12/04/2011

Nacionalismo espanhol

Jon Odriozola. Artigo tirado de aqui. Artigo original em castelhano publicado em Gara. Traduçom  de André Tabuada Casteleiro para o Diário Liberdade.


110411_espanholismoPartiremos de uma conclusão que teria que se provar e que é defendida pelo historiador Juan Sisinio Pérez Garzón no seu livro «La gestión de la memoria».

A tese é que, por exemplo, um conceito tão empregue como o de «cultura espanhola» vê-se incontestado até por óbvio. Joga com a vantagem de nacionalismo que não se apresenta como tal e que assume que «o espanhol» já está definido de uma vez por todas e pronto.

Antes de mais refira-se que nenhuma cultura nacional ou idioma ou religião se formou isoladamente, não são produtos endógenos. O "vagarossismo" atual ultranacionalista e chovinista, uma vez que conquistado o ilhote Perejil, façanha bélica incomparável, encontra um dos seus últimos refúgios no desporto profissional (cheio de casos de dopagem). Quer através das estações de rádio, quer das estações de TV há sempre um locutor a te informar daquilo que fizeram «los nuestros» na NBA norte-americana, algo mesmo indispensável. Já não é o espanhol tão baixinho. Lembro-me mesmo do ciclista espanhol Luis Ocaña, filho de emigrantes conquenses na República francesa. Os seus sucessos desportivos foram muito bem acolhidos pela fraca dieta patriótica espanhola. Mas Ocaña (em francês Ocana) tinha um defeito glosopédico: o seu fortíssimo acento francês quando se expressava em «espanhol». Uma tara mesmo: no idioma de Molière expressava-se infinitamente melhor do que no de Cervantes. Depois suicidou-se e já ninguém lembra as sua façanhas na Volta à França. Era um espanhol «a médias», sem o ADN de Bahamontes, este sim, espanhol inteiro.

O exemplo talvez esteja por um fio, mas as patentes de espanholidade dizem que não é o mesmo um triunfo do pintenho Contador do que do navarro Indurain, entre um cristão velho ou um provável agote. Os Reis Católicos «já eram espanhóis», segundo a historiografía liberal do século XIX, e para não falar no Cid (Viriato não, este seria «português», lusitano) ou Isidoro de Sevilla (Hispalis). Os muçulmanos derrotados em Granada não eram «espanhóis», nem sequer «outros espanhóis» como os sefarditas expulsos da sua terra. E, no entanto, nas relações internacionais, os «hispanos» eram os árabes peninsulares. O resto astures, leoneses, castelhanos, navarros, aragoneses; porfim, «cristãos», mas nunca «espanhóis». Abderramán seria mais «espanhol» do que Paio. Alguém desmaiar-se-á.

O nacionalismo espanhol, pois, tem a duvidosa virtude de se apresentar como se não fosse nacionalista, como se as suas pretensões fossem o natural e normal ou inquestionável mesmo. Neste sentido -diz o autor-, o nacionalismo espanhol, confundido com a própria história do Estado desde os Cortes de Cádiz, ao não se definir como tal nacionalismo, resulta difícil diferenciá-lo da história política geral na que o conceito de Espanha se propõe desde o subentendido inquestionável da existência unitária de um estado que não deixa de ser o reduzido e minguado herdeiro territorial de uma monarquia tão plural quanto dispersa nas suas posses. Seguiremos.

Ah, eu não sou nacionalista, eu sou do Athletic, uma fase superior da condição humana.

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