Alex Callinicos. Artigo tirado de aqui. A traduçom para galego-português é de nosso. O filósofo, nascido em Zimbawue, Alex Callinicos, conta com umha traduçom para o galego do seu livro Contra o Post-Modernismo, publicado em Laiovento. A traduçom original foi extraida por Kaos en la Red de El Aromo Nº56, www.razonyrevolucion.org/ryr/.
Callinicos fala sobre o imperialismo hoje, a contextualizaçom da teoria de Lenine e a sua aplicaçom no Iraque e no Afeganistám, assim como o papel da esquerda nestes estados.
Callinicos fala sobre o imperialismo hoje, a contextualizaçom da teoria de Lenine e a sua aplicaçom no Iraque e no Afeganistám, assim como o papel da esquerda nestes estados.
Considera válido o argumento de Lenine de que o imperialismo é a fase mais elevada do capitalismo? Pensa que existe um troco qualitativo na dinámica do capital por mor da criaçom de estados imperialistas, como dixo Lenine?
O título original de Lenin é O Imperialismo, a derradeira fase do capitalismo, que tem conotaçons assaz diferentes ao título mais serôdio e familair. Penso que ele - e outros grandes marxistas de finais do século XIX e começos do XX- estavam no correto ao identificarem umha mudança qualitativa operada no capitalismo durante a sua época. A maneira em que eu resumiria isto desde a retrospetiva de começos do século XXI é que o imperialismo é o momento em que a competência económica entre capitais e a rivalidade geopolítica entre estados se interceptam para formarem, como David Harvey tem enfatizado corretamente, umha unidade contraditória e inestável (1). Esta é umha ideia que desenvolvo em detalhe no meu recente livro Imperialismo e Economica Política Global (2009).
A teoria do imperialismo de Lenine argumentava que as atividades extra-económica das potências mundiais som a causa da falha de desenvolvemento das burguesias locais nos estados dependentes. Você acredita que esta énfase nas relaçons políticas é umha boa explicaçom do subdesenvolvimento ou poderia um explicar dita trajetória com a lei do valor e a competência mundial?
A teoria do imperialismo de Lenine argumentava que as atividades extra-económica das potências mundiais som a causa da falha de desenvolvemento das burguesias locais nos estados dependentes. Você acredita que esta énfase nas relaçons políticas é umha boa explicaçom do subdesenvolvimento ou poderia um explicar dita trajetória com a lei do valor e a competência mundial?
Nom tenho certeza de que esta seja umha boa leitura de Lenine. Na sua crítica à teoria do ultra-imperialismo de Kautsky, sublinha a importáncia do desenvolvimento desigual - nom é apenas que haja desigualdades económicas entre estados e regions, mas que estas também som inerentes ao capitalismo e que a distribuiçom das desigualdades muda constantemente, de maneira que as alianças estáveis entre os poderes dominantes tornam-se impossíveis. "Fai cinquênta anos Alemanha era um país miserável e insignificante", escrevia - mas já na sua época convertera-se numha das principais potências imperialistas (2). Isto implica que outras novas potências poderiam emergir no futuro mercede o caráter desigual do processo global de acumulaçom. Lenine certamente nom é um teórico da dependência e, a pesar dos seus erros (o mais notável seria a teoria da aristocracia operária), eu acredito que estaria de acordo em que as relaçons entre estados e regions som reguladas pola "lei do valor e a competência mundial".
Poderia a crise de hoje desembocar numha nova guerra entre potências imperialistas como a Primeira e a Segunda Grande Guerra?
Duvido que isto suceda a curto prazo, já que os potenciais 'pares competidores' dos EUA som demasiado débeis (Rússia), estám divididos (UE), ou som demasiado cautelosos (China) para confrontar-se, e nengum está o suficientemente desesperado como para contemplar tal confronto. Porém as tensons entre os EUA e a China som serias - mais imediatamente respeito a taxas de cámbio e comércio- e é provável que medrem nas próximas décadas. A possibilidades dum confronto séria entre elas no futuro é real.
Em décadas recentes, os EUA convertêrom-se num dos estados mais endividados. Que é o que significa este fenómeno para o nosso entendimento do imperialismo?
Duvido que isto suceda a curto prazo, já que os potenciais 'pares competidores' dos EUA som demasiado débeis (Rússia), estám divididos (UE), ou som demasiado cautelosos (China) para confrontar-se, e nengum está o suficientemente desesperado como para contemplar tal confronto. Porém as tensons entre os EUA e a China som serias - mais imediatamente respeito a taxas de cámbio e comércio- e é provável que medrem nas próximas décadas. A possibilidades dum confronto séria entre elas no futuro é real.
Em décadas recentes, os EUA convertêrom-se num dos estados mais endividados. Que é o que significa este fenómeno para o nosso entendimento do imperialismo?
Esta é umha questom muito controvertida. Alguns especialistas académicos radicais, por exemplo o defunto Giovanni Arrighi, argumentavam que a dívida externa dos EUA é um sintoma do deterioro do imperialismo norte-americano, replicando o que lhe tinha acontecido a Grande Bretanha no período de entreguerras. Porém num livro recente, Subprime Nation (Naçom Subprime - o termo “subprime” refere-se a empréstimos a entidades que som incapazes de pagá-los), Herman Schwartz argumenta que desde começos da década de 90 um circuito de fluxos financeiros desenvolveu-se e nele um número de países - nom apenas estados do Leste Asiático, mas também do continente europeu e os territórios petrolíferos sob controlo dos xeques árabes- mercam valores norte-americanos tanto públicos como privados, permitindo assim que as inversons estrangeiras diretas das corporaçons dos EUA obtenham muitos mais ganhos. Segundo Schwartz, este circuito, mediado polo sistema financeiro imobiliário norte-americano, permitiu aos EUA manter um crescimento mais alto que o de outros estados capitalistas avançados e deste jeito reproduzir a sua posiçom hegemónica.
A análise de Schwartz apoia-se numha considerável evidência estatística. Penso que de todas maneiras subestima a inestabilidade dumha situaçom em que os EUA dependam cada vez mais dos empréstimos da China, que nom é apenas o mais importante potencial retador da hegemonia estadounidense, mas ainda um dos estados mais pobres do mundo- esta foi a relaçom entre a Grande Bretanha e os EUA no século XIX ou dos EUA e Europa Ocidental e Japom a finais da década de 40. Porém agora umha ascendente potência capitalista ajuda a financiar à potência hegemónica. De todas maneiras, um dos traços interessantes da análise de Schwartz é que o atual conjunto de flujos funciona a benefício dos interesses das classes dominantes dos estados acredores. Desta maneira, afirma que na China os filhos da elite do partido, que se constituírom como umha nova elite económica, tenhem um interesse no modelo de baixos ordenados e altas exportaçons que sustentou o flujo de capital aos EUA (3). Ou de novo, os bancos e os fundos de aposentadorias dos que Schwartz chama os 'Ricos reprimidos' - Japom, Alemanha, e Europa continental- devem ser capazes de comprar vastas quantidades de valores que som gerados polo sistema financeiro dos EUA e que os seus próprios e mais ajustadamente regulados sistemas som incapazes de prover.
No entanto, a situaçom é estremadamente contraditória. Tal como durante a década de 30, o conflito entre estados acredores e dividores é um fator crescentemente prominente na crise económica global presente. Isto nom é apenas certo a respeito das relaçons entre os EUA e a China. Umha dimensom chave da crise da zona do euro é o conflito entre Alemanha e as economias periféricas do sul da Europa, que pedírom emprestado em excesso dos bancos franceses e alemáns, mais que nada para importar desde Alemanha.
Considera que a ideia de capital monopolista é ajeitada para definir o corrente ciclo de acumulaçom do capital? Qual é o lugar da lei do valor e a competência internacional nesta explicaçom?
A análise de Schwartz apoia-se numha considerável evidência estatística. Penso que de todas maneiras subestima a inestabilidade dumha situaçom em que os EUA dependam cada vez mais dos empréstimos da China, que nom é apenas o mais importante potencial retador da hegemonia estadounidense, mas ainda um dos estados mais pobres do mundo- esta foi a relaçom entre a Grande Bretanha e os EUA no século XIX ou dos EUA e Europa Ocidental e Japom a finais da década de 40. Porém agora umha ascendente potência capitalista ajuda a financiar à potência hegemónica. De todas maneiras, um dos traços interessantes da análise de Schwartz é que o atual conjunto de flujos funciona a benefício dos interesses das classes dominantes dos estados acredores. Desta maneira, afirma que na China os filhos da elite do partido, que se constituírom como umha nova elite económica, tenhem um interesse no modelo de baixos ordenados e altas exportaçons que sustentou o flujo de capital aos EUA (3). Ou de novo, os bancos e os fundos de aposentadorias dos que Schwartz chama os 'Ricos reprimidos' - Japom, Alemanha, e Europa continental- devem ser capazes de comprar vastas quantidades de valores que som gerados polo sistema financeiro dos EUA e que os seus próprios e mais ajustadamente regulados sistemas som incapazes de prover.
No entanto, a situaçom é estremadamente contraditória. Tal como durante a década de 30, o conflito entre estados acredores e dividores é um fator crescentemente prominente na crise económica global presente. Isto nom é apenas certo a respeito das relaçons entre os EUA e a China. Umha dimensom chave da crise da zona do euro é o conflito entre Alemanha e as economias periféricas do sul da Europa, que pedírom emprestado em excesso dos bancos franceses e alemáns, mais que nada para importar desde Alemanha.
Considera que a ideia de capital monopolista é ajeitada para definir o corrente ciclo de acumulaçom do capital? Qual é o lugar da lei do valor e a competência internacional nesta explicaçom?
Nom, nom topo o conceito de capital monopolista particularmente útil. Literalmente isto implica que, em setores individuais, umha companhia é dominante. Mas isto é empiricamente falso. Até na cima da era do 'capitalismo organizado' de mediados do século XX, quando umha companhia podia ter dominado um setor nacional particular, usualmente com apoio estatal, estas companhias estavam sujeitas à competência de rivais locais ou estrangeiros. Porém as últiams décadas vírom este tipo de arranjos privilegiados demoronarem-se ou quando menos fôrom severamente saboteiados. Incluso companhias muito grandes e de base firme encarárom umha severa presom de competidores estrangeiros - cf. a decadência de General Motors ou o ascenso de Toyota tanto nos mercados de automóviles globais como nos dos EUA.
A lei do valor é exercida pola competência de 'muitos capitais'. Devido a que o conceito de capital monopolista implica o fim da competência - nom simplesmente num setor (do que Marx dá conta através dumha redistribuiçom do mais-valor de companhias que nom som monopólicas às que sim o som), mas através dumha economia - implica também a fim da lei do valor. Neste sendito, Baran e Sweezy estavam sendo completamente conseqüêntes quando rachárom com a teoria do valor de Marx em O Capital Monopolista. Porém a premisa do seu argumento é falsa: o capital monopolista nom existe através da economia. O que temos em muitos casos é competência oligopólica. Guglielmo Carchedi, quem tem umha boa análise de como integrar esta forma de competência na teoria do valor, resum bem esta posiçom:
A lei do valor é exercida pola competência de 'muitos capitais'. Devido a que o conceito de capital monopolista implica o fim da competência - nom simplesmente num setor (do que Marx dá conta através dumha redistribuiçom do mais-valor de companhias que nom som monopólicas às que sim o som), mas através dumha economia - implica também a fim da lei do valor. Neste sendito, Baran e Sweezy estavam sendo completamente conseqüêntes quando rachárom com a teoria do valor de Marx em O Capital Monopolista. Porém a premisa do seu argumento é falsa: o capital monopolista nom existe através da economia. O que temos em muitos casos é competência oligopólica. Guglielmo Carchedi, quem tem umha boa análise de como integrar esta forma de competência na teoria do valor, resum bem esta posiçom:
“Enquanto os monopólios (no sentido estrito) sim existem, a realidade de hoje em dia é dominada por oligopólios, por unidades de capital grandes e tecnologicamente avançadas que ganhárom umha grande parte do mercado por aplicarem tecnologias avançadas de grande escala. É a aplicaçom destas tecnologias avançadas a grande escala (a que é possível graças à escala do capital invertido) que resulta numha competitividade e posiçom no mercado superior para estes capitais. Os oligopólios nom apagam a competência mas (...) estabelecem tanto novas como velhas formas de competência entre eles enquanto som capazes de restringir a competência de capitais mais pequenos e débiles" (4).
A teoria do imperialismo supom o pré-domínio de monopólios, o qual implica a negaçom da competência, e, em última instáncia, da lei do valor. Assim, alguns autores sustentam que os ganhos capitalistas deixariam de depender unicamente da extraçom de mais-valor e que o incremento do mais-valor deixaria de ser umha preocupaçom para o capital. Está vostede de acordo com esse ponto de vista? De ser assim, que implicáncia teria isto para a luita de classes?
Como já assinalei, rechaço essa visom. Sem dúvida, Lenine chama imperialismo à "fase monopolista do capital". Porém ado que ele também o considera como impulsado pola competência entre os principais estados capitalistas a sua teoria parece inconsistente. As tensons som evidentes em passagens como a seguinte: "os monopólios, que se desenvolvêrom a partir da livre compentência, nom apagam esta última, a contrário existem por e sobre esta e a par desta, e, portanto, ocasionam um grande número de antagonismos agudos e intensos, friçons e conflitos" (5). Eu acho que o fundamental de grande parte da análise de Lenine é mais consistente com a ideia da competência oligopolística. Bukharin, como um teórico económico mais rigoroso (mas também menos flexível, como o assinalou Lenine quando o criticou pola sua falta de dialéctica), extrai as conseqüências da ideia de capitalismo monopolista. Para ele, o imperialismo culmina em capitalismo de estado, onde as tendências das crises económicas (as quais ele identifica com desproporcionalidades entre o consumo e a produçom e entre as diferentes ramas de produçom) podem ser apagadas mediante o controlo politico. Ele considera que a irracionalidade do capitalismo persiste, nom obstante, na forma de competência político-militar. Esta análise levou a Bukharin, em véspera da crise de Wall Street em 1929, a descartar a possibilidade dumha maior crise económica. Como detalho no meu livro, umha das maiores debilidades da teoria marxista clássica de imperialismo é a sua falha de integraçom com um ajeitado entendemento da teoria do valor e crise de Marx.
Do mesmo jeito que certos autores consideram que a burguesia em naçons centrais é diferentes à dos estados dependentes, eles também acreditam que há diferenças entre as classes trabalhadoras nessas duas categorias de países. Qual é a sua opiniom?
Claramente há diferenças em ambas classes, capitalistas e trabalhadoras, que surgem da sua posiçom relativa na hierarquia global de poder e riqueza. Porém se você se refere a teorias tais como a concepçom de Lenine da aristocracia operária ou a ideia da troca desigual, o qual implica que os trabalhadores no Norte participam da exploraçom dos trabalhadores no Sul, rejeito estas teorias. Elas nom tenhem umha fundamentaçom certa na teoria do valor de Marx e som também discutíveis empiricamente. A teoria da aristocracia operária contradi-se polo facto de que, em toda a Europa, fôrom os operário metalúrgicos, organizados e com bons ordenados, os que liderárom a revolta dos trabalhadores na primeira grande guerra e se unírom para a Internacional Comunista. O sindicato burócrata - a capa especial de dirigentes de tempo completo que média ente os operários e o capital- é um fenómeno sócio-político importante, mas nom é o mesmo que a aristocracia operária de Lenine de trabalhadores especializados que vivem de ganhos coloniais. Foi Rosa Luxemburgo quem promoveu a análise marxista da burocracia sindical e nom, temo-me, Lenine.
Os teóricos da troca desigual nom podem explicar por que os principais flujos de capital nom som de Norte a Sul, que é o que a ideia que os baixos ordenados no Sul som a principal fonte de mais-valor mundial implicaria. Entre 1992 e 2006 os estados desenvolvidos recebêrom mais de dous terços dos flujos das Inversons Estrangeiras Diretas (IED). Polo geral, som os EUA e a Grande Bretanha os principais receptores de IED, nom China e a Índia. Estas estatísticas vem-se distorsionadas polas aquisiçons e fusons em Wall Street e no centro financeiro de Londres, mas também reflectem umha profunda realidade. Na teoria do valor de Marx o grau de exploraçom é determiado nom apenas polo nível dos ordenados reais, mas também de forma crucial pola produtividade dos trabalhadores. Os níveis de produtividade som mais elevados nos estados capitalistas avançados e, por conseguinte, continua sendo rendível para as empresas seguir investindo aí.
Os teóricos da troca desigual nom podem explicar por que os principais flujos de capital nom som de Norte a Sul, que é o que a ideia que os baixos ordenados no Sul som a principal fonte de mais-valor mundial implicaria. Entre 1992 e 2006 os estados desenvolvidos recebêrom mais de dous terços dos flujos das Inversons Estrangeiras Diretas (IED). Polo geral, som os EUA e a Grande Bretanha os principais receptores de IED, nom China e a Índia. Estas estatísticas vem-se distorsionadas polas aquisiçons e fusons em Wall Street e no centro financeiro de Londres, mas também reflectem umha profunda realidade. Na teoria do valor de Marx o grau de exploraçom é determiado nom apenas polo nível dos ordenados reais, mas também de forma crucial pola produtividade dos trabalhadores. Os níveis de produtividade som mais elevados nos estados capitalistas avançados e, por conseguinte, continua sendo rendível para as empresas seguir investindo aí.
Por suposto, os trabalhadores no Sul tenhem um nível de vida muito mais baixo do que no Norte. Nom tenhem desenvolvidos estados de bem-estar como na Europa ocidental e coexistem com amiúdo formaçons muito complexas de sub-proletários e pequenos comerciantes que a ciências social dominante tende a classificar como "sector informal". Estas som realidades sociais e políticas muito importantes que continuam marcando a diferença entre o Norte e o Sul. Porém estas diferenças nom estám contempladas ao dizer que os trabalhadores do Norte exploram seus irmaos do Sul.
Como deveria um definir umha relaçom colonia ou semi-colonia? Qual é a diferença entre os impérios e as suas colónicas nos séculos XVII e XVIII versus aqueles nos estados-naçom do século XX?
Percebe-se melhor umha relaçom colonial como umha relaçom de subordinaçom política direta - por exemplo, a que tivo a Grande Bretanha e a Índia entre 1750 e 1940. Lenine define semi-colónias como "as diversas formas dos países dependentes que, desde o ponto de vista político som formalmente independentes, mas, na verdade, estám imersos na rede de dependência diplomática e financeira" (6). Os exemplos podem-se ver no "império informal" da Grande Bretanha na China e na América Latina antes de 1914. Porém um deve ser cuidadoso aqui porque, como assinalou Lenine, a mera posessom de soberania estatal tende a dar-lhe à classe dominante da 'semi-colónia' mais lugar para manobrar que no caso de que foram súbditos coloniais do outro estado. Isto pode ver-se, por exemplo, com Argentina na década de 1930 e 1940, que tratou de usar a rivalidade inter-imperialista entre a Grande Bretanha e Alemanha para o sue próprio benefício.
A forma de estado nom é meramente formal: marca umha diferença. É importante entendê-lo porque há agora vários estados capitalistas na assim chamada 'semi-periféria' - China, a Índia, Coreia do Sul, o Brasil, África do Sul- que seria ridículo descrevê-los como 'semi-colónias' porque eles usárom a sua soberania e oportunidades oferecidas polo sistema interestatal para converterem-se em centros de acumulaçom de capital relativamente independentes. A tua pergunta é muito ampla para contestá-la no espaço disponível. Porém permite-me remarcar umha diferença relevante entre o imperialismo británico e norte-americano. Como assinalou Perry Anderson, um risco distintivo do capitalismo británico é que este surgiu da competência com entidades pré-capitalistas - impérios tributários do Leste e monarquias absolutas na Europa. Na Índia, a Grande Bretanha herdou os mecanismos de extraçom do Império de Mughal (embora a Índia estava cada vez mais integrada nos circuítos especificamente capitalistas). Incluso durante o auge da hegemonia británica em meados do século XIX, podemos encontrar a Lord Palmerston manejando relaçons com grandes impérios de terras tais como a Áustria, Prússia e Rússia. É o surgimento de rivais capitalistas a fins do XIX - os EUA e Alemanha- o que levou o imperialismo británico ao seu descenso.
Em contraposiçom, os EUA surgírom para deslocar a Grande Bretanha como o poder hegemónico precisamente neste contexto de rivalidade entre estados capitalistas. Um elemento chave na dominaçom de Washington é a sua habilidade para institucionalizar a cooperaçom sob o seu liderato entre os estados capitalistas avançados. Esta é a importáncia da construçom da institucionalidade da segunda parte da década de 1940 - as instituiçons de Bretton Woods, NATO, ONU, etc. O que as sucessivas administraçons americanas tentárom desde a fim da guerra fria é tanto manter como espalhar (por exemplo a expansom da NATO e a UE) este sistema de cooperaçom institucionalizada, mas liderada polos EUA.
Em contraposiçom, os EUA surgírom para deslocar a Grande Bretanha como o poder hegemónico precisamente neste contexto de rivalidade entre estados capitalistas. Um elemento chave na dominaçom de Washington é a sua habilidade para institucionalizar a cooperaçom sob o seu liderato entre os estados capitalistas avançados. Esta é a importáncia da construçom da institucionalidade da segunda parte da década de 1940 - as instituiçons de Bretton Woods, NATO, ONU, etc. O que as sucessivas administraçons americanas tentárom desde a fim da guerra fria é tanto manter como espalhar (por exemplo a expansom da NATO e a UE) este sistema de cooperaçom institucionalizada, mas liderada polos EUA.
Um traço interessante desta situaçom atual é o efeito potencialmente desestabilizador do surgimento das assim chamadas "economias de mercados emergentes" - China, Índia, Brasil, África do Sul, Turquia, etc.- que estiveram marginadas ou fora destas estruturas. O efetivo remplazo do G8 polo G20 como o principal foro económico interestatal - que foi impulsado por George W. Bush mas espalhado por Obama- poderia ver-se como umha tentativa por parte de Washintong de incorporar totalmente a estes estados no espaço capitalista liberal dirigido polos EUA por meio da extensom do sistema de cooperaçom institucionalizada. Escuitei a Robert Wade suster que o G20 permite que os EUA enfrente o BRIC com a UE, mas estas duas interpretaçons som perfeitamente consistentes entre si.
Como deveria um interpretar a instalaçom de bases em América Latina, no Meio Oriente, mas também na Europa?
Desde a análise pionera de William Appleman Williams em The Tragedy of American Diplomacy (1959) tem sido muito comum olhar para os EEUU como um “imperialismo nom territorial”. Por outras palavras, mais que formalmente colónias anexadas, o capitalismo americano procurou o jeito de criar um mercado mundial aberto que pudesse dominar devido a sua relativa fortaleza económica. Acho que esta interpretaçom é em linhas gerais correta - especialmente porque os EUA tentavam dominar um mundo de estados capitalistas. A estratégia alternativa experimentou-se na Alemanha de Hitler - a construçom dum império continental por meio da conquista armada. Até se nom falira devido à derrota militar, provavelmente tampouco fora sustentável indefinidamente: o estado Nazi nom daria manejado a grande maioria das sociedades capitalistas avançadas dessa época apenas por meio da coerçom e o terror.
Assim que a estratégia americana de dominaçom nom territorial resultou ser mais viável (em grande mediada porque o capitalismo estadounidense era muito mais forte que qualquer dos seus rivais). Porém o que os EUA descobrírom, primeiro durante a Segunda Grande Guerra e depois novamene durante a Guerra Fria, era que esta estratégia requeria da projeçom da força militar a grande escala. Tanto entre 1939-41 e imediatamente depois de 1945, os EUA aguardavam que a Grande Bretanha pudesse levar a principal carga militar na Europa. Mas a Grande Bretanha era muito débil para isso, e os EUA tivérom que despregar as suas próprias forças primeiro para vencer a Alemanha e depois, especialmente no começo da Guerra de Coreia, para conter a URSS. Isto requiria o desenvolvimento dumha rede global de bases aéreas e navais, um processo que começou na II Grande Guerra: Roosevelt e os chefes do estado pressionárom duramente para capturar várias ilhas do Pacífico com este alvo em mente.
Dalgum modo, isto é umha extensom do que a Grande Bretanha fixo nos séculos XVIII e XIX: aquirir umha série de bases que lhe permitiram à Royal Navy - a sua principal forma de projeçom de poder- operar de forma global. Merece a pena pôr em destaque este elemento de continuidade histórica porque o Pentágono ainda prefere confiar na força naval e aérea mais que nas tropas de infanteria. Os EUA tenhem o exército mais poderoso do mundo, mas tenhem um registo pobre de sucessos. A única grande guerra em terra que ganhárom desde 1945 foi contra o Irque em 1990-91, quando tinha praticamente o mundo enteiro do seu lado. Coreia resultou um ponto morto, em Vietname foi derrotado, no Iraque sofreu umha semi-derrota cujo resultado é ainda incerto, e no Afeganistám nom se vê muito bem.
Dalgum modo, isto é umha extensom do que a Grande Bretanha fixo nos séculos XVIII e XIX: aquirir umha série de bases que lhe permitiram à Royal Navy - a sua principal forma de projeçom de poder- operar de forma global. Merece a pena pôr em destaque este elemento de continuidade histórica porque o Pentágono ainda prefere confiar na força naval e aérea mais que nas tropas de infanteria. Os EUA tenhem o exército mais poderoso do mundo, mas tenhem um registo pobre de sucessos. A única grande guerra em terra que ganhárom desde 1945 foi contra o Irque em 1990-91, quando tinha praticamente o mundo enteiro do seu lado. Coreia resultou um ponto morto, em Vietname foi derrotado, no Iraque sofreu umha semi-derrota cujo resultado é ainda incerto, e no Afeganistám nom se vê muito bem.
Qual seria o rol político da esquerda revolucionária em lugares afetados por invasons militares (Iraque, Afeganistám)? É a intervençom puramente “estrangeira”?
Para contestar à segunda pergunta primeiro, a intervençom é frequêntemente nom puramente estrangeira. Tanto no Iraque como no Afegansitám implicou-se um elemento considerável de guerra civil. De facto, no Iraque, umha vez que surgiu a insurgência, os EUA apenas pudêrom manter-se manipulando tensons entre sunies e chiitas, a um preço humano atroz. Porém a realidade preponderante é dumha ocupaçom estrangeira [lembre-se também o povo curdo no Iraque a 'Aliança do Norte' no Afeganistám; N.B.]. Em princípio, o rol dos marxista revolucionários em ditas situaçons deveria vencelhar a resistência à ocupaçom com a luita de classes, tentando abrir um panorama de libertaçom tanto nacional como social. A experiência dos movimentos de resistência na Europa ocupada polos Nazis ilustra as possibilidades, assim como também os riscos, desta perspetiva.
Lamentavelmente, no Iraque e no Afeganistám encontramo-nos numha situaçom onde a esquerda secular. historicamente forte em ambas sociedades, desacreditou-se a si própria - um chisco devido a sua associaçom com forças imperialistas (URSS no caso do Afeganistám, os EUA no caso do Partido Comunista Iraquiano que apoiou a invasom de 2003). O resultado é que a luita contra as ocupaçons está dominada por forças políticas islámicas. Isto nom afeta a nossa tarefa fora do Iraque e do Afeganistám: enquanto que o movimento contra a guerra deve concentrar-se em fazer campanha para pôr fim às ocupaçons, as e os revolucionários devem dar-lhe a bem-vinda a derrota dos EUA e os seus aliados por parte das insurgências predominantemente islámicas. A tarefa dos revolucionários dentro destes estados é muito difícil: establecer as bases, em condiçons polo geral extremadamente desfavoráveis, para umha nova esquerda, genuinamente anti-capitalista e anti-imperialista.
Para contestar à segunda pergunta primeiro, a intervençom é frequêntemente nom puramente estrangeira. Tanto no Iraque como no Afegansitám implicou-se um elemento considerável de guerra civil. De facto, no Iraque, umha vez que surgiu a insurgência, os EUA apenas pudêrom manter-se manipulando tensons entre sunies e chiitas, a um preço humano atroz. Porém a realidade preponderante é dumha ocupaçom estrangeira [lembre-se também o povo curdo no Iraque a 'Aliança do Norte' no Afeganistám; N.B.]. Em princípio, o rol dos marxista revolucionários em ditas situaçons deveria vencelhar a resistência à ocupaçom com a luita de classes, tentando abrir um panorama de libertaçom tanto nacional como social. A experiência dos movimentos de resistência na Europa ocupada polos Nazis ilustra as possibilidades, assim como também os riscos, desta perspetiva.
Lamentavelmente, no Iraque e no Afeganistám encontramo-nos numha situaçom onde a esquerda secular. historicamente forte em ambas sociedades, desacreditou-se a si própria - um chisco devido a sua associaçom com forças imperialistas (URSS no caso do Afeganistám, os EUA no caso do Partido Comunista Iraquiano que apoiou a invasom de 2003). O resultado é que a luita contra as ocupaçons está dominada por forças políticas islámicas. Isto nom afeta a nossa tarefa fora do Iraque e do Afeganistám: enquanto que o movimento contra a guerra deve concentrar-se em fazer campanha para pôr fim às ocupaçons, as e os revolucionários devem dar-lhe a bem-vinda a derrota dos EUA e os seus aliados por parte das insurgências predominantemente islámicas. A tarefa dos revolucionários dentro destes estados é muito difícil: establecer as bases, em condiçons polo geral extremadamente desfavoráveis, para umha nova esquerda, genuinamente anti-capitalista e anti-imperialista.
Notas do texto original
1. Harvey, David: The New Imperialism, Oxford, London, 2003.
2. Lenin, Vladimir: O Imperialismo, fase superior do capitalismo, em Obras completas, tomo XXII, Moscovo, 1964, p. 295.
3. Schwartz, H. M.: Subprime Nation: American Capital, Global Capital, and the Housing Bubble, Ithaca, 2009, p. 168.
4. Carchedi, Guglielmo: Frontiers of Political Economy (Fronteiras de Economia Política) (London, 1991), p. 232.
5. Lenin, op. cit., p. 266.
6. Lenin, op. cit., p. 263.
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