Imagem tirada de aqui e pertencente a um inquérito de El País. Nestes inquéritos o BNG move-se num abano de 2-3 escanos (1 em Ponte Vedra e 1/2 em A Crunha). |
Há algo errado na campanha eleitoral espanhol desde o início. Talvez seja a data escolhida para votar: 20 de novembro, aniversário da morte do general Francisco Franco, o ditador que venceu a Guerra Civil e manteve o país debaixo de seu punho por 36 anos. Talvez seja pelo fato de que amplos setores da população não estão convencidos que os partidos políticos com possibilidades de alcançar o governo, PSOE e PP, em pouco se diferenciam na hora de aplicar as medidas econômicas exigidas pelos implacáveis mercados. O certo é que a campanha se mostra apática e nada faz pensar que as coisas vão mudar na medida em que se aproxima o momento de votar.
O candidato conservador Mariano Rajoy e o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba até conversam amavelmente quando se encontram em algum ato público. Ninguém, com exceção de alguns pequenos partidos marginais, questiona as bases do modelo. Os empresários aproveitam para exigir uma reforma trabalhista que diminua ainda mais os salários dos trabalhadores, enquanto o desemprego segue aumentando. O país caminha para entrar em recessão – vem com crescimento quase igual a zero há vários meses e os dirigentes do castigado sistema financeiro local parecem não ter se inteirado que nas ruas há indignados e seguem protagonizam escândalos, como o protagonizado pela ex-diretora da Caixa de Poupança do Mediterrâneo, María Dolores Amorós, expulsa de seu cargo pelo Banco de Espanha, sob a acusação de manipular as contas. A senhora Amorós fixou para si mesma uma pensão vitalícia de 370 mil euros anuais. Isso em meio ao alarde de austeridade que se propaga nos dias atuais.
Os meios de comunicação, enquanto isso, bombardeiam a população todos os dias com notícias econômicas intermináveis, o que faz com que os espanhóis tenham aprendido nos últimos tempos o que significa o risco país, o que é uma agência de classificação de risco, por que a bolsa sobe e baixa como se tivesse enlouquecido, como o que acontece na Grécia e na vizinha Portugal afeta suas vidas. Mesmo que sigam sem compreender como terminaram se metendo neste baile e muito menos o que podem fazer para deter a queda que até agora parece inevitável. Os partidos políticos tampouco têm ideias para expor aos cidadãos, nem conseguem elaborar uma explicação convincente para o que está acontecendo.
O Partido Socialista, que até o início da crise, parecia ter o touro controlado sob a batuta do outrora carismático José Luís Rodríguez Zapatero, parece ter perdido o rumo. A escolha a dedo de Pérez Rubalcaba atropelou todo o debate interno, o que deixou um gosto amargo para um amplo grupo de dirigentes intermediários que queriam discutir o modelo econômico com mais profundidade e que não estão muito de acordo com a rendição incondicional aos mercados posta em prática por Zapatero. Salvo algumas alusões pontuais a um eventual retorno a certas políticas de esquerda, não há nada que entusiasme a tradicional base eleitoral de centro-esquerda espanhola, que no dia 20 de novembro possivelmente nem vá votar.
Liberado às tendências centrípetas que sempre o caracterizaram, o PSOE corre o risco de explodir em intermináveis lutas internas no dia seguinte à eleição, caso se confirmem as previsões das pesquisas.
O Partido Popular, enquanto isso, faz a festa. Sua base de eleitores está convencida que, só por ser de direita, o PP sabe o que fazer, já o fez em 1996, com José María Aznar e voltará a fazê-lo agora. Trata-se de deixar livres as mãos do setor privado, promover um adequado clima de negócios e os problemas acabaram, dizem seus dirigentes e repetem seus seguidores. Algo parecido com uma fé cega em relação à qual nenhum argumento racional pode fazer frente. Por mais que alguns setores sindicais advirtam que, por trás de Rajoy, se esconde um terrível “Eduardo mãos de tesoura” que chegará ao governo com a intenção de cortar o gasto público de maneira selvagem.
Nas ruas, enquanto isso, os indignados marcam o pulso da campanha desmontando os discursos dos partidos políticos maioritários, questionando o papel dos meios de comunicação que, salvo honradas exceções, os desqualificam abertamente, e promovem um debate mais profundo sobre o modelo de sociedade que está em jogo por trás da anódina campanha. Sabem que despedaçaram o Partido Socialista com suas mobilizações prévias às eleições municipais do início do ano e agora se questionam como fazer para que o desgaste chegue também ao Partido Popular, que deve assumir o governo de Madri nos próximos anos, sem trazer – na avaliação do 15-M – nenhuma solução para os problemas que o presente está oferecendo.
O debate social está aberto, a sociedade está mobilizada e sensível a temas sobre os quais até aqui pouco se falava. A política está mais presente do que nunca na democracia espanhola, ainda que os resultados que sairão das urnas em novembro nada tenham a ver com o que está ocorrendo no país.
O candidato conservador Mariano Rajoy e o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba até conversam amavelmente quando se encontram em algum ato público. Ninguém, com exceção de alguns pequenos partidos marginais, questiona as bases do modelo. Os empresários aproveitam para exigir uma reforma trabalhista que diminua ainda mais os salários dos trabalhadores, enquanto o desemprego segue aumentando. O país caminha para entrar em recessão – vem com crescimento quase igual a zero há vários meses e os dirigentes do castigado sistema financeiro local parecem não ter se inteirado que nas ruas há indignados e seguem protagonizam escândalos, como o protagonizado pela ex-diretora da Caixa de Poupança do Mediterrâneo, María Dolores Amorós, expulsa de seu cargo pelo Banco de Espanha, sob a acusação de manipular as contas. A senhora Amorós fixou para si mesma uma pensão vitalícia de 370 mil euros anuais. Isso em meio ao alarde de austeridade que se propaga nos dias atuais.
Os meios de comunicação, enquanto isso, bombardeiam a população todos os dias com notícias econômicas intermináveis, o que faz com que os espanhóis tenham aprendido nos últimos tempos o que significa o risco país, o que é uma agência de classificação de risco, por que a bolsa sobe e baixa como se tivesse enlouquecido, como o que acontece na Grécia e na vizinha Portugal afeta suas vidas. Mesmo que sigam sem compreender como terminaram se metendo neste baile e muito menos o que podem fazer para deter a queda que até agora parece inevitável. Os partidos políticos tampouco têm ideias para expor aos cidadãos, nem conseguem elaborar uma explicação convincente para o que está acontecendo.
O Partido Socialista, que até o início da crise, parecia ter o touro controlado sob a batuta do outrora carismático José Luís Rodríguez Zapatero, parece ter perdido o rumo. A escolha a dedo de Pérez Rubalcaba atropelou todo o debate interno, o que deixou um gosto amargo para um amplo grupo de dirigentes intermediários que queriam discutir o modelo econômico com mais profundidade e que não estão muito de acordo com a rendição incondicional aos mercados posta em prática por Zapatero. Salvo algumas alusões pontuais a um eventual retorno a certas políticas de esquerda, não há nada que entusiasme a tradicional base eleitoral de centro-esquerda espanhola, que no dia 20 de novembro possivelmente nem vá votar.
Liberado às tendências centrípetas que sempre o caracterizaram, o PSOE corre o risco de explodir em intermináveis lutas internas no dia seguinte à eleição, caso se confirmem as previsões das pesquisas.
O Partido Popular, enquanto isso, faz a festa. Sua base de eleitores está convencida que, só por ser de direita, o PP sabe o que fazer, já o fez em 1996, com José María Aznar e voltará a fazê-lo agora. Trata-se de deixar livres as mãos do setor privado, promover um adequado clima de negócios e os problemas acabaram, dizem seus dirigentes e repetem seus seguidores. Algo parecido com uma fé cega em relação à qual nenhum argumento racional pode fazer frente. Por mais que alguns setores sindicais advirtam que, por trás de Rajoy, se esconde um terrível “Eduardo mãos de tesoura” que chegará ao governo com a intenção de cortar o gasto público de maneira selvagem.
Nas ruas, enquanto isso, os indignados marcam o pulso da campanha desmontando os discursos dos partidos políticos maioritários, questionando o papel dos meios de comunicação que, salvo honradas exceções, os desqualificam abertamente, e promovem um debate mais profundo sobre o modelo de sociedade que está em jogo por trás da anódina campanha. Sabem que despedaçaram o Partido Socialista com suas mobilizações prévias às eleições municipais do início do ano e agora se questionam como fazer para que o desgaste chegue também ao Partido Popular, que deve assumir o governo de Madri nos próximos anos, sem trazer – na avaliação do 15-M – nenhuma solução para os problemas que o presente está oferecendo.
O debate social está aberto, a sociedade está mobilizada e sensível a temas sobre os quais até aqui pouco se falava. A política está mais presente do que nunca na democracia espanhola, ainda que os resultados que sairão das urnas em novembro nada tenham a ver com o que está ocorrendo no país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário