Protesto de Mulheres Transgredindo em Compostela (2005). |
O Brasil encurrala Inditex: detetadas mais 30 oficinas de 'escravos' vinculados a Zara, enquanto os principais meios de comunicação da burguesia galega calam.
Segundo o Governo brasileiro, estamos longe de ser um caso isolado, e as duas oficinas de São Paulo onde imigrantes ilegais fabricavam roupa para Zara em condições que se abeiravam da escravidão poderão ser só a ponta do icebergue. O Ministério de Trabalho brasileiro assegura que ao menos em outras 33 oficinas ao serviço de Zara se teriam detetado as mesmas irregularidades: trabalhadores amontoados, condições insalubres de trabalho e salários de miséria. Mas a multinacional Inditex, proprietária de Zara, afirma que se trata de uma "situação excecional", segundo assinalou ontem um porta-voz oficial da multinacional galega de têxtil fundada por Amancio Ortega.
Segundo revelou a auditora do Ministério de Trabalho Juliana Cassiano e já informamos nestas mesmas páginas do Diário Liberdade, a maioria dos 16 imigrantes bolivianos e peruanos libertados em duas oficinas de Sao Paulo não tinham documentação, eran introduzidos clandestinamente no Brasil por redes de tráfico de seres humanos e trabalhavam em condições "terríveis". Sua jornada era de até 16 horas diárias, amontoados com cinco menores de idade em um espaço minúsculo que servia ao mesmo tempo de oficina e morada, com um só banheiro sujo e sem água quente, "e todo para ganhar 200 ou 300 reais [entre 90 e 130 euros] e ficarem endividados e endividadas com as máfias que os trouxeram. A situação era mesmo muito grave".
Inditex voltou a responsabilizar a firma AHA, um de suas mais de 50 empresas fornecedoras no Brasil, de ter subcontratado de forma "não autorizada" o fabrico de peças têxteis de Zara nas duas oficinas clandestinas descobertas pelas autoridades daquele país. Mas os inspetores do Ministério do Trabalho rejeitam os argumentos da multinacional de Arteijo. "Se nós podemos rastrejar a cadeia de produção, Inditex também pode", sustenta Cassiano. "E se Inditex é capaz de controlar a qualidade de seus produtos durante todo o processo de produção, por que não faz o mesmo com a mão de obra que emprega?".
Precedentes e silêncio informativo
As autoridades brasileiras lembram que no passado mês de maio uma operação similar à despregada agora em São Paulo permitiu à Superintendência Regional de Trabalho e Emprego desmantelar várias oficinas clandestinas numa cidade do interior do mesmo estado brasileiro. Naquela ocasião foram libertados 52 trabalhadores, quase todos de nacionalidade boliviana, que estavam sendo intensamente explorados e submetidos a umas condições de trabalho degradantes. Segundo fontes do canal Band -cujos repórteres revelaram as supostas irregularidades cometidas por Zara em São Paulo-, a maioria dos 52 trabalhadores escravos libertados também elaborava peças de roupa para a mesma firma de moda galega que costuma ser apresentada como modelo de desenvolvimento industrial do capitalismo galego-espanhol.
Entretanto, o silêncio está sendo a nota dominante no tratamento do assunto por parte dos grandes meios informativos da burguesia galega, que mostra assim a sua cumplicidade com os métodos exploradores e escravistas dos "modélicos" burgueses que dirigem Zara e Inditex, cujo fundador, Amancio Ortega, tal como o seu amigo o rei de Espanha, é dono de uma das maiores fortunas do mundo.
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