Tirado do Esquerda.net (aquí).
Um novo escândalo de maquilhagem das contas públicas está a abalar a Grécia. A denúncia de um membro do instituto de estatísticas grego diz que o Eurostat os pressionou a aumentar artificialmente o défice de 2009 de 12% para 15,4% e assim poder justificar as brutais medidas de austeridade hoje em vigor.
Ex-responsáveis pelas estatísticas das contas gregas revelaram pressões para fazer parecer que o país tinha o maior défice da Europa.
Zoe Georganda, professora de econometria e membro do Conselho do ELSTAT, o instituto de estatística que publica os dados das contas públicas, disse à imprensa grega que "o défice de 2009 foi artificialmente inflacionado para parecer que o país sofria o maior défice da Europa, acima até dos 14% da Irlanda".
"Isto permitiu justificar as medidas duras contra a Grécia. O défice grego foi finalmente calculado em 15,4%, quando na realidade rondava os 12% do PIB", revelou Georganda. Ela lembrou também que o presidente do ELSTAT rejeitou todas as opiniões contrárias que se exprimiram na reunião do Conselho. Segundo a economista, os responsáveis do Eurostat, que depende da Comissão Europeia presidida por Durão Barroso, obrigaram a Grécia a integrar nas suas contas os gastos das empresas públicas, mas não as suas receitas.
Na sequência do escândalo, o ministro das finanças grego decidiu exonerar todo o Conselho do ELSTAT, à excepção do seu presidente, Andreas Georgiu, que tomou posse do cargo em Agosto de 2010, vindo directamente do Departamento de Estatísticas do FMI. Georgiu era funcionário do FMI desde 1989 e foi chamado esta semana ao parlamento grego para dar explicações, a pedido dos conservadores da Nova Democracia e da coligação de esquerda Syriza, que agora também quer ver os membros demitidos do Conselho do ESTAT e o então ministro das finanças e actual ministro do ambiente, Yiorgos Papakonstantinou, a darem mais explicações aos deputados.
Andreas Georgiu disse ao parlamento que "essas alegações não têm base nenhuma" e que não foi o Eurostat que obrigou às sucessivas revisões em alta do défice nos últimos dois anos, que provocaram a desconfiança em relação ao financiamento à Grécia e consequente subida em flecha dos juros exigidos, o que forçou o país a fechar o acordo com o FMI.
Apesar dos desmentidos do responsável pelas estatísticas, os gregos ainda têm presente na memória o escândalo da ocultação da dívida grega em 2001, com a cumplicidade da Goldman Sachs a usar produtos derivados para maquilhar as contas. O então director da Goldman Sachs para a Europa era Mario Draghi, agora nomeado pelos países da zona euro para substituir Jean-Claude Trichet no cargo de governador do Banco Central Europeu.
A Iniciativa pela Criação duma Comissão de Auditoria da Dívida Pública Grega acusa o governo de Papandreu de ter querido "apresentar a política dos memorandos como necessária e obrigatória e é por isso que recorreu a estes métodos inaceitáveis que tinham como objectivo enganar o povo". Sobre o Eurostat, a Iniciativa diz que a sua participação nesta montagem "mostra que a sua pretensa independência é uma burla".
Em comunicado, a Iniciativa voltou a exigir a abertura dos livros da dívida "num momento em que descobrimos que o Governo, o FMI e a UE são perigosos e estão desprovidos de qualquer credibilidade".
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