A editora Ariel vem de tirar em papel ecológico um pequeno livro com trechos das reflexões de António Gramsci que intitula Odio a los indifentes. Um livro que aparece num momento muito agitado em que a indignação se espalha por toda a parte, mas como Bauman reconhece não foi ainda além, quer dizer à organização política.
A edição conta com uma contra-capa que é eloquente por si própria e que reproduzimos traduzida ao galego:
Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir quem apenas sejam homens, estranhos para a cidade. Quem verdadeiramente vive não pode não ser cidadão, ao tomar partido. A indiferença é apatia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que amiúde afogam os entusiasmos mais brilhantes, é a barragem que rodeia a velha cidade e a defende melhor que a muralha mais sólida, melhor que os escudos dos seus guerreiros, que traga os assaltantes num remoinho de bulheiro, e decimeia-os e apouca-os, e por vezes faz-os desistir de qualquer empresa heróica.
A indiferença opera com força na história. Opera passivamente, mais opera. É inevitável, é o que não se pode contar, é o que altera os programas, o que transtorna os planos melhor elaborados, é a matéria bruta que se rebela contra a inteligência e a atafega. Vivo, sou partisano. Por isso odeio os que não tomam partido, os indiferentes (11-2-1917).
Não faz falha insistir na atualidade do pensamento de Gramsci num cenário europeu onde a hegemonia da extrema direita é cada vez maior, enquanto em América após décadas de sofrimento da população por mor do ultraliberalismo é a direita a que se está reinventando com milionários como Piñera em Chile, ou a nova proposta da direita em Venezuela, que prometem (para além de controlarem a mídia comercial) manter as despesas sociais de Hugo Chávez e o PSUV... uma receita que já conhecemos dos liberais e dos cristão-demócratas na Europa ocidental dos setenta e oitenta.
Como tem indicado Chomsky, a menos que sejamos capazes de pensa o que a ideologia imperial, a do bloco hegemónico, proíbe pensar, será muito difícil que consigamos entender o que está acontecendo no mundo. Não chega a indignação e a raiva, é mister a organização, a luta e mediante a inteligência obrigar às classes dominantes a pôr-se à defensiva agora que esbanjam o público e não poupam em cortar despesas sociais e o futuro do planeta e de 4/5 da humanidade na aplicação impudente dum darwinismo social militarizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário