Manifestantes reuniram-se em Deraa, sul do país, nos funerais das vítimas dos protestos de quarta-feira. Mais de cem pessoas terão sido mortas pelas forças repressivas.
Cerca de 20 mil pessoas manifestaram-se esta quinta-feira no funeral de nove pessoas mortas pela polícia síria nos protestos de quarta em Deraa, no Sul do país. Nessa ocasião, mais de cem pessoas terão sido mortas, segundo activistas dos direitos humanos e testemunhas dos protestos.
De acordo com a Reuters, a polícia lançou granadas de gás lacrimogéneo contra centenas de pessoas que, depois dos funerais, tentaram concentrar-se numa das praças no centro da cidade.
Entretanto, numa aparente tentativa de aplacar os ânimos, o governo anunciou medidas para responder às exigências populares. “A Síria tomará decisões importantes para responder às aspirações do povo, e o povo participará em todas as decisões que forem tomadas”, disse Bussaina Chaabane, conselheira do presidente Bachar al-Assad, que garantiu que “as exigências da população de Deraa estão a ser estudadas e são motivo de preocupação”.
As manifestações estão proibidas ao abrigo das leis de emergência que o partido Baas impôs ao país há quase meio século. Ainda assim, a página no Facebook de onde partiram os apelos às manifestações de ontem – intitulada “A revolução síria contra Bashar al-Assad 2011” – convocou para esta quinta-feira um novo protesto, desta vez em Homs, 160 quilómetros a norte de Damasco.
Uma semana de protestos
A repressão brutal de quarta-feira reflecte a escalada dramática de uma semana de protestos nesta cidade de fronteira com a Jordânia. “Recebemos os cadáveres às cinco da tarde. Todos tinham feridas de balas”, disse um funcionário do hospital local.
Os incidentes começaram de madrugada, quando as forças de segurança entraram na mesquita de Al Omari, com a desculpa de prender um “bando armado” que supostamente tinha guardado armas e munições no edifício, e dispararam contra as pessoas que tentaram impedir a entrada, matando vários. As forças de segurança voltaram a abrir fogo nos funerais das vítimas e, mais tarde, contra centenas de jovens que se dirigiam à cidade para participar nos protestos.
As autoridades sírias negaram as informações sobre as mortes fornecidos pela oposição, acusando “estrangeiros” – referindo-se a Israel – de propagar boatos e de fomentar a revolta.
Os protestos de quarta, depois de um tímido “dia da raiva” na terça-feira em Damasco, estenderam-se a outras cidades sírias, reunindo nalguns casos dezenas de pessoas, noutros várias centenas, como aconteceu em Deraa.
Na capital, agentes à paisana dispersaram, com cassestetes, a manifestação organizada junto à mesquita dos Omíadas, havendo relatos de que pelo menos duas pessoas foram presas.
Depois da revolução na Tunísia, o presidente sírio, Bachar al-Assad, prometeu reformas políticas e anunciou o fim da proibição ao Facebook. Mas nem as promessas, nem o forte aparelho repressivo do regime foram suficientes para calar a contestação, que tem tido Deraa como foco e que tem vindo a crescer.
Na terça-feira, a União Europeia condenou a “violenta repressão” aos protestos, qualificando-a como “inaceitável”.
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