Na imagem vista aérea da cidade de Cochabamba.
O maior desafio da humanidade, que tem que ver com a necessidade de fazer frente a uma mudança climática enquadrada numa crise ambiental de augúrios apocalípticos, tem hoje duas supostas resoluções em cima da mesa.
De uma parte, a do fraco entendimento surgido da Conferência de Copenhagen em Dezembro de 2009, que terá continuidade na COP-16 de Cancum a finais de ano. Da outra, o Acordo dos Povos gerado na Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra decorrido em Cochabamba (Bolívia) em Abril deste ano. A proposta dos poderosos, dos governos neoliberais e das empresas que os abrigam, face à proposta da sociedade civil e dos governos anti-hegemónicos, fundamentalmente os latino-americanos.
O conjunto dos segundos, acaba de publicar um breve estudo comparativo entre as duas tendências (pode-se ler em http://cmpcc.org) que não tem desperdicio e que revela claramente a incompatibilidade entre ambiente e capitalismo. Se os primeiros estabelecem metas mais do que moderadas e não questionam as causas estruturais da mudança climática, tratando de o resolver com as mesmas práticas que meteram o planeta na agonizante situação actual; os segundos insistem em que a eiva só se pode resolver com um paulatino mudança sistémica que fuja do objectivo do crescimento contínuo e o máximo lucro possível com a sobreexploração dos recursos ambientais e humanos do planeta.
Vejamos alguns pontos. Em termos quantitativos, o Acordo dos Povos propõe fazer o possível para limitar o incremento da temperatura neste século a 1º C e obrigar os países desenvolvidos a realizarem reduções de gases com efeito estufa (GEI) e ao mesmo nível, pois não pode ser que EUA pretenda reduzir 3% e a UE 30%. O Entendimento de Copenhaguen fala de 2º C e reduções voluntárias dos países desenvolvidos. Enquanto os de Cochabamba dizem que se deve atribuir à mudança climática um financiamento sempre maior que o dos orçamentos de defesa e segurança, em torno dos 6% do PNB nos países desenvolvidos -os verdadeiros responsáveis-, e não dependente dos comprados de carbono ou da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento; os de Copenhaguen trazem números que se correspondem quando muito com 0,05% dos seus PNB, procedentes no mínimo em 50% dos comprados de carbono que, afinal, legalizam e se enriquecem com o negócio das emissões de GEI.
Mas saindo-mos dos números, o que é mais evidente entre as duas propostas são as suas visão opostas do mundo. O Acordo dos Povos incide especialmente na dívida climática dos países desenvolvidos com os restantes, na transformação da agricultura para um modelo sustentável baseado na soberania alimentar, na proteção dos migrantes climáticos e dos povos indígenas, na criação de um tribunal de justiça climática que obrigue a cumprir as metas e mesmo a fazer do planeta um sujeito de direito com uma Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra similar à dos Direitos Humanos. O Entendimento de Copenhaguen nem sequer menciona nenhum destes aspectos.
Avaliem vocês próprios.
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