09/09/2010

Glasnot? Perestroika? Grande salto adiante? Manipulação? Transcrição da entrevista de um jornalista anticomunista com Fidel

Fidel Castro. Nova sacada do Diário Liberdade. A traduçom feita por este jornal foi-no a partir dumha versom em castelhano em Cubainformación. O original em inglês pode-se consultar aqui.


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Nas últimas horas, todos os telétipos da grande mídia mundial publicaram manchetes com as palavras de Fidel sobre o "modelo cubano" e a sua validade atual. Achamos conveniente reproduzir a íntegra da entrevista realizada pelo jornalista Jeffrey Goldberg.
Na entrevista, o jornalista estadunidense que entrevistou Fidel Castro recentemente em Havana, com ajuda de uma intérprete, mostra grandes doses de anticomunismo primário da escola ianque. Porém, achamos conveniente oferecer a tradução integral do texto de Goldberg e que vocês possam formar assim a vossa própria opinião sobre o assunto. A equipa de redação de Cubainformación está preparando um material de análise sobre este novo caso de perversão informativa contra Cuba por parte dos grandes consórcios mediáticos internacionais.




Fidel Castro: "O modelo cubano já não funciona nem sequer para nós"

Teve muitas coisas peculiares na minha recente estadia em Havana (além do espetáculo de golfinhos, que tratarei em breve), mas uma das mais inusuais foi o nível de introspeção de Fidel Castro. Tive uma experiência limitada com autocratas comunistas (tenho mais experiência com autocratas não-comunistas) mas foi muito chamativo que Castro estivesse disposto a admitir que jogou mal sua mão num momento crucial da Crise dos Mísseis de Cuba (podem ler sobre o que disse no fim da minha postagem anterior, mas o que assinalou, de maneira clara, é que se arrepende de ter solicitado a Khruschev atacar com armas nucleares os Estados Unidos).
Ainda mais chamativo foi algo que disse no almoço do dia de nosso primeiro encontro. Estávamos sentados arredor de uma pequena mesa: Castro, sua mulher, Dalia; seu filho, Antonio; Randy Alonso, uma figura importante dos meios de comunicação do Estado; e Julia Sweig, a amiga que fiz que me acompanhasse para me assegurar, entre outras coisas, de que eu não dizia nada demasiado estúpido (Julia é uma destacada erudita na América Latina no Conselho de Relações Exteriores). Num início eu estava interessado principalmente em ver Fidel comendo - foi uma combinação de problemas digestivos que conspiraron para quase matá-lo e, portanto, pensei que faria um pouco de "Kremlinología" gastrointestinal e manteria uma cuidadosa atenção ante o que ele ingerisse (para que conste, ele ingeriu pequenas quantidades de peixe e salada e um pouquinho de pão barrado com azeite, bem como um copo de vinho tinto). Mas durante bate-papo geral (tínhamos estado três horas falando do Irã e Oriente Médio), perguntei-lhe se considerava que o modelo cubano era qualquer coisa digna de ser exportada.
"O modelo cubano já não funciona nem sequer para nós" disse ele.
Isto me chocou como saído dos maiores momentos de Emily Litella (1). Acabava o líder da Revolução de dizer, em essência, "Não interessa"?
Pedi a Julia que interpretasse esta impressionante declaração para mim. Ela disse, "Ele não estava recusando as ideias da Revolução. Tomei-o como um reconhecimento de que sob 'o modelo cubano' o Estado tem um papel demasiado grande na vida econômica do país".
Julia assinalou que um efeito de semelhante opinião poderia ser abrir espaço para seu irmão, Raúl, o atual presidente, para poder promulgar as reformas necessárias para qualquer coisa que seguramente encontrará oposição nos comunistas ortodoxos dentro do Partido e a burocracia. Raúl Castro está já largando a adesão do estado sobre a economia. Ele anunciou recentemente, de fato, que pequenos negócios podem agora operar e que os investidores estrangeiros podem agora comprar imóveis em Cuba. (O engraçado deste novo anúncio, certamente, é que os americanos não estão autorizados a investir em Cuba, não pela política cubana, mas pela política americana. Em outras palavras, Cuba está começando a adotar o tipo de ideia econômicas que a América longamente lhe tem demandado que adote, mas aos americanos não lhes é permitido participar neste experimento de livre mercado pela defesa de nosso governo da hipócrita e estúpida política de embargo. Nos arrependeremos disto, com certeza, quando os cubanos juntamente com europeus e brasileiros tenham açambarcado os melhores hotéis).
Mas estou divagando. Para o fim deste longo e descontraído almoço, Fidel demonstrou-nos que realmente estava semi-retirado. No dia seguinte era uma segunda-feira, quando se espera dos máximos líderes o estar sem a ajuda de ninguém manejando suas economias, jogando dissidentes a prisão e coisas desse tipo. Mas a agenda de Fidel estava aberta. Ele nos perguntou: "Gostariam de ir ao aquário comigo ver o espetáculo dos golfinhos?".
Não estava muito seguro de lhe ter ouvido corretamente. (Isto me sucedeu várias vezes durante minha visita). "O espetáculo dos golfinhos?"
"Os golfinhos são animais muito inteligentes", disse Castro.
Apontei que tínhamos uma reunião programada para a manhã seguinte, com Adela Dworin, a presidenta da Comunidade Judia de Cuba.
"Traga-a", disse Fidel.
Alguém na mesa mencionou que o aquário estava fechado às segundas-feiras. Fidel disse: "Amanhã estará aberto".
E assim foi.
No fim da manhã seguinte, após recolhermos a Adela na sinagoga, encontramo-nos com Fidel nas escadas da casa dos delfines. Ele beijou Dworin, não por acaso adiante das câmeras (quiçá, outra mensagem para Ahmadinejad). Entramos juntos num grande quarto, com iluminação azulada, que dava para um enorme tanque de delfines fechado com um cristal. Fidel explicou, extensamente, que o show dos delfines do Acuario de Havana era o melhor espetáculo de delfines no mundo, "completamente único?, de fato, porque é um show baixo o água. Três buzos humanos entram no água, sem equipa de respiração, e realizam complicadas acrobacias com os delfines. "Gostas os delfines?" perguntou-me Fidel.
"Gosto muito os delfines", disse-lhe.
Fidel fez vir Guillermo García, o diretor do aquário (todos os empregados do aquário, com certeza, foi trabalhar, disseram-me que "de maneira voluntária") e disse-lhe que se sentasse connosco.
"Goldberg", disse Fidel, "faça-lhe perguntas sobre os golfinhos".
"Que tipo de perguntas?" perguntei-lhe.
"É um jornalista, faça-lhe boas perguntas", disse ele, e então se interrompeu. "De todas formas, ele não sabe demasiado sobre golfinhos", disse ele, assinalando a García. Ele é realmente um físico nuclear".
"É mesmo?" perguntei-lhe.
"Sou", disse García, quase se desculpando.
"Por que diriges o aquário?" perguntei-lhe.
"Pusemo-lo aqui para o afastar de construir bombas nucleares" disse Fidel, e então riu à gargalhada.
"Em Cuba, unicamente empregaríamos poder nuclear para objetivos pacíficos", disse García, com grande seriedade.
"Não sabia que estivesse no Irã", respondi eu.
Fidel assinalou um pequeno tapete embaixo da cadeira giratória especial que seus guarda-costas lhe aproximaram.
"É persa" disse, e voltou a rir-se. Então acrescentou: "Goldberg, faça suas perguntas sobre os golfinhos".
No ato, girei-me para García e perguntei-lhe, "Quanto é que pesam os golfinhos?"
"Pesam entre 100 e 150 quilogramas", disse ele.
"Como são eles adestrados para fazerem o que fazem?", perguntei-lhe.
"Essa é uma boa pergunta", disse Fidel.
García chamou uma dos veterinárias do aquário para a ajudar a responder à pergunta. Seu nome era Celia. Uns minutos depois, Antonio Castro disse-me seu apelido: Guevara.
"És filha do Che Guevara?" perguntei-lhe.
"Sou", disse ela.
"É veterinária de golfinhos?"
"Trato de todos os habitantes do aquário", disse ela.
"O Che gostava muito de animais", disse Antonio Castro.
Estava na hora de o espetáculo começar. As luzes atenuaram-se, e os mergulhadores entraram na água. Sem descrevê-lo demasiado, diria mais uma vez, e para minha surpresa, que me encontrei a mim próprio concordando com Fidel: o aquário de Havana dá um fantástico espetáculo de golfinhos, o melhor que tenha visto nunca, e como pai de três filhos, vi muitos espetáculos de golfinhos. Também direi isto: nunca vi alguém desfrutar tanto de um espetáculo de golfinhos como Fidel Castro desfrutou.
No seguinte episódio, tratarei temas como o embargo americano, o status da religião em Cuba, a situação premente dos dissidentes políticos, e a reforma econômica. Por enquanto, deixo-vos com esta imagem de nosso dia no aquário (Estou na cadeira baixa, a filha do Che está atrás de mim, com o cabelo curto e loiro, Fidel é o homem que se parece com Fidel se Fidel comprasse em L.L.Bean (2).
(1) Emily Litella era um personagem de ficção interpretado pela comediante Gilda Radner nas séries de aparições no Saturday Night Live. Emily Litella era uma mulher idosa com problemas auditivos.
(2) Nota da tradução: L.L.Bean é uma marca de roupa dos EUA.

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