30/03/2012

Falta de oportunidades para jovens originou motins de Londres

Tirado do Esquerda.net (aqui). O painel nomeado pelo Governo para estudar as causas dos motins de Londres aponta também outros fatores, como a desconfiança face à polícia, as falhas no sistema de justiça na reinserção, a falta de acompanhamento dos pais e o materialismo dos jovens londrinos. E conclui que é preciso dar-lhes mais "participação na sociedade" para que os motins não se repitam.



"Quando as pessoas não sentem que têm razões para evitar sarilhos, as consequências podem ser devastadoras para as comunidades", afirmou a presidente da comissão independente nomeada pelo Governo britânico, Darra Singh, citada pelo Guardian.

As reações políticas a este relatório não pouparam críticas à posição do primeiro-ministro, que já depois dos motins sempre encarou o assunto como um caso de "pura e simples criminalidade". Para a deputada trabalhista Diane Abbot, "as comunidades sentem-se assediadas pela polícia e marginalizadas nas suas perspetivas de emprego, e são bombardeadas com lembranças de vidas que muito provavelmente nunca terão".

O relatório diz que "a chave para evitar futuros motins é ter comunidades que funcionam" e propõe medidas como multas para as escolas que expulsam crianças sem as ensinar a ler corretamente, melhor e mais atempado apoio às famílias em dificuldades ou mais emprego para os jovens. E reconhece que "os serviços públicos apontam um grupo de aproximadamente meio milhão de 'famílias esquecidas'" no país. "Temos de dar a todos uma participação na sociedade", defendeu Darra Singh.

Mas o destaque dado à necessidade de trabalhar o papel da família para prevenir novos motins também mereceu críticas por parte da fundadora da ONG Kids Company, que acusou a comissão de seguir um "modelo classe média". "Eles ainda partem do princípio que a família destes jovens está intacta, quando 84% das crianças que nos chegam fugiram de suas casas. Na grande maioria, são crianças vítimas de maus-tratos por parte das suas famílias", acrescentou Camila Batmanghelidj, para quem não foram problemas de caráter que levaram muitos jovens a juntarem-se aos motins, mas sim o desemprego e as dificuldades.

O relatório também constata que metade das queixas registadas nos motins dizem respeito ao saque de lojas de produtos apetecíveis na sociedade de consumo. E pede ao Governo que proteja os jovens do marketing excessivo e que trabalhe para aumentar a resistência das crianças às mensagens publicitárias, abrindo um diálogo entre Governo e as grandes marcas.

A desconfiança face à polícia, que assassinou Mark Duggan e despoletou a onda de revolta em agosto passado que alastrou a outras cidades britânicas, é outro dos pontos focados neste relatório. Em dezembro, um estudo da London School of Economics em conjunto com o Guardian, com entrevistas a centenas de participantes nos motins, concluiu que foi a antipatia com o comportamento quotidiano da polícia em muitos bairros que levou muitos deles a sair à rua e a aproveitar o clima de impunidade para roubar artigos das lojas saqueadas.

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