30/08/2010

Existem as classes sociais?

Marcos Roitman Rosenmann, publicado no jornal La Jornada, concretamente de aqui. A traduçom é de nosso.

Os detractores do socialismo nom podem ouvir falar da existência de exploraçom, imperialismo ou exploradores. Mostram-se iracundos quando algum comensal ou interlocutor lhes fai ver que as classes sociais som umha realidade. Os portadores do novo catecismo pós-moderno dim ter argumentos de peso para demonstrar a tese que ainda postula a sua validez e a sua vigência como categorias de análise das estruturas sociais e de poder. Lamentavelmente, apenas é possível identificar, com certo grau de substáncia, duas teses. O resto entre no esterco das ciências sociais. Som adjectivos qualificativos, insultos pessoais e críticas sem altura de olhar.

Indo à cerna, a primeira tese sublinha que a contradiçom explorados-exploradores é umha quimera, portanto, todos os seus derivados, entre eles as classes sociais, som conceitos antiquados de curto percurso. Já nom há classes sociais, e se as houver, som restos dumha guerra passada. Desde a queda do muro de Berlim até os nossos dias as classes sociais estám destinadas a desaparecer, se nom o figérom já. O segundo argumento, corolário do primeiro, ubica-nos na caducidade das ideologias e princípios que lhes dam sustento, quer dizer, o marxismo e o socialismo. A sua conclusom é óbvia: os dirigentes sindicais, líderes políticos e intelectuais que fam acópio e se servem da categoria classes sociais para descrever luitas e alternativas na actual era da informaçom, viviriam de costas à realidade. Nostálgicos em confronto com moínhos de vento que perdêrom o comboio da história. Para seguir avante há que renocar, procurar conceitos num mundo novíssimo.
Sem dúvida, nas duas últimas décadas do século XX e a primeira do XXI emergêrom processos sociais, económicos, políticos e culturais que nom apenas reinventárom a realidade, mas os conceitos para descrevê-la. Isto nom é acontecimento novidoso. A história está cheia destas visicitudes onde se inventam palavras. Avonda ler livros de tecnociências, informática, bioquímica ou neurociências para comprová-lo. Até umha academia tam conservadora como a espanhola da língua vê-se obrigada, de tempo em tempo, a incorporar vozes que emergem da vida diária até converter-se numha realidade difícil de acochar. No entanto, nom deve um cair no absurdo de atirar a auga suja com a criança dentro. Novas vozes nom invalidam as já existentes. Podem complementar ou arriquecer a linguagem.
A possibilidade de cair no aburdo à hora de renomear objectos, ofícios e situaçons, está à ordem do dia. Os casos som variopintos. Assim, podemonos encontrar que um cozinheiro se tem convertido num restaurador de alimentos; os recreios nos pátios dos colégios passárom a denominar-se "segmentos lúdicos" e os bares consideram-se "zonas de avitualhamento rápido". Esta moda apenas achega confussom.
Nom é o mesmo um conceito velho que outro antiquado. O imperialismo existe por muito que lhe pese a quem planeja a sua morte em benefício da chamada interdependência global ou globalizaçom. A sua definiçom segue sendo válida em tanto explica a) a concentraçom da produçom e o capital que deu origem aos monopólios; b) a fussom do capital bancário e industrial e a emergência da oligarquia financeira; c) o poder hegemónico da exportaçom de capitais face as matérias primas; d) a formaçom das transnacionais e reparto do mundo entre as empresas; f) as luitas polo controlo e reparto territorial do mundo entre estados dominantes; e g) facilita compreender as formas de internacionalizaçom dos mercados, a produçom e o trabalho.
Por conseguinte, as mudanças do imperialismo assinalam a sua versatilidade e capacidade de adaptaçom no meio dos trocos profundos que sofre o capitalismo. A globalizaçom como conceito nom substitui o imperialismo como umha realidade. Saber que o imperialismo actual dista do imperialismo do século XIX é de sentido comum e nom requere muitos pincha-carneiros analíticos. O imperialismo tem boa saude. Outro tanto ocorre com o conceito de classes sociais. Na actualidade, muitos cientifistas sociais preferem falar de estratificaçom social e estruturas ocupacionais denantes que acudir ao conceito de classes sociais para explicar as desigualdades, a pobreza ou a indigência. Os exemplos podem continuar. Também os conceitos de exploraçom e colonialismo internos caírom em desgraça, ainda que a semi-escravatura, a trata de brancas e o trabalho infantil e o domínio étnico sejam umha realidade cada vez mais espalhada no planeta. É este contexto adverso para o pensamento crítico onde vê a luz, em América Latina, umha nova realidade que trata explicar este rechaço ao uso de conceitos e categorias procedentes da tradiçom humanista e marxiana: a colonialidade do saber e do poder.
Sob o cobertor de parecer pós-modernos, integrados na chamada sociedade da informaçom e partícipes da glonalizaçom ultraliberal, renuncia-se a exercer o juízo crítico. É mais cómodo deixar de pensar, apoiando-se numha suposta caducidade dos conceitos, que dar-se a moléstia de averiguar quais som e fôrom as transformaçons sofridas polas classes sociais durante as últimas décadas. Isto suporia reflexionar, atributo do qual carecem os novos robots alegres do pensamento sistémico.
Por último, sirva como provocaçom assinalar as diferenças entre conceitos velhos e antiquados. A lei de gravitaçom universal tem mais de cinco séculos, por sua daa é desde logo longeva, mas segue a ter validez. Os que duvidem da sua pertinência, aconselho-lhes um exercício prático, deixem-se cair dumha altura de 50 metros e comprovarám se a lei de gravitaçom universal é antiquada e caduca. O mesmo ocorre com as classes sociais. Negar a sua existência é, por dizir o menos, um acto de ignoráncia.

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