08/11/2011

Esquerda grega: “O povo ainda tem um enorme poder negocial”

Tirado do Esquerda.net (aqui).

Partidos da esquerda parlamentar grega, Comunista e coligação Syriza, recusaram-se a participar numa reunião com o chefe de Estado para avalizar um governo do “Bloco do Memorando” ao serviço da troika estrangeira. Alexis Tsipras, presidente do grupo parlamentar da coligação Syriza, defende que, apesar da situação, “o povo tem ainda um enorme poder negocial”.


Foto retirada do site beinternacional.eu

Divulgamos uma declaração de Alexis Tsipras, presidente do grupo parlamentar da coligação Syriza, na qual sublinha que a simples menção da convocação de uma consulta popular “deixou em pânico” a elite económica e política europeia, o que prova que “o povo tem ainda um enorme poder negocial”, apesar da situação.

“Nos últimos dias vivemos acontecimentos inacreditáveis realizados nos bastidores e nas costas do povo grego. O objectivo foi impedir a expressão do veredicto popular. O senhor Papandreu foi forçado, pela mobilização popular, a deixar o Maximo House, o palácio do governo. No entanto, deve sentir-se aliviado pelo resultado das negociações nos bastidores. O primeiro-ministro que secretamente nos colocou sob o poder do FMI e concordou com acordos de empréstimos de subordinação, sem os trazer ao Parlamento, já não necessita de colocar as suas escolhas a julgamento popular. Simplesmente passou-as para o próximo primeiro-ministro.

“O senhor Samaras (chefe da Nova Democracia, partido de direita) começou a recuar das suas posições anteriores mesmo antes do que se esperava. Aceitou o novo acordo de resgate que anteriormente criticou. Agora aceita as consequências de novas e duras medidas que este acordo traz. Em 24 horas passou de “as máscaras caíram” para “estou determinado a ajudar”.

“Os partidos que conduziram o país à bancarrota através dos seus governos mono partidários juntam agora os seus fracassos, para nos ajudarem. Na verdade, eles são co-responsáveis pela subordinação, pela dissolução social e desistiram da soberania. São coniventes com a ideia em que acreditam de que se estiverem juntos então ninguém os responsabilizará. Mais tarde ou mais cedo serão chamados a prestar contas ao povo grego. Então, nem as ameaças do senhor Rehn (comissário europeu das Finanças) nem as extorsões do sistema de intervenção serão suficientes para justificar as suas escolhas.

“Mais uma vez diremos a verdade ao povo grego. O novo governo não será de transição. Tomará decisões cruciais que irão influenciar o país e o nosso povo durante décadas. Sabemos que o caminho que pedimos ao povo para escolher não está coberto de rosas. Mas também sabemos, especialmente depois da reacção de pânico da elite económica e política europeia perante a possibilidade de um “NÃO” do povo grego num referendo, que, apesar da nossa difícil posição, ainda temos um enorme poder negocial.

“Se aceitarmos o novo acordo de resgate viveremos num inferno sem fim. O nosso povo tornar-se-á ainda mais pobre. Se rejeitarmos o acordo, então o problema passará para o outro lado, para os outros parceiros e credores. A direcção submissa dos partidos pró memorando no nosso país está a conduzir-nos para a primeira opção sem sequer nos ter perguntado. É a escolha da prática anti-democrática e da devastação nacional. Apelamos ao povo grego, a todos os cidadãos, independentemente das suas anteriores escolhas políticas e partidárias, para não perderem a moral.

“Não baixem as cabeças. Sabemos que a propaganda dominante dos media reproduzirá as extorsões. Não se deixem aterrorizar!

“Não deixem que vos chantageiem, não os deixem levar a democracia perante o pelotão de fuzilamento! Se o povo o desejar, o povo pode ver-se livre deles.

“Devem ser convocadas imediatamente eleições, segundo um sistema eleitoral absolutamente proporcional. Esta será a solução da normalidade e a única possibilidade de restaurar a coesão social.

“Tal como o povo forçou o governo de Papandreu a cair, mais tarde ou mais cedo conseguirá remover a nova coligação do poder, o que permitirá por fim aos acordos inconstitucionais dos resgates e restaurar a soberania popular, a justiça social e a dignidade nacional”.

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