30/07/2010

A China em dois tempos - as duas faces da China contemporânea: superpotência econômica e inferno da classe operária.

Artigo tirado de aqui.



Um país que se desenvolveu ao ponto de superar o Japão, e assumir o posto de 2o lugar no ranking global, mas que possui uma classe operária a beira da revolta devido a superexploração do trabalho. Sinais evidentes de mudanças em curso tanto no sistema mundial como internas, de maneira explosiva.

Revelando assim duas coisas: Primeiro, está em curso fortes transformações no sistema mundial, com implicações nos papéis políticos e econômicos do sistema. E desenvolvimento não é sinônimo de bem-estar social, e sim de transição entre uma etapa a outra na formação social, de transição de uma sociedade pré para uma industrializada, a custa evidentemente da exploração da classe trabalhadora nacional, que pode ou não se beneficiar do avanço das forças produtivas internas, com a consequente implantação das relações de produção capitalistas correspondentes, baseadas na oposição entre burguesia e proletariado, entre exploradores e explorados. E segundo, mostra que um país dependente pode, sem superar totalmente a dependência, se industrializar e desenvolver, assumindo um papel importante, e mesmo central, no sistema mundial capitalista, o que provavelmente está ocorrendo também com Rússia, Índia, Brasil e África do Sul, entre outros.

Para piorar, evidência outra coisa frequentemente negligenciadas na teoria econômica mesmo heterodoxa: o desenvolvimento econômico capitalista é totalmente compatível com a superexploração do trabalho, que no caso chinês, além de beneficiar sua elite local está compensando as perdas do grande capital da Tríade (EUA, UE e Japão, também chamado G3) com a crise econômica de 2008. Isso bem explica porque onde os conflitos e greves operárias na China mas ocorram, são justamente na fábricas de capital japonês, capital que muito sofreu com a crise, ao ponto de perder o segundo lugar no ranking das economias.

Outra questão interessante, a imprensa chinesa, fortemente censurada pela ditadura pró-burguesa do Partido Comunista e do Exército Popular, foi obrigada a noticiar as greves, sinal evidente que esses episódios foram de uma proporção enorme ou até maior do que noticiado, e que pode estar ocorrendo uma série muito maior de episódios semelhantes ou piores. Possivelmente estamos vendo o começo de mudanças internas importantes (a ditadura forçada a agir ou a ceder) ou o início de transformações sociais profundas, como o começo de um ascenso social do movimento operário, apesar do controle sobre os sindicatos.

A restauração capitalista da China iniciada no fim da década de 1970 e início da 1980 trouxe não apenas as multinacionais e a industrialização acelerada, mas a reconstrução das relações capitalistas, e com elas as contradições sociais, e uma exploração desmedida da classe operária, que além dos superlucros para elite local e para o capital internacional do G3 gerou uma superpotência econômica baseado no capitalismo de Estado monopólico e transnacional (logicamente sob a base material anterior da socialização do período comunista), mas também na superexploração do trabalho. Mas trouxe também uma classe operária nova sem as amarras típicas dos países centrais, como a aristocratização operária, sem direção socialdemocrata, e a cada crise mundial, por ter sua exploração ampliada, caminha à rebelião.

E a mesma industrialização capitalista, trouxe também, uma forte burguesia nacional de Estado, que embora dependente do grande capital internacional, é sedenta por espaço econômico no mercado mundial e por um papel político relevante no sistema mundial dos Estados, que tem um projeto nacional e uma direção política clara, tanto herdada da base anterior do período comunista como construída pela fase atual da ditadura.

Em suma, a China hoje, superpotência econômica e inferno dos seus operários, é um coquetel atômico instável, que como diria Rosa Luxemburgo (é claro, que ela se referia ao países capitalista como um todo, mas citando especificando a Alemanha do começo do século XX ), ou caminha para barbárie ou para a revolução. A História diria Marx, se repete como farsa ou como tragédia. É preciso os marxistas estarem atentos para interferir na História a favor do proletariado e do projeto socialista.

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