06/10/2010

Holanda: como unlha e carne

Michael R. Krätke. Artigo traduzido desde aqui. O quadro para ilustrar o artigo é La Rendición de Breda de Velázquez.


A labaçada de antonte ficou definitivamente esquecida. Os holandeses disponhem-se a dar a bem-vinda a um governo com umha ajustada maioria suficiente (76 votos dum total de 150) no parlamento. Um governo tolerado e controlado, se nom governado, polo Partido da Liberdade (PVV) e Geert Wilders, que se comporta a todos os efeitos como primeiro ministro na sombra. Obviamente, os notáveis preocupam-se polos seus negócos. De presentear a Wilders como quase-governante com comentários antiislamistas o mesmo em casa que no estrangeir, seria em detrimento dos interesses dos escrupulosos mercaderes holandeses, pois a xenofobia nom é amiga do negócio. Desprendeu-se finalmente da fachada o verniz da por tantos elogiada toleráncia de A Haia, que nom foi em todo caso mais que indeferença. A aversom e a agresom contra os mussulmanos como a que praticam os partidários de Wilders normalizou-se desde há anos no país dos pólders.

Trata-se oficialmente dum governo de coligaçom em minoria formado polos liberais do VVD (Partido Popular pola Liberdade de a Democracia) e os cristaos-demócratas da CDA (chamada Democristá), que devem tolerar a Wilders como vencedor das eleiçons do 9 de junho. O líder do PVV encontra-se agora em negociaçons, mas aginha presidirá o gabinete.

Junto com o acordo de coligaçom entre o VVD e a CDA negociará-se um acordo de aquiescência com o Partido da Liberdade. Isto é, o executivo designado nom pode dar um só passo sem que Wilders o permita. E por quê quereria opor-se? Os esquadrons populistas da direita som com os liberais unlha e carne. Durante oito longos anos Wilders trabalhou escrevendo discursos para Frits Bolkenstein e outros grandes do VVD antes de entrar no parlamento em 1998. O seu partido é umha cisom dos liberais e compite com outra cisom pola direita ainda mais abertamente xenófoba, encabeçada por Rita Verdonk [presidenta do Orgulho por Holanda, N.T.]. Nom é nengum segredo a repulsom de Frits Bolkenstein, como ideólogo fanático, para quem "se resistem a integrar-se". Em caso de dúvida, os dogmas de mercado ultraliberais do VVD eram mais sagrados que aos seus olhos a antiquada liberalidade política.

Wilders representa o ultraliberalismo puro. Também quando, em plena campanha eleitoral, se coloca o disfarce de esquerdista e clama contra o aumento da idade de reforma ou contra os privilégios financeiros dos ricos. Nada novo sob o sol. Os jogos de cartas favorecem o oportunismo. Para os liberais, que por vez primeira em cem anos podem recuperar a presidência, nom será difícil sacrificar os princípios do estado de direito e, em vez de proibir o burka, favorecer a criaçom dum imposto para o seu uso, umha soluçom bem holandesa. Pola sua banda, com a sua política de símbolos, Wilders satisfacerá os desejos mais profundos dos liberais: acabárom-se os impostos para a construçom de estradas e os impostos para os lucrativos privilégios impositivos, como a deduçom dos juros hipotecários. Para Wilders será também razoável o seu plano de poupança, da magnitude de 18 a 10 mihons de euros *.

Pode que todo esteja bem para a acomodada clientelado VVD, mas é-o muito menos para o cidadao holandês de a pé.

Haverá que estar atentes à racçom da Uniom Europeia. Quando o FPÖ [Partido da Liberdade de Aústria, N.T.] de [Jörg] Haider chegou ao governo em 1999, considerárom-se sançons contra Aústria. Umha década depois nom fai falha que cante nengum galo em Brugelas para que em A Haia um partido abertamente racista, anti-liberal e anticonstitucional decida o futuro do país com apenas subir ou baixar o polegar.

* Nota do tradutor galego:

Os partidos liberais, resumindo muito, inçárom como meio, após as primeiras revoluçons de carácter burguês e revolucionário, de exercer a contrarevoluçom ao serviço da grande burguesia. Face os republicanos radicais e os demócratas (logo daqui sairiam os socialistas) os liberais defendiam a monarquia e, sobretodo, umha democracia censitária restringida a grande burguesia. O voto censitários, veja-se no Reino da Espanha o reinado de Isabel II por exemplo, estabelecia o direito a voto em funçom das rendas obtidas.

Esta democracia de baixa intensidade, que demonstra subscrecer o ultraliberalismo, está pois no ADN dos partidos liberais que fôrom, no entanto, apagados, por outras fórmulas da direita, como o fascismo mas nem só, e durante um século, o XX, tivérom um papel residual ou nulo na maior parte da Europa. Resulta quando menos chocante que no Reino Unido ou na Holanda, só por citar dous exemplos, voltem com força. No Reino da Espanha, após a I Restauraçom o liberalismo praticamente desapareceu tanto na II República como no nacional-catolicismo. Ora, o Partido Popular nom duvida em colocar-se as vítola de partido liberal... já o advertira Marx, a história sempre se repete duas vezes, umha vez como tragédia e outra como comédia.

Repare o leitor também nos nomes dos partidos liberais (populares e pola democracia) e dos xenófobos (pola liberdade). Entom inclua-se tanto o Partido Popular como UPyD. Rem é por acaso.

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