“Um dos papéis desempenhados pelas grandes empresas estatais é servir como instrumento de política industrial. Dirigir compras à indústria local, induzir pesquisa e desenvolvimento tecnológico adequados a sua demanda específica são ferramentas clássicas de desenvolvimento industrial só acessíveis, naturalmente, aos governos que preservam, fortalecem e expandem empresas públicas.
O pré-sal significará um impulso industrializante para a economia brasileira graças à existência da Petrobrás e à decisão política de atribuir à estatal o comando estratégico na exploração dessa riqueza.
O mesmo ocorrerá agora com a implantaçção da rede nacional de banda larga, que deve chegar a 39,8 milhões de domicílios brasileiros até 2014. Quando o governo decidiu que a Eletrobrás seria fortalecida para coordenar esse processo, a mídia e o privatismo demotucanos gastaram rios de tinta e florestas de celulose em protestos e denúncias pré-eleitorais.
Agora, se entende o motivo: as licitações para aquisição dos equipamentos necessários à implantação da rede somarão R$ 5,7 bilhões em cinco anos. A Telebras exige que os concorrentes ofertem produtos fabricados no Brasil. Com tecnologia desenvolvida aqui.
2º feira, a Folha, no caderno de economia ['Mercado'], estampou manchete elucidativa dos interesses em jogo: "Governo decide comprar apenas equipamento local e irrita múltis". A mesma Folha, note-se, abriga a crítica serrista de que o governo Lula estaria 'promovendo' a desindustrialização da economia brasileira por conta de um desequilíbrio cambial.
A guerra cambial é grave, mas seus efeitos no país não decorrem apenas de distorções domésticas --as taxas de juros siderais são a mais evidente delas. A verdade é que desde que os EUA decretaram unilateralmente o fim da paridade ouro/dólar, no governo Nixon, em 1971, implodiu o pacto cambial entre as nações firmado em Bretton Woods, após a Segunda Guerra.
Vive-se, desde então, um progressivo esfarelamento do sistema monetário mundial. Essa arquitetura entrou em coma agudo com a crise do sistema financeiro que abalou os alicerces dos países ricos. Incapazes de sair da areia movediça de desemprego, desconfiança, dívidas e perda de vigor competitivo no comércio internacional, purgam seus impasses no indiscutível trunfo que lhes resta --sobretudo no caso dos EUA: o poder de manipular a moeda de troca internacional, desvalorizando-a como forma de queimar dívidas e melhorar a competitividade de suas exportações.
Coordenar grandes investimentos públicos, garantir emprego e renda à expansão do mercado doméstico, bem como demanda pública cativa às empresas locais, é uma das formas de preservar a industrialização brasileira nesse 'salve-se quem puder' entre as nações.
É uma briga de cachorro grande que requer postura de estadista, superior ao nhenhenhen de livro-texto vocalizado pelo candidato demotucano e ecoado pela mídia correspondente.”
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