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24/03/2014

Reino de Espanha: Marchas da Dignidade em "terra de ninguém"?

Antoni Domènech, G. Buster e Daniel Raventós. Artigo tirado de Sin Permiso (aqui).

"O conceito de mal menor é um dos mais relativos. Enfrentados a um perigo maior que o que antes era maior, há sempre um mal que é ainda menor embora seja maior que o que antes era menor. Todo mau maior se faz menor em relacionamento com outro que é ainda maior, e assim até o infinito. Não se trata, pois, de outra coisa que da forma que assume o processo de adaptação a um movimento regressivo, cuja evolução está dirigida por uma força eficiente, enquanto a força antitética está resolvida a capitular progressivamente, a trechos curtos, e não inesperadamente, o que contribuiria, por efeito psicológico condensado, a dar a luz a uma força contracorrente ativa ou, se esta já existisse, à reforçar." [Antonio Gramsci, Quaderno, 16 (XXII)]





A entrada em Madrid das Marchas da Dignidade e o caloroso acolhimento popular convertida em uma "gigantesca manifestação" -como a qualificou Le Monde- que bloqueou todo o centro da cidade vieram em um momento que não podia ser mais oportuno. Em um momento de desgaste, de cansaço, de fartura e -sejamos claros- de desmoralização profunda e crescente de um povo trabalhador cruelmente castigado durante seis anos pela crise, um desemprego operário pior que o da Grande Depressão e umas pérfidas políticas procíclicas de ajuste fiscal, desvalorização salarial, contração sem precedentes da despesa social e contrarreforma reacionária do direito laboral democrático. O indubitável sucesso das marchas -às que não deixaram de fazer vazio e pôr vergonhosamente surdina os grandes meios de comunicação do Reino (todos em mãos da banca privada, todos financeiramente dependentes da publicidade institucional pública)- veio a recordar-nos a todos a enorme capacidade de mobilização solidária que ainda existe, o potencial de raiva, indignação e cólera popular que ainda é capaz de se expressar organizadamente na rua. O Manifesto das Marchas não podia o ter dito melhor: vivemos em "uma situação extremamente difícil, uma situação limite, de emergência social, que nos convoca a dar uma resposta coletiva e em massa da classe trabalhadora, a cidadania e os povos".

Essa convocação, como explicou em SP Carlos Martinez, um dos seus coordenadores andaluzes, nascia desde a confluência de experiências de combate muito variadas, como as marchas e ocupações de terras de jornaleiros da CUT, do Acampamento da Dignidade de Cáceres, das concentrações contra os desafiuzamentos da PAH, das marés cidadãs, das margens críticas e contestatários do movimento operário organizado mas em primeira linha da resistência social contra as políticas de ajuste. Superando as divergências inevitáveis que nascem de experiências tão diferentes e duras, de inveteradas confrontações setarias de pequenos aparelhos, minúsculas vaidades e ínfimas raposarias, os milhares de participantes das diferentes colunas das Marchas sobre Madrid vieram a converter em um catalisador euforizante para a mobilização de centos de milhares de pessoas que viraram nelas a sua solidariedade. Também -ou isso pode razoavelmente conjeturar-se- depositaram nelas renovadas esperanças em uma luta unida capaz de pôr travão e talvez começar a reverter as catastróficas políticas dimanantes do "Consenso de Bruxelas" às que -em aberta violação de todas as suas promessas eleitorais- terminaram subordinando-se o Governo de Rodríguez-Zapatero e Rubalcaba, primeiro, e o de Rajoy, depois.

Dessa capacidade de fermento e solidariedade, de posta em comum de lutas dispersas e ainda isoladas em um grande frente de resistência coordenada, depende em definitiva a existência de uma esquerda social e política organizada merecedora de tal nome. Uma esquerda social e política, por lembrar-nos de um clássico, "que realiza a sua agitação sem trégua nem descanso " (F. Lassalle). Convém recordá-lo especialmente agora que as esquerdas sociais se encontram no nosso país ante uma disjuntiva que ficou resumida nestes dias em duas imagens: a das Marchas da Dignidade, uma; e outra, a patética imagem -não há palavra mais certeira para a descrever- do encontro em Moncloa dos secretários confederais Cándido Méndez (UGT) e Ignacio Fernández Toxo (CC OO) com Rajoy e o representante da patronal para publicitar o "relançamento do diálogo social".

Uma disjuntiva não é necessariamente excluiente: é verdade que sem a solidariedade dos milhares de filiados de base de CCOO e UGT, e ainda dos próprios aparelhos sindicais, as Marchas da Dignidade não poderia chegar a Madrid nem ter sido acolhidas por centos de milhares de pessoas. Mas é uma disjuntiva que obriga a discutir que orientação política deve seguir o conjunto dos movimentos socialmente resistentes ao programa de contrarreformas "austeritárias" em curso. E que obriga a discutir em momentos de refluxo, fartura generalizada e desmoralização, já se disse; mas em portas, ademais, de um longo ciclo eleitoral que, após as europeias, autárquicas e autonómicas vindouras a partir de 25 de maio, e sem se esquecer do crucial referendo de autodeterminação convocado para o 9 de novembro próximo em Catalunya, fará coincidir no tempo as eleições gerais de 2015 com as eleições sindicais de 2015-16.

E como toda a discussão destas características, tem que partir de um balanço do ciclo das mobilizações contra as políticas de austeridade desde 2010, da estimativa da correlação de forças sociais e da ideação de perspetivas políticas. E não só no tocante ao Reino de Espanha, senão no enquadramento da União Europeia, que é onde se produz a confrontação politicamente determinante com os programas de contrarreforma autoritária dimanantes do "Consenso de Bruxelas".

Não parece que as diferenças se deem quanto à estimativa da capacidade de mobilização social. Constata-se, sim, a deslocação parcial do local da resistência social, desde os centros produtivos aos espaços da reprodução social, o que não é senão consequência natural de umas taxas de desemprego superiores a 26% -por volta de 60% entre os jovens-, da terciarização do mercado laboral, da enorme precarização e da crescente redução da negociação coletiva. A partir dos dados sobre conflitividade laboral do Ministério de Trabalho e da patronal CEOE, Daniel Lacalle e Miguel Sanz Alcántara, por reduzir-nos a dois autores, vieram a confirmar o que é uma experiência social coletiva, e é a saber: que os trabalhadores resistem ativamente; e que quando são convocados a isso de maneira coordenada, o fazem em massa. Os topos de atividade dessa resistência em 2010 e 2012 assim o constatam: quando, além de movimentos cidadãos como o 15-M, teve as greves gerais de setembro de 2010, e as de março e novembro de 2012, além das oito convocadas no País Basco desde 2009.

Ramón Górriz, secretário de ação sindical de CCOO, resumiu assim a atual posição do seu sindicato no "relançamento do diálogo social": "Uma estratégia com a que pretendemos atingir resultados e não nos ficar na mera contestação das políticas empresariais e governamentais". recordou que "os trabalhadores e trabalhadoras não podem esperar enquanto criticamos a ação do Governo só com mobilizações. Nós estamos na rua para fazer patente a nossa rejeição às políticas de recortes e reformas; mas também temos que procurar soluções aos problemas da gente e sobretudo para os coletivos que mais estão a sofrer os efeitos da crise".

E o órgão de CCOO, a Gaceta Sindical, voltava a dizê-lo com palavras não tão diferentes, mas servindo de uma metáfora reveladora: "Uns sindicatos sem capacidade de transformar em diálogo e acordo os seus processos de reivindicação e mobilização correm o risco de perder a sua condição de ferramenta útil para defender os interesses dos trabalhadores. Nesta terra de ninguém permaneceram o governo e os agentes sociais nos últimos quatro anos: uns governando de costas à imensa maioria dos cidadãos; outros ativando uma agenda de mobilização e ação reivindicativa, tão justa e necessária, sem resultados concretos".

No entanto, essa pretendida "terra de ninguém" já está precisamente ocupada pela iniciativa social e política da direita neoliberal de um PP que aplicou os termos do resgate do setor bancário e as políticas de austeridade com a determinação e a ferocidade dos convencidos, como recorda Rajoy quando se lhe acusa de atuar ao ditado da Troika. Se Rajoy convocou a CCOO e UGT à Moncloa o 18 de março, após ignorar a ambos sindicatos durante a primeira metade da legislatura -até o ponto de ter que atuar Merkel de mediadora para alentar os primeiros contactos- não é porque esteja disposto a fazer a menor concessão nas suas políticas de austeridade e contrarreformas, sobretudo quando a Troika (Comissão, BCE, FMI) lhe faz questão de uma "segunda volta de porca" para cumprir os objetivos do deficit marcados, senão porque está rearticulando a sua estratégia.

Ante o longo processo eleitoral que agora se abre, Rajoy precisa recuperar certa paz social que lhe permita dar verosimilhança à sua falsária e monolemática mensagem de "recuperação económica". E fazer chegar essa mensagem, sobretudo, àqueles setores sociais que, mais que por sofrer as consequências sociais da crise, possam estar prontos à ação por medo a essas consequências, por pânico a perder a proteção social que supõe o amparo da negociação coletiva. Os mais de 14 pontos perdidos pelo PP nas suas expectativas de voto, e a falta de horizontes reais de criação de emprego, para além da extensão da precariedade em um ou dois pontos do desemprego registado, não auguram precisamente uma recuperação política de maioria social conservadora. Mas um ou dois pontos sim podem determinar a política de alianças para um governo de coligação com outras forças políticas da direita, como UPyD e regionalistas vários. E podem, sobretudo, determinar qual seria a força maioritária em um governo do "Consenso de Bruxelas", um governo PP/PSOE capaz de bloquear qualquer possibilidade de transladar a um governo de coligação de esquerdas a resistência social acumulada neste período.

Por conseguinte, em resolução, a disjuntiva fundamental nesta discussão incoada, talvez mais tácita que explícita, tem que ver com perspetivas políticas, mais que com diferentes estimativas dos relacionamentos de força.

As Marchas da Dignidade, como os outros movimentos sociais que vieram desenvolvendo no nosso país desde o 15-M -incluídos os movimentos populares pelo "direito a decidir" de Catalunya e o País Basco- apontam claramente a uma estratégia de agregado de forças sociais que, de um ou outro modo, desembocaria em mudanças eleitorais bastante radicais e muito possivelmente em uma nova maioria de esquerdas. De safrar-se politicamente esta última, necessariamente abriria um lanho ruturista no statu quo político e económico herdado da Transição, incluídas os relacionamentos com Bruxelas e Berlim.

Em mudança, a recuperação do "diálogo social" proposta por CC OO e UGT depois da reunião do 18 de março é, inconfundivelmente, a enésima manobra tática do "mal menor": ganhar tempo e tentar frear alguns das feições mais agressivas da "segunda volta de porca" das devastadoras políticas de austeridade aproveitando na negociação a perentória necessidade de paz social neste longo ciclo eleitoral que tanto vai exigir ao PP. Agora bem; deixando de lado (por agora) as consequências mais desmoralizadoras para as suas próprias bases sociais e o provável aumento do descrédito público que vai acarretar às atuais direções dos sindicatos operários maioritários, há que saber que esta tática, de triunfar, não pode aferrar-se, e isso no melhor dos casos, a outra perspetiva política que a de um governo de Grande Coligação do bipartidismo dinástico que respeite no essencial o "Consenso de Bruxelas". Como a atual Grande Coligação na Alemanha.

Queridos e respeitados amigos, amigas, parceiras e colegas sindicalistas: voltem-no a pensar!

28/12/2013

2013, quinto ano de crise

Juan Francisco Martín Seco. Artigo tirado de República.com (aqui) e traduzido por nós.

Juan Fco. Martín Seco


A vida pessoal e social são contínuas, o mesmo que a actividade económica. Portanto, fica fora de toda lógica esnaquiçalas, mas o homem não pode conceber o tempo sem distribui-lo em períodos mais ou menos convencionais. De aí o calendário; de aí a saída e entrada dos anos; de aí que as empresas apresentem resultados por exercícios económicos e a costume de que ao rematar um ano se pretenda fazer balance do sucedido, como se se pudesse isolar dos acontecimentos anteriores e posteriores.

Em matéria económica, o ano 2013 pouco se diferencia dos precedentes: recessão (o PIB reduzir-se-á como mínimo 1'3% quase igual do que em 2012; mais despedimentos e mais paro, descida de ordenados, recortes nos serviços públicos e nas despesas sociais, privatizações; uma União Europeia que apenas muda, em que se segue a repetir que se tem feito muito mas que há que continuar na mesma direção; mais lenha; pouco ou nada novo sob o sol.

Não obstante, é pertinente assinalar algumas novidades que se apresentaram este ano. A primeira é que nos últimos meses o Governo e os adláteres teimam em convencer-nos de que começou a recuperação. Baseam-se principalmente em que o PIB abandonou a sua trajetória decrescente e no terceiro trimestre incrementou-se um 0'1%; 0'1 que muito bem podia ser o -0'1% porque, tratando-se de estatísticas e provisórias, é difícil chegar a tal precisão. Porém ainda aceitando que nos vindouros trimestres se produzam taxas positivas estas serão tão baixas que desde logo não criarão postos de trabalho, a não ser a base de repartir os existentes mediante empregos parciais, os famosos minijobs, paro encoberto e, é mais, ninguém garante que não se produza de novo uma mudança de tendência. Após as taxas negativas de 3'8 em 2009 e de 0'2% em 2010, o PIB cresceu 0'1% em 2011, para voltar a cair em 2012 1'6%. Quem nos dá certeza que a história não se repetirá?

Não há nenhum dado que certifique que uma recuperação consistente e sustida seja possível. Apenas o setor exterior apresenta uma tendência positiva, mas paradoxalmente condicionada a que a economia não medre, para que as importações não desbordem às exportações. Fundamentar o crescimento unicamente no setor exterior para além de arriscado é inútil, tanto mais quanto a apreciação do euro compensa folgadamente toda possível melhora adquirida na competitividade através da descida de salários e dos recortes orçamentares, e que Alemanha continua cismando em manter um superavit de 6% no seu balanço de pagamentos.

Nenhum outro fator aponta a uma recuperação sólida. O consumo privado segue colapsado como resultado do paro, da redução dos salários e duma dívida contraída pelas moradas nos anos anteriores; até a recente aprovação da lei da reforma do sistema público de aposentadorias contribui para que a cidadania se retraia no seu gasto. Por sua vez, o consumo público encontra-se no nível mais baixo e tudo indica que, como muito, manter-se-á ou, o que é mais provável, que se reduza devido à política de ajustes que o Governo continuará aplicando na sua luta sem fim contra o deficit. Nada se pode esperar da inversão pública e resulta difícil pensar que a privada poda reanimar-se estimulada unicamente, por acaso, pelo setor exterior, e em ausência de crédito. A pesar do otimismo que tenta infundir o Governo, a probabilidade de que o lastre do euro vaia impedir a recuperação é muito alta.

A segunda novidade, se se pode chamar assim, é que afinal os espanhóis enteraram-se de que as alegrias do setor financeiro vão-lhes custar muitos milheiros de milhões de euros. Até agora tinha-se-nos dito que as achegas à banca eram puros empréstimos ou inversões que se recuperariam mais tarde. As operações realizadas até o momento indicam claramente o contrário. As entidades saneadas com dinheiro público retornam ao setor privado, sem que se recobre o dinheiro investido. A prova mais clara de que a quantidade de recursos achegados pelo erário público através do FROB vai ser a fundo perdido é que Eurostat obrigou a computá-lo como deficit e a incluí-lo dentro do monto da dívida pública, com o que esta atingiu um nível muito preocupante e jamais conhecido pela fazenda pública espanhola, por volta de 100% do PIB.

A terceira novidade a sublinhar, e a que talvez não se lhe concedera a trascendência ajeitada, foi a aprovação da reforma do sistema público de aposentadorias, verdadeiro golpe mortal contra o Estado social e que ameaça com deixar no futuro na pobreza e na miséria a uma parte muito importante da população. A sociedade não tomou consciencia do que representam as mudanças inseridas e tampouco de que as pensões, a níveis já muito baixos, vão perder anos após ano poder adquisitivo [em 2013 2%, nota do tradutor]. Sem dúvida vai ser um duro golpe para os atuais reformados, mas também e talvez em maior medida para os futuros. O Governo propus-se sanear as finanças públicas e fazer frente ao enorme endividamento, fazendo recair o custe sobre a parte mais vulnerável da sociedade, os reformados.

A reação da oposição foi mais morna do esperável. Ao PSOE, tão proclive a declarar respeito a determinadas leis que as mudará quanto chegue ao poder, não se lhe ouviu comprometer-se a modificar esta. Surde a suspeita de que, presa dos acordos do Pacto de Toledo e da crença de que as aposentadorias apenas se podem financiar com as cotizações, não lhe desgosta em excesso a reforma e de que, em certo modo, alegra-se de que o atual Governo tenha feito o trabalho sujo.

14/05/2013

Grecia sairá do euro en 2013... o Reino de España en 2014 pola imposiblidade de crear emprego

Nova tirada de El Confidencial (aquí). Tradución de Á revolta entre a mocidade. Para o fin da I globalización véxase este artigo (aquí).

Imaxe tirada de El Confidencial (aqui).

Grecia sairá do euro en 2013 e o Reino de España en 2014, e será o paro e a incapacidade de ambos os estados de crear emprego o motivo do "novo Lehman", que provocará unha caída de 9 meses nos mercados antes de experimentar un forte rebote, como ocorreu en 2008.

Polo menos iso defende Charles Robertson, de Renaissance Capital, no seu último informe macroeconómico no que argumenta que o proceso será "rápido" e "impredicíbel" e lembra como, durante a Gran Depresión, países con taxas de desemprego similares ás que sofre actualmente o Reino de España abandonaron os tipos fixos do patrón ouro para superar a crise. España necesita a desvalorización para ser competitiva e volver crecer, como nos anos 80, cando cun paro do 20% serviuse de debilitar a peseta para axudar a crear postos de traballo.

Unha tese que dista moito do momento de compracencia que viven os mercados e especialmente España, alimentado por algún dato positivo, un esborralle dos custos de financiamento, o rally do Ibex 35 e a perda de forza da petición de rescate.

A chave está no "grao de dor que pode aguantar a poboación" e asegura que se vai a "pór a proba a fortaleza e resistencia dos españois como nunca antes na historia se fíxo cunha sociedade".

Robertson parte da previsión do Fondo Monetario Internacional do pasado mes de outubro, cando asegurou que o crecemento máximo que España pode esperar en 2017 é de apenas un 1,7%, moi baixo para que o país poida crear emprego -tendo en conta que desde 1981 o paro non diminuíu con crecementos inferiores ao 2,5%- incluso asumindo que a reforma laboral rebaixe ese crecemento ao 1,5%-1,7%. De feito, con estes números, a firma de investimento avisa dun paro próximo ao 30% dentro de catro anos.

Mesmo se se atende ás previsións da Comisión Europea ou da OCDE, con taxa de desemprego do 26%-27%, o certo é que os españois van chegar a 2014 sen ningún tipo de esperanza de mellora e, aínda que realmente a economía comece unha forte recuperación para entón, os seus efectos non sentirán na poboación até máis adiante.

Por ese motivo, asume que os españois -que xa mostraron o seu enfado contra o Goberno anterior cunha desfeita histórica do PSOE nas urnas en 2011- constatarán que "Mariano Rajoy falloulles" e "a xente tomará as rúas para esixir o cambio". Aínda se o Partido Popular aguantase até as eleccións de decembro de 2015, "é difícil que o electorado teña paciencia" e aínda que nestes momentos non hai alternativa política, "tampouco ninguén en Grecia ouvira falar de Alexis Tsipras antes de maio de 2012, e en xuño era un dos candidatos plausíbeis a primeiro ministro".

Os antecedentes do patrón ouro

Aínda que esta situación parece desatinada, unha das cousas que nos ensinou a historia é que o abandono dun réxime de tipo de cambio fixo é algo completamente impredicíbel, mesmo con tres meses de antelación.

Así, por exemplo, o presidente Franklin D. Roosevelt prometeu non sacar a EEUU do patrón ouro durante a campaña das eleccións de 1932 e ao pouco de chegar á Casa Branca a situación económica do país obrigoulle a iso. O mesmo ocorreu no Reino Unido en 1931, despois de que o goberno de coalición vísese abocado a levar a cabo fortes recortes, como o dos salarios públicos; ou nos Países Baixos, que cun paro do 32,7% fixo o propio en 1396.

"Actualmente atopámonos no momento equivalente a 1934, un ano despois de que EEUU abandonase o patrón ouro (cun desemprego de entre o 21% e o 25%) e tres anos despois de que o Reino Unido liderase a un número de países europeos na saída do tipo fixo do ouro", asegura Robertson. "Estes países, desde Suecia a Reino Unido, sufriron menos a Gran Depresión, mentres os que devaluaron máis tarde, Francia, Países Baixos e Polonia, sufriron máis tempo".

Todo isto, trasladado ao momento actual, vénnos a dicir que non debemos preocuparnos en exceso por Irlanda, Portugal ou Italia, con taxas de paro de entre un 15,5% e un 10,6%, e si por España e Grecia.

Grecia comezará a recuperación antes que o Reino de España

De feito, se o experto fixa en 2014 a saída do Reino de España do euro, Grecia ten o camiño da súa saída máis avanzado e producirase axiña este mesmo ano, coa caída do Goberno provocada por unha poboación que xa non pode aguantar máis o estrangulamento dos recortes impostos desde Bruxelas e a chegada de Alexis Tsipras ao poder.

Así, despois do shock inicial, co normal caos económico posterior a unha desvalorización e un default -que non será tanto xa que os investidores viñeron progresivamente reducindo a súa exposición sobre o país- e que se podería traducir en caídas de entre un 10% e un 20% nas bolsas durante un trimestre, "para finais de 2014, a recuperación de exportacións gregas comezaría e o forte crecemento e a creación de emprego en 2015 será tentador para o Reino de España, como o boom de Reino Unido e Alemaña a mediados de 1930 o foi para os Países Baixos ou Francia en 1936".

Respecto da posíbel oposición de Alemaña a unha ruptura do euro e as teorías que apuntan a que o motor de Europa necesita unha moeda débil e que a revalorización da divisa destruiría a súa competitividade, o analista de Renaissance Capital argumenta que "Alemaña é un país de aforro" e isto significa que "eses aforros proverán dunha fonte barata de financiamento ao sistema bancario e, en consecuencia, ao sector privado, que investirá en ser máis eficiente". De feito, coa apreciación do marco nos anos 80 fronte ao dólar, que pasou dos 3,2 aos 1,5 dólares, a base exportadora de Alemaña non se destruíu.

Doutra banda, sobre as palabras que o presidente do Banco Central Europeo, Mario Draghi, pronunciou en agosto acerca da irreversibilidade do euro, e que fará todo o que sexa necesario e "será suficiente", que se materializaron no anuncio dun programa de compra de bonos en setembro, Robertson asegura que "o apoio do BCE é máis unha aspirina, que unha cura" e asegura que "o que realmente necesita España, e o que necesita calquera país cando a súa economía é débil, son tipos de interese negativos en termos reais".

O espellismo dos últimos brotes verdes

Así, sobre os últimos brotes verdes que se empezan a ver en forma de produtividade e balanza comercial, o experto asegura que a mellora dos custos laborais procede en parte da caída dos salarios, pero tamén do aumento do desemprego ao 25%. "Se o paro subise ao 50%, o dato sería probabelmente mellor aínda, mais non é politicamente sustentábel. O Estado español necesita creación de emprego, e urxentemente, e iso non está no mandato do BCE". E é que tamén a produtividade creceu durante a Gran Depresión...

En canto ao aumento das exportacións de bens e servizos, estas representan un 35% do PIB, o que supón pouca variación desde o 34% en 2011 ou do 32% en 2001. E o PIB caeu un 15% desde 2007. "O aumento da balanza por conta corrente de en torno ao 2% do PIB desde un déficit do 10% parece positivo, pero débese ao colapso da demanda interna, o que supón que o Reino de España non saca capital fóra do estado, mais tampouco entra".

Con todo, a cuestión máis importante para os investidores de face aos próximos anos é se o Reino de España abandona a Eurozona. Se finalmente ocorre, como asegura Robertson, veremos unha reacción similar nos mercados á que ocorreu no último trimestre de 2008 tras a quebra do banco de investimento estadounidense Lehman Brothers, en setembro dese ano, con esborralles do 50% na renda variábel, para despois rebotar con forza entre o tres a nove meses seguintes. Neste escenario, moitos bancos terán que ser nacionalizados e o mundo experimentará outro shock económico global.

29/04/2013

Reino de Espanha: o Governo Rajoy admite o seu fracasso, e agora que?

Antoni Domènech, G. Búster e Daniel Raventós. Artigo tirado de SinPermiso (aqui) e traduzido por À revolta entre a mocidade.


Na passada sexta-feira 26 de abril, na habitual roda de imprensa posterior ao Conselho de Ministros, o Governo Rajoy reconheceu o completo falhanço das políticas de austeridade do seu Primeiro Plano de Reformas. A seguir, anunciou um Segundo Plano de Reformas.

Os dados do fiasco não podem ser mais eloquentes  No tocante ao seu objetivo principal, a redução do deficit público, o governo Zapatero tinha-o deixado em 2011 no 9,6% do PIB, mas no final de 2013 situar-se-á no 10,6%. Desse montante, 4,3 pontos correspondem ao resgate europeu do sistema bancário espanhol, que a UE não contabiliza a efeitos dos objetivos de ajuste orçamental, mas que têm que se financiar igualmente no mercado da dívida. Após os recortes orçamentas sangrantes da despesa pública -que afetaram especialmente à previdência, a educação e o financiamento das comunidades autónomas e supuseram 259.000 despedimentos-,  a sua incidência no deficit da Administração central e a Segurança Social é de um mero 0,1% (de 5,2% em 2011 ao 5,1% em 2012). Em 2011 a dívida pública, após três anos de crises, representava o 68,5% do PIB; em 2012 situou-se no 86,9%, em 2013 atingirá o 90,5% e o FMI estima agora que em 2015 situar-se-á no 99,8%. O pagamento de interesses em 2013 (40.000 milhões de euros) é equivalente ao resgate europeu da banca. A maduración da dívida pública a curto em 2013 é de 85.000 milhões de euros. Ao final da legislatura não ter-se-á cumprido o objetivo comunitário de 3% do PIB de déficit, porque a previsão para 2014 é de 4,1%.

Quanto ao segundo objetivo do governo Rajoy -relançar o crescimento da economia espanhola-, os dados revisados agora oferecidos são igualmente alarmantes: decrescimiento de 1,6% do PIB em 2013, ligeiro crescimento de 0,5% em 2014 e de 0,9% em 2015. A economia sofre uma dupla recessão desde 2008. Para uma economia como a espanhola, que precisa crescimentos de ao redor de 2% do PIB para criar emprego neto, estas cifras supõem que desde 2011 se destruíram 1,6 milhões de empregos e que quando a legislatura acabe em 2015 a taxa de desemprego se situasse no 28,8%, três pontos mais que a recebida do governo Zapatero. Os efeitos sociais da recessão, com uma queda importante do nível de vida, prolongar-se-ão, como pouco, para além de 2018.

Anúncio e alcance do II Plano de contrarreformas

O grosso dos dados deste terrível quadro macroeconómico conheceu-se na reunião de primavera do FMI, entre o escândalo Reinhart-Rogoff e a desolada constatação da recaída na recessão do núcleo central da UE. Vinham a confirmar-se, e pelo magnífico, as predições mais críticas com as políticas de austeridade. Em uma entrevista publicada na segunda-feira 22 no diário ultraliberal de Nova York The Wall Street Journal, o ministro de economia Guindos adiantava oficiosamente as cifras e assegurava que o Reino de Espanha preocupava menos ao FMI e deixava de ser o principal foco de alarme, em especial desaparecidas as dúvidas sobre a estabilidade do euro graças à política do BCE. Christine Lagarde, diretora do FMI, alentava a "dar mais tempo a Espanha". Durante quatro dias, uma campanha de imprensa cimentada em ambíguos rumores tentou preparar a uma opinião pública já convenientemente amedrentada desde o ministério do interior com a previsão de uma violenta batalha campal nos arredores do Congresso dos Deputados no dia 25 (o que se traduziu em um dos maiores despregues policiais conhecidos em Madrid).

Quando finalmente aconteceu a roda de imprensa na sexta-feira 26, a neolíngua habitual destacou pela sua originalidade eufemística: "reordenação de cifras", "novidades tributárias"? Não faltaram jornalistas tentados a publicar o seu próprio dicionário, e algum outro não pôde evitar cair no costumbrismo a costa da cena. Apesar da gravidade da situação, Rajoy, que leva escondido por trás de um ecrã de plasma desde o início do caso Bárcenas, segue sem anunciar data de comparecência no Congresso. O seu único contacto com a imprensa terá local por motivo da visita a Granada do seu homólogo irlandês, no domingo 28.

O anuncio do Segundo Plano de Reformas, em parte adiantado por Rajoy no debate sobre o chamado estado da nação no passado mês de fevereiro, é em realidade uma repetição dos objetivos da legislatura e do seu Plano de 72 medidas, das que se foram adiando mais de 30, como a reforma da administração local e autonómica ou a lei de colégios profissionais. Mas há três, previstas no memorándum de resgate  bancário -cuja tradução oficial ao espanhol apareceu no BOE com quatro meses de atraso-, que serão decisivas: a "avaliação" da reforma laboral por um "organismo independente" (FMI, OCDE, UE, mas não a OIT), que inevitavelmente gerará uma nova onda de flexibilização e recorte de direitos no mercado laboral; a reforma das pensões, com uma segunda extensão da idade de aposentação para além dos 67 anos; e a Lei de desindexación de la economia, que abrirá a porta a recortes via inflação em pensões, subvenções e contratos públicos.

A subida "extraordinária e circunstancial" do IRPF de 2012 prorroga-se durante toda a legislatura, e se anunciam "novidades fiscais" com aumento dos impostos especiais, a exceção dos que gravam aos hidrocarburos, o dano medioambiental e os depósitos bancários. O marasmo da gestão do mecanismo de financiamento das Comunidades autónomas atribui-se a uma "autoridade fiscal independente", como se não fosse um problema político central.

Quando a culpa a tem a realidade

Estamos ante o "hundimiento da legislatura", como adverte angustiado um dos analistas mais reconhecidos da direita, José Antonio Zarzalejos? As cifras e previsões sobre o desemprego parecem, efetivamente, inasumibles socialmente. A intervenção do estado na economia via rendimentos fiscais é uma das mais baixas da UE (36,4% do PIB) -e caiu desde 2008 mais de 6 pontos, ultrapassando folgadamente no seu retrocesso o objetivo de 40%  defendido pelo anterior presidente do BdE-, e a economia submergida supera o 25% do PIB. Em frente à desculpa de Rajoy -"quem me impediu cumprir o meu programa foi a realidade"-, o diagnóstico de Zarzalejos resulta demoledor:

"o naufrágio do paquebote popular produziu-se pela combinação de três fatores: a quebra da fiabilidade política do Governo e do PP -todo o que se prometeu se incumpriu-, a comprovação da sua escassa concorrência técnica em matéria económico-social e na gestão dos interesses de Espanha na União Europeia e a ausência de um discurso político que, além de cobrir as frentes mencionadas, oferecesse resposta à crise institucional, ao fenómeno da corrupção e à precarização do modelo territorial a raiz da aposta independentista em Cataluña".

Para além do ranço "regeneracionismo" de sesgo conservador sobre a incapacidade das "elites políticas (extractivas)" (sic), importa o diagnóstico das causas, materiais e ideais, da manifesta crise da Segunda Restauração bourbónica no contexto da crise do processo deconstituínte da institucionalização ultraliberal da UE. (O leitor interessado poderá, sem dúvida, encontrar alguns elementos consultando os arquivos de SinPermiso, e, antes de mais, a nossa análise do último debate  sobre o estado da nação).

Importa, antes de mais nada, destacar o clima social em que se produz o reconhecimento do falhanço do Governo Rajoy. O conhecido barómetro eleitoral de Metroscopia de abril recolhe a queda, desde as eleições de novembro do 2011, na intenção de voto do PP: um tremendo precipício de 20% (de 44,6% a 24,5%). Por sua vez, o PSOE segue em queda livre, com um descenso de 4,3% (de 28,7% -após a perdida de 14 pontos desde 2008- a 23%). Menos difusão teve o obSERvatório do 15 de abril da Cadena Ser, que mostra não apenas a esmagadora desconfiança popular perante o bipartidismo dinástico (87%), mas também a enorme radicalização e a crescente disposição à mobilização social da opinião pública, incluída a convocação de uma nova greve geral (47%), apesar do descrédito dos sindicatos maioritários (que só recolhem um apoio de 18%, frente, por exemplo, a um espetacular 75% colheitado pela Plataforma de Afetados pelas Hipotecas encabeçada por Ada Colau).

Que margem lhe fica ao governo Rajoy? Na crise da primavera de 2012 -talvez a experiência política mais importante do que levamos de legislatura, porque determinou o repertorio de respostas das classes socialmente reitoras, dos partidos e dos sindicatos-, a resposta de Rajoy foi: "Espanha fez todo o que podia, agora toca-lhe a Europa". O Conselho europeu de junho do 2012 não só aprovou o resgate bancário, mas também permitiu a política de intervenção do BCE nos mercados secundários, evitando um segundo resgate, desta vez geral, da economia espanhola. De novo, é a constatação na UE de que é impossível que se possam atingir as suas ilusos objetivos de redução do deficit o que, somado aos efeitos da recessão na Alemanha, determinou o adiamento de dois anos; não a pressão nem a capacidade de negociação na Europa do governo Rajoy ou do resto dos governos conservadores da periferia. Patético, por dizer o menos, é a tentativa de Rajoy de apresentar as coisas como se o lucro dessa nova margem fosse mérito próprio, da sua tenacidade na aplicação das políticas de ajuste e na pontual observação das condições do memorándum. O verdadeiro é que na UE Rajoy passou de ser um suposto aliado estratégico de Angela Merkel a se converter no esforçado aluno despeitado, para terminar pretendendo-se um conspirador de capa e espada a favor de uma iniciativa comunitária para o crescimento. Nada disso é verdade, por suposto. A modesta -e ridícula- verdade consiste nisto: faz o que se lhe diz, como e quando se lhe diz desde Berlim ou Bruxelas. Mais que o guardião, é o pícaro do memorándum.

Uma hipótese de cenário político

Rajoy não gere, sobreleva a crise da Segunda Restauração bourbónica. E nesse trance, os seus principais ativos são a folgada maioria parlamentar e a falta de uma alternativa política crível programática e organizativamente, isto é, que meta o medo no corpo. Graças a esses dois ativos conseguiu esquivar o segundo resgate, pôr surdina aos cantos de sirene dos pactos de estado ou do governo de "unidade nacional" e manter a raia e dispersa a crescida resistência social. O que não conseguiu evitar é a incessante erosão da sua legitimidade eleitoral, da sua base eleitoral e da do conjunto do regime bipartidista. Também não escapou às devastadoras dentelhadas da crise financeira do estado das autonomias, nem ao destape generalizado da corrupção, que é, sobretudo, manifestação da rutura do consenso hegemónico das classes reitoras do capitalismo oligopólico de amiguetes politicamente promiscuos da Transição. Nem, menos, ao inopinado estalido do secessionismo catalão, manifestação inequívoca da crise da monarquia e da sua inveterada incapacidade para encontrar soluções hacederas -fundadas na autodeterminação- para a livre vertebraçao democrática dos povos de Espanha. Lidar com qualquer destes peremptórios assuntos precisa de iniciativa vigorosa e ágil; não digamos enfrentar-se a todos eles de consuno. Ínsito, em troca, na natureza do governo Rajoy parece estar o mais inane dos inmovilismos. Talvez o exemplo mais fatal dessa passividade seja a sua total despreocupação respeito do processo de normalização social e política em curso no País Basco, e a tal ponto, que começa a peligrar o processo unilateral de pacificação. Procura-se, nem que dizer tem, compensar essa parálise política prática com verborreia atrabiliária e guerras culturais ao estilo zapateril: como se o único que lhe ficasse ao governo Rajoy fosse atizar o fogo da polarização ideológica dos seus votantes mais extremistas. Não outro é o triste e evidente papel da contrarreforma da Lei do Aborto impulsionada pelo ministro de justiça Gallardón.

No ano que temos por diante, até as eleições europeias, será decisivo. No terreno social, a "avaliação" e ampliação da reforma laboral, bem como o novo atraso na idade de aposentação, obrigarão, queiras que não, a CC OO e UGT a convocar uma nova greve geral. Pelo que se refere à crise financeira das autonomias, que em boa medida é a do "estado do meio-estar" espanhol, a tensão da negociação em torno do translado assimétrico às autonomias da nova margem de deficit (de 0,7% ao 1,2%) concedido ao Reino de Espanha pela UE não só criará graves tensões entre as comunidades governadas pelo PP, senão que obrigará ao governo PSOE-IU andaluz a uma maior e mais pugnaz confrontação  e muito provavelmente terminará bloqueando o jogo de alianças assimétricas de sobrevivência ensaiado pela Generalitat de Mas com ERC e PSC, obrigando à convocação de eleições antecipadas em Catalunya. No tocante à cúspide institucional coroada, a provável condenação de Urdangarín e o seu sócio, depois da imputação da Infanta Cristina, fará inevitável a abdicação do monarca, as bases legais da qual já se negociam mais ou menos discretamente entre os dois principais partidos dinásticos. As eleições europeias, proporcionais em uma só circunscrição, suporão um duríssimo voto de castigo tanto para o PP como para o PSOE, o que verisemelhantemente contribuirá a acelerar a crise da Segunda Restauração.

Neste cenário de crise a cada vez mais evidente de todo o regime político monárquico de 1978, a estratégia sindical de CCOO e UGT -resumida nos seus manifestos para o 1 de Maio- passa essencialmente pela defesa de um programa mínimo que alargue a margem concedida pela UE, para dar cabida à fórmula de um Pacto pelo Emprego e relançar a negociação dos convénios coletivos, muitos dos quais caducam no próximo mês de junho. Ao próprio tempo, faz-se questão da necessidade de manter o processo de agregado de forças cidadãs da Cimeira Social, verisemelhantemente para carregar-se de razões face a uma greve geral que prevêem tão inevitável como crescentemente difíceis as condições sociais em que terá de se realizar (com uma população trabalhadora desmoralizada por uma desocupação sustentada sem exemplo histórico e com umas organizações sindicais maioritárias que não conseguem romper o descrédito ante a opinião pública que recolhem os inquéritos). Neste sentido, a maioria sindical basca e outros sindicatos convocaram na Comunidade Autónoma Vascã e em Navarra uma greve geral para o próximo 30 de maio. Os sindicatos maioritários deixaram cair no esquecimento, no pior momento, o que não faz tanto pareceram ter começado a compreender, e é a saber: que sem uma alternativa política realista e unitária, que passaria hoje mesmo por uma campanha de mobilizações cidadãs para forçar o despedimento do governo Rajoy e a convocação de eleições antecipadas, o ciclo de resistência social choca com os limites objetivos da deslegitimada maioria absoluta do PP e do tenebroso rueiro sem saída a que conduz a estéril estratégia de "unidade nacional" ou mera alternância bipartidista do PSOE de Rubalcaba.

A esquerda política federal, IU e ICV, e a esquerda soberanista (EH Bildu, Anova, CUP, bem como setores de ERC e Compromís) começou a situar na perspetiva, mais realista, de um incerto processo destituyente de fim de regime. Compreender isso é, ao menos, o primeiro passo para se propor uma contraofensiva constituinte: só essa contra-ofensiva -ou sendo realistas, o horizonte, a promessa, dela- poderia dar sentido, esperança, unidade e vertebração política à miríade de mobilizações sociais (incluídas as sindicais) mais ou menos dispersas e mais ou menos espontâneas que vão se acumulando de modo crescente, com radicalidade crescente, com raiva crescente e, ai!, com desespero crescente. Longe do narcisismo onanista das cabeças de rato, longe das ilusas e fatigantes intrigas manipulatórias da sectícula política de turno, essa perspetiva precisa de algo mais que alentar a resistência; precisa peremptoriamente a articulação unitária de um amplo bloco político, social e intelectual alternativo que, hoje por hoje -reconheçamo-lo-, não termina de arrancar.  

É iluso pensar que a distância entre o timorato programa mínimo avançado agora pelos sindicatos maioritários e a incipiente aspiração a um programa de tipo constituinte das esquerdas alternativas e soberanistas é só ideológica, ou só de entendimento política do momento. Essa distância responde em boa parte também às diferentes condições objetivas em que desenvolvem a sua atividade. Compreender isso tem que ajudar a sair da mera denúncia moral (ou hipermoral) estéril, para começar a tender pontes através da mobilização e da coordenação unitária territorial, que adota já diversas formas.

À medida que cresça a polarização social e política induzida pela crise, fá-se-á mais evidente o dilema entre o projeto da pseudorreforma constitucional limitada que hoje propugnam o PSOE de Rubalcaba e setores da direita --um projeto incapaz de frear o perigrosísimo processo deconstituíente em curso--, e o das forças sociais e políticas que trabalham em uma contra-ofensiva republicana constituinte. Seja isso como for, as possibilidades dessa pseudorreforma constitucional que fantaseia com conter o descalabro da Segunda Restauração dependem crucialmente de que os partidos dinásticos, sinaladamente o PP e o PSOE, seguam tendo a maioria institucional de 2/3 necessária. É o mais provável que a sua legitimidade entre em processo de erosão irreversível com as eleições europeias de 2014 e as autárquicas e autonómicas posteriores. O que a estas alturas cota como seguro é que as eleições gerais de 2015 porão fim à maioria política do regime bipartidista. Para então, o desemprego pode rondar já o 30%. E não valerão as médias tintas.

26/04/2013

Governo demissão, eleições já!

Juan Torres López. Tirado de Público (aqui) e traduzido por À revolta entre a mocidade. Juan Torres López é catedrático de economia aplicada na Universidade de Sevilha.

Na rua e nas instituições são cada vez mais as vozes que pedem uma quebra democrática.



As últimas notícias sobre a economia espanhola e a reação do governo ante protesta-las cidadãs marcam ao meu julgamento um ponto definitivo de não volta.

Os dados do desemprego, o empeoramento das previsões de crescimento, a correção à alça da cifra de déficit ou a evolução dos indicadores do crédito, do consumo ou a produção industrial refletem que a ação do governo do Partido Popular é um desastre sem paliativo algum.

Nem uma só das reformas que foi adotando conseguiu o que lhe disseram aos cidadãos que ia conseguir. A reforma laboral multiplicou o desemprego, as financeiras não têm saneado para valer o sistema bancário nem recuperaram o crédito, a amnistia fiscal só serviu para que se valham dela os correligionarios dos governantes, e os recortes de direitos e despesas sociais em educação, previdência, pensões ou atenção à dependência nem sequer supõem uma diminuição substancial da dívida porque se mantêm os altos pagamentos por interesses ou o apoio generoso à banca e às grandes empresas.

Os dados são irrefutáveis e não há maneira alguma de salvar a gestão de Mariano Rajoy e do seu partido. O fechamento de empresas e os despedimentos cresce sem cessar, milhares de empresários perdem o seu património e os níveis de desemprego envergonham já e dão medo a próprios e estranhos. A economia não levanta cabeça se olhe por onde se olhe, a pobreza está a aumentar dramaticamente, sobretudo entre as pessoas maiores e os jovens e meninos, milhares de pessoas e lares perdem as suas moradas, os serviços públicos se degradam por momentos e os rendimentos das famílias caem estrondosamente, gerando não só sofrimento senão a ruína das pequenas e médias empresas que vivem deles, ou de centos de municípios.

Mas nada disso afeta por igual a todas as pessoas porque, enquanto, o governo se dedica a salvar a cara e o cadeirão a banqueiros delinquentes, se nega a pesquisar aos responsáveis por todo o que está a passar e ajuda com a maior generosidade às grandes empresas, bancos e fortunas. Prova-o como feito assim mesmo irrefutável o aumento da concentração da renda e a riqueza e da desigualdade em Espanha.

Não se trata, pois, de um simples problema de incompetência do governo. Em realidade, o que tem que fazer para que os de acima saiam adiante em melhores condições o faz bem. Trata-se, ademais, de que nos governa um Partido que trai constantemente os interesses gerais, que se enroca na mentira e que limita as liberdades públicas para sortear os efeitos do seu falhanço ante a gente normal e corrente.

Rajoy e o Partido Popular, como antes lhe passou a Zapatero e ao PSOE, se renderam ante os poderes económicos europeus e os seus representantes políticos, e puseram a Espanha de joelhos ante a Troika e ante a reaccionaria Senhora Merkel, que não é senão a marioneta vestida de ideóloga liberal dos grandes bancos e corporaciones alemãs.

A política de austeridade que defendem é uma grande fraude quando vai acompanhada de quase 5 biliões de euros em ajudas à banca ou de quase 400.000 milhões de euros anuais em troca de interesses aos bancos privados, e está perfeitamente demonstrado que não pode ter os efeitos beneficiosos que dizem que tem, senão todo o contrário. O próprio Rajoy demonstra a sua incapacidade e a sua traição quando pede pela boca garota ajudas ao crescimento ou que o Banco Central Europeu desempenhe outro papel, ou quando cala ante os efeitos devastadores que provoca na população mais desfavorecida.

Os ministros, o próprio Rajoy e os dirigentes do Partido Popular mentem com descaro constantemente dizendo à cidadania o que sabem que não vai ocorrer e apresentando as suas medidas como o que não são, tal e como ao cabo de pouco tempo se comprova sem dificuldade, o que explica o desafeto continuado do seu próprio eleitorado.

O governo do Partido Popular só atua com mão firme à hora de controlar os meios públicos, de reprimir e criminalizar os protestos sociais, de modificar as normas que beneficiam aos mais poderosos, incluída a hierarquia de extrema direita da Igreja Católica, ou de dissimular os casos de escandalosa corrupção entre as suas próprias ringleiras. E assim está a propiciar uma involución evidente nas liberdades civis e na democracia já de por sim imperfecta da que gozamos.

O perigo é que todo isso vai ir a mais, como demonstram as medidas que sibilinamente já se anunciaram, em matéria de pensões, por exemplo, e que é possível que hoje mesmo se ponham de novo em marcha no conselho de ministros.

O Estado espanhol está em perigo governada por políticos que, como demonstram os dados dos seus sobresoldos milionários que estamos a conhecer, são simples mercenários com a boca cheia de palavras vazias e de mentiras.

Há que pôr fim a esta situação e os partidos políticos que nos levaram à situação em que estamos não podem nos sacar dela. É imprescindível uma reação cidadã em defesa da liberdade, da dignidade e dos direitos humanos e sociais e da democracia que estão em perigo. É necessário um protagonismo muito maior das pessoas normais e correntes, as que dia-a-dia sacam adiante as suas empresas, os seus empregos, os seus estudos, as suas famílias ou às pessoas que estão ao seu lado, as que sabem trabalhar bem e criar riqueza e que não procuram se fazer ricos a qualquer preço senão ser pessoas decentes e cumprir honestamente com as suas obrigações e responsabilidades. É urgente acabar com a corrupção, pesquisar para conhecer aos responsáveis por todo o que nos passou, aos políticos que se levam o dinheiro, aos banqueiros e bancários que nos defraudaram, às fortunas que defraudam  aos juízes que não atuam contra todos estes delinquentes, às autoridades que não vigiam e deixaram fazer... É precisa a unidade cidadã acima de diferenças de segunda ordem para salvar o que para valer é agora o prioritário, para se enfrentar com decisão e inteligência a quem fizeram com que Europa se traia a si mesma e se empenham na destruir, para pôr em marcha um projeto de regeneração política, económica e social que nos saque das desesperança e do medo, para lutar contra a fraude em todas as suas manifestações, para recobrar a ilusão em nós mesmos e para garantir que todos tenhamos o mesmo direito ao futuro em bem-estar e com segurança.

Há que pôr fim a este governo porque dele só se podem esperar novos e mais dolorosos e inúteis saltos ao vazio, há que reclamar novas eleições e há que conseguir que coincidam a elas candidaturas cidadãs de nova fatura que tragam o ar fresco que acabe de uma vez com este pesadelo.

06/09/2012

Uma forma particular de sadismo

Ignacio Ramonet. Tirado de Outras Palavras (aquí). Ignacio Ramonet é presidente da Associação Memória das Lutas (Medelu) e editor do Le Monde Diplomatique, edição espanholaTradução: Hugo Albuquerque. Á revolta entre a mocidade é um projeto aberto a colaborações e desenvolvido completamente com achegas de militantes ligado com o Encontro Irmandinho e com Anova Irmandade Nacionalista.  Encorajamos-vos a colaborar para podermos continuar vertendo ao galego as vozes críticas do planeta. 

Ramonet: insistência dos dirigentes europeus no sofrimento social inspira-se em Schumpeter — mas assemelha-se curiosamente às ideias do Marquês de Sade
Sadismo? Sim, sadismo. Como chamar de outra forma a complacência com aquilo que humilha as pessoas e as faz sofrer? Durante estes anos de crise, temos assistido — na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e outros países da União Europeia (UE) — à impediosa aplicação do ritual de punição “austeritária” exigido pela Alemanha, o que tem provocado um crescimento exponencial dos flagelos sociais (desemprego, pobreza, mendicância, suicídios).
Apesar disso, Angela Merkel e seus aliados continuam a afirmar que sofrer é bom e que, ao invés de suplício, o ato deveria ser considerado um instante de prazer… Segundo eles, cada nova expiação nos purificará, nos regenerará e nos aproximará do fim da tormenta. Essa filosofia da dor não se inspira no Marquês de Sade, mas sim nas teorias de Joseph Schumpeter, um dos pais do neoliberalismo, segundo o qual todo sofrimento social responde a um necessário objetivo econômico; e será errado, em consequência, amenizar o suplício, mesmo que ligeiramente.
Eis que Angela Merkel entra em cena como Wanda, a dominadora, encorajada por um coro de fanáticas instituições financeiras (Bundesbank, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional…) e por todos os eurocratas sectários habituais (José Luís Barroso, Von Rompuy, Olli Rehn, Joaquin Almunia…). Todos apostam na existência de um masoquismo popular, que empurraria os cidadãos não apenas à passividade, mas a clamar por mais punições e mortificações — ad maiorem Europa gloriam [Para maior glória da Europa, trocadilho com ad maiorem Dei gloriam, lema dos jesuítas (Nota da Tradução]. Sonham realmente em administrar os povos por meio daquilo que a polícia chama de “golpe do boa-noite cinderela” —  isto é, fazer uso de substâncias capazes de eliminar total ou parcialmente a consciência das vítimas, deixá-las sem forças para, enfim, torná-las marionetes nas mãos de seus agressores. Mas devem tomar cuidado, porque as massas começam a rugir.
Na Espanha, por exemplo, onde o governo conservador aplica políticas selvagens de austeridade ao limite do sadismo, as manifestações de descontentamento social se multiplicam. Neste momento, o país se encontra (com a Grécia) no coração da crise financeira mundial. O presidente do governo, Mariano Rajoy, e sua equipe econômica têm dado, ao longo dos últimos meses, a impressão de avançar sem bússula. Dirigem a crise bancária com uma evidente falta de jeito, notadamente por deixar ocorrer a falência do Bankia e por praticar o negacionismo mais limítrofe, a propósito do plano de resgate europeu dos bancos espanhóis, que o ministro da economia local, Luis de Guindos, apresenta como a concessão de uma simples linha de crédito, que não afeta em nada o déficit público.
De fato houve, depois, a Cúpula Europeia de 28 e 29 de Junho — uma pressão conjugada da França, Itália e Espanha a fim de aceitar que o novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla em inglês) possa emprestar diretamente aos bancos europeus em dificuldade (notadamente os espanhóis), sem que essa ajuda onere a dívida soberana dos Estados. Em contrapartida, contudo, os Estados deverão aplicar políticas severas de ajuste e austeridade exigidos pela UE, e ceder uma parte de sua soberania em matéria orçamentária e fiscal.
Berlim quer se beneficiar do choque causado pela crise, e de sua posição dominante, para alcançar um velho objetivo: integração política da Europa de acordo com as condições alemãs.  ”Nosso projeto hoje — declarou Merkel num discurso no parlamento alemão, o Bundstag  — é atingir o que não foi feito (quando o euro foi criado) e acabar com o ciclo vicioso da dívida infinita e da não-aplicação das regras. Eu sei que isso é duro, doloroso. É uma tarefa hercúlea, porém indispensável”.
Se o chamado “salto federal” ocorrer, e se a Europa avançar rumo a uma maior união política, isso significará, para cada Estado-membro da UE, renunciar a novos elementos de sua soberania nacional. Uma instância central poderia intervir diretamente para ajustar o orçamento público e fixar os tributos de cada Estado, em nome dos compromissos europeus. Quais países estão dispostos a abandonar sua soberania nacional? Porque, se ceder certos aspectos da soberania é inevitável,  em um processo de integração como a União Europeia, é necessário dizer também que não se deve confundir federalismo com neocolonialismo… 
Nos países da UE atualmente sujeitos aos planos de resgates, essas perdas de soberania já são uma realidade. Sobre a Espanha, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, também disse que a “troika” (BCE, Comissão Europeia e FMI) irá controlar a reestruturação do sistema bancário. Será que isso mudará depois da decisão adotada na Cúpula Europeia de 28 e 29 de Junho últimos?
Isso é provável porque, como têm apontado os economistas Niall Ferguson e Nouriel Roubini: “A estratégia de recapitalizar os bancos, forçando os Estados a tomar emprestado dos mercados nacionais de bônus — ou do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) — foi desastrosa para a Irlanda e Grécia, pois isso causou uma explosão da dívida pública e tornou os Estados ainda mais insolventes. E, ao mesmo tempo, os bancos tornaram-se eles mesmos um risco incontrolável, na medida em que passaram a deter uma parcela ainda maior da dívida pública”.
Se isso não funcionou, por que persistir com essas políticas “de austeridade” por tantos anos? A inquietação das sociedades tem conseguido retardar o sadismo econômico encarnado pela Alemanha. Mas por quanto tempo?


17/07/2012

España entra na espiral da morte

Antoni Doménech, Daniel Raventós e G. Buster. Artigo tirado de SinPermiso (aqui) e traducido por Revolta Irmandiña.




O pasado venres, 13 de xullo, o Consello de Ministros aprobou o radical paquete de medidas de austeridade fiscal procíclica anunciadas por Rajoy en sede parlamentaria dous días antes. "Non dispomos de máis lei nin de máis criterio que o que a necesidade nos impón. Facemos o que non nos queda máis remedio que facer, tanto se nos gusta coma se non nos gusta. Son o primeiro en estar a facer o que non lle gusta": palabras literais  dun presidente máis nervioso, máis inseguro e con peor dicción que de costume. É a segunda vez en dous anos que unha escena así se produce nas Cortes: o 11 de xullo de 2012 de Rajoy é o 10 de maio de 2010 de Zapatero.

Zapatero deuse un autogolpe de Estado para evitar, supostamente, o golpe da intervención da Troika. Co resultado de todos coñecido: todo foi a peor, como non podía ser doutro xeito  cunhas políticas procíclicas de consolidación fiscal e recortes de dereitos sociais e ingresos populares nun país, entón, cun desemprego superior ao 20%, o 45% dos mozos en paro e a demanda efectiva en rápido proceso de contracción. Agora anúnciase un recorte anual para o próximos tres anos de máis do 2% do PIB, nun país con máis do 25% da súa poboación activa desempregada, máis do 50% dos mozos en paro -ducias e ducias de milleiros convertidos xa en emigrantes- e unha demanda efectiva en caída libre

De ideas milagreras, retóricas electorais e axendas ocultas

Rajoy subiu ao poder coa idea milagrera -avalada por toda unha corte de tertulianos, todólogos mediáticos e pseudoeconomistas disque profesionais- de que bastaba pouco máis que un goberno conservador de xentes de viso na Moncloa para recuperar a "confianza" dos mercados financeiros internacionais e a benevolencia dos burócratas de Bruxelas e de Francfort. Esa era a idea "técnica" básica.

Había, ademais, unha retórica de campaña electoral rectificadora do xiro antisocial de Zapatero: non se tocaría aos pensionistas, non se tocaría aos funcionarios públicos, non se recortarían dereitos nin en educación, nin en sanidade (quen di copago?), nin na cobertura do paro;  habería austeridade e consolidación fiscal, por suposto, pero trataríase dunha "austeridade expansiva" (sic), facilitadora do crecemento económico (non se subiría o IVE, claro que non!). Contra o entreguismo de Zapatero, defenderíase a soberanía nacional; España sabería facerse respectar na UE e ante a Troika: o Reino, en fin, non sería intervido, nin informal nin, menos, formalmente. Por fin alguén faría valer a "marca España".

E había, por suposto, unha axenda oculta. Coa escusa da necesidade de benquistarse aos mercados financeiros e recuperar a "confianza" perdida pola calamitosa xestión do PSOE, acometer un conxunto de contrarreformas -incoadas xa polo goberno Zapatero e longamente anheladas pola dereita social española- que alterasen radical e irreversibelmente a relación de forzas. Que reconfiguraran a constitución social do país, particularmente a regulación do mercado de traballo. Que reordenasen pro domo sua, a favor do poder político-económico do PP, a fatalmente danada estrutura bancaria (o que pasaba crucialmente por converter a Bankia nun coloso financeiro privado promiscuamente vinculado ao partido). Que terminasen de pór en almoneda e desmantelar o sector público, puxesen proa á conversión da vida económica do noso país nun rimero interminábel de peaxes privatizadas, cobrábeis por rentistas improductivos de toda laia, nacionais e estranxeiros, e entrasen por uvas na máis ou menos disimulada tarefa de recentralizar administrativamente e xibarizar o "Estado de Medioestar" español, como atinadamente chamouno nalgunha ocasión Gaspar Llamazares.

A axenda oculta, nunha palabra, consistía en aproveitar a crise para consolidar até as últimas consecuencias o tipo de capitalismo oligopólico de amiguetes politicamente promiscuos construído polo PSOE e o PP nas últimas décadas e recolocar ao núcleo político dirixente conservador na nova situación. Se se quere, e por servirnos do neoloxismo moi á mantenta inventado polo académico da lingua Emilio Lledó, pasar da economía política do capitalismo oligopólico de amiguetes, ao casino de negocios público-privados dos "amigantes" (que rima con mangantes).

Do fracaso, tamén, da axenda oculta

En tan só 6 meses de goberno, a realidade da crise levouse xa por diante a idea "técnica" básica do programa electoral do PP, a da "confianza": a prima de risco non deixou de subir, a renda variábel non deixou de baixar, o interese dos bonos españois disparouse até pasar todos os niveis de alarma (7%), e o que é máis grave e perentorio, comezou a acelerarse unha fuga masiva de capitais e depósitos bancarios, cuxo ritmo anual se estima agora mesmo nun 50% do noso PIB! Un pánico bancario desatado, peligrosísimo para España e para o conxunto da UE, ao que non son alleas as sucesivas torpezas do goberno Rajoy no manexo da crise de solvencia da banca española. E a todo iso, a unión bancaria e a garantía europea de depósitos -única medida eficaz para conter a hemorraxia-, seguen agora tan lonxe, se non máis, que antes da famosa cimeira do pasado 28/29 de xuño. Pasaron só dúas semanas, e parecen meses. Tempo suficiente, en calquera caso, para que varios sedicentes "europeístas" demostrasen unha vez máis a súa incapacidade para comprender a natureza da crise política europea e se cubrisen co máis bobalicón dos ridículos. 

Como previsto por todo o mundo, de desmentir a retórica electoral encargouse o propio goberno non ben entrou en exercicio. Pero o verdadeiramente interesante é a sorte que correu en só 6 meses o desenvolvemento da axenda oculta do PP. Porque a posta por obra do "programa oculto" fundábase tamén na necia idea da restauración da "confianza" (e na pésima diagnose -compartido co núcleo dirixente do PSOE- da natureza da presente crise europea que subxace a esa idea). A realización do programa oculto de Mariano Rajoy pasaba decisivamente por evitar a intervención de España pola Troika; intervido o Reino, todo cambia. Non importa o groseiro balbordo forofesco dos deputados do PP a cada anuncio de recorte declarado polo xefe, nin sequera o obsceno "que se fodan" aos parados dunha descerebrada que quenta escano nas Cortes. Farto máis significativo antóllase o rostro desalterado do Presidente do goberno. Porque, aínda que se entende, do que verdadeiramente se despedía era da súa axenda oculta.

E despedirse da axenda oculta non era só despedirse do verdadeiro programa partidista con que accedeu ao goberno. É moito máis. É despedirse de toda unha época política e económica que ese programa trataba de salvar, e ao seu modo, perpetuar, rectificándoa pola vía de escorar irrreversibelmente, até onde se puidese, o seu centro de gravitación cara á dereita. É moi significativo que o Consello de Ministros do pasado venres comezase non en Moncloa, senón na Zarzuela, co monarca en persoa presidindo a sesión do recoñecemento oficial de todos os fracasos. Como agarrándose a un cravo ardendo, precisamente ao amparo dun Rei de todo punto desacreditado ante a opinión pública e convertido nos últimos meses na cara visíbel do fracaso nacional e do fin de época. No símbolo mesmo da agónica fatiga política, social e moral do réxime da Segunda Restauración borbónica que foi a Transición democrática.

Res ipsa loquitur: ministros que filtran segredos da súa carteira (o escándalo da ministra Báñez e o ERE do PSOE); unha rede xigantesca de espionaxe a empresas e cidadáns e compra e venda de datos privados protexidos pola lei coa conivencia das institucións privadas e públicas -incluídos os servizos secretos- encargadas de protexelos; socialización da corrupción do público ao privado coas preferentes, como se viu coa apertura da causa contra os xerentes de Bankia, a CAM e CaixaNovaGalicia; o bloqueo dun poder xudicial incapaz de autogobernarse, carente da lexitimidade democrática que só poden outorgarlle os cidadáns, e non o escalafón da xudicatura e os acordos baixo man entre o PP e o PSOE; uns incendios pavorosos que non se poden extinguir polos recortes do gasto público; amnistía aos depredadores urbanísticos da propiedade común das costas; amnistía aos defraudadores fiscais... Que máis?

A espiral da morte

Coas medidas de recortes e austeridade fiscal que impuxo a Troika ao goberno, España entra na espiral da morte. É dicir, aventúrase pola senda que levou ao suicidio económico, social e político ás nacións até agora intervidas (Grecia, Portugal, Irlanda). A dinámica é farto coñecida: as drásticas medidas procíclicas de austeridade fiscal encamiñadas a reducir a débeda e o déficit públicos xeran destrución de empresas e de emprego, esborralle dos salarios, caída da demanda agregada, descenso dos ingresos fiscais do Estado e, para pechar o círculo vicioso, ulterior crecemento do endebedamento público, acrecida desconfianza dos acredores internacionais e novas e máis desapoderadas esixencias de austeridade e consolidación fiscais e consecuente degradación do Estado social, do ensino, da sanidade, da cobertura do desemprego.

Nesa perspectiva, perdida a soberanía monetaria e sen autoridade fiscal común na UE, o círculo vicioso só podería romper cunha enérxica mellora da exportación. Os últimos datos respecto diso non son nada bos. E non cabía esperar outra cousa. Primeiro, porque a diferenza de Portugal, por exemplo, onde o sector exportador representa preto do 50% da súa economía, a exportación española significa apenas un terzo, é dicir que polo menos dous terzos da demanda dos produtos das empresas españolas veñen dun mercado interior deprimido polo paro crecente, polo tremendo estado de endebedamento das familias e das empresas españolas, polos recortes salariais públicos e privados, polo terríbel aumento do IVE, polas novas taxas universitarias, polo copago sanitario, por presentes e vindeiras peaxes de usuario no acceso aos bens públicos ou comúns; nunha palabra, polas extremistas políticas de austeridade fiscal. E segundo: porque as políticas de austeridade incompetentemente impostas a escala europea deprimiron a demanda continental, e o groso das nosas exportacións -como as dos alemáns, dito sexa de pasada- van parar a unha eurozona devastada por esas suicidas políticas procíclicas de consolidación fiscal.

É evidente que o núcleo dirixente do PP é a estas alturas perfectamente consciente de todo iso. O fracaso estrepitoso de Montoro é o fracaso da axenda oculta dunha dereita política española que era aínda orgánica en intereses oligárquicos máis ou menos nacionalmente arraigados, e que tiña intereses electorais propios. É aventurado -e seica necio- dicir que estamos a asistir ao triunfo do "independente" e "cosmopolita" De Guindos, ese fracasado xestor europeo dos intereses do crebado banco norteamericano Lehman Brothers.

Porén do que non cabe a menor dúbida é de que decidir -ou achandarse a- meter a España na espiral da morte trae consecuencias devastadoras para a identidade de quen o propón (o PP). Para a identidade de quen o aplaude, xactándose mesmo de propolo antes (Duran i Lleida). Para a identidade de quen o tolera "responsabelmente" e aínda acompáñao como "inevitábel" e "necesario" con dous que tres excepcións e matices e tres que catro lagrimitas impostadas (Rubalcaba). E desde logo para a identidade política de quen, aplaudíndoo no fondo, só pretenden aproveitarse do río revolto para promover aquí ou alá a súa propia axenda superficialmente populista (o desmantelamento do Estado das Autonomías, á Rosa Díez; a pantasma do pacto fiscal catalán sen contido social para xustificar, á Mas, o seu cruel ofensiva en toda regra contra os dereitos das clases populares).

Como as elites políticas coloniais tradicionais

As medidas de choque decididas -"sen liberdade"- por Rajoy a semana pasada van contra os intereses mediatos e inmediatos da inmensa maioría da poboación española, incluídas esas clases medias madrileñas abrumadoramente votantes do PP que perderían todos os seus aforros coa estafa de Bankia e Caixa Madrid. A espiral da morte ao estilo grego non só ten consecuencias económicas e sociais devastadoras; ten tamén consecuencias para as propias elites políticas que se achandan de maior ou menor grao ao suicidio da nación. Porque perden a súa identidade política como representantes fiduciarios máis ou menos lexítimos de distintos intereses sociais máis ou menos atopados, para converterse paulatinamente en castes políticas de tipo colonial, sen arraigamento social na poboación. Franz Fanon  describiu hai xa moitos anos a ese tipo de elites coloniais n' Os condenados da Terra, unha obra mestra da literatura anticolonialista dos anos 60.

Este era o tenor literal da súa descrición: as elites coloniais, calquera que sexa o matiz da súa cor política:

- negan aos pobos a seguridade nos postos de traballo;

- reducen os ingresos do groso da poboación ao nivel de subsistencia;

- levan aos pobres á desesperación;

- buscan con teimosía desmantelar os movementos e as organizacións sociais, sinaladamente os sindicatos obreiros;

- empéñanse en degradar o sistema educativo, de modo que só as elites poidan ter acceso á educación superior;

- fan leis á medida das empresas transnacionais saqueadoras;

- criminalizan o disenso, a crítica e á oposición política non acomodaticia.

O corolario desa clásica descrición do facer das elites coloniais era o comportamento que buscaban inducir na poboación: o medo e a sensación de inestabilidade xerados por esas políticas garantían a pasividade da poboación, forzada a derivar cara á propia supervivencia persoal todas as enerxías dispoñíbeis.

O mellor do bo discurso parlamentario de Cayo Lara -convertido de facto no xefe de toda a oposición nas Cortes, incluídos, verosímilmente, os parlamentarios socialistas abatidos polas frívolas paiasadas de Rubalcaba- é que entendeu perfectamente este punto. Non só traizoou Rajoy ao seu propio electorado ao violar groseramente as promesas do seu programa, non só, isto é, fracasou como político democrático, senón que fracasou tamén na promoción da súa axenda oculta -soberana-, é dicir, fracasou como político tecnocrático. Duplo fracaso. Imponse a consulta popular.

Até un xornalista tan cargantemente circuelocuente como Pedro J. Ramírez viuse na necesidade de recoñecer sen reservas o obvio, aínda que sexa para saír cínicamente ao paso:

"Noutras circunstancias o recoñecemento desta súbita perda de autonomía democrática debería levar aparellada a dimisión do goberno de quenda, a disolución do Parlamento e a convocatoria de novas eleccións. Pero ninguén está a pedir que Rajoy faga iso porque o seu rotundo triunfo electoral foi moi recente e, como indican todas as sondaxes, non se percibe ningunha alternativa fiábel. Máis ben existe o consenso de que ao líder do PP tócalle cargar coa cruz do que será unha crecente impopularidade, xestionar coa maior solvencia posíbel a execución do diktat de Bruxelas e tratar de que a desagradábel travesía do deserto conclúa canto antes." ["Protectorado de 'soberanía suspendida'", El Mundo, 15 xullo 2012.]

Quen comprenda minimamente a natureza da crise política europea, ou quen polo menos saiba algo de macroeconomía elemental, ou quen, se máis non, molestouse en informarse un pouco da experiencia de Grecia, Irlanda e Portugal desde a súa intervención, sabe xa que o que vén non é "unha desagradábel travesía do deserto" destinada a "concluír canto antes". Senón a entrada nunha verdadeira espiral da morte.

Que a poboación sexa, ou non, presa do pánico, que se entregue, ou non, a unha inerme pasividade política cruzado o portalón desa espiral, dependerá da decisión con que o conxunto da esquerda social e política deste país -sindicatos obreiros, 15 M, colectivos de parados e traballadores precarizados, representantes institucionais (locais, autonómicos e estatais) das esquerdas federalistas e soberanistas, asociacións cidadás, colectivos culturais, investigadores e académicos comprometidos, grupos de apoio aos desafiuzados, afectados as estafas bancarias, pequenos comerciantes arruinados polo IVE, autónomos acurralados pola inopinada subida do seu IRPF, etc.- saiban axuntar vontades e expor como unha necesidade perentoria a convocatoria dun referendo democrático que, manifesta e clamorosamente fracasadas as elites reitoras dominantes, permita aos pobos de España elixir libremente o seu destino nun dos momentos máis dramáticos da nosa historia, que, como ben dixo hai moitos anos o poeta, é a máis triste de todas as historias.  

13/07/2012

Por que a Espanha vai ferver

Tirado de Outras Palavras (aqui). Por Pep Valenzuela, correspondente em Barcelona 

Madri, 11/7: milhares de mineiros chegam à capital e são recebidos por uma multidão, em protesto contra medidas do governo
Cresce onda de protestos contra corte radical de direitos, imposto pela “troika”. Sindicatos e M-15 convocam manifestação nacional quinta-feira
O presidente do governo espanhol anunciou no Parlamento, nesta quarta-feira (11/7), um pacote de cortes do gasto público, que será sacramentada hoje (13/7), numa reunião de governo presidida pelo chefe do Estado, o rei Juan Carlos. As medidas são um verdadeiro golpe de Estado sob comando da chamada troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), que continua impondo aos europeus cortes de direitos, mesmo depois de estas políticas agravarem a crise numa série de países.
Cabe avaliar duas questões especiais. A primeira é submissão total, e assumida, do governo espanhol à troika. A própria mídia tradicional de mais prestígio (os diários El País e La Vanguardia, por exemplo), fala de “intervenção” na economia espanhola. Enric Juliana, colunista do segundo jornal citado, a fazer paralelo com o “18 Brumário de Luis Bonaparte”, e fala do “12 de Maio de Mariano (nome do presidente Rajoy) Bonaparte”.
De fato, o próprio presidente Rajoy afirmou, na sessão de apresentação da nova política, que ela não é o que ele pretendia, mas que “não haveria nenhuma outra opção”. Foi a ponto de relatar sua relação constrangedora com as autoridades europeias em Bruxelas. “Cheguei lá e me falaram: ‘olha, mas o déficit da Espanha não era só de até o 6%’? E aí, eu ia dizer o que?”. Isso mesmo, limita-se a receber ordens. A economia está sob intervenção, sem disfarce algum.
A segunda questão é que, mesmo reconhecendo a “intervenção”, as políticas em curso dão continuidade às praticadas até 2003 pelo governo de José Maria Aznar, no qual Rajoy foi ministro. Já àquela época, o Partido Popular adotou as teses mais duras do receituário neoliberal. Ou seja deixar tudo nas mãos “invisíveis” do mercado, eliminar a política e a possibilidade de definição consciente sobre os rumos do país.
O pacote a ser aplicado hoje tem como medida mais visível o aumento do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA, equivalente ao ICMS brasileiro). Ou seja o tributo mais indireto, que menos incide sobre os ricos (pois entesouram a maior parte de sua riqueza) e mais castiga os setores populares (cuja renda é praticamente toda consumida a cada mês). Além disso, o governo vai eliminar o abono de Natal pago a milhões de servidores públicos e limitar direitos adquiridos como uma quota de dias de “livre disposição” para assuntos próprios.
Os servidores públicos já sofreram dois cortes anteriores de salários – o primeiro deles, com o presidente Zapatero, do Partido “Socialista”. Mas não serão os únicos atingidos. Haverá corte do seguro-desemprego, nova contra-reforma das aposentadorias (para torná-la mais difícil e precária), redução dos subsídios pagos a pessoas incapacitadas.
Outras medidas, também anunciadas ontem, provocam re-centralização do poder e limitação da democracia real. Anuncia-se uma redução de 30% do número de vereadores nos municípios, redução de empresas públicas locais, mais controle das contas das prefeituras por servidores da administração central. Isso no contexto de transferência de competências das prefeituras para as Diputaciones (um tipo de órgão administrativo eleito indiretamente, intermediário entre as prefeituras e os governos regionais). Ou seja, as prefeituras vão perder boa parte da atual capacidade de autogoverno. Com, isso a cidadania perde possibilidade de exercício efetivo e direto da democracia.
Ao mesmo tempo, serão reduzidas em 20% as subvenções para partidos políticos e sindicatos, o que significará limitar a ação dos mesmos e sua autonomia em relação aos governos.
O governo central vem culpando aos governos autônomos (semelhantes aos Estados brasileiros) por boa parte do déficit. Cobra deles maiores recortes e redução de gastos, o que apronfunda mais ainda a reconcentração de poder e a perda de espaços de democracia. Nada faz, enquanto isso, para conter a imensa transferência de recursos para a oligarquia financeira, que exige taxas de juros cada vez mais elevadas do Estado espanhol.
Mas os credores são impiedosos e nunca se satisfazem. Ontem, menos de 24 horas após o anúncio do pacote, exigiram, para rolar os títulos da dívida espanhola, taxas ainda mais altas. Tudo isso num contexto, segundo a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, de crescente deterioração da economia mundial e redução das previsões de crescimento para 2012.
A resposta popular não demorou. No mesmo dia em que o presidente Rajoy anunciava o pacote, mineiros em protesto enchiam as ruas centrais da capital, recebidos calorosamente pela população. Centenas de servidores públicos protestavam nas portas do Parlamento, onde falava o presidente do governo. Na quinta-feira houve passeatas e protestos em muitas cidades. Uma grande jornada de luta está marcada para a próxima quinta-feira (19 de julho), em dezenas de cidades. Somam-se para convocá-la setores que normalmente não estão juntos: Sindicatos majoritários (Comisiones Obreras e Unión General de los Trabajadores), centrais e sindicatos alternativos, setores do 15M, que articularam no ano passado o movimento dosindignados.
A indignação social não pára de crescer. Ninguém poderia imaginar, há apenas dois anos, que o país chegaria onde está. Direito econômicos e sociais que fizeram parte da vida quotidiana, durante décadas, hoje estão sendo liquidados. Falamos sem dúvida de uma regressão civilizatória. Há muito para se fazer. E, como escreveu há dias Rafael Poch, outro colunista de La Vanguardia, espalha-se na Europa a sensação de queAgora, somos todos gregos!