A linguage que se emprega para explicar a crise é umha lenguage que aparenta ser neutra, meramente técnica, quando, na verdade, é profundamente política. Assi, di-se-nos que os "mercados financeiros" estám forçando aos países da Uniom Europeia e, muito especialmente, aos países mediterráneos - Grécia, Portugal e Espanha- e Irlanda, a seguir políticas de grande austeriade reduzindo os seus déficits e dívidas públicas, com o fim de recuperar a confiança dos mercados, condiçom necessária para alcançar a recuperaçom económica. Como dizo fai uns dias Jean-Claude Trichet, presidene do Banco Centra Europeu (BCE): " A condiçom para a recuperaçom económica é a disciplina fiscal, sem a qual os mercados financeiros nom certificam a credibilidade dos estados (Financial Times, 15-05-2010).
A realidade, no entanto, é muito diferente. Estas medidas de austeridade, promovidas polo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pola Uniom Europeia (UE), estám criando um grande deterioro da qualidade de vida das classes populares, pois estám afectando negativamente a sua protecçom social e estám destruíndo emprego, dificultando a sua recuperaçom económica. Assi aconteceu em Lituánia, onde o seu PIB disminiu 17% e o seu desemprego alcançou 22% da populaçom activa (veja-se o meu artigo "Quem é que paga os custes do euro"? em http://www.vnavarro.org ). Umha situaçom semelhante ocorrerá nos países citados anteriormente.
Pareceria, pois, que som os mercados financeiros os que estám impondo estas políticas aos governos. Ora, quê é que quere dizer "os mercados financeiros"? Na teoria, na dogmática liberal que domina os establishments europeus (o Conselho Europeu, o BCE e a Comissom Europeia, assi como nos governos da maioria dos países da UE), os mercados som processos de libre comércio entre agentes financeiros - os bancos- que obtenhem benefícios para compensar os seus riscos, pois assume-se que existem riscos em tais mercados. Porém tal retórica nom define a realidade, pois tais entidades - os bancos- operam dentro de ámbitos e instituiçons enormemente proteccionnistas dos seus interesses, nos que o risco, em geral, brilha pola sua ausência. Verdadeiramente, os mal chamados mercados tenhem muito pouco de mercado. Som bancos com muito benefício e pouco risco. E o que está ocorrendo mostra a certeza desse diagnóstico.
Nos EUA, onde existe amplo consenso sobre o facto de que a crise financeira foi iniciada polos comportamentos de Wall Street, a crise bancaria foi resolta com a achega aos bancos de quase um bilhom de dólares pagados polo Estado, que beneficiou enormemente os banqueiros e os seus accionistas, conseguindo até mais benefícios dos que tinham denantes da crise. A obscenidade de tais benefícios e práticas desonestas e criminosas dos banqueiros (causantes da crise) explica a sua enorme impopularidade e a de tais medidas, que nom repercutírom favoravelmente sobre a populaçom que viu como os seus estándares de vida diminuírom devido à crise provocada polos bancos. Nom fôrom os mercados, mas os bancos e os seus políticos no Congresso (com nomes e apelidos conhecidos) e nas administraçons de Clinton, Bush e Obama (tamém com nomes e apelidos conhecidos), os que criárom a crise, salvárom os bancos e agora chamam para a austeridade.
Umha situaçom quase inédita está ocorrendo na UE. Os comportamentos especulativos da banca europeia fôromo conseqüencia de decisons políticas que desregulárom a banca, decisons que se tomárom especialmente, nom apenas em Wall Street, mas tamém nos centros financeiros, principalmente a City de Londres e em Francoforte, conseqüencia da enorme influência da banca sobre os governos británico e alemám. A mal chamada "ajuda" do FMI-UE (de 750.000 milhons de euros) aos países com dificuldades nom é umha ajuda para as populaçons desses países, mas aos bancos (e muito especialmente aos alemáns e franceses) para assegurar-lhes que os estados lhes pagarám as dívidasa com os juros confiscatórios que exigírom. Na verdade, se os mercados financeiros foram mercados de verdade (e, portanto, houvera competitividade e risco no seu comportamento), os bancos teriam que absorver as suas perdas em inversons financeiras falidas. Se o Governo de Grécia, por exemplo, fôra à bancarrota, a banca alemá teria que absorver as perdas de ter tomado a decisom de mercar bonos do Estado grego.
Ora, isto nom acontece nos mal chamados mercados financeiros devido a que hai toda umha série de instituiçons que protegem os bancos. E a mais importante é o FMI, que empresta quartos aos estados para que os pague aos bancos. Daí que, como nos EUA, os bancos nunca perdam. As que perdem som as classes populares, pois o FMI exige aos governos que tirem o dinheiro para pagar aos bandos dos serviços públicos de tais classes populares. O que o FMI fai é a transferência de fundos das classes populares aos bancos. Isto é o que se chama "conseguir a credibilidade dos estados frente aos mercados".
Estas transferências, no entanto, para além de serem profundamente injustas, som enormemente ineficientes. O fracasso das políticas de austeridade propostas polo FMI nos países em crise é bem conhecido, o que explica o descrédito de tal instituiçom. O FMI, desde a época de Reagan, é a organizaçom financeira que impuxo mais sacrifícios às classes populares dos países que recebírom "a sua ajuda", com resultados económicos altamente negativos, como tem denunciado correctamente Joseph Stiglitz. Nom som os mercados, mas os interesses bancários e os seus aliados - entre os que salientam o FMI e o BCE- os que estám impondo estes sacríficios. Ao menos, chamemos os culpáveis polo seu nome.
Artigo tirando de aqui. Vicenç Navarro é catedrático de Políticas Públicas da Universidade Pompeu Frabra e professor da Public Policy em The Jonhs Hopkins University.
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