Carolina Mandú. Félix Contreras diz, na segunda Noite Cubana de Outras Palavras, que cultura de seu país floresce, mas mudanças no jornalismo são difíceis
O poeta e escritor cubano Félix Contreras animou ontem (30/9), a segunda Noite Cubana de Outras Palavras.Sempre irriquieto e divertido, ele debateu “Literatura e Jornalismo, num país que se reinventa”. Realizado na sede da revista Viração – coabitada pela redação deste site — o evento reuniu cerca de 50 pessoas.
O escritor iniciou a noite apresentando fatos históricos sobre a ilha perpassando por temas como seu processo de colonização, o importante papel da igreja catolica neste e sua história pré-revolução de 1959. Entre histórias pessoais e do país, Félix diz que “cubano não tem memória, vive o dia”. Por isso apesar de saber bem de sua história, por vezes se esquece de momentos fundamentais dela como a Revolução de 1933 que, para ele, construiu diversas estruturas e pensamentos que posteriormente foram fundamentais na Revolução Cubana de 1959.
"Uma revolução só vale realmente se é capaz de reinventar-se”, afirmou Félix. Para ele a capacidade de “renascer de si” é necessária a um país, um movimento político ou um ser humano. O escritor crê que a revolução cubana deu provas de ter esta capacidade – desmentindo sociólogos franceses segundo os quais os movimentos revolucionários permancem vivos por no máximo dez anos.
Para Félix, a revolução cubana foi fundamental por ter sido capaz, entre outras conquistas, de suscitar o papel da cultura no país. Na primeira fase da revolução, denominada por ele “os dez anos em que tudo era possível”, surgiram espaços culturais conhecidas mundialmente, como o Instituto Cubano de Cinema, as Oficinas de arte e as Bibliotecas do país.
Como escritor e poeta, Félix acha fundamental o intercâmbio entre as culturas de Cuba e Brasil e lamenta a acessabilidade limitada entre ambas. Quando perguntado sobre a música cubana exclama: “Não há só Buena Vista Social Clube em Cuba, busquem outras coisas”. Lamenta o fato dos brasileiros não conhecerem “a rica e recheada de belissimos romances” literatura cubana. Cita uma de suas representantes, Cecilia Valdés. “Brasil e Cuba têm mais coisas em comum do que imaginamos” salienta o escritor, que discorreu rapidamente sobre a relação de Cuba com religiões africanas também presentes no Brasil. “Lá temos um santo africano de baixo da cama e um quadro católico na parede”, disse o cubano, provocando risadas de alguns ex-moradores da ilha presentes.
Sobre a reinvenção do jornalismo em seu país, Félix mostra-se pouco esperançoso. "Acredito que pelo histórico da mídia no país seja dificil de mudar a situação.” Félix refere-se tanto aos resultados políticos do bloqueio do país pelos EUA quanto ao controle dos meios de comunicação pelo Estado, ainda presente. Ele, que já fez parte do corpo de jornalistas literários do país, viu a repressão chegar aos poucos. Afirma que a literatura é hoje livre, mas fala sobre o assunto com certa tristeza no olhar.
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