Alejandro Nadal. Artigo publicado no jornal mexicano La Jornada e tirado de Esquerda.net (aqui) por nós para À revolta entre a mocidade. Nadal é economista e professor em El Colegio de México.
Os principais pólos de crescimento da economia mundial estão em dificuldades e temos pela frente um longo processo de estagnação e de desigualdade crescente. Na Europa assistimos a uma obra-prima do engano e da manipulação.
"Quero de volta o meu futuro". Foto de Guerrilla Futures | Jason Tester |
Quando a crise explodiu no fim de 2007, o prognóstico não era nada bom. Mas a gravidade do assunto foi disfarçada por uma terminologia inofensiva: falou-se de recessão, o que imediatamente convidava a examinar como seria a recuperação. O debate enquadrou-se numa discussão sobre a forma da recuperação. Falou-se particularmente muito da possibilidade de uma recessão em forma de W, ou seja, com uma primeira queda seguida de recuperação e, posteriormente, de outra recaída. Hoje parece que esse prognóstico está prestes a cumprir-se. E é preciso não esquecer: as recaídas são piores.
Os principais pólos de crescimento da economia mundial estão em dificuldades e temos pela frente um longo processo de estagnação e de desigualdade crescente. A China está prestes a enfrentar a sua primeira crise capitalista severa. Convencionalmente foi apresentada como um modelo de sucesso, baseado num investimento pujante, mudanças tecnológicas e competitividade. Mas poucas vezes se reconhece que o seu sector bancário está a enfrentar graves problemas. O seu impressionante volume de crédito malparado é o resultado de uma política monetária e creditícia que propiciou o endividamento excessivo e a especulação imobiliária. Os empréstimos chegam quase aos 3 mil milhões de dólares e isso levou à especulação dos preços dos bens imóveis. O investimento em bens de raiz está saturado e existem apartamentos vazios com capacidade para 200 milhões de pessoas. A bolha imobiliária na China já atingiu proporções míticas e no dia que explodir os efeitos sentir-se-ão em todo o mundo.
A pressão sobre os custos laborais intensifica-se, ao mesmo tempo que o sobreinvestimento gerou um excesso espantoso de capacidade instalada. Hoje, os rendimentos que serviram para justificar os investimentos de ontem não estão ao nível exigido para cobrir os custos e os encargos financeiros. As expectativas favoráveis dos investidores de anos passados podem não chegar a cumprir-se. A China descobrirá que a essência do capitalismo tem dois pilares: por um lado o crescimento económico, impulsionado pela concorrência intercapitalista; por outro, a tendência para a instabilidade e para a estagnação. Em Pequim ficarão a saber que os motores do dinamismo e do crescimento são, ao mesmo tempo, os geradores da disfuncionalidade e da crise.
Na União Europeia, a política de austeridade condena à estagnação. Não servirá para reactivar a economia através de uma hipotética redução das taxas de juro. Também não será útil para fomentar a criação de empregos. Nem sequer servirá para resgatar as finanças públicas porque a cobrança cairá e o endividamento terá de continuar.
Na sua corrida desenfreada para maximizar lucros, o capitalismo europeu pretende eliminar qualquer vislumbre de solidariedade com a classe trabalhadora, reduzindo custos laborais e suprimindo direitos nos locais de trabalho. Esse foi o sonho dos donos do capital: a submissão do Estado através do endividamento. Para desmantelar o que resta do estado social, a submissão política à esfera financeira é ideal.
Na Europa assistimos a uma obra-prima do engano e da manipulação: o colapso financeiro transformou-se em crise da dívida soberana dos países europeus, o que ameaça mesmo a sobrevivência da moeda única. A derrocada financeira que se gerou no sector privado converteu-se em crise das finanças públicas porque o custo gigantesco da crise se socializou, enquanto os lucros permaneceram na esfera privada. É um processo de uma grande violência social.
Nos Estados Unidos, epicentro da crise, a política fiscal já foi dirigida para a austeridade. Dizer que os indicadores sobre emprego e evolução da indústria manufactureira são desanimadores é um eufemismo. Apesar disso, em Washington ninguém quer ouvir falar de incentivos fiscais para a economia, a começar pelo próprio Obama, demasiado ocupado com a recolha de fundos em Wall Street para a contenda eleitoral que se aproxima.
Em matéria de política monetária, o salva-vidas da flexibilidade quantitativa está prestes a desaparecer. A Reserva Federal não repetirá a injecção de liquidez adquirindo títulos do governo federal. De qualquer forma, até agora, os únicos que beneficiaram dessa política foram os bancos e as grandes corporações que viram a sua tesouraria afogada em liquidez.
Há muito tempo que, nas economias capitalistas, o Estado deixou de ser uma instância para resolver os conflitos sociais (incluindo o da distribuição). Mas agora o denominador comum é que o Estado se consolidou como agente do capital financeiro e como instrumento de dominação que rejeita as exigências da população. Cumpriram-se assim os mais caros anseios da classe capitalista e inicia-se uma nova etapa na história do capitalismo. Não será uma etapa longa e terá de ser solucionada no terreno da política.
Os principais pólos de crescimento da economia mundial estão em dificuldades e temos pela frente um longo processo de estagnação e de desigualdade crescente. A China está prestes a enfrentar a sua primeira crise capitalista severa. Convencionalmente foi apresentada como um modelo de sucesso, baseado num investimento pujante, mudanças tecnológicas e competitividade. Mas poucas vezes se reconhece que o seu sector bancário está a enfrentar graves problemas. O seu impressionante volume de crédito malparado é o resultado de uma política monetária e creditícia que propiciou o endividamento excessivo e a especulação imobiliária. Os empréstimos chegam quase aos 3 mil milhões de dólares e isso levou à especulação dos preços dos bens imóveis. O investimento em bens de raiz está saturado e existem apartamentos vazios com capacidade para 200 milhões de pessoas. A bolha imobiliária na China já atingiu proporções míticas e no dia que explodir os efeitos sentir-se-ão em todo o mundo.
A pressão sobre os custos laborais intensifica-se, ao mesmo tempo que o sobreinvestimento gerou um excesso espantoso de capacidade instalada. Hoje, os rendimentos que serviram para justificar os investimentos de ontem não estão ao nível exigido para cobrir os custos e os encargos financeiros. As expectativas favoráveis dos investidores de anos passados podem não chegar a cumprir-se. A China descobrirá que a essência do capitalismo tem dois pilares: por um lado o crescimento económico, impulsionado pela concorrência intercapitalista; por outro, a tendência para a instabilidade e para a estagnação. Em Pequim ficarão a saber que os motores do dinamismo e do crescimento são, ao mesmo tempo, os geradores da disfuncionalidade e da crise.
Na União Europeia, a política de austeridade condena à estagnação. Não servirá para reactivar a economia através de uma hipotética redução das taxas de juro. Também não será útil para fomentar a criação de empregos. Nem sequer servirá para resgatar as finanças públicas porque a cobrança cairá e o endividamento terá de continuar.
Na sua corrida desenfreada para maximizar lucros, o capitalismo europeu pretende eliminar qualquer vislumbre de solidariedade com a classe trabalhadora, reduzindo custos laborais e suprimindo direitos nos locais de trabalho. Esse foi o sonho dos donos do capital: a submissão do Estado através do endividamento. Para desmantelar o que resta do estado social, a submissão política à esfera financeira é ideal.
Na Europa assistimos a uma obra-prima do engano e da manipulação: o colapso financeiro transformou-se em crise da dívida soberana dos países europeus, o que ameaça mesmo a sobrevivência da moeda única. A derrocada financeira que se gerou no sector privado converteu-se em crise das finanças públicas porque o custo gigantesco da crise se socializou, enquanto os lucros permaneceram na esfera privada. É um processo de uma grande violência social.
Nos Estados Unidos, epicentro da crise, a política fiscal já foi dirigida para a austeridade. Dizer que os indicadores sobre emprego e evolução da indústria manufactureira são desanimadores é um eufemismo. Apesar disso, em Washington ninguém quer ouvir falar de incentivos fiscais para a economia, a começar pelo próprio Obama, demasiado ocupado com a recolha de fundos em Wall Street para a contenda eleitoral que se aproxima.
Em matéria de política monetária, o salva-vidas da flexibilidade quantitativa está prestes a desaparecer. A Reserva Federal não repetirá a injecção de liquidez adquirindo títulos do governo federal. De qualquer forma, até agora, os únicos que beneficiaram dessa política foram os bancos e as grandes corporações que viram a sua tesouraria afogada em liquidez.
Há muito tempo que, nas economias capitalistas, o Estado deixou de ser uma instância para resolver os conflitos sociais (incluindo o da distribuição). Mas agora o denominador comum é que o Estado se consolidou como agente do capital financeiro e como instrumento de dominação que rejeita as exigências da população. Cumpriram-se assim os mais caros anseios da classe capitalista e inicia-se uma nova etapa na história do capitalismo. Não será uma etapa longa e terá de ser solucionada no terreno da política.
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