Atilio Borón. Artigo tirado de Diário Liberdade (aqui) e publicado originalmente em Rebelión. Atilio Borón é politólogo e sociólogo argentino de nascença e latino-americano por convicção. Diretor do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais, em Buenos Aires.
Dias atrás o correspondente do jornal londrino The Independent em Trípoli trouxe ao conhecimento uma série de documentos que ele mesmo havia encontrado em um escritório governamental abandonado com toda pressa por seus ocupantes.
Esse material joga uma luz de deixar cego quem acredita que para se opor e condenar o criminoso ataque aéreo da OTAN sobre a Líbia é necessário enaltecer a figura de Kadafi e ocultar seus crimes até convertê-lo em um socialista exemplar e ardente inimigo do imperialismo. O escritório em questão era a de de Moussa Koussa, ex-ministro das Relações Externas de Kadafi, homem da mais absoluta confiança deste e, anteriormente, chefe do aparato de segurança do líder líbio. Como se recordará, nem bem estalou a revolta em Bengazi, Koussa desertou e se foi surpreendentemente para Londres. Pese às numerosas acusações que existiam contra ele por torturas e desaparições de milhares de vítimas, o homem não foi molestado pelas sempre tão alertas autoridades britânicas e pouco depois desapareceu. Agora suspeita-se que seus dias transcorrem sob a proteção de algumas das ferozes autocracias do Golfo Pérsico. A papelada descoberta pelo correspondente do The Independent ajuda a entender por que.
Os documentos põem em evidência os estreitos e amistosos laços existentes entre o regime de Kadafi, a CIA e o MI6, a espionagem britânica. Graças a essa vinculação, Washington trasladou à Líbia pessoas suspeitas de terrorismo – ou colaboradores deste – para submetê-las a sessões especiais de "interrogatórios reforçados", um pouco sutil eufemismo para se referir à tortura. Graças ao apoio de um governo como o de Kadafi, que havia arremessado pela borda suas antigas convicções, George W. Bush pôde sortear as limitações estabelecidas por sua própria legislação em relação com o tipo de tormentos "aceitáveis" em uma confissão. Segundo a documentação encontrada pelo jornalista, a Casa Branca realizou pelo menos oito envios de prisioneiros – não há informação exata sobre o número de pessoas despachadas em cada envio – para serem interrogados brutalmente nas masmorras de Kadafi, afora dos que puderem ter se remetido para a esse país sem que ao momento exista constância escrita disso.
Este emparelhamento desprezível entre o robocop do império e seu comparsa líbio chegou tão longe que em um dos documentos enviados pela CIA aos lacaios de Kadafi se inclui uma lista de 89 perguntas que estes tinham que formular quando se "interrogasse" um dos suspeitos. Significa dizer, nada ficava livre para a improvisação. Em troca destes infames serviços, a CIA e o MI6 ofereciam por escrito toda sua colaboração para identificar, localizar e entregar os inimigos do regime em qualquer lugar do mundo. A agência estadunidense fez isto com Abu Abdullah al-Sadiq – um dos dirigentes do Grupo Líbio Islâmico Combatente e, hoje, líder militar dos rebeldes líbios – apenas dois dias depois de chegar a solicitação expressa de Trípoli em tal sentido. Sadiq, cujo nome verdadeiro é Abdel Hakim Belhaj, declarou na quarta-feira (31 de agosto) que, estando em Bangcoc em companhia de sua esposa, grávida, foi detido e torturado nas prisões líbias por dois agentes da CIA, tal qual se antecipava no escrito resgatado dos escombros da oficina de Koussa. Semelhantes intercâmbios de favores foram frequentes entre os organismos de segurança líbios e do MI6, dado que numerosos exilados políticos líbios residiam no Reino Unido.
O anterior é somente a ponta de um iceberg atroz e aberrante. A correspondência entre o número dois da CIA naquele momento, Stephen Kappes, e Koussa, exibe uma repugnante cordialidade. O mesmo sentimento provoca a cúmplice hipocrisia de George W. Bush e Tony Blair, sabedores dos crimes que por seu encargo estava sendo realizado em Trípoli enquanto proclamavam sua mentirosa defesa dos direitos humanos, da justiça, da democracia e da liberdade. Farsantes supremos, igualmente a Kadafi, que há muito tempo deixou de ser o que havia sido apesar de que são muitos os que todavia não se deram conta. O fiscal do Tribunal Penal Internacional declarou que iniciará uma investigação sobre as gravíssimas violações dos direitos humanos perpetradas por Kadafi. Mas, o que fará com George W. Bush e Tony Blair, participantes necessários, cúmplices e encobridores destes crimes? Além disso, terá alguma coragem suficiente para fazer o mesmo com Anders Fogh Rasmussen, Secretário Geral da OTAN, responsável (até o dia 1 de setembro) pelos 21.200 ataques aéreos contra a Líbia, causadores de inumeráveis vítimas civis e de quase total destruição desse país? A operação "reconquista neocolonial" da Líbia – ensaio geral de uma metodologia destinada a se aplicar nos mais diversos cenários regionais – faz cair muitas máscaras que deixaram a nu os personagens sinistros e instituições como o Tribunal Penal Internacional, outra farsa como o "anti-imperialismo" de Kadafi e os "direitos humanos" de Bush, Blair, Cameron, Sarkozy e Berlusconi.
Esse material joga uma luz de deixar cego quem acredita que para se opor e condenar o criminoso ataque aéreo da OTAN sobre a Líbia é necessário enaltecer a figura de Kadafi e ocultar seus crimes até convertê-lo em um socialista exemplar e ardente inimigo do imperialismo. O escritório em questão era a de de Moussa Koussa, ex-ministro das Relações Externas de Kadafi, homem da mais absoluta confiança deste e, anteriormente, chefe do aparato de segurança do líder líbio. Como se recordará, nem bem estalou a revolta em Bengazi, Koussa desertou e se foi surpreendentemente para Londres. Pese às numerosas acusações que existiam contra ele por torturas e desaparições de milhares de vítimas, o homem não foi molestado pelas sempre tão alertas autoridades britânicas e pouco depois desapareceu. Agora suspeita-se que seus dias transcorrem sob a proteção de algumas das ferozes autocracias do Golfo Pérsico. A papelada descoberta pelo correspondente do The Independent ajuda a entender por que.
Os documentos põem em evidência os estreitos e amistosos laços existentes entre o regime de Kadafi, a CIA e o MI6, a espionagem britânica. Graças a essa vinculação, Washington trasladou à Líbia pessoas suspeitas de terrorismo – ou colaboradores deste – para submetê-las a sessões especiais de "interrogatórios reforçados", um pouco sutil eufemismo para se referir à tortura. Graças ao apoio de um governo como o de Kadafi, que havia arremessado pela borda suas antigas convicções, George W. Bush pôde sortear as limitações estabelecidas por sua própria legislação em relação com o tipo de tormentos "aceitáveis" em uma confissão. Segundo a documentação encontrada pelo jornalista, a Casa Branca realizou pelo menos oito envios de prisioneiros – não há informação exata sobre o número de pessoas despachadas em cada envio – para serem interrogados brutalmente nas masmorras de Kadafi, afora dos que puderem ter se remetido para a esse país sem que ao momento exista constância escrita disso.
Este emparelhamento desprezível entre o robocop do império e seu comparsa líbio chegou tão longe que em um dos documentos enviados pela CIA aos lacaios de Kadafi se inclui uma lista de 89 perguntas que estes tinham que formular quando se "interrogasse" um dos suspeitos. Significa dizer, nada ficava livre para a improvisação. Em troca destes infames serviços, a CIA e o MI6 ofereciam por escrito toda sua colaboração para identificar, localizar e entregar os inimigos do regime em qualquer lugar do mundo. A agência estadunidense fez isto com Abu Abdullah al-Sadiq – um dos dirigentes do Grupo Líbio Islâmico Combatente e, hoje, líder militar dos rebeldes líbios – apenas dois dias depois de chegar a solicitação expressa de Trípoli em tal sentido. Sadiq, cujo nome verdadeiro é Abdel Hakim Belhaj, declarou na quarta-feira (31 de agosto) que, estando em Bangcoc em companhia de sua esposa, grávida, foi detido e torturado nas prisões líbias por dois agentes da CIA, tal qual se antecipava no escrito resgatado dos escombros da oficina de Koussa. Semelhantes intercâmbios de favores foram frequentes entre os organismos de segurança líbios e do MI6, dado que numerosos exilados políticos líbios residiam no Reino Unido.
O anterior é somente a ponta de um iceberg atroz e aberrante. A correspondência entre o número dois da CIA naquele momento, Stephen Kappes, e Koussa, exibe uma repugnante cordialidade. O mesmo sentimento provoca a cúmplice hipocrisia de George W. Bush e Tony Blair, sabedores dos crimes que por seu encargo estava sendo realizado em Trípoli enquanto proclamavam sua mentirosa defesa dos direitos humanos, da justiça, da democracia e da liberdade. Farsantes supremos, igualmente a Kadafi, que há muito tempo deixou de ser o que havia sido apesar de que são muitos os que todavia não se deram conta. O fiscal do Tribunal Penal Internacional declarou que iniciará uma investigação sobre as gravíssimas violações dos direitos humanos perpetradas por Kadafi. Mas, o que fará com George W. Bush e Tony Blair, participantes necessários, cúmplices e encobridores destes crimes? Além disso, terá alguma coragem suficiente para fazer o mesmo com Anders Fogh Rasmussen, Secretário Geral da OTAN, responsável (até o dia 1 de setembro) pelos 21.200 ataques aéreos contra a Líbia, causadores de inumeráveis vítimas civis e de quase total destruição desse país? A operação "reconquista neocolonial" da Líbia – ensaio geral de uma metodologia destinada a se aplicar nos mais diversos cenários regionais – faz cair muitas máscaras que deixaram a nu os personagens sinistros e instituições como o Tribunal Penal Internacional, outra farsa como o "anti-imperialismo" de Kadafi e os "direitos humanos" de Bush, Blair, Cameron, Sarkozy e Berlusconi.
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