A classe trabalhadora sempre conquistou os seus direitos da mesma força. Mediante a greve priva da sua força de trabalho, que é o que verdadeiramente permite a reproduçom do capital, à burguesia. Os ataques que rebem o sindicalismo, uns mais interessados do que outros, e, o que é pior, a greve como método de luita desde o binómio político-mediático nom som por acaso, sempre na defesa dos interesses da patronal, a bancocracia e, em definitiva, fabricando "fascimo social" como o tem denominado Boaventuda de Sousa Santos.
A PRIMEIRA GREVE DA HISTÓRIA: EGIPTO, ANO 1166 A.C. (XX DINASTIA)
OS FEITOS
Papiro da greve redactado com probalidade por Amennajet. Museu egípcio de Turim.
A situaçom nom foi nada fácil, mas os operários finalmente lográrom um acordo com as autoridades perante quem reclamavam comida, bebida e roupa, e que se elevara com urgência a sua nota de reclamos perante as máximas hierarquias do Estado, o Primeiro Ministro [1] e o próprio Faraom. O reporte do escriba comenta:
os trabalhadores traspassárom o valo da necrópole (pugérom-se em greve) dizindo: "Temos fame, passárom 18 dias deste mês... vinhemos aqui puxados pola fame e pola sede; nom temos vestimenta, nem graja, nem pescado, nem legumes. Escrevam isto ao faraom, o nosso bom senhor e ao visir o nosso chege, que nos dem o nosso sustento!
Esta decisom histórica que os levou a deixar de trabalhar para reclamar o seu sustento levou a muitos a falar da primeira greve da história, no sistema-mundo cesaropapista do antigo Egipto.
O LUGAR DOS FEITOS E OS TRABALHADORES
O LUGAR DOS FEITOS E OS TRABALHADORES
Visom dos restos do povoamento dos trabalhadores em Deir el -Medina.
Todos os operários, artesaos e escrivas encarregados dos trabalhos na tumba do faraom, moravam na aldeia de Deir el-Media, junto com as suas famílias. Esta zona albergava as vivendas, as capelas e os cadaleitos dos próprios operários e foi utilizada desde a dinastia XVIII até a XX (1778-1085 a.C.). Calcula-se que nas mais de setenta casas vivêrom uns 120 trabalhadores com as suas donas e filhos.
A quadrilha de trabalhadores compunha-se dum mínimo de 60 homes divididos em duas equipas, cada umha das quais contava com um capataz, um delegado e um ou vários escribas. Havia albanéis, canteiros, pintores, talhistas de releves e escultores. Todo o trabalho estava supervisado polo visir que visitava a zona nalgumhas ocasions ou enviava um delegado real para inspeccionar os trabalhos.
Os trabalhadores eram reclutados de vários lugares do território egípcio, onde já desempenhavam algumha funçom ao serviço das autoridades. Sabemos que alguns deles fôrom donos de terras , de escravos e de animais, para além de terem propriedades fora da vila operária. Alguns artesaos chegárom a ter trato directo com o faraom e diversas autoridades e, portanto, o seu nível de vida era superior ao dos seus coevos.
O PROBLEMA
Ainda sendo um estado rico e poderoso, no século XIII a.C. anunciava-se a decadência de Egipto, após o máximo apugeu no reinado do longevo faraom Ramsés II, quiçais o mais conhecido de entre todos os farons junto aos construtores das pirámides: Keops, Kefrém e Micerinos. Desde 1198 até 1166 a.C. Ramsés III (XX dinastia) governaria um estado com crescentes problemas. Nas fronteiras do Império tivo que conter duas tentativas de invasom líbia, e o ataque dos "povos do norte e do mar" procedentes do Mediterráneo. A corrupçom e a má administraçom dos recursos debilitavam a enonomia, já afectada pola drenagem de recursos que supunham as ingentes construçons do Val dos Reis. O excesivo e conseqüente crescimento da burocracia estatal junto com umha demanda de bens de consumo que nom podia ser satisfeita, levava a sitauçom até o limite. E, de facto, o reinado e a vida de Ramsés III remataria com umha conspiraçom no seu harém, em que tomariam parte importante funcionários políticos.
Ao começar a inflaçom nos últimos tempos de Ramsés III, o sistema de trabalho desartelhou-se como conseqüência dos retrassos do governo em pagar aos operários. A actividade laboral multiplicava-se sem que os seus "salários" se ajeitara a esta realidade. O ordenado daqueles artesaos pagava-se com o dinheiro da altura o denius de plata (7'6 gramos) ou o deben de cobre (em barras) ou com sacos de cereais (em espécie portanto), os quais obravam como patrons de referência. Em Núbia achou-se um vale de madeira pintaa com inscriçons em forma de pam de 12 cm de diámetro, ou seja, que se tratava dum meio de canje em que pagava o governo.
O ordenado meio dum trabalhador de Deir el-Medina eram cada dia 10 medidas de pam e umha de cerveja; e o do artesao de maior categoria podia chegar a 500 medidas de pam que podia trocar por outros artigos. Os capatazes e os escribas recibiam 72 sacos (duns 76 litros cada um) de cereais ao mês e o resto dos trabalhadores 52 sacos. A divisom do trabalho já se mostrava plenamente consolidada na altura, assim como as diferenzaçons e categorias dentro das classes trabalhadoras.
Porém quando a comida chegava a destempo ou era de má qualidade ou manipuladas polo admistrador surgiam os tumultos. Num ostracon de Deir el-Medina lê-se:
Comunico ao meu senho que estou trabalhando nas tumbas dos príncipes cuja construçom el-senhor me encarregou. Estou trabalhando bem (...) Nom som em absoluto negligente. Comunico a meu senhor que estamos completamente empobrecios (...) Tirárom-nos um saco e meio de orxo para dar-nos um saco e meio de lixo.
O feito foi multicausal: a situaçom económica geral, o crescimento da demanda de bens de consumo, a corrupçom e a má administraçom levárom aos operários a declarar-se em greve e a ocupar alguns edifícios chve da administraçom central.
Ao começar a inflaçom nos últimos tempos de Ramsés III, o sistema de trabalho desartelhou-se como conseqüência dos retrassos do governo em pagar aos operários. A actividade laboral multiplicava-se sem que os seus "salários" se ajeitara a esta realidade. O ordenado daqueles artesaos pagava-se com o dinheiro da altura o denius de plata (7'6 gramos) ou o deben de cobre (em barras) ou com sacos de cereais (em espécie portanto), os quais obravam como patrons de referência. Em Núbia achou-se um vale de madeira pintaa com inscriçons em forma de pam de 12 cm de diámetro, ou seja, que se tratava dum meio de canje em que pagava o governo.
O ordenado meio dum trabalhador de Deir el-Medina eram cada dia 10 medidas de pam e umha de cerveja; e o do artesao de maior categoria podia chegar a 500 medidas de pam que podia trocar por outros artigos. Os capatazes e os escribas recibiam 72 sacos (duns 76 litros cada um) de cereais ao mês e o resto dos trabalhadores 52 sacos. A divisom do trabalho já se mostrava plenamente consolidada na altura, assim como as diferenzaçons e categorias dentro das classes trabalhadoras.
Porém quando a comida chegava a destempo ou era de má qualidade ou manipuladas polo admistrador surgiam os tumultos. Num ostracon de Deir el-Medina lê-se:
Comunico ao meu senho que estou trabalhando nas tumbas dos príncipes cuja construçom el-senhor me encarregou. Estou trabalhando bem (...) Nom som em absoluto negligente. Comunico a meu senhor que estamos completamente empobrecios (...) Tirárom-nos um saco e meio de orxo para dar-nos um saco e meio de lixo.
O feito foi multicausal: a situaçom económica geral, o crescimento da demanda de bens de consumo, a corrupçom e a má administraçom levárom aos operários a declarar-se em greve e a ocupar alguns edifícios chve da administraçom central.
O DESENVOLVIMENTO DA GREVE
Segundo se lê no chamado Papiro da Greve do reinado de Ramsés III (conservado hoje em Turim) e em vários ostraca topados na vila (espalhados por vários museus) a greve começou o dia 1o do mês de Peret no ano 29 do reinado de Ramsés III, que daquela contava com 62 anos de idade no 1166 a.C.
Os trabalhadores iniciárom umha marcha rumo aos templos o que consituia todo um desafio à autoridade, ocupando alguns deles e paralisando as suas actividades. Exigírom pôr fim à retençom de bens que praticavam sacerdotes e intermediários. Chegárom a ocupar até o templo de Ramsés II que lhes valeu para receber as racions do mês anterior. Mas ainda faltavam as do mês em curso. Acampárom no templo funerário de Tutmosis III, em Medinet Habu, durante 24 horas reclamando o pagamento da dívida, cousa que finalmente conseguírom. No entanto, quinze dias depois voltárom sair dos muros da necrópole reclamando ante os interventores:
Digam aos seus superioresquando estejam com os seus acompanhantes, que certmanete nom cruzamos os muros por mor da fame soamente, mas também temos que fazer umha acusaçom importante porque certamente estám-se cometendo crimes neste lugar do Faraom.
Houvo umha segunda e ainda umha terceira greve até que os seus anseios fôrom satisfeitos. Mas a cada novo retraso voltavam os distúrbios. O nomeamento de Ta como "delegado da equipa no Lugar da Verdade" e "Escriba da tumba" como visir do Alto e Baixo Egipto produziu certa expectativa entre os operários porque um him saído das suas ringleiras. Voltárom pôr-se em greve com o que se lhe entregárom as racions, mas ordenou-se-lhes nom voltar exercer a greve sob pena de castigo por desobediência. Por outras palavras, o Estado tornava a greve ilegal.
Porém ainda com Ta, que deveu relacionar-se com um complot contra Ramsés III, a sua situaçom precária continuou. Em conseqüência começárom os saqueios das tumbas reais e privadas como se indica num papiro posterior. Ninguém melhor do que os seus construtores para saqueá-las, sobretodo, quando a situaçom económica ainda se degradou mais nos seguintes decénios.
Ainda que Egipto nom tinha a ver com os sistema-mundo capitalistas nem era umha sociedade industrial muitos autores afirmam que já em Deir el-Medina podemos falar de greve. A interrupçom das actividades foi concertada e colectiva, reunindo a peons, chefes, artesaos, escrivas...; todos reclamavam os pagos retrassados, ou seja, defendiam as suas condiçons laborais, paralisando as actividades todas as vezes que for necessário, denunciando aliás a corrupçom das administraçons; ainda atacárom "sacrilégios", quer dizer, ataques de corruptos e homes dos estamentos altos contra as costumes sociais, os direitos colectivos do povo; misturárom sentadas com ocupaçons de templos medidas altíssimamente subversivas para a época. Houvo coordenaçom e acordo entre os operários ao logno de muitos anos o que exigia reunions e dumha direcçom, pois as greves continuárom desde entom até que no fim da XX dinastia se abandona o Val dos Reis como lugar de soterramento da realeza (e isto por mor da crise do Estado e as invasons líbias). Assim, Egipto é o antecedente mais antigo da luita dos operários polos seus direitos... a menos que tenhamos notícia hogano.
[1] Ou também “visir”, embora nom seja este um termo egípcio. As Instruçons de serviço para o visir ou Primeiro Ministro estám tracejadas nas tumbas dos visires das dinastias XVIII e XIX.
[2] Nom pode afirmar-se, contodo, com total certeza que fora a primeira, talvez houvo outras com anterioridade de que nom ficárom registos. O interessante é que todo o processo tem umha grande afinidade com outros semelhantes acontecidos em Ocidente durante séculos. Após a "primeira" greve desencadeárom-se outras mais curtas, sendo as mais significativas as acontecidas sob Ramsés IV e XI. A cidade dos artesaos (Deir el-Medina) tivo umha grande influência na vida económica do Egipto ramésida; e por esta razom as greves influírom fortemente na alça dos preços em objectos de primeira necessidade. É muito recomendável o romance A pedra da luz de Cristian Jacq. Nos tempos de Ramsés IX (o sexto sucessor de Ramsés III) a aldeia entrou em decadência e com a seguinte dinastia, a XXI, e o traslado da capital política a aldeia perdeu a sua razom de existir.
[vii] Un recibo de salario de Deir el Medina nos da una idea de qué constaba un pago: "... Lo que se le dio como retribución por la decoración del sarcófago: tejido de un vestido, hace 3 seniu, 1 saco, hace 1/2 saco de cereales, una estera con manta, hace 1/2 seniu, y un vaso de bronce, hace 1/2 seniu".
BIBLIOGRAFÍA
Donadoni, A. M. El Valle de los Reyes. Atlantis. 1989.
Jacq, Christian. Las máximas de Ptahhotep, el libro de la sabiduría egipcia. EDAF. 1999.
Hayes, William. The Scepter of Egipt. New York. 1978.
Parra, J. M. La primera huelga de la historia, en el Egipto de Rameses III. En: “Historia y Vida”. Julio de 1997.
Serrano Delgado, J. M. Textos para la historia antigua de Egipto. Madrid. Cátedra. 1993.
Valvelle, D. Les ouvriers de la Tombe. Deir el-Médineh à l'époque ramesside. El Cairo. Institut Français d'Archéologie Orientale. 1985.
Wilson, J. A. La cultura egipcia. México. Fondo de Cultura Económica. 1992.
Yoyote, Jean. Los tesoros de los faraones. Madrid. Destino. 1963.
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