24/02/2011

Kadafi já não controla metade da Líbia

Manifestação de solidariedade na Malásia. EPA/SHAMSHAHRIN SHAMSUDIN

Os primeiros repórteres a chegar às principais cidades do leste da Líbia, a região da Cirenaica, confirmaram que o coronel Kadafi perdeu o controlo de metade do país e luta para manter-se no poder na capital, Tripoli, e nas cidades vizinhas.
O correspondente do Guardian, o primeiro a chegar a Bengazi, descreve uma cidade controlada pela população armada e por militares que passaram para o seu lado. Os escombros do principal quartel da cidade testemunham o violentíssimo combate travado quando a população o tomou de assalto. Indignada, a população organizou-se para o assalto depois de um funeral que passava na rua ter sido atacado por soldados ou mercenários que estavam no quartel.
A queda do quartel e a destruição e saque da residência de Kadafi na cidade simbolizam a derrocada do poder na segunda cidade do país, de cerca de um milhão de habitantes, onde ficam as sedes das empresas petrolíferas. Martin Chulov, do Guardian, ouviu também oficiais do exército que afirmam que se decidiram a apoiar a revolta contra Kadafi porque este ordenou ataques da aviação contra os manifestantes, e por estar a usar mercenários para reprimir a população.
Jactos contra civis
O uso da aviação contra civis desarmados é, aliás, a marca mais espantosa da sanha assassina da ditadura. Na quarta-feira, um avião despenhou-se perto de Bengazi e os dois pilotos saltaram de pára-quedas por se recusarem a bombardear a cidade. A pista da base aérea de Bengazi foi destruída por um bombardeamento de aviões fiéis a Kadafi, quando este temeu que as forças pró-revolta se apoderassem dos aviões desta base. Há notícias não confirmadas de que 17 oficiais da força aérea terão sido executados por se terem recusado a bombardear civis.
A cidade de Tobruk, a 140 km da fronteira do Egipto também está em mãos de revoltosos. A correspondente do El País relata que desde dia 18 a cidade é controlada pela população em armas. A jornalista Nuria Tesón diz que os habitantes da cidade começaram a formar comités populares para organizar os serviços públicos. O mesmo acontece em Musaid, na frontera com o Egipto, e em Derna.
Ruas de Tripoli desertas
Os relatos que chegam de Tripoli falam de uma cidade na sua maior parte deserta, com forças pró-Kadafi patrulhando as ruas. Uma testemunha disse que muitos moradores esperam que manifestantes e soldados revoltosos cheguem do leste do país para ajudá-los.
O governo enviou um SMS convocando funcionários e outros trabalhadores às suas actividades, mas muitas pessoas têm medo de sair à rua. Um morador de Tripoli, citado pela BBC, disse: “Espero que os moradores não compareçam ao trabalho – esta pode ser uma forma de protesto pacífico. Ficaremos todos em casa por período indefinido”.
Dois navios de guerra estarão em posição frente à cidade, e um morador disse à BBC que médicos viram homens armados disparando em pessoas em hospitais.
Obama fala pela primeira vez
O presidente norte-americano Barack Obama falou pela primeira vez nesta quarta-feira sobre a situação na Líbia, e acusou as autoridades de violarem "as normas internacionais e a decência" e defendeu que os direitos humanos não são negociáveis e devem ser respeitados "em todos os países". Mas evitou pedir a renúncia de Kadafi.
Obama sublinhou que "como qualquer governo, o líbio tem a responsabilidade de travar a violência" e disse ainda que de todas as partes do mundo, Norte e Sul, Este e Oeste, "ouviram-se vozes a apoiar o povo líbio". Disse ainda que a sua equipa de segurança nacional irá trabalhar no sentido de preparar opções para lidar com a crise.
Em Bruxelas, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, condenou "as violações brutais e em massa dos direitos humanos" e considerou que os responsáveis pela violência deverão responder pelos seus actos. Mas não anunciou nenhuma medida concreta contra o regime de Tripoli.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Tetuan e de muitas outras cidades marroquinas no passado domingo, em resposta ao apelo do "Movimento 20 de Fevereiro", que reclama reformas democráticas profundas e a demissão do governo de Marrocos.


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