01/12/2011

15-m O pobo indignado

Resenha de Antom Fente Parada, do Conselho editorial do blogue.
No plano político-institucional, coido que non resulta esaxerado diagnosticar que o réxime político se acha en proceso de descomposición - unha etapa desta segunda Restauración borbónica en certo xeito análoga ou equivalente á da primeira hai cousa de cen anos. O pacto constitucional está roto por obra dos mesmos actores que foran os seus artífices hai un terzo de século, a soberania 'nacional' cedida á UE e o FMI, os inquilinos do aparello de estado manexados coma monecos de ventrílucuo polo poder imperial e os seus 'misi dominici', o poder xucidicial a facer 'mangas e capirotes' dos dereitos dos cidadáns á marxe de calquera control democrático, a xerarquía católica reinstalada no sectarismo inquisitorial da "cruzada", e o capital financeiro transnacional convertido en 'bailleur de fonds' dunha metamorfose do nazi-fascismo encarnado nunha ultradereita reaccionaria e xenófoba disfrazada de popular: a farsa tráxica está servida no "corral nublado" de Max Estrella. Xosé Manuel Beiras Torrado: "O dereito dos pobos a decidirmos", páxina 19.

Hoje, quarta-feira, apresentava-se na livraria Couceiro o livro 15-m O pobo indignado que é um volume coordinado por Alfredo Iglesias Diéguez, membro do Conselho editorial de Altermundo, e que conta com uma nómina de autores entre o que se topam representantes da sociedade civil mais consciente da Galiza e da sociedade política. Precisamente o  coordinador sublinhou que o FSGal e Altermundo são o denominador comum de muitos dos autores que assinam o livro. Concretamente a nómina completa deste imprescindível livro - que já ia sair em setembro e cujos artigos se entregaram o 25 de julho- engrossam-na, por ordem de aparição: Xosé Manuel Beiras Torrado, Franscisco Sampedro, Justo Beramendi, Xavier Vence, Teresa Moure, Fermín Bouza, Manoel Santos, Manuel Casal Lodeiro, David Rodríguez Rodríguez, Raimundo Viejo Viñas, Carlos Taibo, Roi Ribeira Bezerra, Nanina Santos, Fernanda Couñago Otero, Lupe Ces, Lídia Senra, Xoán Hermida González, Xabier Macías, Dionísio Pereira, Cláudio López Garrido, Miguel Fernández Blanco, Xosé María Álvarez Cáccamo, Margarita Ledo Andión, Diana Varela Puñal e Gustavo Pernas Cora.

"Acaso a revolta non é tradución da indignación en acto'" pregunta Beiras na página 18 do livro. Kurt Vonnegut contava num dos seus romances como um psiquiatra falava da doença da "samaritrofia" que consistia em "uma indeferença histérica para com as desgraças dos que são menos afortunados do que um". Dalgum jeito esta doença da ficção narrativa é o devalar que se produz sempre em sociedades pouco coesas e em que avança o racismo, a xenofobia e o um fascismo social cada vez mais interiorizado... Tudo isso faz saltar as costuras sociais e emerge a indignação, condição necessária mas não suficiente para dar o seguinte passo: a revolta.

Para Xosé Manuel Beiras o "15-m nesta etapa tem como traço mais salientável a recuperação do espaço público, da ágora" e os piares devem ser cidadania, soberania e esquerda perante um Estado espanhol absolutamente periclitado (vid. supra) com uma peripécia eleitoral cuja única descrição é de categórica farsa; numa II Restauração bourbónica que, a cada passo mais, resolve-se carente de legitimidade, máxime com um novo Governo que vende o apoio duma parte pequena da população como apoio incondicional para continuar com a ortodoxia ultraliberal.

Roi Ribeira salientou as diferenças que, desde a óptica e a experiência militante, notou entre a militância no BNG e a militância em movimentos sociais, por sua vez diferentes do 15-m. Para este co-autor o mais importante é ver os pontos de fuga com respeito ao nacionalismo institucional que abre o movimento que é, em última instância, sucessor do 11-m que deitou o Governo de Aznar.

Os sindicatos e os partidos não detectaram o mal-estar social existente e aparece o 15-m auto-organizado mediante a assembleia esgaçando o binómio sindicato-partido na esquerda social-demócrata, rachando com a "plataforma" tão cara a parte da esquerda e pondo no seu lugar a assembleia. No 15-m a diferença entre o intelectual e a massa desdibuxa-se, não há dirigentes e filiadas ou filiados, etc. Até também é crivado pelo 15-m o apriorismo: qualquer um pode falar e receia-se da pertença a partidos...

Nanita Santos percebe que a esquerda existente não entende o 15-m e por isso receia dele, porque não o controla, uma herança segundo ela do leninismo. A gente lança-se à rua e joga ao lixo o estatismo e a falha de audácia da esquerda existente, que para Justo Beramendi é uma esquerda burocratizada, esclerotizada e comprada, do que a melhor mostra são as greves gerais convertidas num dia lúdico-festivo. Por isso, a massa teve que procurar viais alternativos para a luta e a mobilização. 

Segundo o catedrático de história contemporânea da USC, não se podem julgar coisas complexas como o 15-m e os movimentos sociais de maneira liviã, imediata e sem profundidade nem rigor. Os movimento assembleares deram-se sempre que os de "abaixo" não topavam outra fórmula para defender-se e comunicar, isso desde os sans-culottes até a Revolução russa. O 15-m é para Beramendi, e nisto coincide com muitos autores, uma condição necessária, mas não suficiente para mudar um sistema em crise, mas com mais poder do que há cem anos.

O sistema nunca mudou pelas boas, apenas quando achou que de não fazê-lo seria mau para os seis interesses, assim se explicam conquistas como welfare state perante o medo à URSS.

Lídia Senra fixo fincapé em que desde a contestação internacional ao ultraliberalismo que faz o SLG o 15-m é algo achegado e próximo. O 15-m  para o SLG foi algo recebido com alvoroço, após  as lutas de Via Campesina e organizações sociais diversas na mesma direcção. A mocidade, já que logo, acordou do "sonho europeu" em que se incubou pelas gerações anteriores, um consumismo louco. É uma excelente notícia que haja relevo geracional no combate ao sistema.

No entanto, a veterana dirigente sindical e labrega também vê perigos, como as estendíveis suspicácias com os partidos políticos e os sindicatos, um "todos são iguais" que poderiam dar pé a populismos e, aliás,  não se pode desbotar a via de luta organizada; e a prepotência destes para achegar-se e estabelecer pontes com o 15-m. O lógico é respeitar o enorme capital da esquerda ao tempo que se incorpora a mocidade ao combate político.

Xavier Vence afirma que do 15-m seguirão saindo coisas, bem sob essa fasquia ou sofrendo metamorfoses. O 15-m está na esteira dos movimentos que se foram gestando em Latinoamérica quando o ultraliberalismo começou a entrar em queda e a ser combatido. Em nenhum desses estados, nem no Magreb, nenhuma esquerda foi quem de canalizar a revolta e a sua forma actual remete mais para fórmulas libertárias. Porém, sem organização, nem organização nas organizações, é muito difícil mudar o sistema. Um anarquismo primário alimentado, para além do dito, com gosto pela reacção. Exemplos são as lutas que venceram o ultraliberalismo em Venezuela, Bolívia, Equador... movimentos que tomaram a sociedade política, que se tornaram hegemónicos e que abriram processos constituintes. 

O 15-m nasce também, para o professor de economia da USC, com vocação global e, já que logo, encardinado no internacionalismo e numa alternativa planetária ao sistema capitalista na sua fasquia ultraliberal, o que nalgum local tenho pessoalmente denominado como globalização (eufemismo de imperialismo) ultraliberal descendente.

Miguel Fernández Blanco apostou pela confluência dos militantes já existentes pré-15-m com os novos "indignados". No bate-papo posterior à apresentação  assinalou-se que não apenas  se mobilizou mocidade, mas também pessoas de todas as idades e que alguns partidos tentaram de forma encoberta apropriar-se do movimento como UPyD em Ourense. Luís Gonçalves Blasco, "Foz", histórico militante independentista, teve palavras de apoio para os okupas da Sala Yago, brutalmente desalojados pela polícia e com métodos fascistas. Esses okupas são também fruto da acampada do Obradoiro.

O coordinador Alfredo Iglesias Diéguez também salientou que o 15-m devolveu força à rua, devolveu o assemblearismo, trouxo para a actividade política a muita gente que até a altura estava afastada da luta política. Aliás, demonstrou a capacidade de organização que tem o povo. Isso não tira as eivas, como que as espontaneidades não façam revoluções, embora fossem espontâneos motins como os das mães de Petrogrado  antes de outubro de 1917. Não há´que organizar apenas o descontente, também manter a democracia nessa organização, máxime quando o capitalismo e a democracia são incompatíveis.

Para rematar Beiras contestou a uma pergunta sobre a razão pela que a mídia silenciava as revoltas de Islândia e Grécia e dava jogo ao 15-m ou a Occupy Wall Street. Para o porta-voz nacional do Encontro Irmandinho isso explica-se porque em Islândia e, sobretudo, Grécia há desobediência civil e rebelião, uma fase à que o 15-m não chegou ainda. O 15-m é apenas uma fase que se não passa à rebelião esmorece, isso é a chave independentemente do que conecte ou não com a esquerda: indignaçao - rebeliao-hegemonia / alternativa / poder - revolução.

Isso sim, o esquema plausível de revolução (vid. infra) no centro do sistema não responde às revoluções passadas, perante a refeudalização dum sistema-mundo capitalista metamorfoseado e inserido num caos sistémico. O sujeito histórico colectivo é plural, múltiplo e diverso... não é apenas o proletariado. O 15-m, neste sentido, rompeu o gelo, mas é mais doado de abordar pela mídia (para tentá-lo fragmentar, manipular e envasilhar pela mídia) do que uma rebelião; porque, infelizmente, o 15-m não é ainda uma ameaça nem sequer para o descomposto marco jurídico-político da Restauração bourbónica. "Quando okupamos a universidade? Eu próprio se a saúde mo permite comprometo-me a apoiar isto" ou "Quando okupamos São Caetano como os piqueteros na Argentina?" perguntou-se o histórico dirigente nacionalista.

Um livro colectivo, uma coral que procura a catarse e talvez achegar graus de razão entre todos para ajudar à montanha de areia nos velhos e novos militantes da esquerda a reconstrui-la, a dotá-la dum novo referente político para atingir uma sociedade mais justa e um mundo que detenha a sua depredação. Socialismo ou barbárie!






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