05/04/2010

A esperança viaja a Cochabamba


Um artigo de Manoel Santos


Para o meu jeito de ver as cousas, ou o mundo, todo o que acontece em Bolívia desde hai umha década é digno de atençom. E tamén de admiraçom. No miúdo Estado plurinacional desenvolve-se um processo múltiplo de dignidade humana que, além de como vaia rematar -sempre hai que suspeitar do letargo das oligarquias-, deveria servir como exemplo para a emancipaçom de todos os povos do mundo. Mas sobretodo para o necessário (re)irmandamento entre a espécie humana e a mai natura.
A cidade boliviana de Cochabamba adquiriu sona mundial pola chamada Guerra da Auga do ano 2000. A privatizaçom dos serviços de auga potável em Bolívia*, que foi umha das condiçons impostas polo Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvemento e o Fondo Monetario Internacional para renegociar a dívida externa do país, foi o detonante dumha extraordinária revolta popular que tivo a dita cidade como centro. As protestas pola suba das tarifas aginha mudáron num laído muito mais fundo, o das comunidades rurais e povos indíxenas, que vían na privatizaçom umha violaçom do direito de aceso a um bem comum em benefício das transnacionais.
Hoje ninguém duvida de que a vitória daqueles movimentos serviu como estímulo as luitas populares de anos posteriores, que mudárom o panorama político e social do continente. Disque Cochabamba foi a semente para o agromar do indigenismo de Evo Morales em 2005 e mesmo para a vitória dos movimentos contra o ALCA, tratado de livre comércio desenhado polos Estados Unidos que foi soterrado esse mesmo ano. "Nunca, desde a guerra de Vietnam, o imperialismo norteamericano tivo umha derrota político social como a do ALCA", escreveu daquela o jornalista Modesto Guerrero.
O símbolo que é Cochabamba acolhe o mês vindouro a "Primeira Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e os Direitos da Mai Terra". Logo do estrepitoso fracasso dos governos do mundo neoliberal em Copenhaguen, e por iniciativa de Evo Morales, surde um novo foro mundial para analisar as causas estruturais e sistémicas que provocam a mudança climática e propor medidas de fundo para garantir o bem-estar da humanidade e da natureza. As principais diferenças com Copenhaguen son dúas. Por umha banda, em Cochabamba a natureza toma corpo próprio. A sua defesa prevalece sobre os discursos e interesses da economia. Pola outra, mália que governos e instituiçons nacionais e internacionais estám convidados, nom serám os protagonistas. Pola contra, o peso da declaraçom final e das accçons que se emprendam em diante, entre as que se prevé umha Declaraçom Universal dos Direitos da Mai Terra e um referendo mundial dos povos sobre o cambio climático, assi como a criaçom dum Tribunal Mundial de Justiça Climática, recairá sobre organizaçons sociais, povos indigenas e originários, redes, entidades académicas e científicas? e mesmo pessoas a título individual.
É só um primeiro porém imprescindível passo, jaora que a humanidade e a natureza nom poden aguardar a que uns poucos governos irresponsáveis decidam actuar.
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Artigo tirado de aqui.


*Veja-se a este respeito e para a "guerra do gás" a crónica jornalística do livro El alto en llamas.

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