20/04/2012

Rajoy e a terapia de choque made in Zarzuela

Antom Fente Parada.



É bem conhecido o best seller de Naomi Klein A doutrina do shock pendente duma continuação en que se inclua esta Eurolândia tola que caminha com passo firme para o abismo da mão da ortodoxia ultraliberal. O passado 12 de fevereiro os gregos baptizaram a jornada como "a Grande Capitulação", num paralelismo claro com aquela outra capitulação feita perante os nazis durante a II Grande Guerra. (1) O Governo "técnico" de Papadimos aceitou mais uma volta de porca da troika (Banco Central Europeu, BCE; Comissão europeia e FMI): recortes ingentes do gasto público (nomeadamente o gasto público social), rebaixa do salário mínimo, redução das aposentadorias, despido de 150.000 funcionários, subida de impostos e privatizações massivas.

O acordo do dia 21 contempla "uma presença permanente em Grécia duma missão da Comissão europeia" para controlar e vigiar as contas, assim como "uma presença reforçada da troika para supervisar permanentemetne o pago da dívida". Os fundos transferidos no marco do plano de ajuste serão ingressados numa conta bloqueada à que apenas a troika terá acesso e não o Governo grego.

São novos protectorados, porque - tal e como indica num artigo Ignacio Ramonet- o protectorado era um tipo de administração do período colonial clássico onde se espalhava a influência política e económica duma potência num território dado, do que podia extrair recursos e lucro, mas sem assumir os gastos e inconvenientes da  conquista pura e dura. Nesta relação de domínio, o protectorado conserva as suas instituições formalmente, mais cede a política exterior e, sobretudo, a sua economia e o seu comércio exterior. É a marktkonforme demokratie de que falava Ángela Merkel (2). 

Este novo "ajuste", celebrado por instituições de rapina global como o FMI, é a última que não a derradeira folha de quatro anos de terapia de choque em Grécia. Essa mesma shock doutrine está sendo agora implementada no Estado espanhol da cada vez mais descomposta II Restauração bourbónica. Primeiro o sócio-liberal PSOE praticou um harakiri para alimentar a voracidade do capital financeiro, agora chega os autênticos ultraliberais, os rajoyboys para limitar a democracia em nome do "livre mercado" e colhidos da mão de think tank como as FAES. Mais e mais "ajustes" e "sacrificíos" para "sair da crise" que não fazem mais que aprofundar uma miséria galopante entre uma população espanhola cada vez mais desorientada, atemorizada e pobre. É o shock necessário para com a escusa da crise desenvolver as políticas que o grande capital necessita atrasando o mais possível a reacção social e mudando o estado social pelo estado penal. 

Um darwinismo social militarizado que subjaz em todas e cada uma das novas medidas dessa teologia da miséria e o roubo chamada "austeridade", um vocábulo mais da neolíngua ultraliberal cujo nome em galego antigo era miséria. Todo para satisfazer as necessidades dum capital financeiro que segue tendo os pés mergulhados no barro e quer partir na melhor posição possível quando comece a última e decisiva fase da crise que se desatará em China provavelmente já em 2012. 

O PP erigi-se assim como um corpo de mercenários do grande capital solícito a qualquer diktat deste poder financeiro (o capital financeiro jungue o capital bancário e o capital industrial das transnacionais, isto é importante não perdê-lo de vista) sem importar-lhe o ataque brutal que está ceivando sobre as cabeças de milhares de cidadãos, muitos deles votantes desse grande produto de mercadotécnia que consumem uma vez cada quatro anos. Os mesmos que criticam os privilégios dos funcionários não deixam de ser inconfessados funcionários do grande capital.

No dia de hoje, Rajoy anunciou que no verão fará novos "ajustes". (3) Como já fizéramos fincapé num outro artigo (4) a esperável doutrina de choque do Governo do PP seguirá um a um os passos dados noutros PIG's para criar a sonhada "tábula rasa" ultraliberal tão cara a um capitalismo inserido num caos sistémico de difícil digestão. Duas foram as medidas "secretas" que transcenderam já: a suba do IVA e a baixa nas cotizações da segurança social. (5)

Quanto à suba do IVA trata-se dum imposto sobre o consumo muito regressivo e que afecta especialmente às classes trabalhadoras já abafadas pela crise e a "austeridade" da ortodoxia suicida ultraliberal. O PP poderia subir o IVA de 18 a 20% (e o tipo reduzido de 8 a 9%) com o alvo de recadar 8.000 milhões de euros. O que não dizem habitualmente os teólogos da ortodoxia ultraliberal é que esta medida deprimiria ainda mais um consumo em queda, obrigaria a mais pequenos comércios a fechar as portas, aumentaria o desemprego (que já agora pode ultrapassar os seis milhões no fim de 2012)  reduzindo então a recaudação fiscal e abrindo a porta a um novo ciclo de "ajustes" perante o incumprimento das "previsões" sobre o deficit do Governo e a troika.

No que concerne à descida nas cotizações empresariais à segurança social apresenta-se como uma medida para "favorecer" a "empregabilidade". Porém é mais uma tentativa de que, ao tempo que se questiona permanentemente a viabilidade das aposentadorias públicas, aumentem os lucros das transnacionais e se "obrigue" a quem puder a recorrer a fundos de pensões privados (cuja solvência demonstrou em grande parte a crise de 2008). Ao tempo, a baixa nas cotizações apenas deixa duas vias (por inteiro complementares dito seja de passagem no marco ultraliberal): atrasar ainda mais a idade de reforma - que fora já modificada pelo executivo sócio-liberal de Rubalcaba e Salgado-  duma parte, e, doutra parte, alongar o o período de cálculo de anos cotizados ainda mais... Se somamos isto ao contínuo desmantelamento da sanidade pública, que passará já a cobrar parte das menzinhas aos reformados, e aos recortes no gasto público social toparemo-nos como num futuro não muito longínquo -e mais na Galiza que conta com as aposentadorias mais baixas do Estado- os anciãos receberão, com sorte, pensões míseras após anos de desemprego (porque terão que trabalhar mais anos com soldos mais baixos). Este é o espanholismo de zarzuela que caça elefantes em Botswana, põe o grito no céu quando um governo exerce a sua soberania como o Argentino (como uma antiga colónia pode ter mais soberania que o Império em andadeiras espanhol convertido em protectorado?), e some na miséria durante décadas e gerações a esses cidadãos que ingenuamente aderiram PP-PSOE.

Neste contexto, o Encontro Irmandinho e os grupos e pessoas que acompanham o processo de construção dum novo referente político desde assembleias locais devem ter claro que as contradições sociais não farão senão ir em aumento e que nunca a sociedade galega voltará ser o que foi antes de 2008. Com isto claro é evidente que dous são os eixos que devem sustentar a nossa acção: o eixo da esquerda - plural, integradora e pondo o acento na democracia radical tanto interna como externamente- e o eixo do soberanismo, apresentando-o não apenas como uma aposta pela soberania nacional, mas também (e em relação com o primeiro eixo) com a emancipação social da cidadania: soberania alimentar, soberania dos indivíduos (defesa da renda básica, direitos e liberdades, democracia real) e também a necessária soberania nacional para podermos desenvolver este programa estratégico e histórico no galeguismo.


Notas: 
(1) Fente Parada, Antom (2011), "Fim da ficção da democracia burguesa" em Á revolta entre a mocidade: http://revoltairmandinha.blogspot.com.es/2011/11/fim-da-ficcao-da-democracia-burguesa.html.

(2) Ramonet, Ignacio (2012), "Nuevos Protectorados" em Le monde diplomatique en español, nº197.

(3) "El Gobierno tiene un plan hasta el verano pero prefire ocultarlo" em Público.es: http://www.publico.es/espana/430058/el-gobierno-tiene-un-plan-hasta-el-verano-pero-prefiere-ocultarlo.

(4) Fente Parada, Antom (2011), "O Estado español é o 4º mais desigual da UE" em Á revolta entre a mocidade: http://revoltairmandinha.blogspot.com.es/2011/10/o-estado-espanhol-e-o-4-mais-desigual.html.

(5) "Rajoy prepara otro incumplimiento: subirá el IVA y rebajará las cuotas empresariales a la Seguridad Social" em El Pluralhttp://www.elplural.com/2012/04/18/rajoy-prepara-otro-incumplimiento-de-promesa-subira-el-iva-y-rebajara-las-cuotas-empresariales-a-la-seguridad-social/.


2 comentários:

Anônimo disse...

Moi bo artigo, as xubilacións son un salario social diferido, que se substrae do salario total. Unha conquista do século XX coa que o capitalismo quere facer negocio e tirar ás empresas a asunción desas cotizacións.

AFP disse...

Certa a engádega que fas irmão. O EI defende como linha programática levar á democracia ao modo de produção. Em França há iniciativas da sociedade civil assaz desenvolvidas nessa direcção. Apertas