Antom Fente Parada
Esta estampa, quando a vi, recordou-me  poderosamente aquela estampa de Castelao, como se for uma actualização  do seu gérnio: "a derradeira lição do mestre". 
No capítulo LVIII da segunda parte de El Quixote, Miguel de Cervantes faz dizer ao seu protagonista: ”La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra y el mar encubre; por libertad así como por la honra, se puede aventurar la vida y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres”. Sabia de que falava quem perdera um braço em Lepanto e vivera anos no cárcere. Algo comum no Reino das Espanha onde sempre os seus génios morreram no exílio, na marginalidade ou no cárcere, enquanto os tiranos o faziam na cama e no poder.
Nos  nossos dias confunde-se o que em inglês se diferencia como "freedom" e  "liberty". Confunde-se a liberdade de transacção, que reduz os homens a  simples mercadorias - já não digamos a mulher-, com a liberdade que vai  além do "formal" e "nominal". A autêntica liberdade, e convém lembrar  isto agora que Europa está numa involução a passos gigantescos com o  visto e praze de boa parte da população em shock, é a liberdade substantiva. 
Porém a liberdade substantiva, ou a Liberdade, não existe (nem pode dar-se) se não há certos princípios básicos de igualdade (justiça social) e de fraternidade (solidariedade). A igualdade e a liberdade requerem justamente que todos tenham cobertas as bases materiais para a subsistência (algo impossível no que Shumpeter qualificou como proceder do capitalismo: a destruição criativa) e isso, nas coordenadas da sociedade civil e política conquista-se com o exercício da fraternidade. Uma fraternidade que o individualismo atomizador baniu das sociedades actuais, também na militância de boa parte da esquerda faústica infelizmente... Recuperar a fraternidade e recuperar as bases e sentar ilusão e esperança na mudança e na luta comum. Como dizia aquele poema do Miguel Hernández, morto numa cárcere do fascismo, "Para la libertad sangro, lucho, pervivo...".
As novas gerações, infelizmente, vendemos qual Fausto a nossa Liberdade  pela liberdade de consumir e feliz e passivamente deixar que outros  teceram a teia do nosso destino. Agora, quando nos retiraram os  narcóticos acorda-nos volver aonde Penélope com a esperança de voltar  tecer pela noite o que desteceram pelo dia... mas já não há "nostoi"  para as nossas gerações. 
O cão Argos morre ao ver o seu velho amo regressar após 1945... quando vivemos no capitalismo mais selvagem retornou o velho amo. Tal e como Brech avisara o 6 de maio de 1945 referindo-se ao capitalismo como causa do fascismo: "Senhores, não estejam tão contentes com a derrota [de Hitler]. Porque embora o mundo se tenha posto de pé e teha detido ao Bastardo, a Puta que o pariu anda quente novamente". Neste tempo e nesta hora só há dois caminhos igualmente dolorosos: socialismo ou barbárie! E os ecos de Prometeu voltam-se ouvir.







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