Noam Chomsky. Artigo tirado do Esquerda.net (aqui). Publicado na Carta Maior. Tradução de Isabela Palhares, revista por Luis Leiria.
Intelectual e ativista diz que os cortes aos programas
alimentares para os mais pobres e o fim do auxílio especial aos
desempregados é pura loucura e afirma que a desigualdade, hoje, está num
nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920. Por Jacob Chamberlain,
do CommonDreams.com
Os EUA são um país de um partido, o Partido dos Negócios, diz Chomsky. Foto de tr.robinson / FlickR, licença Creative Commons
Enquanto o Congresso dos Estados Unidos decide, esta semana, se vai
manter um subsídio de desemprego de emergência a milhões de americanos
ou se vai aprovar as negociações de uma lei agrícola que cortaria
milhares de milhões dos programas de vale-refeição, o prestigiado
ativista e intelectual Noam Chomsky resumiu, numa entrevista, o ponto a
que chegou a política interna dos EUA com apenas duas palavras: ‘pura
selvajaria.’
“A recusa de proporcionar um padrão de vida muito mínimo às pessoas que
foram apanhadas por esta monstruosidade – é pura selvajaria”, disse
Chomsky durante uma entrevista à HuffPost Live. “Não há outra forma de dizer.”
O Washington Post relatou que
as atuais negociações da lei agrícola podem levar, na próxima década, à
eliminação de 9 mil milhões de dólares no fundo para os selos de comida
(food stamps) distribuídos pelo Programa de Assistência Suplementar
Nutricional (SNAP), “de acordo com diversos assessores que estão
familiarizados com as negociações e que não são autorizados a falar
publicamente sobre os detalhes.”
As mudanças iriam diminuir os auxílios para, no mínimo, 800 mil
famílias, com cortes de até 90 dólares por mês. “Essa é a última semana
de mercearia do mês”, disse a senadora Kirsten Gillibrand ao Washington Post.
O Congresso, controlado pelos republicanos tinha, originalmente,
proposto cortes de 40 mil milhões de dólares e o Senado, de maioria
democrata, propôs cortes de 4 mil milhões de dólares. A negociação, que
tem uma conclusão esperada para a próxima semana, realiza-se dois meses
depois de os deputados norte-americanos terem deixado que chegasse ao
fim um outro estímulo da SNAP, cortando fundos universais de 5.000
milhões de dólares no financiamento, que acabou com a assistência
alimentar de 47 milhões de dólares a beneficiários dos selos de comida,
sendo 49% deles crianças.
Fim do subsídio de desemprego de emergência
Se isso não fosse pouco, no mês passado, o Congresso acabou com o
subsídio de desemprego de emergência de longo prazo para 1,3 milhões de
americanos, uma “linha de vida” para muitos que estavam à procura de
empregos há um longo período de tempo e dependiam desses benefícios para
sobreviver.
Na terça, o Senado aprovou por pequena margem uma resolução para fazer
avançar a lei que irá reinstaurar esses subsídios de desemprego. Mas
mesmo que essa lei acabe por ser aprovada pelo Senado, irá enfrentar
forte oposição quando chegar à câmara dos representantes dominada pelos
republicanos.
“A desigualdade tem sido um sério problema por muito tempo,” disse
Chomsky. “Mas a desigualdade, agora, está num nível nunca antes visto,
pelo menos, desde 1920... ou até antes. Isso é muito grave.”
Qualquer crescimento nos últimos anos foi para os 2% mais ricos da
população, disse Chomsky, acrescentando que uma grande parte da
população está a viver abaixo da linha da pobreza, enquanto que no topo
da sociedade, os lucros estão a crescer para os ricos.
Contudo, os bloqueios impostos aos programas públicos, que muitos dizem
ser essenciais para os pobres dos Estados Unidos, não têm “nada a ver
com maçãs podres no Congresso,” disse Chomsky ao HuffPost Live.
“São problemas estruturais que tem ligação ao assalto neoliberal à
população, não só americana mas mundial, que ocorreu nas gerações
passadas. Algumas áreas conseguiram escapar a ele, mas o assalto
espalhou-se.”
O partido dos negócios
Chomsky disse ainda: “Anos atrás era costume dizer que os Estados
Unidos são um país de um partido – o partido dos negócios – com duas
fações, Democratas e Republicanos. Isso já não é verdade. Ainda é um
país de um partido – o partido dos negócios – mas só com uma fação. E
não é a democrata, são os republicanos moderados. Os chamados Novos
Democratas, que são a força dominante no partido Democrático, são o que
eram os Republicanos Moderados décadas atrás. E o resto do partido
Republicano só tem flutuado para fora espectro.
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