10/12/2013

Venezuela: vitória do chavismo frustra previsões da oposição

Marcelo Justo. Artigo tirado de Carta Maior (aqui). Tradução: Marco Aurélio Weissheimer.

A vitória do chavismo nas eleições municipais de domingo é um duro golpe nas previsões apocalípticas sobre a economia e a desintegração nacional que a oposição vinha fazendo desde a morte de Hugo Chávez em março. A Carta Maior conversou com o co-presidente do Center for Economic and Policy Research, de Washington, Mark Weisbrot, que vem acompanhando a revolução chavista desde o início.

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CM: O resultado da eleição não deixa de surpreender. A oposição qualificou a disputa como um virtual referendo em um país que, supostamente, estaria mergulhado no caos. O resultado confirma que o chavismo está vivo.


MW: É que não há informação fidedigna a respeito do que acontece na Venezuela. Desde o início do chavismo, a informação é totalmente parcial. Um dos dados mais notáveis do qual ninguém fala é uma estatística que apareceu no Banco Mundial e que voltou a aparecer na semana passada na Cepal. É só fazer uma busca na internet para encontrar que, segundo o Banco Mundial, a pobreza caiu cerca de 20% na Venezuela em 2012. Essa é a maior diminuição de pobreza na América Latina e, provavelmente, no mundo.

CM: Atribuem a Bill Clinton uma explicação contundente sobre sua primeira vitória presidencial: “é a economia, estúpido”. Pode-se parafraseá-lo neste caso dizendo “é a sociedade, estúpido”.

MW: É a economia e a sociedade. A economia não anda bem, mas as pessoas não votaram só nos últimos nove meses. As pessoas votam em um projeto que já tem muitos anos. Os que escaparam da pobreza graças ao chavismo não ficarão novamente mergulhados na inflação porque não vivem de salários fixos, mas sim são autônomos. A vida dessas pessoas melhorou muito. A menos que haja um longo período em que essa situação mude, o chavismo seguirá ganhando. Das últimas 16 eleições, ganharam 15.

CM: Ao mesmo tempo, os preços ao consumidor subiram 49%, no mercado negro o dólar vale sete vezes mais que o oficial, há desabastecimento de produtos básicos, desde leite até papel higiênico, e as reservas estão caindo. Em resumo: a economia não anda lá muito bem.

MW: Certamente há problemas, mas a forte redução da pobreza no ano passado tem muito peso em uma sociedade como a venezuelana. Foram construídas centenas de milhares de casas, estão expandindo a educação e a saúde. Se a inflação continua, o governo pode perder apoio, mas por enquanto as pessoas pensam que a inflação vai baixar. Isso já ocorreu antes. Depois da greve petroleira que terminou em 2003, a inflação chegou a 40% e depois caiu para 10%. As pessoas acham que no futuro vai ocorrer a mesma coisa.

CM: Mas é um problema que pode desgastar a popularidade do governo. Como vão controlá-lo?

MW: Não parece tão difícil. Em grande medida tudo vem do mercado negro. Nestes momentos, há uma bolha em torno do dólar da mesma maneira que houve uma bolha imobiliária nos Estados Unidos. Hoje o dólar está custando 50 bolívares no mercado negro. Estava a 18 em janeiro. A expectativa das pessoas é que o dólar seguirá aumentando, da mesma maneira que, nos Estados Unidos, as pessoas pensavam que o preço das casas seguiria aumentando. É certo que a inflação aumentou no ano passado, mas este ano teve um comportamento descontínuo.

Alcançou seu máximo em maio com 6,1%, mas caiu para 3% em agosto e subiu de novo para 5,1% em outubro. Não é um cenário de hiperinflação. E esta bolha, como toda bolha, terminará explodindo.

CM: Para muitos, o problema é que o chavismo é economicamente insustentável.

MW: Isso é o que vem dizendo nos últimos 13 anos, que a economia está a ponto de colapsar, mas isso nunca ocorreu. O argumento da oposição e dos meios de comunicação internacionais é que a Venezuela está no meio de uma espiral de desvalorização e inflação na qual o aumento dos preços solapa a confiança na economia e na moeda, provocando a fuga de capitais e o crescimento do mercado negro. O final de toda esta espiral é um processo de hiperinflação, aumento da dívida externa e da crise na balança de pagamentos. Mas não se entende por que um país que tem mais de 90 bilhões de dólares de receita petroleira tenha uma crise na balança de pagamentos. No ano passado, as importações foram de 59 bilhões de dólares e a conta corrente registrou um superávit de 11 bilhões ou 2,9% do PIB. O governo não vai ficar sem dólares. Isso foi reconhecido pelo Bank of America em sua última análise.

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