09/09/2010

A causa da crise

Vicenç Navarro. Artigo tirado de aqui. Ilustraçom de Mikel Jaso. A traduçom para galego-português é de nosso.


Muito se tem escrito sobre os factores que nos levárom à crise económica mais importante que sofremos desde a Grande Depressom de inícios do século XX. Contodo, pouco se dixo das raízes desta crise, que é a enorme polarizaçom das rendas a ambas beiras do Atlántico, conseqüência, em grande parte, da aplicaçom das políticas ultraliberais desenvolvidas pola maioria de governos da OCDE (o clube de estados mais ricos do mundo) desde os anos oitenta.
A revoluçom ultraliberal iniciada polo presidente Reagan nos EUA e por Thatcher em Reino Unido criou, ao aplicar-se as suas políticas (diminuiçom dos impostos das rendas superiores, aumento da regressividade fiscal, desregulaçom dos mercados laborais com a fim de debilitar os sindicatos e a força laboral, diminuiçom do gasto público, diluiçom dos direitos laborais e sociais, entre outras medidas) um enorme crescimento das rendas superiores a custa das rendas meias e inferiores. Por outras palavras, as rendas do capital disparárom-se a custa das rendas do trabalho, que diminuírom. Quer dizer, em linguagem clara, os ricos convertêrom-se em ricaços a custa de todos os demais (classe trabalhadora e classes meias). E aí está a raiz do problema, a realidade mais oculta e silenciada nos nossos mídia.


Olhemos os dados e analisemos os do estado onde se iniciou a crise: EUA. Segundo agirma o que foi minsitro de Trabalho sob a Administraçom Clinton, Robert B. Reich, no artigo "How to end the Great Recession" (The New York Times, 03-09-10), o ordenado meio do home trabalhador (ajustado à inflaçom) naquele país é mais baixo hoje do que há 30 anos. Este descenso forçou as famílias estadounidenses a que - a fim de manter o seu nível de vida- mais membros da família trabalhem, sendo isto umha das causas mais importantes da integraçom da mulher no mercado de trabalho. Enquanto que apenas 32% das mulheres com crianças trabalhava em 1970, hoje fai-no 60%. Outra maneira de compensar a descida de salários foi aumentar as horas de trabalho. O trabalhador nesta década está trabalhando 100 horas mais ao ano (e a trabalhadora 200 mais) que há apenas 20 anos.


Porém, até com estas mudanças, a capacidade aquisitiva das famíias baixou, o qual forçou-nas a endividar-se. As famílias estadounidenses endividárom-se até a médula, o que pudérom fazer porque o aval das dívidas, a vivenda, ia subindo de preço. Até que a bolha explodiu. E agora as famílias tenhem umha enorme dívida. Nada menos que 2'3 bilhons de dólares.

Até aqui a descriçom do que se passou com a maioria da populaçom. Vejamos agora quê se passou com os ricos. O facto de que a massa salarial (a suma dos ordenados) fora descendo como percentagem da renda nacional (e isso a pesar do aumento do número de trabalhadores) quer dizer que as rendas do capital iam subindo. O que isto significa é que o crescimento da riqueza do país (o que se chama o crescimento do PIB) beneficiava muito mais as rendas superiores (que derivam sua renda, em geral, da propriedade) que ao resto da populaçom (que deriva a sua renda do trabalho). Como conseqüência, os ricos convertêrom-se em ricaços. 1% da populaçom tinha 9% da renda nacional nos anos setenta do século XX, passando a goçar agora de 23'5% da renda total, a mesma percentagam, por certo, que quando se iniciou a Grande Depressom a começos do século XX. E aí está o problema. Como di Robert B. Reich, os ricaços tenhem tanto dinheiro que consomem umha percentagem menor da sua renda que o ciudadao normal e corretne. Ou seja, que 23'4% da renda nacional que controlam emprega-se menos em consumo e demande que se o tivessem pessoas normais e correntes. A demanda total, que é a que move a enconomia (pois é a que estimula o crescimento económico e a criaçom de emprego) desceu dramativamente, em parte porque a maioria das famílias perdeu grande capacidade de consumo e os ricaços sacárom do consumo 23'5% da renda total do país, consumindo muito menos que o ciudadao meio.

E por se isto for pouco, a situaçom agrava-se inclusso mais como conseqüência de que os ricaços depositam o seu dinheiro em paraisos fiscais e / ou investem em actividades especulativas que tenhem elevada rendavilidade, como os famosos hedge found, facilitado pola desregulaçom dos mercados financeiros. E aí está a raiz da crise financeira e o colapso do sistema bancário, que foi esalvado com fundos públicos - quer dizer, impostos- procedentes das famílias profundamente endividadas.
A soluçom é fácil de ver. Requere-se umha redistribuiçom das rendas de maneira que 1% da populaçom volte ter 9% da renda nacional (em realidade, com 3% bastaria). Com isso aumentaria-se o consumo, e assim o estímulo económico e a criaçom de emprego. É mais, as intervençons redistributivas do Estado gerariam mais recursos públicos, com os quais se poderia, inclusso, criar mais empego, resolvendo o maior problema que hoje existe, que é o elevado desemprego. Porém os ricaços, junto com os ricos e as classes meias de rendas altas (20% da populaçom) oponhem-se por todos os meios a estas políticas redistributivas. Isto ocorre nos EUA (como atestemunham os enormes problemas com os que se confronta a Administraçom Obama, na sua tentativa de gravar as rendas superiores e criar emprego público) e também nos estados do Sul da UE, incluíndo Espanha. Estes países tenhem as maiores desigualdades de renda da UE-15, o qual explica que sejam também os mais afectados pola crise. E no Reino da Espanha, o Governo socialista nem se atreve a subir os impostos dos ricaços. Ito mostra que a causa a crise é política: a excessiva concentraçom do poder do poder económico e político nas nossas democracias.

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