28/09/2009

A língua da Galiza perante o repto dumha educaçom privada e centralizada: as dimensons soterradas de Bolonha como panca do neoliberalismo capitalista

As perguntas sobre a iminente entrada em vigor do Plano Bolonha crescem, enquanto o estudantado vive na sua imensa maioria de costas ao mesmo e sem nem sequer enxergar as suas conseqüências a curto e meio prazo. Nesta breve palestra tentaremos expor ao longo de quatro pontos que é Bolonha em linhas gerais, mas soterradas polos meia, para podermos compreender o verdadeiro alcance do Plano e assi poder determinar o futuro que se pode beliscar para o galego, que, em todo caso se presume preto ou mui preto.
I.- Bolonha como fase superior do actual estádio educativo
Ainda a risco de cair numha excessiva simplificaçom podemos afirmar que na história da educaçom, quando menos na Ocidental -a do centro do sistema Imperialista-, se distinguem três fases bem claras com distintos impactos tanto a nível colectivo, na correlaçom ente opressores e oprimidos, como a nível individual, na incidência sobre a própria concepçom do mundo de cadaquém.
A primeira destas fases retrotrai-se à Pré-História e a Antigüidade onde os sacerdotes, ora chamados assi, ora coma druidas ou com qualquer outro nome, que detentavam o saber e a transmissom do mesmo exercendo, aliás, em muitos casos nom apenas como guardiáns do dogma religioso, mas tamém como possuidores dos saberes curativos e por ende medicinais. Tratava-se de castas fechadas onde era difícil entrar e de fazê-lo requeria uns ritos iniciáticos e uns compromissos de por vida como, por exemplo, no críptico culto de Baco; equiparáveis, tomando a licença de transpor até hoje essas realidades, aos votos do dogma católico. Lembremos como os druidas, segundo expom Júlio César em A guerra das Gálias, abominavam da escrita e confiavam na memória, como mecanismo para evitar que qualquer pessoa externa ao seu rito pudesse acceder aos sacros saberes, os mesmos que os dotavam dumha posiçom de pré-eminência nas sociedades em que se inseriam.
A continuaçom, e com a mudança radical que supom o triunfo da revoluçom burguesa na França de 1789, surdem os estado-naçom e com eles o nacionalismo tal e como o conhecemos hoje, ao menos no tocante aos nacionalismos estatais e centrípetos, nom aplicável do mesmo jeito para os centrífugos, todo hai que dizê-lo. Os estado-naçom substituim a legitimidade divina do poder por umha suposta vontade democrática e universal que se traduze, no entanto, numha democracia censitária onde apenas os grandes capitais decidem realmente o governo e as medidas proteccionistas que este devia tomar para favorecer os seus interesses, mas pessoais do que «nacionais» como eles defendiam (o individual sobre o colectivo, coma nas línguas). Assi as cousas nom está de mais indicar que a educaçom se fazia necessária nom apenas para alimentar umha maior demanda de burocracia que todo estado moderno exige, mas tamém com o galho de «educar» aos cidadaos no novo dogma: o nacionalismo do estado polo que os indivíduos devem até morrer se for preciso.
Nom estranha entom que os saberes escolares se reduzissem em muitos casos mais ao reconhecimento dessas superestruturas do que ao conhecimento das mesmas, gerando em situaçons de colonizaçom cultural dinámicas de auto-xenreira. Em resumo podemos determinar que a história, a literatura e todos os demais saberes, tamém a língua estatal como veículo unificador e criador dumha consciência grupal, se fôrom falseando com o fim de criar mitos e relatos de façanhas pretéritas e colectivas, coma o emprego imperialista de El Quixote no caso espanhol, que permitissem sentir-se um mais no magma do estado-naçom. Na medida que estes nacionalismos se afiançam, com a inevitável colaboraçom dos mestres, tendem a camuflar o seu discurso centrífugo e nacionalista, máxime quando desde a periferia se formulam demandas secessionistas, e identificam o nacionalismo como algo terrível nos outros agachando logicamente o seu. Traduzido a retórica mística do século XXI todos os inimigos do estado, e se nom os hai inventam-se como fijo o centro do Império com o 11-S para justificar novos atropelos e barbáries no exterior e no interior, som os maus e denominam-se com palavras que os meia previamente tenhem reformulado e carregado de conotaçons: nacionalistas, radicais, assassinos, e, sobretodo, terroristas. Obviam logicamente que na maioria dos casos toda violência dos discursos centrífugos nasce como resposta à que o estado leva exercendo desde a sua criaçom no seu perpetuo afám centralizador.
Especialmente sangante é, a pouco que se pense, esta realidade no Estado espanhol, já que o deficiente processo educativo do XIX e de grande parte do XX, conduziu, junto a outros múltiplos factores, que agora nom podemos analisar, a umha inusual retardaçom da implantaçom dos dogmas chamados liberais, já que o capitalismo parasitário da Igreja e os terra-tenentes, maioritário, identificava-se mais com o Antigo Régime do que com o Estado Moderno e os processos golpistas que invadem todo o século XIX som umha boa mostra disto. Aquelas zonas com umha burguesia mais forte desenvolvêrom estratégias de defesa perante isto e só assi se explica o nascimento, quase em paralelo à criaçom do Estado espanhol, de nacionalismo que procuravam desligar os seus territórios do estado-parasito espanhol. Catalunya é o exemplo paradigmático e Euskal Herria combinou umha fase evidentemente absolutista, unida neste caso ao parasitismo que defendia os foros por serem garantes do seu estatus sócio-económico, com outra burguesa e secessionista a raiz da criaçom da indústria da fundiçom e da grande banca basca. Por último, na Galiza constata-se como a ausência dumha burguesia forte se traduze num nacionalismo de sesgo culturalista que nom consegue penetrar na sua comunidade e que quando se traduze em formaçons políticas «exige-lhes» derivas para o centro na procura de aglutinar todo quanto voto seja possível, com o qual atraiçoa os seus naturais apoios e explica situaçons como a que se produziu o 1 de Março. O capital fica supeditado em grado sumo à metrópole e como tal o binómio político-mediático dedicou-se a fazer-lhe o jogo sujo ao espanholismo mais cavernário. E nom entremos já na natureza do colonialismo interior e na serôdia entrada da Galiza no capitalismo, o qual nom impede que participe hogano das dinámicas do neoliberalismo capitalista se bem com imperfeiçons.
A terceira destas fases que vimos debulhando, em fim, é a que substitui os mestres polos jornalistas e as escolas e os púlpitos polos tubos catódicos. Séries de ficçom sobre a monarquia e o 23-F tenhem proliferado ultimamente como pancas de controlo da história, adoçando-a, falseando-a e eliminando a memória individual verdadeira por umha colectiva irreal mais aceite por ser a maioritária. O logos soterrado polo mito. Eram estes os mesmos mitos que o franquismo transmitia com o NODO e as escolas, mas com a aparência de pluralidade e liberdade. A santa liberdade que tanto invocam os que adoito lhe ponhem travas e pejas. A televisom é um método muito mais eficaz do que nengum outro para educar e moldar ao cidadao incauto, já que se expom infinidade de horas perante os patrons de família, consumo, pensamento, etc. que esta lhe transmite toda vez que desde um sofá ou umha cadeira dificilmente se podem exercer tentativas de mudar rem. É, destarte, o método mais eficaz de assimilaçom lingüística.
Portanto, o Plano Bolonha pode-se definir como a fase superior, ao jeito que Lenine definia o estádio vigente do desenvolvimento capitalista, do actual entramado educativo. A universidade, reserva crítica e desidente, terá de aceitar de cheio a mercantilizaçom, o saber-mercancia, e a degradaçom dos saberes tradicionais. A substituiçom da aprendizage pola qualificaçom, enquadra-se na lógica de reforçar o privado e os efeitos do amigo catódico, isso si, subestimando em excesso a capacidade cognitiva e de resposta do mundo universitário, ou isso é o que revela a servidume com a que o estudantado e a comunidade universitária em geral aceitam esta reconversom industrial aplicada ao ensino.
II.- Bolonha como a grande reconversom industrial aplicada ao ensino
Em primeiro lugar, devemos sublinhar que o processo de Bolonha nasceu e cresceu num ambiente de mutismo total, que a pouco que olhemos para outros processos de natureza mercantil e impositiva, por exemplo o referendo da infame Constituiçom europeia, dá quando menos que pensar. Ninguém dos seus defensores se molestou em expor claramente em que consiste o Plano Bolonha, para além de acumular mitos, tópicos e falsidades ou meias verdades para ganhar-se a adesom da sociedade desinformada e sem fontes alternativas às que recorrer. Porém dos meios de incomunicaçom já falaremos, centremo-nos polo de pronto no Plano.
A ninguém com um pouco de sagacidade e conhecimento sobre o Plano Bolonha se lhe escapa que sob a capa maravilhosa do Espaço Europeu de Educaçom Superior se agocha a imposiçom dum modelo ao estilo norte-americano, quer dizer, que se procura nom apenas privatizar mas tamém, e isto é ainda pior, mercantilizar o ensino, reduzindo o saber a simples mercancia e o conhecimento a um valor mais do sacrossanto livre mercado. Já digo a ninguém com um mínimo de sagacidade se lhe escapa isto, o problema é quando na sociedade nom existe esta sagacidade porque o espírito crítico já leva décadas sendo assediado e aniquilado através dos meios de incomunicaçom. Aí está o grande êxito de Bolonha face outras reformas, no magistral uso dos meios de incomunicaçom e na mais umha vez completa complementariedade entre as forças do bipartidismo da II Restauraçom, que conduze a esperpentos como o que estám a viver em Euskal Herria, onde os partidos dinásticos apartam o seu teatro de máscaras, em expressom outeirense, para fundir-se num abraço pátrio e espanhol: o novo Vergara.
Dizia o tolo do Beiras, referindo-se a LOU e já nom a Bolonha, cuja consideraçom é ainda pior que
«um dos problemas claves é se a LOU conculca determinados direitos que estám na Constituiçom, como por exemplo o direito ao ensino gratuito, incluindo o nível universitário. Porque com a LOU isso desaparece segue sendo proclamado, mas na prática vai desaparecer em boa medida, e assi sucesivamente»[1].
E daquel bulheiro, acrescentamos nós, este esterco. Com Bolonha o gasto público na educaçom superior fica reduzido a limites insólitos e aplica-se umha reforma muito profunda a custe cero, deixando os masters ao arbítrio da grande empresa, sobretodo nalgumhas licenciaturas, com umha clientela ampla para os seus produtos. A mercantilizaçom chegará à essência do sistema universitário afectando nom apenas ao alunado, mas tamém à docência e a investigaçom. A decência, se me é permitida a brincadeira, acho que é ao que fundamentalmente afecta. A universidade pública e a privada equiparam-se ao tender à auto-financiaçom através dos empréstimos-bolsa, deixando à universidade privada numha evidente posiçom de vantage, ao finacia-la indirectamente com fundos públicos, algo que evidentemente em pouco ajuda à nossa língua.
O rematadamente mais esquizofrénico deste processo é que enquanto naufraga o sistema neoliberal (a intervençom de CCM polo Banco Estatal é o último sintoma junto à crise de General Motors ou Crysler nos EUA) aplica-se umha reforma neoliberal ao ensino que, previsivelmente, trairá ainda mais deficit público para liquidar em poucos anos o sistema de bem-estar privatizando a educaçom e a sanidade, enquanto Obama quer montar nos EUA um sistema de sanidade pública. O mundo às avessas.
Desde logo, Bolonha é um atentado, a barbárie da que Rosa Luxemburgo falava, ao serviço do privado e nas antípodas dumha educaçom pública e já nom digamos socialista. A tam vendida convergência europeia, que de por parte tam boa foi para a Galiza e o seu agro, nom vai além dumha deformaçom perversa do modelo anglosaxom que liquida a educaçom superior pública ou o que quedava dela após sucessivas reformas que deformárom o plano, desde meados dos setenta, em que o estudantado tinha participado, direito ganhado após anos de luita que se adiantárom incluso ao Maio do 68 francês nuns meses.
Bolonha é, aliás, o retorno a estádios pretéritos da educaçom. A esclerose do elitismo e da endogamia, cujos filhos som as passantias, a memorizaçom irracional e a impostura. Umha universidade em Galiza, nom umha universidade galega, feito ainda nunca totalmente atingido no país dos minifúndios. Previsivelmente, haverá três castes de universidades, coma no franquismo: a universidade de províncias, as mais, e simples passantias para criar trabalhadores em precário; as universidades/faculdades meias, com algum master reputado a nível estatal; e as de elite, que serám as de qualidade e prestígio internacional, na sua maioria privadas e em todo caso privatizadoras e mercantilizadas. O panorama para as humanidades e neste senso preto e um pergunta-se como é que sem a análise das ciências sociais a universidade pode estar ao dispor do povo galego e as suas estruturas e superestruturas?
Com a conivência da universidade o binómio político-mediático já poderá reduzir a 90% da populaçom a umha espiral de ignoráncia que lhes permita o espólio, a centralizaçom e o recorte de liberdades nom por imposiçom, mas aguardando a que a desinformaçom e a malinformaçom penetrem na gente, que demandará repressom e todo tipo de atrocidades: energia nuclear, video-vigiánça, pena capital, etc. A comunicaçom como alienaçom.
III.- Bolonha e o binómio político-mediático: a perfeita tutela propagandística dum processo
A pouco que observemos resulta inequívoco que o processo de Bolonha já tem conseguido um grande número de adesons e que os núcleos reticentes de certa entidade som mui curtos e achicam-se, aliás, geograficamente, sobretodo nos Països Catalans, com Barcelona à cabeça, e na capital do Estado. Estas adesons entusiastas revelam ora umha grande hipocrisia, no tocante às capas cimeiras do mundo universitário e do Estado espanhol, ora um absoluto desconhecimento do Plano Bolonha mais alô do que os poderes fácticos desejam que se conheça.
Nem que dizer tem que o controlo do pensamento e da educaçom som dinámicas próprias de qualquer regime totalitário e que se ligam à elitizaçom do ensino. Todo isso encontraremos numha olhada a sério sobre Bolonha, e com nada que aprofundemos decataremo-nos como acelerará a precaridade laboral das capas mais qualificadas da sociedade. Sublinho o de qualificadas à tema, porque já nom serám os melhor formados, mas simplesmente terám um título que os acreditará para exercer como mao de obra barata que ajude ao sistema a auto-regular-se.
Os processos económicos desta regularizaçom do sistema com a privatizaçom do ensino som três, quando menos numha análise superficial e deixando a um lado a liquidaçom paulatina do welfare state ou estado do bem-estar:
a) Endividamento do Estado e do estudantado com a banca blindando a privatizaçom e a mercantilizaçom do ensino perante qualquer futura ingerência. O Estado contrai débito para poder aplicar o processo e manter a universidade pública a pesar do recorte continuado de gasto e de meios meterias, posto que concederá bolsas ou assegurará o pago das bolsas-crédito à banca, ao tempo que com essas bolsas-crédito se financiará a privada que irá ganhando em prestigio a passos agigantados. O estudantado contrai desde o seu primeiro ano de carreira umha dívida com a banca ao ter que recorrer as bolsas-crédito e cada vez a quantidade será maior, pois a medida que as bolsas convencionais se reduzam e as taxas universitárias subam (como conseqüência do aumento de custos e da baixada de inversom do Estado) isto irá a pior. Em resumo, a universidade terá que necessariamente recorrer à auto-financiaçom ou, noutras palavras, o estudantado financiará à universidade que funcionará no futuro como pouco menos do que umha academia cujos benefícios recairám sobre as empresas de forma mediata ou imediata. Isto levará com o tempo a umha deflagraçom social terrível a nível europeu, que apagará especialmente às classes meias do funcionarado e contrairá o consumo inçando os embargos, como expugérom os catedráticos em estrutura económica, Javier Vence e Beiras numha palestra impartida na faculdade de Ciências Económicas, intitulada «Crise financieira e imobiliária. Crise do sistema neoliberal» de 2008.
b) Precarizaçom da mao de obra, baixada dos ordenados e despido a custo cero. A medida que a crise vai evolucionando imos comprovando como a patronal ensina os dentes e solicita o abaratamento do despido perante uns sindicatos completamente inseridos na dinámica do capitalismo e, portanto, do neoliberalismo capitalista. Bolonha criará um espaço europeu de competência com as suas vantages e inconvenientes. As universidades europeias conhecerám umha grande hierarquia e agá uns poucos privilegiados a maioria serám operários precários ora dum Estado cada vez mais débil para legislar perante o capital e mais endividado com este, ora dumha empresa qualquer à que lhe sobrará a oferta de mao de obra podendo, em virtude da salvage lei do livre mercado e da lei da oferta e da demanda, proletarizar ainda mais a sociedade, baixar os salários e fazer da precaridade, a inseguridade laboral e o medo ao manhá umha máxima que permita manter ao rebanho no redil. Acho que isto responde à definiçom que ainda recolhem os dicionários para terrorismo.
c) Mercantilizar o saber e fazer do conhecimento umha mercancia da que obter o máximo lucro no mínimo tempo possível em virtude da lógica do capitalismo. Os estados irám cedendo atribuiçons, e já nom apenas na educaçom, cada vez em maior medida às empresas enquanto o discurso nacionalista dos estados se inçará para poder manter-se como instituiçom repressiva que garanta a orde e o lucro das empresas, ou seja, nom teria muito sentido manter sinais de identidade de grupos étnicos diferenciados, caso dos ciganos ou dos muçulmanos e demais comunidades imigrantes no Estado espanhol[2]; nem muito menos dar asas às naçons da periferia para que tomem ainda mais consciência do seu estado de prostraçom. Aqui é que se insire-se a questom lingüística.
Naturalmente, todo este entramado nom é o que o binómio político-militar publicita e no Estado espanhol as campanhas de lavado de cara de Bolonha sucedem-se enquanto o movimento de oposiçom, nomeadamente capitalizado pola esquerda altermundista, tam só aparece nos meios de incomunicaçom em actos violentos ou em protestos, nunca em palestras expondo as suas ideias e refutando a retórica oficial. As instituiçons da II Restauraçom bourbónica, e os restantes poderes fácticos que controlam os meios de massas, encarregam-se de promocionar Bolonha como a construçom dumha universidade sem fronteiras, nesse falso e vazio cosmopolitismo do que tanto gostam as mentes alienadas pola globalizaçom capitalista. Perguntar-nos em primeiro lugar se a globalizaçom tem traído consigo um mundo melhor, ou simplesmente um mundo cada vez mais desigual, mais ameaçado ecologicamente e mais poupado culturalmente. Perguntar-nos se um espaço superior europeu cuja brújula seja o lucro e o mercado vai reforçar a formaçom e o espírito crítico da sociedades dos povos europeus ou diluí-los numha incultura onde os tubos catódicos determinem junto a universidades-academia que é o que devemos pensar, como fazê-lo e que consumir ao tempo que a vaga autoritária e eliminaçom de direitos e liberdades se justificará para combater um inimigo invisível: o terrorismo. Qualquer que se oponha à globalizaçom capitalista, e ao capitalismo conseqüentemente, é inimigo dos poderes na sombra, e inimigo da naçom e do estado e, em definitiva, é um terrorista. Os jornalistas som sem dúvida os catedráticos do século XXI.
Como indica Inácio Ramonet a divisom de poderes de Montesquieu entre legislativo, executivo e judicial passa à tríada de poder económico, poder mediático e poder político:
«Nos seus esquemas o poder político nom é mais ca o terceiro poder por diante atopa-se o poder económico e o poder mediático, e em quanto se posuem estes, fazer-se com o poder político nom é mais que um simples trámite»[3] .
IV.- Língua e naçom. Bolonha e a desgaleguizaçom do ensino para a definitiva assimilaçom lingüística
O Plano Bolonha caminha para um espaço europeu de educaçom, o plano educativo dos estados, na UE dos estados e nom dos povos, como ficou bem claro no fanado projecto de Constituiçom Europeia, carta outorgada finalmente que o mercado nos impom aos europeus, embora tenha sido rejeitado em Holanda, na França e mais recentemente em Irlanda[4].
Logicamente, neste contexto pouco ou nada que dizer tenhem as naçons da periferia e ainda menos as que nom contam com instituiçom estatais próprias por muito débeis que estas sejam, ainda os estados perderam atribuiçons face as entidades super-estatais. Daquela, apenas se afirmarám as línguas estatais e o inglês como língua franca, na medida em que os nacionalismos francês, espanhol e alemám o permitam. Aliás, o nacionalismo espanhol centrípeto advoga por umha nova estratégia, por comenência e apenas nalguns contextos, de idealizaçom do que chamam «liberdades». Afirmaçons de Galicia bilingüe como «las lenguas no tienen derechos» nom vam além de consagrar a concepçom individualista liberal que fai fincapé nos direitos do cidadao perante a concepçom socialista que advoga, em geral, polos direitos sociais e colectivos, quer dizer, que enquanto para uns o que tem muito é porque o merece ou porque arriscou capital, para outros é porque o espoliou a partir da especulaçom e da única mercancia da que milhons de pessoas disponhem: a sua força de trabalho.
O nacionalismo espanhol emprega qualquer meio a sua disposiçom para deteriorar as identidades nacionais alternativas à estatal e etiquetas como a de «fascista» aplicam-se agora à esquerda soberanista de Euzkadi, Catalunya e Galiza, polo geral na boca dos que colaborárom com o franquismo ou dos seus herdeiros (im) morais e ideológicos. Que ninguém hesite, Bolonha será empregado para recortar ainda mais a presença do galego na universidade, para volver fazer da universidade umha instituiçom colonial. O espanholismo, como nacionalismo central, tem como característica principal, tal e como assinala o Carlos Taibo, a sua «instalaçom cómoda, e silenciosa, nos aparatos centrais dum estado, de tal jeito que as suas demandas principais ficam genericamente satisfeitas. Bem é verdade que esses mesmos nacionalismos mostram outro carácter, muito mais agressivo e perfilado, quando as elites correspondentes estimam que a sua situaçom está repentinamente em perigo»[5].
Um destes grandes democratas é o vitalício chefe de estado e lingüista, Joám Carlos I, quem afirmou que «nunca fue la nuestra lengua de imposición, sino de encuentro. A nadie se le obligó nunca a hablar en castellano. Fueron los pueblos más diversos los que hicieron suyo por libre voluntad el idioma de Cervantes». A asseveraçom do bourbom destila tópicos e imperialismo a partes iguais[6]. Em primeiro lugar, nega a repressom sobre as línguas nom oficiais durante séculos e nomeadamente durante o franquismo, regime que o catapultou ao poder, nom o esqueçamos[7]. Em segundo termo, revela o mito de Cervantes e o emprego dumha obra literária apenas castelhana e para nada espanholista, no sentido nacionalista do termo, como mito da grandeza da língua e da Hispanidade, invençom chauvinista para manter umha metrópole cultural toda vez que a política se tem extinto.
Na USC actual o galego apenas chega a 20%, sendo a universidade onde tem maior uso das três da Galiza. Um perfeito bilingüismo harmónico sem dúvida ao que Bolonha nada terá que engadir se acaso restar, ao degradar a categoria das Humanidades e de muitas «faculdades de províncias». Para o nacionalismo espanhol bilingüismo é a carauta que adopta o canibalismo lingüístico do espanholismo do século XXI, quer dizer, que se tolera que as gentes sejam bilingües por enquanto nom é possível fazer outra cousa[8], mas sublinhando desde os meios de incomunicaçom que «nom hai piores espanhóis que aqueles que nom abraçam com alegria a língua espanhola, sobre a base, claro da intuiçom de que umha naçom lhe corresponde, por necessidade, umha soa língua (intuiçom que nom é senom a mesma que – sugere-se entom com reprovaçom e severidade- abraçam os nacionalismos periféricos»[9].
Com o exposto, fica bem claro que existe umha língua A, a oficial, a do Estado espanhol, e umha série de línguas B. Na Constituiçom de 1978 isto sanciona-se sem tapulhas e poucas som as cartas magnas que indicam que conhecer a língua estatal é obrigatório. O galego, o catalám e o eúskara som apenas «um dever» nos territórios em que som co-oficiais e, daquela caim numha séria e lesiva contradiçom com o artigo 139.1: «todos los españoles tienen los mismos derechos y obligaciones en cualquier parte del territorio del Estado». A contrário do que poda pensar-se, e como ocorre com tantos outros artigos, a ninguém se lhe ocorre recorrer isto por inconstitucional e aos castelám-falantes da periferia, especialmente a pseudo-intelectuais que vam medrar a conta de estilar o seu auto-ódio a Madrid, apresentam-nos coma «mártires y valientes patriotas frente a la intolerancia de los nacionalismos». Todo seja pola «lengua común», símbolo da sua «unidad de destino en lo universal».
Coda
Para rematar retomar o lema que Manuel Rivas expunha em El País [10] na passada sexta-feira em que lhe pedia a Feijoo que fechasse a caixa de Pandora da língua, que abriu por demagogia, e onde, amais, afirmava que nos próximos anos nom haverá apenas que sacar a língua, mas tamém ensinar os dentes perante qualquer agressom contra a língua nacional. Ao pé Henrique Monteagudo, eminente sócio-lingüista, embotado quiçais polo seu quintanismo (nada para além disso justifica ao meu ver certas afirmaçons do texto), pede-lhe ao nacionalismo que renuncie ao monolingüismo social algo que redunda em dar-lhe a razom aos inimigos da nossa cultura, o qual nom quere dizer que nom acerte quando defende a necessidade de políticas lingüísticas efectivas e nom simples defesa retórica da língua.
Sacar a língua e ensinar os dentes. Organizar assembleias, campanhas de agitaçom, conferências de ilustres altermundistas para a formaçom, concentraçons e greves. Paremos Bolonha ou, quando menos, demonstremos que neste Finisterrae ainda fica dignidade, ainda ficam bons e generosos. NÓS SÓS! Dixem.


[1] Beiras Torrado, José Manuel (2008), Por unha Galiza liberada e novos ensaios, Espiral Maior, Culheredo, p. 306.
[2] Veja-se a proposta de Mariano Rajoy sobre o «contrato de inmigración».
[3] Op. cit. 307.
[4] Já hai anos, quando o referendo sobre a “Constituiçom” do Estado espanhol alguns já indicamos o aberrante daquela consulta «à bulgara», onde os partidários do “nom” fomos totalmente marginalizados por umha campanha de desinformaçom apoiada polo matrimónio tam bem levado dos partidos da restauraçom [«Introito iñantes do entroido» em Revista IES Lucus Augusti, Maio 2005.
[5] Taibo, Carlos (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, 158.
[6] El País, 24 de Abril de 2001.
[7] Freitas Juvino, Maria Pilar (2008), A represión lingüística en Galiza no século XX, Xerais, Vigo, pp. 13-14.
[8] Em Asturies ou Aragom nega-se incluso a co-oficialidade para as suas línguas nacionais, sendo o aragonês a língua románica mais ameaçada do mundo, mas ao Império apenas lhe dói o espanhol de Filipinas.
[9] Taibo, Carlos (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, pp. 110-112.
[10] Em 27-3-2009; curiosamente na cabeceira o jornal inclui a legenda «El periódico global en español» em afirmaçom claramente chauvinista para umha ediçom supostamente galega.

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