29/03/2011

Um movimento ‘à rasca’ na Galiza?

Artigo tirado de aqui. Enviado para À Revolta por Óscar de Bertameráns.
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Redacçom / O movimento das classes médias precarizadas nom irrompe apenas no mundo árabe.

Recentemente, tivemos ocasiom de vê-lo em acçom em Portugal, quando a chamada ‘geraçom à rasca’ ocupou as ruas das principais cidades do país irmao para exigir ‘oportunidades’ à mocidade subempregada e parada, golpeada especialmente pola crise.

O movimento, mui devedor das novas tecnologias e com umha importante promoçom de mocidade ex universitária, tivo porém o apoio da esquerda parlamentar portuguesa. Em plena ressaca mobilizadora, o portal Esquerda.net organizava na semana passada umha mesa redonda com algumhas das pessoas promotoras, com o intuito de debater o alcanço real das reivindicaçons.

Dinámicas espanholas chegam à Galiza

No entanto, e demonstrando o que ainda mandam as alfándegas mentais nesta ‘Europa sem fronteiras’, alguns círculos sociais começam a mexer-se na Galiza, mas fam-no ao abeiro das dinámicas avivecidas em Espanha. Directamente importadas ao nosso país chegam iniciativas como democraciareal ou malestar, impulsionadas por grupos formalmente independentes que se organizam em todo o território do Reino. Nalgumhas cidades, como Crunha ou Lugo, estám-se a celebrar mobilizaçons cada sexta feira, organizadas através do Facebook.

Recentemente pujo-se a circular pola rede um manifesto que chama à Galiza a converger com a vaga mobilizadora espanhola, agendada para o 15 de maio. Entre os motivos principais de queixa que assinalam os promotores, acha-se ‘o enriquecimento elevado a valor absoluto’, a ‘corrupçom política’, e a ‘falta absoluta de saídas’ que fornece este sistema económico. Com a legenda 'Tomemos a rua', as pessoas promotoras pensam em emular 'o exemplo da Islándia', que viviu umha forte convulsom popular com motivo da bancarrota financeira.

Dúvidas militantes 

A falta de pronunciamentos abertos das diferentes organizaçons que componhem o independentismo galego, ou de outras da esquerda real, nom se pode concluir com firmeza quais som os juízos que provocam tais iniciativas. Num país com um paro juvenil por cima do 30%, em grande parte atingindo a mocidade sobrequalificada, o discurso poderia ter campo aberto. Porém, em meios militantes som vários os aspectos que suscitam profunda desconfiança, segundo podemos ler em foros abertos na internet: a dependência dos ritmos mobilizadores espanhóis, a rejeiçom a qualquer forma organizativa sólida e aos discursos revolucionários, e a ênfase obsessiva no respeito pola legalidade e o pacifismo frente a violência estatal suscitam dúvidas fundadas. Tampouco nom faltam vozes que, no mundo virtual, apostem às claras desde a esquerda por ‘dar umha oportunidade’ a estas formas de mobilizaçom ‘líquida’ que protagonizam o decurso da crise.

Debate aberto

Seja como for, a inconcreçom programática e organizadora destas vagas sociais, nomeadamente nos países árabes, estám já a generar certo debate. Para além do mundo militante, também nos cenáculos mais intelectuais há reflexons sobre a questom, que podemos rastejar em distintos espaços da rede. Procedem de espaços mui diversos: nesta mesma semana, o deputado do BNG Carlos Aymerich anunciava nas páginas da imprensa comercial o desejo autonomista de parasitar os protestos, se estes se produzirem, mais ainda em plena pré-campanha eleitoral. Mas também em ambientes puramente intelectuais se analisam potenciais e fraquezas deste movimento precário em organizaçom e relativo alcanço de massas. O pensador alemao Robert Kurz fala já dumha 'geraçom facebook' que acompanha, cheia de ambiguidades, a crise terminal do capitalismo  (também aqui) nos países avançados. Num sentido semelhante se pronunciava, no contexto galego, Antom Fente Parada, analisando no PGL o alcanço das convulsons que começamos a viver. A ambiguidade da movimentaçom juvenil parece estar em todas as bocas.

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