15/12/2011

Em Espanha não sobram servidores públicos senão defraudadores e os dirigentes patronales que os encobrem

Juan Torres López. Tirado de aqui e traduzido por nós. Para a fonte dos dados achegados pelo autor preme aqui.

De esquerda a direita: Juan Rosell, presidente da patronal (CEOE), Emilio Botín (BSCH) e César Alierta (Telefónica).
O presidente da patronal espanhola voltou a fazer questão de que sobram servidores públicos em Espanha e que há que poder despedí-los igual que aos trabalhadores da empresa privada (Nada novo, pois desde que chegou ao cargo vem dizendo que em "Há mais de 150.000 servidores públicos do Estado que não têm trabalho que fazer").

Vejamos que há de verdade em isso.

Em Espanha a percentagem de pessoas adultas que trabalhavam para o setor público em 2008 era de 13% do total da população ativa, um dos mais baixos da UE-15 (16%). Nos países europeus cujas economias são das mais competitivas e eficientes do mundo, segundo a OCDE, essa percentagem era ainda maior: 26% na Dinamarca, 22% na Suécia ou 19% na Finlândia.

Em Espanha, pois, não sobram senão que faltam servidores públicos, ao menos em comparação com os nossos países vizinhos em onde as coisas funcionam muito melhor. E isso é o resultado, principalmente, de que o nosso Estado de bem-estar está menos desenvolvido porque a despesa social é aqui bastante mais baixo que na Europa dos 15 (aproximadamente o 72% da sua média).

Mas isso não é o pior do que não sabe ou do que oculta o líder da patronal.

O número de empregados públicos em Espanha é de uns de 3,1 milhões e se calcula que o custo dos seus nóminas é mais ou menos de uns 115.000 milhões de euros anuais.

O coletivo de Técnicos do Ministério de Fazenda (Gestha) estima que a evasão fiscal das grandes fortunas, corporaciones empresariais e grandes empresas atingiu os 42.711 milhões de euros em 2010 (Atualidade Gestha: O 72% da fraude fiscal fazem-no grandes empresas). Ou seja, 37% do que custam os mais de três milhões de empregados públicos espanhóis, e quase a mital dos 92.000 milhões de deficit público desse exercício.

É evidente, pois, que a patronal não propõe reduzir o número de servidores públicos (como também recortar a despesa em educação, em saúde, em pensões ou em serviços às pessoas dependentes) porque aqui se gaste muito nesses conceitos senão porque querem que as grandes fortunas e os grandes capitais defrauden ainda mais e paguem ainda menos a Fazenda.

E, por outra parte, é verdadeiramente aberrante e demencial que um dirigente empresarial prefira que tenha 115.000 pessoas menos sem rendimento na economia, debilitando assim a demanda e os benefícios de milhares de pequenos e médios empresários filiados à sua própria organização patronal, só para evitar que a exigua minoria de privilegiados a quem defende (que não a totalidade dos empresários) contribua como os demais ao progresso social.

A conclusão é singela: em o Estado espanhol não sobram servidores públicos senão defraudadores que usam para encobrir aos dirigentes da patronal. E dito isto, não há que esquecer que é imprescindível -como em qualquer outro âmbito que tenha que ver com a atribuição de recursos- que a administração pública seja o mais útil e eficiente possível. O que acontece é que no caso espanhol isto, como acabamos de ver, não tem que ver com lhe proporcionar menos recursos senão mais (por exemplo, Espanha é um dos países europeus que menos despesa pública dedica a lutar contra a fraude e a obter rendimentos fiscais) e com os empregar melhor e mais ao serviço da criação de riqueza e bem-estar, que é algo muito diferente aos recortes que se vêm realizando e que se querem seguir levando a cabo.

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