos últimos 70 anos. E, em troca, estes dados apenas se conhecem. Os meios de informaçom e persuasom de maior difusom em Catalunya centrárom toda a atençom mediática no tema nacional, ignorando e / o ocultando o tema social. O conflito de nacionalidades empregou-se por ambos bandos para ocultar os interesses comuns da classe que ambos nacionalismos essencialistas representam.

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