09/12/2013

Abolir o dinheiro em efetivo? Estatizar todos os bancos? As elites começam a pensar em medidas radicais perante a amenaça dum estancamento permanente da economia capitalista mundial

Wolfgang Münchau. Artigo tirado de SinPermiso (aqui). Wolfgang Münchau é coeditor do Financial Times em Londres e columnista estrela do mais importante semanário alemão, o Spiegel de Hamburgo. Tradução de nosso desde o castelhano.



Sobre a economia mundial cerne-se a ameaça de um estancamento de 30 anos: isso profetiza agora nada menos que o economista por antonomasia do establishment, Larry Summers. Para escapar dessa armadilha, só valeriam soluções muito radicais. Por exemplo: o final do dinheiro em numerário ou a estatização de todos os bancos.
 

Cerne-se sobre a economia mundial a ameaça dum estancamento de várias décadas de duração? O antigo ministro de finanças norte-americano Larry Summers lançou o debate durante uma Conferência recente celebrada pelo Fundo Monetário Internacional. O seu argumento: a economia mundial padece dum excesso de poupança em relacionamento com os investimentos. Poupança e investimento devem andar matematicamente em equilíbrio; não num estado, senão na soma de todos os estados. O interesse é o preço que permite acompassar poupança e investimento. Summers propôs a questão de se, por enquanto, o interesse não se voltou negativo.

A essa taxa de juro conhece-se-lhe como interesse real. Um interesse real negativo significa que o setor privado, inclusive nas condições mais favoráveis, mostra pouco interesse no investimento.

A hipótese de Summers é plausível

Podemos apreciar no caso da Alemanha, em onde as taxas de investimento caíram visivelmente nos últimos anos. Se Summers leva razão, a economia estaria permanentemente estancada. Em sociedades com salário mínimo esse prognóstico implica um elevado desemprego permanente. A alternativa duma plena flexibilização dos salários também não poderia resolver o problema, senão que muito possivelmente agravá-lo-ia. Porque, então, não só estancar-se-iam os investimentos, senão também o consumo.

Conforme ao modo em que a nossa economia está organizada, o prognóstico de Summers desenha um palco de decadência mundial. O nosso sistema económico poderia ver-se abocado a 30 anos de estancamento. O nosso sistema de pensões desplomar-se-ia. Nem sequer serviria atrasar a idade de aposentação aos 75 anos. Que o euro se desintegrara como consequência disso, seria o menor dos danos colaterais.

A mim resulta-me quando menos plausível a hipótese de Summers dum "estancamento secular". Não só resulta teoricamente concebível, senão que Japão oferece já um instrutivo exemplo prático.

O quê fazer, então?

Para enfrentar a esta situação, podem-se fazer três coisas, e desgraçadamente, não muito mais:

- Poder-se-ia abolir o dinheiro em numerário. Isso permitiria aos Bancos Centrais rebaixar as taxas de juro por baixo de zero, porque a gente já não poderia guardar em casa o dinheiro em numerário. Com uma taxa de juro de -5% resolver-se-ia rapidamente o problema de uma poupança estruturalmente excessiva. As gentes teriam que gastar o seu dinheiro no que fosse.

- Poder-se-ia também estatizar todo o setor financeiro e rebaixar os interesses do crédito ao investimento, situando-os por baixo da taxa de juro dos mercados.

 - Já que o que temos é uma carência de investimentos em relacionamento com a poupança, também, e por último, o Estado poderia intervir conseguindo empréstitos monetários baratos e investindo em massa.

Estas três medidas são radicais em comparação com os modos com que gere hoje a economia.

- A mim parece-me que a medida economicamente mais singela seria a abolição do dinheiro em numerário. Mas não se vê como poderia se pôr politicamente por obra: seguro que ninguém ganharia umas eleições com essa proposta.

- A estatização de todo o sistema financeiro seria a proposta politicamente mais atraente, ao menos na Alemanha. Mas precisaria de coordenação internacional; não serve de nada que um país se lance só por esta senda. À vista das dificuldades que já têm os nossos políticos com a realização da união bancária europeia, podem-se augurar as situações mais divertidas com a proposta de estatização de todos os bancos?

- A terceira receita seria a resposta própria de uma economia de mercado, o que resulta pelo de agora espantoso, tendo conta de que do que estamos a falar aqui é, afinal de contas, de investimentos públicos em massa. Tratar-se-ia, todavia, de medidas de economia de mercado, já que procurariam regular demanda (investimentos) e oferta (poupanças) através do mecanismo de preços (interesse real).  Mediante investimentos públicos e a correspondente maior demanda de capital procurar-se-ia situar outra vez o interesse real em zona positiva.

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