Antom Fente Parada, membro do Conselho editorial de Á revolta entre a mocidade (aqui).
O novo Governo do PP amostra perante a bancocracia e o capital financeiro internacional a sua vassalagem e situa no ministério mais importante, o de economia, a um antigo directivo de Lehman Brothers. Uma instituição que já controla o BCE e os governos grego e italiano. Assim, a oligarquia financeira, a plutocracia que esmaga os direitos e as democracias burguesas de Ocidentel, converte-se a cada passo mais numa família: na mais ilegítima das aristocracias.
O novo ministro, Luís de Guindos, dirigiu a filial do banco de investimentos especulativos Lehman Brothers no Estado espanhol, a gigante lula creditícia que conduziu com a sua queda em 2008 e o posterior "resgate" à uma profunda crise no sistema mundo capitalista e a conversão da dívida privada em dívida pública. Cumpre lembrar que quando a Lehman quebrou Guindos dizia que "isso" não afectaria ao Estado espanhol, mas meses depois a filial fechava. Grandes credenciais de "experto" e "técnico" para o novo ministro de economia. Isso sim, vem de boa Família, da máfia de Wall Street (que através de Buffett entronca com Urdangarin e a Casa Real dito seja de passagem).
No entanto, Guindos é também o mais claro exemplo do funcionamento da porta giratoria entre o mundo da empresa privada e o da política nos grandes partidos (PSOE e PP), fenómeno comum também nos EUA e estudado por Naomi Klein em A doutrina do choque. Guindos fora secretário de Estado de economia com José María Aznar. A derrota do PP daquela levou-no à Lehman Brothers e a queda de Lehman conduze-o à entidade que liquidaria a empresa (a consultora Pricewaterhouse Coopers) e a ser consultor de Endesa (onde trabalha também Aznar de "assesor" e de onde provinha a anterior fichagem "económica" do PP, Pizarro) e daí novamente à política sem nenhum tipo de responsabilidades. Guindos, aluno aventajado de Rato - ministro de economia com Aznar, logo com altos cargos no FMI e agora presidente de Bankia (antiga Caja Madrid)-, poderá devolver favores ao seu mestre e sanear os buracos da bancocracia espanhola pelas suas inversões especulativas, altamente lucrativas até que a borbulha estourou, no volátil sector imobiliário.
Já que logo, Guindos será o encarregado de "resgatar" por enésima vez à banca, socializando os seus activos tóxicos, contribuíndo ao aumento dos seus lucros e aprofundando a dívida pública e o déficit para assim seguir justificando mais e mais recortes e liquidações nas despesas públicas e sociais. Falamos de, quando menos, os 120.000 milhões de euros de dívida de 2012 e 40.000 de déficit. Tudo isto, numa conjuntura em que a bancocracia recebeu do BCE (a cuja frente está outro sócio de Lehman, Mário Draghi) 500.000 milhões de euros a 1% (enquanto lhe nega crédito aos estados que é uma função central dos bancos centrais desde a sua criação no século XVIII e XIX). É por isso que Draghi advertiu dum ataque sem precedentes nos mercados de bonos? Por outras palavras,
Por se for pouco, o ministério de economia liga-se com inovação no caminho de afortalar o discurso da deflação laboral permanente, do fim da negociação colectiva, na precaridade e nos minijobs... Um panorama de deflação laboral que não é nem muito menos novidoso, como já tenho apontado:
A globalizaçom nom é nem muito menos um fenómeno novo, dando-se a primeria durante a hegemonia no sistema-mundo capitalista do Império británico. Foi a era do capital (para Hobsbawn entre 1848-1870) e o tempo do laissez-faire também avalado entom pola crise de 1870, mas cuja ortodoxia se manteve até o crack de 1929 e conduziu a duas guerras mundiais. Na segunda globalizaçom as crises análogas fôrom a Guerra do Vietnam que marcou a crise-sinal da hegemonia dos EUA e a crise de 2008, comparável em este sentido com a de 1929.
(...)
A comisión internacional de Genebra sobre o ouro forçou políticas de "axuste estrutural" (como os ultraliberais após o colapso de Bretton-Woods) em determinados estados para conseguir supostamente moedas saludáveis (convertíveis). Estas políticas do shock gerarom graves transtornos sociais e os governos tinham que decidir entre a confianza dos mercados financeiros e o resultado das eleiçons democráticos. Así a fuga de capitais tivérom um papel importantíssimo, tanto no derrocamento dos governos liberais na França como no desenvolvimento do movimento nazi em Alemanha. Enquanto isso acontecia os partidos social-demócratas viam-se afastados do poder (Austria, 1923; Bélgica e França em 1926; e Alemanha e Grande Bretanha em 1931) ao tempo que se reduziam os serviços sociais e se esgaçavam as resistências dos sindicatos para "salvar" a moeda.
A restauraçom do padrom-ouro converteu-se num símbolo de solidariedade mundial na década de 1920 na retórica do establishment até que o crack de 1929 devolveu o mundo à realidade: os mercados livres nom se recuperárom embora se sacrificaram os governos livres. Aí emergeu o fascismo na década de trinta após governos eleitos nas urnas impor políticas autoritárias com o apoio do "liberalismo económico".
Assim, a certeza é que o pior da crise está por chegar. A conversão da dívida privada em dívida pública nuns centros do sistema-mundo capitalista instalados no caos sistémico conduziu para a última e mais perigosas das borbulhas especulativas dos últimos quarenta anos de ortodoxia ultraliberal, que não conduzirá a uma crise ou estagnação como a das .com, a asiática ou a das subprime, mas para uma depressão e uma crise, agora sim, inteiramente sistémica: um cenário ainda mais preto do que o de 1929. Essa borbulha é a da crise da dívida soberana... A globalização e o capitalismo tal e como o entendemos nos últimos 40 anos finou, porém o porvir não tem porque ser necessariamente um sistema mais justo e melhor, também pode ser um darwinismo social militarizado, um fascismo com novas roupagens, mas que nos traça um, agora sim, FELIZ 1984!
Um comentário:
Transmite medo todo isto, ese choque do que falas... mentres a esquerda no seu onanismo...
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