Desde aproximadamente um ano (com o lançamento do debate sobre a identidade nacional), vários membros do governo e da maioria multiplicaram, as propostas racistas mal disfarçada.
Como um imigrante marroquino, vi como um ato de profunda humilhação todas essas declarações e leis de segurança que visam particularmente a comunidade muçulmana (e desde algum tempo os ciganos). E é por isso que eu retornarei…E não sou o único.
Sou engenheiro, tenho 25 anos, ganho 2.700 euros líquidos por mês, nunca fui detido nem mesmo revistado em minha vida. Sou ateu (agnóstico para ser preciso), adoro salsicha, a boa cerveja, o rugby e passo meus verões nos festivais musicais. Não faço parte portanto dessas categorias de pessoas visadas pelos ataques populistas da l’UMP [União pelo Movimento Popular, partido de direita francês].
No entanto, estas propostas agravam claramente, a meus olhos, dois fenômenos.
- Em primeiro lugar as pessoas (franceses) não entendem porque é doloroso para mim ouvir piadas racistas.Evidentemente, eu sempre ouvi as piadas racistas desde que cheguei na França. Eu ria, no entanto dava me o direito de colocar as pessoas em seu devido lugar, quando as piadas eram muito ofensivas e/ou não engraçadas.Após um ano, eu não suportava mais essas piadas. O fato de um ministro do Interior ter feito uma delas, mostra a que ponto os clichês são profundamente implantados na imaginação francesa. E o fato de que as pessoas relacionam-se comigo com base num clichê, tornou se insuportável.
- O segundo ponto é o olhar da “velhinha” na rua. Seu olhar é mais vivo, sua sacola mais apertada entre seus braços. Sues passos aumentam de velocidade quando eu passo por perto.E, pessoalmente, eu entendo essa dama ou esse senhor que, ao abrir seu jornal ou ao ligar a televisão, são “informado” de que a delinquência está ligada à imigração, que os jovens muçulmanos não tem trabalho, que o islamismo é incompatível com os valores dos franceses... Eu mesmo temo acreditar nisso tudo.
Ficar na França após os estudos
Eu faço parte da comunidade de estudantes estrangeiros que permaneceram na França para trabalhar após o fim dos estudos. Esta comunidade está longe de ser desprezível nas escolas de engenharia. Na minha (uma das grandes escolas francesas), a proporção de estudantes marroquinos (que não têm a nacionalidade francesa) passa dos 15%. Eu encontrei uma proporção de 10% no meio de trabalho.
Meus conhecidos relatam me proporções equivalentes, (entre 10% e 15%) nos terrenos da telecomunicação, de informática ou na área da finanças. O Marrocos tornou se um grande fornecedor de engenheiros para a França (todavia eu não conheço os dados precisamente).
Porém, essas pessoas retornam cada vez com mais frequência ao seu pais de origem. Na verdade, o governo marroquino investe maciçamente em politicas que estimulam o “nearshoring” (deslocalização para as proximidades) notadamente no domínio de novas tecnologias.
Estas políticas atraem os engenheiros. O mercado de trabalho para a profissão também é muito ativo. Meus antigos colegas da escola puderam obter salários de aproximadamente de 20.000 dirham líquidos por mês (4.249 euros) ao sair da escola de engenharia.
A dinâmica do país (a situação deve estender-se a outros) é tal que o crescimento chegou a 5%.
Agnóstico e desconfortável
Deixei o Marrocos porque a liberdade da religião não é respeitada… Mas ela também não é mais admitida na França. Deixei o Marrocos por vários motivos. O primeiro foi ter me dado conta em minha adolescência, que era agnóstico, o que seria profundamente incompatível com a pratica do islamismo, na minha família e na sociedade marroquina como um todo.
O segundo motivo é a vida cultural e artística da sociedade marroquina. Eu sonhava, de fato, poder tocar musica, assistir a concertos, ir ao cinema, frequentas exposições e visitar museus.
Em minha cidade natal (Agadir) faltava terrivelmente tudo, não havia uma sala de cinema decente, que exibisse algo além dos blockbusters de anos atras. Não havia museu, nem exposições. E os únicos estilo de musica são a popular ou a eletrônica, que toca nas boates (não gosto nem de uma, nem da outra).
Por lá as coisas estão mudando. A liberalização dos costumes está em andamento, as saias ficam mais curtas, os bares estão lotados, os festivais são criados continuamente, e os grupos de rock, rap ou de reggae ganham notoriedade. Estamos, evidentemente longe da riqueza e da diversidade da cultura francesa mas a cultura marroquina esta em plena evolução. Os marroquinos estão cada vez mais abertamente ateus, e o modelo familiar oferece mais independência.
“Minha cara e meu prenome me farão sempre um muçulmano”
Por outro lado, na França, sou considerado muçulmano. Meus amigos não entendem que eu possa ser agnóstico com meu prenome (Mohamed). Eles não entendem porque eu não faço o ramadã. Em dois dias, eu tive que ouvir dezenas de vezes, em o tom de piada, que eu “acabaria no inferno”.
Minha (não) religião não é aceita, por causa de minha origem marroquina. Minha cara e meu prenome farão de mim sempre um muçulmano na França. È por isso que eu me sinto visado por todos os ataques diretos ou indiretos contra o islamismo na França.
Minha decisão esta tomada. Retornarei definitivamente em 2011, porque as razões para minha partida do Marrocos não fazem mais sentido, e os motivos pela minha vinda e meu bem-estar na França desapareceram.
Além do mais, eu não sou o único a ter escolhido esse caminho. Mas ainda falta quantificar o todo. Quando um árabe retorna para casa, ainda vai; mas quando são muitos, é porque algo não funciona mais.
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