Nom se admitem latas de carne, de pasta de tomate,
nem roupa, nem sapatos, nem cadernos.
Guardarám-se nos nossos armazens de Kerem Shalom
até novo aviso.
Plátanos, maçás e cáquis si se admitem em Gaza,
e pegegos e támaras, e agora tamém macarrons
(despois da visita do senador americano).
Som essenciais para o sustento diário.
Porém nom os albricoques, as ameixas, as uvas,
os abacates, a marmelada.
Esses som luxos e nom se admitem.
Nom se admite papel para livros de texto.
Os terroristas poderiam usá-lo para imprimir material subversivo.
E para quê necessitas livros
agora que as escolas estám em ruínas?
Nom se admite aço, material de construçom, tubage plástica.
Os terroristas poderiam usá-lo para
lançar-nos foguetes.
Cabaços e cenouras, está bem, mas nada de lambetadas,
nem cereijas, granadas, melancias, cebolas, nada
de chocolate.
Temos umha listage de tres dúzias de produtos que si se admitem
mas nom temos a obriga de fazê-la pública.
Esta é a decisom a que chegárom
o coronel Levi, o coronel Rosenzweig e o coronel Segal.
O nosso lema:
“Nem prosperidade, nem desenvolvimento, nem crise humanitária”.
Pode-se pescar no Mediterráneo
a nom mais de três millas da costa.
Mais alá abrimos fogo.
É muito de lamentar que as augas estejam contaminadas,
com setenta e cinco milhons de litros de augas residuais
ao dia, ao mar,
segundo a cifra oficial.
Os nossos foguetes caírom nas depuradoras
e agora nom se admitem peças de reposto para repará-las.
Em tanto que Hamas nos ameace
nom se admite cimento, nem cristal, nem material médico.
Estamos-vos vigilando desde avions nom dirigidos
enquanto refogades o que haja sobre fogueiras
onde vos ides deitar
nas ruénas de moradas destruídas por granadas de carros-de-combate.
E se as vossas crianças nom podem durmir
porque botam a menos os mortos da nossa incursom
ou acordam chorando, ou molham a cama
nas vossas barracas provisionais de refugiados,
ou gritam da dor dos seus membros amputados,
é o preço que pagades por dar abrigo a terroristas.
Deus deu-nos esta terra.
Umha terra sem povo para um povo sem terra.
Richard Tillinghast (Memphis, Tennessee, 1940) é um muito destacado poeta norteamericano que reside atualmente na República de Irlanda, trás retirar-se da ensinança que praticou em Michigan e Harvard, entre outras universidades. Durante vinte anos foi crítico de poesia da New York Times Book Review. Para umha primeira aproximaçom a sua obra pode-se consultar http://www-personal.umich.edu/~rwtill. O poema que reproduzimos aqui foi tirado do espaço em rede da revista Sin Permiso e traduzido para o galego desde o castelhano (aguardemos que nom perda qualidade) publicando-se o original em The Irish Times el 5 de junio de 2010.
Um comentário:
Lembra-me ó "mentres imos andando" do nosso gram celso emilio.
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