21/02/2011

Um poema por Tahrir, por Egito

Nancy Messieh. Artigo tirado de aqui e traduzido para o galego por nós. Messieh é umha poeta e fotógrafa exipcia residente em Cairo e que continua a tradiçom de escritores africanos em língua inglesa, por exemplo em obras como Photographs Never Taken. Boa leitura!



essa praça pública
com nome de sino e história
como sabendo o que ia vir
firmes ficamos 
dizindo, nom nos moverám
pintamos poemas no duro asfalto
amolecido, enchoupado da sangue nossa

e o mundo olhava.

O mundo olhava enquanto nos chamavam
traidores
e nos ecrás das televisons
dos fogares, fechadas as portas nom fora
entrar a verdade, 
os homens chuspiam às cámaras desprezo
e as mulheres gritavam por telefone
olhos e coraçons cheios de raiva
incapazes de entender
que Tahrir era sua, para eles,
enquanto os olhos do governo mostravam só o que queriam
que viramos
o sol-por sobre o Nilo

e todo o que fazia falha era girar o mínimo a cabeça e à esquerda
polo cabo do olho enxergar
mostrando a névoa do sol do Cairo entre os gases lacrimógenos,
os homens à carga polas ruas com os seus corpos apenas
topando com os camions da polícia que os atropelam.

Os jornais falavam de brigas por todo o Mediterráneo
 pretendendo que esse dia que começara
no Cairo
era igual a outro qualquer.

Porém algo começara.

Homens e mulheres estremeciam a terra
com as suas vozes.

De norte a sul
caiam corpos ao piso, deixavam de latejar os coraçons
mas em Tahrir por eles mantivemos alta a testa
saindo dos muros polos que, toda a nossa vida,
caminhamos pegados, ocultos na sombra
da conformidade e do medo

abrimos ao assassinato os nossos peitos,
abrimos às pedras os nossos rostos, às balas os nossos olhos, 
as nossas mentes aos molotov que à cabeça nos jogavam

 e dixemos

nom temos medo

porque o medo a viver com a cara soterrada
no chao dumha terra que nom pode já sentir 
era nada, nada comparado com o medo a morrer
sem ter dito nem umha vez 
 
som livre.

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