A seguir apresentamos um interessante artigo do companheiro Brais Zás, trata-se de umha análise sobre a relaçom entre anarquismo e as luitas de libertaçom nacional.
Esperamos que sirva para refletir e abrir um debate que chega tarde:
Ao falar de independência e de anarquismo há que começar por clarificar termos, é dizer, que significa e que se adoita entender por independência em termos políticos.
Quando se fala de independência ou de independentismo estas palavras levam-nos automaticamente a pensar noutro termo: nacionalismo.
O nacionalismo, à sua vez, leva-nos a dous conceitos políticos diferentes: pode-mos falar de nacionalismo como ideologia surgida do romanticismo e que é a que nos leva a conceber um mundo dividido em naçons e a acreditar na sua própria existência, e também do movimento que surge como resposta à opressom de tipo colonial ou cultural de impérios sobre povos, e que se define e caracteriza por umha exaltaçom do próprio.
O nacionalismo, entendido como ideia surgida no século XVIII e que levará à criaçom de diferentes construçons nacionais, totalmente artificiosas –esta-mos a falar dos estados-naçom europeios– é criaçom da burguesia e aparece como nova abstracçom para substituir as monarquias absolutas, e mediante a substituiçom da soberania do rei absoluto pela soberania nacional nas novas constituiçons liberais –identificando a naçom com o povo– a nova classe dominante consegue dotar dumha aparência democrática ao novo regime e manter assim os seus privilégios.
O nacionalismo, seguindo com o mesmo conceito do que antes estávamos a falar, é o que permite que um soldado vaia à guerra matar gente que nom conhece doutros estados-naçom, acreditando que está a fazer um bem para a gente que vive com ele em sociedade, os seus “compatriotas”. Assim mesmo, o nacionalismo e os estados-naçom é o que nos levam a assumir conceitos como nacional- estrangeiro, delimitados polas artificiosas fronteiras criadas por interesses jurídico- político-estratégicos com origem em muitos casos na espoliaçom e o saqueio ( sirva como exemplo o colonialismo africano e as guerras que os países europeus deixárom feitas em África como consequência das suas divisons administrativas).
Também podemos falar doutro conceito diferente de nacionalismo, o que nos leva a falar daqueles movimentos que surgem quando um povo vê esmagada a sua cultura e impossibilitado a realizar a sua vida normal com os seus rasgos culturais, que em nengum caso som melhores nem piores que os de ninguém, mas formam de maneira inevitável parte dumha pessoa e das circunstâncias naturais da sua própria vida e interactuam com as demais pessoas com as que convive em sociedade.
Nengum nacionalismo de por sim é libertador, senom que se intenta presentar como libertador acompanhado dumhas ideias de justiça social. Polo tanto, o miolo da questom se de ser tod@s livres e iguais se trata, nom está para nada no binómio nacionalismo - nom nacionalismo, senom numhas ideias que analisando a história e os problemas das sociedades humanas ao longo da mesma, presentem soluçons efectivas para erradicar os mesmos, intimamente ligados, à sua vez, aos problemas do entorno no que elas vivem.
Mas do que aqui estamos a falar nom é de nacionalismo, senom de independentismo. Neste senso, cabe dizer num primeiro momento que o independentismo pode ser nacionalista ou nom nacionalista. Isto é, pode ser orientado à formaçom dum estado-naçom próprio ou pode ser um sentimento separatista que nos conduza a nom repetir mais fórmulas organizativas hierárquicas e autoritárias actuando e intentando liberar o nosso entorno mais próximo.
Embora nom se pode obviar que esse sentimento separatista nom se produze em todo-los lugares por igual, senom que se dá naquelas comunidades de pessoas, que tendo umha cultura diferenciada, vírom a sua proibida, e imposta a que o estado de turno queria que fosse oficial e assumida, já que a uniformizaçom está na natureza de todos os estados, no seu ser autoritário, que vê com maus olhos a diversidade porque esta pode ser um arma do povo pola qual nom submeter-se.
Esse sentimento separatista é justificável. Responde nem mais nem menos que a feito de que um povo esteja doído pola humilhaçom sofrida, por sentir-se estrangeiro na terra na qual vive (que de nengumha maneira é sua, mais é um sentimento que se dá realmente quando um estado impom umha cultura que nom é a autóctone do povo), por nom querer compartir a convivência dentro dum estado que lhes negou os seus direitos naturais mais básicos, como é expressar-se na língua que aprendeu dos seus ascendentes. E iste sentimento separatista, ainda normalizando-se certas situaçons, queda latente num povo, sobrevive nos seu mais baixos fundos até que um dia sai à superfície, e chega mesmo aos/ás que nom acreditamos nem em naçons nem em fronteiras, e em particular pode chegar ao anarquismo tanto como sentimento dos que pertencemos à cultura pisada ou como estratégia dos que nom estam de acordo em luitar a nível dos marcos territoriais gigantistas dos estados. O sentimento separatista justifíca-se histórica e psicologicamente. O independentista libertário bretom Emile Masson preguntava-se se um bretom consciente podia ser outra cousa que separatista. Certas feridas de algumha maneira há que curá-las.
As culturas som umha realidade, mas nom som património de ninguém. Um idioma é simplesmente umha maneira que atopárom certo grupo de pessoas de definir aquilo que os rodeava.. Nem mais nem menos. Mas acreditando nisso acreditamos também que as luitas devem-se levar a cavo fora dos marcos estabelecidos polos estados, e sim atendendo a circunstâncias mais naturais como som as diferentes línguas – património que nom devemos perder- ou incluso territórios definidos por acidente geográficos; o que podemos denominar povos, nos quais nunca se deve buscar a uniformizaçom nem a imposiçom do idioma autoctone, senom defender a a cultura do povo contra imposiçons estatais e apoiar a mestura em pé de igualdade.
Nom cave dúvida, que neste século XXI, no que milheiros de culturas está previsto que desapareçam, a luita por conservar as diferentes identidades jogará um papel determinante na luita contra o globalizaçom capitalista que se presenta como imparável, pois a defesa dessas mesmas culturas pode ser umha perspectiva dende onde se pode começar a orientar a luita em muitos povos do mundo e a conservaçom das mesmas um signo de irreverência contra quem pretende impor a cultura do consumo e o american way of life a nível mundial. As culturas e as identidades minoritárias som umha arma, hoje mais que nunca, nas maos das classes populares para fazer fronte à globalizaçom capitalista, que nom é só económica, senom que impom o gigantista em detrimento do minoritário, e prevalecem os idiomas dos grandes estados, que, à sua vez, som os mais armados e militarizados e máximos impulsores da globalizaçom; e por isso mesmo devemos imiscuir-nos nessas luitas contra a imposiçom d@s que querem um mundo gris no que tod@s cantemos, falemos e bailemos da mesma maneira, e a ser possível ao ritmo dos seus anúncios televisivos.
O nacionalismo, dende o ponto de vista que aqui se pretende expressar, é rejeitável. Funciona dentro do sistema e os seus parámetros, com a mesma ideologia deste. O independentismo deve sair desse redil e o sentimento separatista que inevitavelmente está presente em muitas pessoas que estam fartas de estados e dos seus marcos territoriais deve ser conduzido cara à autogestom das nossas vilas e povos, cara a democracia directa, para libera-se do estado e o capitalismo ao tempo de fazer fronte à sua tendência globalizadora e uniformadora.
2 comentários:
Moi bonita a idea pero como pos de acordo á xente para que te apoie?
Olá!
O artigo é de Brais Zas. No blogue tratamos de pôr cousas de todas as sensibilidades da esquerda, independentemente de que concordemos ao cento por cento com elas ou nom. A pergunta entendo entom que está formulada retoricamente ao autor do texto. Pessoalmente sempre me declarei libertário sem por isso deixar de trabalhar em organizaçons e movimentos "nacionalistas". Colher o melhor de cada tradiçom pode ser um bom alvo para relançar a esquerda nom resignada em Europa.
A pergunta contodo é mais pertinente do que parece e em minha opiniom a formaçom, um bocado deixada de lado hoje em todas as organizaçons, deveria situar-se novamente no centro. Mas diálogo, leitura e discusom e menos catecismo. Ainda que esta é apenas a minha opiniom.
Umha aperta irmandinha do Antom.
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