25/12/2011

A diferença entre emigrar e sair a formar-se

Ângelo Pineda. Artigo tirado de Petiscos de Sociologia (aqui).

Pirámide da população da Galiza
Vem isto? É a pirâmide de população da Galiza estimada em janeiro de 2010, também conhecida como "problema". A moda, o número mais grande de galegos e galegas têm 33 anos. Se descermos apartir dessa idade o perfil da pirâmide encolhe de maneira drástica. Isto significa que a gente nova não sobra precisamente...

Por quê falo nisto? Porque segundo a conselheira Mato, se forem certas as cifras do BNG sobre a emigração juvenil, não ficaria já nenhum galego... Pois bem, Galiza já se está a vaziar. Não é um problema de agora e certamente, o bipartido não soube pôr remêdio. Um político inteligente poderia dizer isto e aludir a que se está a trabalhar em medidas para inverter a tendência. Mas não havia político inteligente nenhum, tratava-se de Beatriz Mato. Na incontinência verbal de quem tem maioria absoluta e pensa que Galiza é a sua leira a conselheira disse coisas como que a gente nova não emigra por falta de oportunidades, senão para formar-se. Comentou que não se trata de verdadeira emigração, porque são situações transitórias e que também vem muita gente de outras comunidades. Acabou dizendo que os dados apresentados pela oposição estavam enviessados e que não concordavam com os da Conselharia. Pois muito bem.

Estes que vem, são os dados das pessoas jovens que entraram e sairam de Galiza por motivos laborais em 2010 procedentes ou em direcção a outras comunidades autónomas. Entraram 7022, não está mal, não é? Estaria melhor se não tivessem saído 9759; quer dizer, 2737 de diferença. Podem não parecer muitas, mas acontece duas coisas: o ritmo de entrada de trabalhadores e trabalhadoras na Galiza manteve-se mais ou menos constante durante a década; no entanto, o ritmo de saída desceu em 2010 até um nível comparativamente baixo. O qual, como disse nalguma outra ocasião, não é mérito do atual governo, senão da crise. De fato, logo da importante queda no número de saídas desde 2007 (ano no que saíram perto de 50000 trabalhadores), desde 2009 adverte-se um ligeiro esfreio. Por outro lado, se olharmos as coisas com uma certa distância; por exemplo desde 2006, as cifras começam a ter uma dimensão significativa:


Já são 15207 jovens de difereça. Se continuarem alargando o periodo, a cifra medra porque na Galiza sempre entram menos dos que saem.

Não se devem fazer predicções para evitar o risco de errar, mas tenho a impressão que a emigração volverá a subir singelamente quando a gente nova veja que com a crise, todo o mundo vai mal mas sensivelmente melhor que no país. Neste senso, o panorama ilusório descrito pela senhora Mato não tem muito a ver com a realidade:

O balanço detalhado do saldo migratório com outras comunidades deixa Galiza claramente de perdedora. Claro que há alguma comunidade com a que o saldo é possitivo. Por exemplo Andaluzia ou Extremadura. Mas supõem uma proporção muito pequena dessa troca e também deveriamos considerar que existem 1541989 andaluzes novos e apenas 429795 galegos nessas franjas de idade. A deputada Pontón comparou a situação com uma verba orçamentária da Xunta para o aeroporto do Prat. A comparação é desafortunada: seria como uma verba orçamentária para o aeroporto de Barajas.

Sobre a transitoriedade da emigração... Enfim, é difícil ser tão idiota. A emigração não se define por carácter permanente, desse jeito seria impossível sinalar algum movimento como migratório porque a priori não sabemos se quem emigra vai voltar ou não. Mas basta ver a diferença constante na série temporal entre o montante de quem marcha e de quem entra para deduzir que essas "estádias por formação" não são tão transitórias como a senhora conselheira quer fazer ver e, seja como for, obrigariam-na a revisar a qualidade dos diferentes níveis de ensino no país.

É claro, formação... O pior não é que intente enganar à opinião pública, o pior é que pretende reduzi-la ao estado de inteligência vegetal. Como vão marchar por formação se os dados de mobilidade que própria conselheira empregou para acusar à deputada do BNG pela emigração em 2007 são de mobilidade laboral? São os dados do Instituto Galego das Qualificações. Não são os meus dados, também não são os da senhora Pontón... são os seus!

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