01/06/2010

Nom é a Grécia nem a Espanha o problema É-o a Alemanha

Vicenç Navarro, artigo tirado do blogue do autor.

Este artigo assinala que, em contra do que se está indicando nos maiores fórums onde a sabiduría convencional é reproducida, a causa maior da crise da eurozona nom está na “exuberáncia” do gasto público e dos “excessivos” ordenados dos países periféricos mas na escassa demanda doméstica existente nos países situados no centro de tal zona, e muito especialmente na Alemanha. O estancamento dos ordenados (com disminuiçom das rendas do trabalho) consequência das políticas dos goviernos Schröder e Merkel, criou um enorme problema de demanda, sendo as exportaçons o único motor da economia daquel país. O grande crescimento das rendas do capital na Alemanha e a sua grande dependência nas exportaçons significou umha grande concentraçom de capital que se empregou, nom em melhorar a massa salarial, mas em exportá-la a outros países comprando dívida externa dos países periféricos e injectando liquidez nos bancos destes países enormemente endividados. A crise atual, com as demandas de austeridade nos países periféricos é a tentativa dos bancos centrais de recuperar os seus fundos. A ajuda da UE e do FMI é um empréstimo aos estados para que paguem as suas dívidas a aqueles bancos.



Estamos vendo estes dias a grande presom que o establishment europeu –o Conselho Europeu, a Comissom Europeia e o Banco Central Europeu- e a grande maioria dos média estám a exercer sobre os países periféricos - Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda- para que imponham políticas de austeridade, reduzindo déficits e dívida pública, e baixando ordenados, a fim de sair da Grande Recesom que a eurozona está sofrendo. O grande erro desta estratégia de presom é que asume erroneamente que o problema em que se encontra a Eurozona o criárom estes estados com os seus despilfarros e a sua falta de disciplina fiscal, o qual é doado de mostrar que nom é certo. Nem existe um despilfarro de gasto público naqueles estados (todos eles tenhem os gastos e empregos públicos mais baixos da UE-15), nem os seus ordenados som exuberantes (estám muito por baixo do promédio da UE-15, independentemente do nível de produtividade que tenham).


O grande segrego, ocultado ou ignorado polos grandes média de informaçom e persuasom, é que o problema da eurozona nom está na periferia mas no centro, quer dizer, na Alemanha. A economia alemá estivo em muito baixa forma durante vários anos. Os seus ordenados nom aumentárom durante os últimos quinze anos, consequênica das medias antisindicais de baixos ordenados, tomadas polos governos de Gerhard Schroeder –incluída a famosa reforma 2010- e de Angela Merkel, facilitadas tamém pola ampla disponibilidade de trabalhadores procedentes da antiga Alemanha do Este e de imigrantes procedentes do Este de Europa. Durante estes quinze últimos anos, as suas inversons fôrom escassas (menores que nos países periféricos), o seu crescimento económico muito lento (muito mais lento que os países periféricos) e o seu desemprego estivo crescendo. Na verdade, o crescimento da sua produtividade foi menor que na maioria do que na maioria dos países periféricos, agás Espanha ( ver o meu artigo "El problema de la Eurozona no está en la periferia sino en el centro”, Sistema Digital, 27.05.10. Tamém no meu blogue www.vnavarro.org , seçom Economia Política).


A descida das rendas do trabalho na Alemanha criou um problema assaz maior de falta de demanda, consequência da falha de crescimento da massa salarial (que diminuiu como percentage da renda nacional, consequência de que os ordenados crescêrom menos que a produtividade). Daí que o crescimento económico alemám se tenha baseado, nom no aumento da demanda doméstica mas no crescimento das exportaçons, com a conseguinte acumulaçom de euros (pois duas terças partes das exportaçons vam a países da eurozona, que pagam em euros) na banca alemá.

Quê é que tem feito a banca alemá com tantos euros? Várias cousas. Umha delas é emprestar-lhos aos países mediterráneos. O fluxo de liquidez (dinheiro dos bancos alemáns aos espanhóis, por exemplo) tem sido enorme. Este fluxo ajudou a estabelecr à banca espanhola o complexo bancário - imobiliário-industrial da construçom, um complexo altamente especulativo que criou a bolha imobiliária e que foi o motor da economia espanhola. Outra cousa que fixo a banca alemá foi mercar a dívida externa a interesses elevados no caso dos países mediterráneos. A maioria da dívida destes países é propriedade da banca alemá (e francesa). Aliás, por se isto fora pouco, o capital alemám para além do anterior invertiu diretamente em atividades especulativas de tipo imobiliário em países periféricos. Parte do derramo das costas espanholas foi financiado com papital alemám.

Porém todo isto nom rematou. O colapso das bolhas imobiliárias e a crise das bancas estado-unidense e británica, claramente conetadas com a banca alemá, criárom um gravíssimo problema para esta banca. E aí está o quid da questom. A grande austeridade que o establishment europeu está pedindo é para assegurar-se que a banca (incluíndo a banca germana) nom perda os seus benefícios. Como bem dixo oPremio Nobel de Economía, Joseph Stiglitz, a supuesta ajuda do Fundo Monetario Internacional e da Uniom Europeia aos estados periféricos é umha ajuda aos bancos del centro (da Alemanha e da França). Emprestam-se quartos aos estados periféricos para que podam pagar aos bancos centrais. Este é o grande segredo que os média de persuasom tamém ocultam e ignoram. Na verdade, todo poderia ter ocorrido dumha maneira distinta se no conflito entre Gerhard Shroeder, Chanceler de Alemanha, e Oska Lafontaine, Ministro de Economia e Finanças, tivera ganho Oskar Lafontaine. O que a esquerda - Lafontaine [Die Linke]- queria era inçar a demanda interna, mediante a subida dos ordenados e o aumento do gasto público. Foi Schroeder, próximo à banca e ao mundo das exportaçons, quem ganhou (causando a saída de Lafontaine do governo e do partido socialdemócrata). De ter ganho a esquerda na Alemanha, aquel estado houvera tido um crescimento económico baseiado no crescimento a demanda interna, ajudando nom só às classes populares da Alemanha, mas a toda a UE. Tal medida tamém teria corregido o excessivo saldo negativo da balança de pagos que tenhem os países periféricos, orige, em parte, dos seus problemas. Como bem dixo a Ministra de Economia do governo francês, a Sra. Christine Lagarde, “o problema atual é o estancamento da demanda em Alemanha devido a que os salários nom crescêrom. É importante e urgente que medrem”. Nom podia dizer-se melhor.


A banca alemá, todavia, opom-se rotundamente a que isto ocorra, nom só na Alemanha, mas a nível de toda Europa. E o BCE, o FMI e o Banco de Espanha som os porta-vozes ultraliberais mais estridentes que se oponhem a isto. O que desejam estes é que a banca nom fique afetada negativamente, pois conseguiu enormes benefícios a base de criar grandes quantidades de dívida, tanto pública como privada que agora, no entanto, se pode converter no sua grande vulnerabilidade. Nada menos que o secretário do tesouro do governo Obama, o Sr. Timothy Geithner pediu que se someta a banca europeia (e muito especialmente a banca dos estados do centro da Eurozona) a umha prova de estresse, como a que se realizou en EE.UU. Daí que o que os banqueiros alemáns (e o BCE) querem, por cima de todo, que se lhes pague, a costa de diminuir o gasto público e os ordenados dos países, nom apenas periféricos mas centrais, incluindo-se o seu própio país.


A soluçom alternativa é o aumento muito notável da demanda (a base de aumentar a massa salarial e o gasto público), permitindo umha inflaçom moderada e que estimule o crescimento económico, com o qual pagar a dívida, com o estableecimento, demais, de bancas públicas que garantam o crédito. E a isto a banca diz que nem pensá-lo, e todos os grandes média de persuasom, de pés juntos, dim AMEN. Os cinco rotativos mais importantes do país tenhem escrito editoriais apoiando as propostas do Fundo Monetário Internacional, o centro (junto com o BCE) da ortodoxia ultraliberal hoje no mundo. E assi nos vai.

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