31/05/2010

O informe da OCDE e a manifesta loucura que agora passa por opiniom respeitável


Tivem ocasiom de ler o novo informe da OCDE (OECD Economic Outlook). É um documento terrorífico. Por quê? Nom porque ofereça umhas perspetivas desoladoras, embora o faga: bem que a OCDE fai projeçons de crescimiento, ainda pronostica um desemprego extremadamente elevado para os vindouros. Nom, o que resulta arrepiante é a manifiesta locuura que agora passa por opiniom respeitável.
Eis o que diz a OCDE sobre a política monetária dos EUA:
“Nos EUA, onde algumhas medidas incrementárom as expetativas de inflaçom a longo praço e onde o mercado de trabalho se estabilizou antes do esperado, o começo da normalizaçom [pola que entendem um aumento dos tipos de juros] nom deveria retrassar-se para além do último trimestre de 2010. A política de tipos de juros deveria estar já a mais de médio caminho da neutralidade afinal de 2011, mas o curso da convergência para a plena normalizaçom deveria acelerar-se se as expetativas de inflaçom a longo praço siguem aumentando.”
Deste jeito, a OCDE quere que a Reserva federal comece a elevaos tipos de juros –nos próximos seis meses, ou inantes—, porque… bom, vejamos os próprios pronósticos da OCDE. De acordo com os seus pronósticos, no quarto trimestre de 2011 –dentro dum ano e meio— a taxa de desemprego seguirá sendo de 8,4%. Por enquanto, a inflaçom será de 1% (bastante por baixo do objetivo de inflaçom da Fed, que é de 2%). Pero ainda com o pronóstico da OCDE, quê razom poderia aduzir-se para endurecer agora a política monetária, quando a economia ainda terá um enorme excesso de capacidade e umha inflaçom demasiado baixa a finais do ano próximo?
A única explicaçom parece achar-se no começo do passo citado: algumhas gentes, vem a dizer o informe, estám empezando a pensar que poderia haver inflaçom, de modo que ainda no caso de que essas gentes andiveram equivocadas segundo os nossos pronósticos, já vem, necessitamos pô-los em cabeça desse temor fantasmal e pôr freio à recuperaçom da economia… ou nom?
O que resulta espeluznante aqui é que a OCDE define virtualmente a sabiduria convencional; é umha espécie de paragráfo numerado que qualquer comissom tem de subscrever rutinariamente, fále-se do que se queira, para, como dim, asseiar os matizes. O que tiramos em limpo de todo isso é que entre pessoas sensíveis chegou a converter-se em sabiduria convencional a ideia de que tes que socavar a recuperaçom económica a fim de apaciguar a quem pensam que poderia haver inflaçom, e isso a despeito de que na verdade nom a haja. Umha sabiduria tam convencional que se considera algo de todo ponto evidente.
E isso é o realmente, realmente mao.
Paul Krugman é professor de economia em Princeton. Foi Prémio Nobel de Economia em 2008. Traduçom castelhana para Sinpermiso de Miguel de Puñoenrostro, a partir da qual foi realizada esta para o galego-português.

N.T.:

Pola sua parte, Peter Gowan tem assinalado que o RDWS [o Régime Dólar-Wall Street] tivo terríveis consequências para os estados da periferia do sistema-mundo capitalista, torando as suas economias extremadamente vulneráveis, e dependentes, às oscilaçons devastadoras e imprevisíveis dos seus médios financeiros e monetários. A única garantia consistia em reduzir essa vulnerabilidade mediante o superávit, a aussência de endividamento e a acumulaçom de divisas. Nom é difícil olhar como todo isto se pode detetar no caso grego que, aliás, como no Estado espanhol, carece de possibilidade de manobra monetária ao depender do euro-Dutchland.

Logicamente os custos destas medidas requirem medidas de "austeridade" drásticas e prolongadas que provocam a recrudescência da luita de classe e a necessidade de militarizar e esmagar com repressom à sociedade civil, substituíndo como dizia Loïc Wacqant, em As cárceres da miséria, o estado-providência polo estado-penitência, ou, por outras palavras, a queda do velfarismo e o ascenso de fórmulas de neofascismo.

De por parte, os EUA e o capital financeiro mundial apoiado nesta hegemonia do RDWS anglo-americana tentárom desde 1989 restaurar a dominaçom da pós-guerra sobre a Uniom Europeia, toda vez que umha Europa federal com um programa político, económico e social próprio e global seria umha ameaça para os interesses fulcrais do império central que ocupa a cima da pirámide Norte-Sul.

Na crise grega, e ainda nas medidas do Estado espanhol, olhamos nom apenas que as forças políticas sistémicas som reféns das forças de governança global que anulam de facto a democracia formal burguesa, mas tamém que estas forças de governança global como o FMI reestruturam as economias políticas domésticas dos estados intervidos na direço unilateral de favorecer os interesses do capitalismo anglo-americano e, subsidiariamente, da Alemanha e a Holanda. Aliás, como assinala em Misérias da globalizaçom capitalista o Carlos Taibo, "trás dos esforços de umha OMC entregue à tarefa de desmantelar, sim, os nossos estados de bem-estar, mas nom para levantar as economias depauperadas dos países mais pobres, senom, antes, para engrossar as contas bancárias dos de sempre". A imediata consequência de todo isto é a que retratou bem às claras "o filósofo estado-unidense John Dewey, para quem a democracia perde o seu sentido quando a vida de um país se vê governada por genuínos tiranos privados, de tal maneira que os trabalhadores se encontram subordinados ao controlo empresarial e a política devém a sobra que os grandes negócios lançam sobre a sociedade".

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