Mostrando postagens com marcador Lehman Brothers. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lehman Brothers. Mostrar todas as postagens

13/08/2012

O que há de escandaloso no escândalo Libor?

Immanuel Wallerstein. Artigo tirado de Carta Maior (aqui). (*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net



Desde 4 de julho, lemos nos maiores jornais do mundo e nas declarações de deputados, dirigentes de bancos centrais e autoridades judiciais que há um “escândalo” a envolver uma coisa chamada Libor. Antes disso, poucas pessoas, para além do grupo que se interessa por bancos, tinham ouvido falar da Libor. Subitamente, disseram-nos que os maiores bancos da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, da Suíça, da Alemanha, de França, e provavelmente de um grande número de outros países, estavam envolvidos em ações supostamente “fraudulentas”.


Além disso, explicaram-nos que não se tratava de uma questão de centavos. Derivados financeiros de centenas de trilhões de dólares baseiam-se na taxa Libor. A acusação era de que os bancos “manipulavam” esta taxa, obtendo não só lucros astronómicos; só que, por outro lado, as pessoas que estavam pagando hipotecas e empréstimos, ou os estudantes que estavam pagando empréstimos, pagaram mais do que deveriam. Resumindo: os bancos obtiveram, de fato, lucros enormes à custa de outros, que tiveram perdas pesadas.



Tudo isso suscitou muitas questões. (1) Como isso foi possível? (2) Por que as autoridades reguladoras não interromperam uma prática que agora dizem ser tão fraudulenta; ou seja: quem sabia o quê e quando? E (3) alguma coisa pode ser feita para garantir que isto não aconteça novamente?



Vamos começar com a definição da taxa Libor. É uma abreviação de London Interbank Offered Rate (Taxa Interbancária Praticada em Londres). Não é muito antiga: a versão definitiva é de 1986. Na época, a British Bankers Association (Associação dos Banqueiros Britânicos) pediu que os “maiores bancos” compartilhassem informação diária sobre as taxas de juros que pagariam, se tomassem empréstimos de outros bancos. Depois de eliminados os valores extremos, determinava-se uma taxa média, modificada diariamente. A ideia era que, se os bancos se sentissem confiantes sobre o estado da economia, a taxa seria mais baixa; se estivessem inseguros, a taxa seria mais alta.



Quando a imprensa mundial usou a palavra “escândalo” para falar sobre a Libor, ficou claro que o tema tinha sido debatido muito antes, em ambientes menos visíveis. Parece que o Wall Street Journal tinha divulgado um estudo, em 29 de maio de 2008 (sim, em 2008!), sugerindo que alguns bancos estavam subestimando os custos dos empréstimos. Outros imediatamente disseram que o estudo era impreciso ou, se correto, que os bancos tinham agido de forma inadvertida. Análises acadêmicas subsequentes sugeriram, contudo, que a acusação de subestimação dos custos era de fato verdadeira.



A questão é que quando um banco está a lidar com 50 trilhões de dólares em valores teóricos, uma pequena subestimação de taxas gera imediatamente um aumento significativo dos lucros. Assim, a tentação era óbvia. Acontece que, já no início de 2007, tanto o Federal Reserve quanto o Banco da Inglaterra suspeitaram dessa subnotificação. Nenhum fez muita coisa.



Agora dizem-nos que essas taxas, longe de serem confiáveis ou estáveis, são na verdade meras “suposições”. Desde que o Lehman Brothers entrou em colapso, os bancos em todo o mundo deixaram de realizar empréstimos entre si. Como disse o New York Times, num artigo de 19 de julho de 2012: “As taxas precisas têm pouca base real”. Em 2011, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos começou uma investigação criminal. Graças a fugas de informação, sabemos agora que houve trocas de e-mails entre banqueiros que falavam alegremente da subestimação das taxas, e encorajavam a fazê-lo. Por que não? Estavam a ganhar muito dinheiro.



No meio disto tudo, o Independent publicou uma reportagem de duas páginas sobre os paraísos fiscais, e a quantidade incrível de dinheiro que sai dos países do Sul global para esses lugares, privando-os assim de valores que provavelmente seriam mais que suficientes para financiar as transformações econômicas e a redistribuição de rendimentos que estes países afirmam querer pôr em prática. Ao contrário das manipulações da Libor, os paraísos fiscais são perfeitamente legais.



Então, onde está o escândalo? As duas práticas – manipulação da Libor e transferência de dinheiro para os paraísos fiscais – são absolutamente normais numa economia-mundo capitalista. A finalidade do capitalismo, afinal de contas, é a acumulação de capital – quanto mais, melhor. Um capitalista que não maximiza os ganhos, de uma forma ou de outra, será mais tarde ou mais cedo eliminado do jogo.



O papel dos Estados nunca foi controlar ou limitar estas práticas, mas fazer vista grossa pelo máximo de tempo possível. Uma vez ou outra, as práticas – dos capitalistas e dos Estados – são momentaneamente expostas. Algumas pessoas vão para a cadeia, ou são forçadas a devolver os lucros tecnicamente ilegais. E os políticos falam de reformas – procurando adotar, com grande alarde, o nível mais baixo de “reforma” que puderem.



Mas isto não é um escândalo, porque o que se chama de “escândalo” é, na verdade, o coração do sistema. Algum dia vai isto mudar? Sim, claro. Um dia, o sistema deixará de existirá. Claro que isso abre outra questão. O próximo sistema será melhor? É possível, mas não é certo.



Enquanto isso, chamar a manipulação da Libor de escândalo é desviar as atenções do fato de que se trata de mais uma forma normal de acumular capital. Em 1992, James Carville, estrategista da campanha do então candidato Bill Clinton à Presidência dos EUA, saiu-se com um dito que ficou famoso: “É a economia, estúpido”. Frente aos chamados escândalos, deveríamos dizer “É o sistema, estúpido”.


Á revolta entre a mocidade é um projeto de informação e formação militante. Um semanário de análise que procura deitar olhadas diferentes, críticas e reflexivas que rompam com as visões do binômio político-mediático da II Restauração bourbónica. O trabalho é ingente e agradece-se qualquer contributo para poder seguir mantendo este projeto que vem de ultrapassar já os dous anos de vida. 

17/07/2012

España entra na espiral da morte

Antoni Doménech, Daniel Raventós e G. Buster. Artigo tirado de SinPermiso (aqui) e traducido por Revolta Irmandiña.




O pasado venres, 13 de xullo, o Consello de Ministros aprobou o radical paquete de medidas de austeridade fiscal procíclica anunciadas por Rajoy en sede parlamentaria dous días antes. "Non dispomos de máis lei nin de máis criterio que o que a necesidade nos impón. Facemos o que non nos queda máis remedio que facer, tanto se nos gusta coma se non nos gusta. Son o primeiro en estar a facer o que non lle gusta": palabras literais  dun presidente máis nervioso, máis inseguro e con peor dicción que de costume. É a segunda vez en dous anos que unha escena así se produce nas Cortes: o 11 de xullo de 2012 de Rajoy é o 10 de maio de 2010 de Zapatero.

Zapatero deuse un autogolpe de Estado para evitar, supostamente, o golpe da intervención da Troika. Co resultado de todos coñecido: todo foi a peor, como non podía ser doutro xeito  cunhas políticas procíclicas de consolidación fiscal e recortes de dereitos sociais e ingresos populares nun país, entón, cun desemprego superior ao 20%, o 45% dos mozos en paro e a demanda efectiva en rápido proceso de contracción. Agora anúnciase un recorte anual para o próximos tres anos de máis do 2% do PIB, nun país con máis do 25% da súa poboación activa desempregada, máis do 50% dos mozos en paro -ducias e ducias de milleiros convertidos xa en emigrantes- e unha demanda efectiva en caída libre

De ideas milagreras, retóricas electorais e axendas ocultas

Rajoy subiu ao poder coa idea milagrera -avalada por toda unha corte de tertulianos, todólogos mediáticos e pseudoeconomistas disque profesionais- de que bastaba pouco máis que un goberno conservador de xentes de viso na Moncloa para recuperar a "confianza" dos mercados financeiros internacionais e a benevolencia dos burócratas de Bruxelas e de Francfort. Esa era a idea "técnica" básica.

Había, ademais, unha retórica de campaña electoral rectificadora do xiro antisocial de Zapatero: non se tocaría aos pensionistas, non se tocaría aos funcionarios públicos, non se recortarían dereitos nin en educación, nin en sanidade (quen di copago?), nin na cobertura do paro;  habería austeridade e consolidación fiscal, por suposto, pero trataríase dunha "austeridade expansiva" (sic), facilitadora do crecemento económico (non se subiría o IVE, claro que non!). Contra o entreguismo de Zapatero, defenderíase a soberanía nacional; España sabería facerse respectar na UE e ante a Troika: o Reino, en fin, non sería intervido, nin informal nin, menos, formalmente. Por fin alguén faría valer a "marca España".

E había, por suposto, unha axenda oculta. Coa escusa da necesidade de benquistarse aos mercados financeiros e recuperar a "confianza" perdida pola calamitosa xestión do PSOE, acometer un conxunto de contrarreformas -incoadas xa polo goberno Zapatero e longamente anheladas pola dereita social española- que alterasen radical e irreversibelmente a relación de forzas. Que reconfiguraran a constitución social do país, particularmente a regulación do mercado de traballo. Que reordenasen pro domo sua, a favor do poder político-económico do PP, a fatalmente danada estrutura bancaria (o que pasaba crucialmente por converter a Bankia nun coloso financeiro privado promiscuamente vinculado ao partido). Que terminasen de pór en almoneda e desmantelar o sector público, puxesen proa á conversión da vida económica do noso país nun rimero interminábel de peaxes privatizadas, cobrábeis por rentistas improductivos de toda laia, nacionais e estranxeiros, e entrasen por uvas na máis ou menos disimulada tarefa de recentralizar administrativamente e xibarizar o "Estado de Medioestar" español, como atinadamente chamouno nalgunha ocasión Gaspar Llamazares.

A axenda oculta, nunha palabra, consistía en aproveitar a crise para consolidar até as últimas consecuencias o tipo de capitalismo oligopólico de amiguetes politicamente promiscuos construído polo PSOE e o PP nas últimas décadas e recolocar ao núcleo político dirixente conservador na nova situación. Se se quere, e por servirnos do neoloxismo moi á mantenta inventado polo académico da lingua Emilio Lledó, pasar da economía política do capitalismo oligopólico de amiguetes, ao casino de negocios público-privados dos "amigantes" (que rima con mangantes).

Do fracaso, tamén, da axenda oculta

En tan só 6 meses de goberno, a realidade da crise levouse xa por diante a idea "técnica" básica do programa electoral do PP, a da "confianza": a prima de risco non deixou de subir, a renda variábel non deixou de baixar, o interese dos bonos españois disparouse até pasar todos os niveis de alarma (7%), e o que é máis grave e perentorio, comezou a acelerarse unha fuga masiva de capitais e depósitos bancarios, cuxo ritmo anual se estima agora mesmo nun 50% do noso PIB! Un pánico bancario desatado, peligrosísimo para España e para o conxunto da UE, ao que non son alleas as sucesivas torpezas do goberno Rajoy no manexo da crise de solvencia da banca española. E a todo iso, a unión bancaria e a garantía europea de depósitos -única medida eficaz para conter a hemorraxia-, seguen agora tan lonxe, se non máis, que antes da famosa cimeira do pasado 28/29 de xuño. Pasaron só dúas semanas, e parecen meses. Tempo suficiente, en calquera caso, para que varios sedicentes "europeístas" demostrasen unha vez máis a súa incapacidade para comprender a natureza da crise política europea e se cubrisen co máis bobalicón dos ridículos. 

Como previsto por todo o mundo, de desmentir a retórica electoral encargouse o propio goberno non ben entrou en exercicio. Pero o verdadeiramente interesante é a sorte que correu en só 6 meses o desenvolvemento da axenda oculta do PP. Porque a posta por obra do "programa oculto" fundábase tamén na necia idea da restauración da "confianza" (e na pésima diagnose -compartido co núcleo dirixente do PSOE- da natureza da presente crise europea que subxace a esa idea). A realización do programa oculto de Mariano Rajoy pasaba decisivamente por evitar a intervención de España pola Troika; intervido o Reino, todo cambia. Non importa o groseiro balbordo forofesco dos deputados do PP a cada anuncio de recorte declarado polo xefe, nin sequera o obsceno "que se fodan" aos parados dunha descerebrada que quenta escano nas Cortes. Farto máis significativo antóllase o rostro desalterado do Presidente do goberno. Porque, aínda que se entende, do que verdadeiramente se despedía era da súa axenda oculta.

E despedirse da axenda oculta non era só despedirse do verdadeiro programa partidista con que accedeu ao goberno. É moito máis. É despedirse de toda unha época política e económica que ese programa trataba de salvar, e ao seu modo, perpetuar, rectificándoa pola vía de escorar irrreversibelmente, até onde se puidese, o seu centro de gravitación cara á dereita. É moi significativo que o Consello de Ministros do pasado venres comezase non en Moncloa, senón na Zarzuela, co monarca en persoa presidindo a sesión do recoñecemento oficial de todos os fracasos. Como agarrándose a un cravo ardendo, precisamente ao amparo dun Rei de todo punto desacreditado ante a opinión pública e convertido nos últimos meses na cara visíbel do fracaso nacional e do fin de época. No símbolo mesmo da agónica fatiga política, social e moral do réxime da Segunda Restauración borbónica que foi a Transición democrática.

Res ipsa loquitur: ministros que filtran segredos da súa carteira (o escándalo da ministra Báñez e o ERE do PSOE); unha rede xigantesca de espionaxe a empresas e cidadáns e compra e venda de datos privados protexidos pola lei coa conivencia das institucións privadas e públicas -incluídos os servizos secretos- encargadas de protexelos; socialización da corrupción do público ao privado coas preferentes, como se viu coa apertura da causa contra os xerentes de Bankia, a CAM e CaixaNovaGalicia; o bloqueo dun poder xudicial incapaz de autogobernarse, carente da lexitimidade democrática que só poden outorgarlle os cidadáns, e non o escalafón da xudicatura e os acordos baixo man entre o PP e o PSOE; uns incendios pavorosos que non se poden extinguir polos recortes do gasto público; amnistía aos depredadores urbanísticos da propiedade común das costas; amnistía aos defraudadores fiscais... Que máis?

A espiral da morte

Coas medidas de recortes e austeridade fiscal que impuxo a Troika ao goberno, España entra na espiral da morte. É dicir, aventúrase pola senda que levou ao suicidio económico, social e político ás nacións até agora intervidas (Grecia, Portugal, Irlanda). A dinámica é farto coñecida: as drásticas medidas procíclicas de austeridade fiscal encamiñadas a reducir a débeda e o déficit públicos xeran destrución de empresas e de emprego, esborralle dos salarios, caída da demanda agregada, descenso dos ingresos fiscais do Estado e, para pechar o círculo vicioso, ulterior crecemento do endebedamento público, acrecida desconfianza dos acredores internacionais e novas e máis desapoderadas esixencias de austeridade e consolidación fiscais e consecuente degradación do Estado social, do ensino, da sanidade, da cobertura do desemprego.

Nesa perspectiva, perdida a soberanía monetaria e sen autoridade fiscal común na UE, o círculo vicioso só podería romper cunha enérxica mellora da exportación. Os últimos datos respecto diso non son nada bos. E non cabía esperar outra cousa. Primeiro, porque a diferenza de Portugal, por exemplo, onde o sector exportador representa preto do 50% da súa economía, a exportación española significa apenas un terzo, é dicir que polo menos dous terzos da demanda dos produtos das empresas españolas veñen dun mercado interior deprimido polo paro crecente, polo tremendo estado de endebedamento das familias e das empresas españolas, polos recortes salariais públicos e privados, polo terríbel aumento do IVE, polas novas taxas universitarias, polo copago sanitario, por presentes e vindeiras peaxes de usuario no acceso aos bens públicos ou comúns; nunha palabra, polas extremistas políticas de austeridade fiscal. E segundo: porque as políticas de austeridade incompetentemente impostas a escala europea deprimiron a demanda continental, e o groso das nosas exportacións -como as dos alemáns, dito sexa de pasada- van parar a unha eurozona devastada por esas suicidas políticas procíclicas de consolidación fiscal.

É evidente que o núcleo dirixente do PP é a estas alturas perfectamente consciente de todo iso. O fracaso estrepitoso de Montoro é o fracaso da axenda oculta dunha dereita política española que era aínda orgánica en intereses oligárquicos máis ou menos nacionalmente arraigados, e que tiña intereses electorais propios. É aventurado -e seica necio- dicir que estamos a asistir ao triunfo do "independente" e "cosmopolita" De Guindos, ese fracasado xestor europeo dos intereses do crebado banco norteamericano Lehman Brothers.

Porén do que non cabe a menor dúbida é de que decidir -ou achandarse a- meter a España na espiral da morte trae consecuencias devastadoras para a identidade de quen o propón (o PP). Para a identidade de quen o aplaude, xactándose mesmo de propolo antes (Duran i Lleida). Para a identidade de quen o tolera "responsabelmente" e aínda acompáñao como "inevitábel" e "necesario" con dous que tres excepcións e matices e tres que catro lagrimitas impostadas (Rubalcaba). E desde logo para a identidade política de quen, aplaudíndoo no fondo, só pretenden aproveitarse do río revolto para promover aquí ou alá a súa propia axenda superficialmente populista (o desmantelamento do Estado das Autonomías, á Rosa Díez; a pantasma do pacto fiscal catalán sen contido social para xustificar, á Mas, o seu cruel ofensiva en toda regra contra os dereitos das clases populares).

Como as elites políticas coloniais tradicionais

As medidas de choque decididas -"sen liberdade"- por Rajoy a semana pasada van contra os intereses mediatos e inmediatos da inmensa maioría da poboación española, incluídas esas clases medias madrileñas abrumadoramente votantes do PP que perderían todos os seus aforros coa estafa de Bankia e Caixa Madrid. A espiral da morte ao estilo grego non só ten consecuencias económicas e sociais devastadoras; ten tamén consecuencias para as propias elites políticas que se achandan de maior ou menor grao ao suicidio da nación. Porque perden a súa identidade política como representantes fiduciarios máis ou menos lexítimos de distintos intereses sociais máis ou menos atopados, para converterse paulatinamente en castes políticas de tipo colonial, sen arraigamento social na poboación. Franz Fanon  describiu hai xa moitos anos a ese tipo de elites coloniais n' Os condenados da Terra, unha obra mestra da literatura anticolonialista dos anos 60.

Este era o tenor literal da súa descrición: as elites coloniais, calquera que sexa o matiz da súa cor política:

- negan aos pobos a seguridade nos postos de traballo;

- reducen os ingresos do groso da poboación ao nivel de subsistencia;

- levan aos pobres á desesperación;

- buscan con teimosía desmantelar os movementos e as organizacións sociais, sinaladamente os sindicatos obreiros;

- empéñanse en degradar o sistema educativo, de modo que só as elites poidan ter acceso á educación superior;

- fan leis á medida das empresas transnacionais saqueadoras;

- criminalizan o disenso, a crítica e á oposición política non acomodaticia.

O corolario desa clásica descrición do facer das elites coloniais era o comportamento que buscaban inducir na poboación: o medo e a sensación de inestabilidade xerados por esas políticas garantían a pasividade da poboación, forzada a derivar cara á propia supervivencia persoal todas as enerxías dispoñíbeis.

O mellor do bo discurso parlamentario de Cayo Lara -convertido de facto no xefe de toda a oposición nas Cortes, incluídos, verosímilmente, os parlamentarios socialistas abatidos polas frívolas paiasadas de Rubalcaba- é que entendeu perfectamente este punto. Non só traizoou Rajoy ao seu propio electorado ao violar groseramente as promesas do seu programa, non só, isto é, fracasou como político democrático, senón que fracasou tamén na promoción da súa axenda oculta -soberana-, é dicir, fracasou como político tecnocrático. Duplo fracaso. Imponse a consulta popular.

Até un xornalista tan cargantemente circuelocuente como Pedro J. Ramírez viuse na necesidade de recoñecer sen reservas o obvio, aínda que sexa para saír cínicamente ao paso:

"Noutras circunstancias o recoñecemento desta súbita perda de autonomía democrática debería levar aparellada a dimisión do goberno de quenda, a disolución do Parlamento e a convocatoria de novas eleccións. Pero ninguén está a pedir que Rajoy faga iso porque o seu rotundo triunfo electoral foi moi recente e, como indican todas as sondaxes, non se percibe ningunha alternativa fiábel. Máis ben existe o consenso de que ao líder do PP tócalle cargar coa cruz do que será unha crecente impopularidade, xestionar coa maior solvencia posíbel a execución do diktat de Bruxelas e tratar de que a desagradábel travesía do deserto conclúa canto antes." ["Protectorado de 'soberanía suspendida'", El Mundo, 15 xullo 2012.]

Quen comprenda minimamente a natureza da crise política europea, ou quen polo menos saiba algo de macroeconomía elemental, ou quen, se máis non, molestouse en informarse un pouco da experiencia de Grecia, Irlanda e Portugal desde a súa intervención, sabe xa que o que vén non é "unha desagradábel travesía do deserto" destinada a "concluír canto antes". Senón a entrada nunha verdadeira espiral da morte.

Que a poboación sexa, ou non, presa do pánico, que se entregue, ou non, a unha inerme pasividade política cruzado o portalón desa espiral, dependerá da decisión con que o conxunto da esquerda social e política deste país -sindicatos obreiros, 15 M, colectivos de parados e traballadores precarizados, representantes institucionais (locais, autonómicos e estatais) das esquerdas federalistas e soberanistas, asociacións cidadás, colectivos culturais, investigadores e académicos comprometidos, grupos de apoio aos desafiuzados, afectados as estafas bancarias, pequenos comerciantes arruinados polo IVE, autónomos acurralados pola inopinada subida do seu IRPF, etc.- saiban axuntar vontades e expor como unha necesidade perentoria a convocatoria dun referendo democrático que, manifesta e clamorosamente fracasadas as elites reitoras dominantes, permita aos pobos de España elixir libremente o seu destino nun dos momentos máis dramáticos da nosa historia, que, como ben dixo hai moitos anos o poeta, é a máis triste de todas as historias.  

02/05/2012

Privatizalo todo

Ramón Cotarelo. Artigo tirado de Público.es (aquí) e traducido por Revolta IrmandiñaRamón Cotarelo é catedrático de ciencias políticas.



Para os colectivos máis radicais a crise non é unha crise senón unha estafa. Ten toda a pinta, desde logo porque, se non está moi claro como se desencadeou en concreto, debido a que decisións e de quen, si o está, pois non o ocultan, a quen beneficiou e segue beneficiando: aos famosos fondos de risco, aos financeiros, aos especuladores, aos bancos rescatados con diñeiro público, aos executivos das grandes empresas a quen estas compensan pola súa incompetencia con bónus millonarios. En definitiva, a quen a provocaron. É razoábel pensar que o fixesen á mantenta, como unha estafa, e é lamentábel comprobar que ningún país dispón de posibilidades de pór fin a estes comportamentos ou de castigalos. Os mercados son o terreo da lei do máis forte e a ideoloxía económica dominante, pagada nos seus centros de fabricación por eses mesmos beneficiados, pretende que siga sendo así. E así seguirá sendo mentres os poderes políticos tamén obedezan os ditados de quen se lucran con tan inxusto barullo.

Ademais dunha estafa a crise é un pretexto, unha ocasión para o desenvolvemento dun modo de produción que non admite outra lóxica que o triunfo total dos seus orzamentos. O capitalismo alcanza o seu triunfo político coa revolución burguesa cuxo símbolo é a abolición do "antigo réxime" outro nome para o feudalismo que, en esencia, non é outra cousa que a confusión entre o público e o privado ou a privatización de todas as relacións de poder pois se basea nos contratos de submisión persoal dos vasallos aos señores. Agora ben, unha vez terminado ese antigo réxime e separado o público do privado, a burguesía sacraliza o ámbito da sociedade civil, das relacións mercantís e pretende colonizar o Estado e instrumentalizarlo ao servizo deses intereses privados. É dicir, vencendo o réxime feudal, o capitalismo pretende refeudalizar o Estado someténdoo non ás relacións bilaterais entre particulares senón ás multilaterais do mercado mais non menos privadas. Para o capitalismo o Estado, os poderes públicos, non son o garante do ben común (concepto que ten por quimérico) senón o cuarto de bandeiras no que se defenden os intereses dunhas ou outras escuadras económicas. Os gobernantes son os representantes de intereses económicos concretos e xestionan a cousa pública no seu propio beneficio, actual ou postergado. Non hai diferenza moral entre favorecer hoxe como gobernante un monopolio e embolsarse por iso un diñeiro ou favorecelo hoxe e que, dentro duns anos, ao deixar de ser gobernante, o monopolio te nomee directivo, como sucede con Aznar ou Elena Salgado.

Isto en circunstancias de normalidade. Nas de crises, o capitalismo aprovéitase da conciencia de excepcionalidade da situación para acoirazar as súas políticas e levar a termo as súas intencións. Todo o aparello do Estado debe ser privatizado. Que para iso haxa que razoar en contra do sentido común é irrelevante desde o momento en que se ten fórzalle e faise valer. O discurso de que o Estado do benestar é insustentable contradi de cheo a práctica de privatizar os seus servizos esenciais porque se estes fosen ruinosos, ninguén os compraría cando o que se observa, ao contrario, é unha verdadeira carreira entre as empresas privadas (moitas veces xestionadas por amigos e achegados dos gobernantes nun proceso cleptocrático) para ver quen queda cos mellores servizos públicos. Proba de que son rendíbeis. É a xestión deliberadamente ruinosa e despilfarradora da dereita a que os converte en deficitarios co propósito de vendelos enganando á xente (á que se esquilma) ao dicirlle que, cando se lle rouba algo, non se lle rouba senón que lla libera dunha carga.

Toda a política de privatización é o que o seu nome indica, un espolio de bens públicos, patrimonio da colectividade, do común, en beneficio duns empresarios que, ademais, adoitan ser grupos multinacionais que defraudan ás súas propias facendas e só enriquecen aos políticos que tomaron as decisións e ás súas deudos e achegados. Esta é a forma da dereita de entender a política e, curiosamente, é tal a inopia intelectual da esquerda que este discurso do saqueo do común en proveito do rico é dominante.

O actual goberno de España é un exemplo do que aquí se di. Que sexa ministra de Traballo unha señora que non traballou na súa vida, que non sabe que sexa unha nómina e que xamais se empregou no sector privado ou no público, dá unha idea de en que estima ten o PP os dereitos daqueles a quen Cospedal di representar: os traballadores. Pola contra, que sexa ministro de Economía un exresponsábel de Lehman Brothers, o banco que está na raíz desta crise/estafa, indica igualmente a quen atende o goberno e de quen recibe as ordes. Entre eses dous, todos os demais son os mozos dos recados.

09/04/2012

Arcadi Oliveres: “Outorgamos á banca 4.600.000.000.000 $, suficiente para acabar coa fame 92 veces”

Fai unhas semanas tivemos a oportunidade de asistir e grabar unha palestra que Arcadi Oliveres deu en Bilbo organizada por Emaus Fundación Social.  A palestra durou hora e meia e paga a pena desde o primeiro até o último minuto. Hoxe traemos o que acreditamos que foron os mellores intres da palestra. A cifra do resgate á banca vai no cabezallo con todos os números para que nos fagamos unha idea da magnitude da cantidade. É o equivalente ao PIB do Estado español e alemán xuntos.


14/02/2012

A Grécia como um modelo em escala para a Europa

J. Carlos de Assis. Tirado de Carta Maior (aqui).  Economista e professor, coautor, com o matemático Francisco Antônio Doria, de O universo neoliberal em desencanto, Ed. Civilização Brasileira. Esta coluna sai às terças também no site Rumos do Brasil e no jornal Monitor Mercantil.

 

A Grécia não tem peso suficiente para desequilibrar financeiramente a Europa, pois representa apenas algo como 2% da eurozona, mas o que acontece nela é uma espécie de modelo em escala reduzida do cenário europeu e norte-americano que inevitavelmente seguirá o curso que ela tomar. Sob o nome um tanto pomposo de consolidação da dívida pública grega, os neoliberais incrustados no Banco Central Europeu, na Comissão Europeia e no FMI tentam proteger de perda total a finança privada inflada pela maior especulação da história do capitalismo. Dificilmente serão bem sucedidos.

No meio de múltiplos dados e estatísticas bilionárias e trilionárias divulgadas diariamente pela imprensa cobrindo praticamente o mundo todo, é muito fácil para o homem comum perder a perspectiva do que de fato está acontecendo na economia planetária. Contudo, em termos conceituais, tudo é muito simples. Especulou-se demais a partir do mercado imobiliário americano e de alguns países da Europa (Espanha, por exemplo). Essa especulação vazou para o mundo todo através dos sistemas financeiros globalmente conectados. Uma enorme bolha financeira, formada por lucros fictícios, descolou-se da economia real. Seu valor efetivo era uma fração do valor de face.

Toda bolha financeira um dia estoura. Às vezes, no mercado acionário. Outras vezes, quando se exagera nos financiamentos externos (crise dos juros no Terceiro Mundo no início dos 80). Em geral, para que a esfera financeira especulativa se reconcilie com a economia real, os detentores dos créditos se defrontam com perdas certas. Isso, contudo, pode ser atenuado no mercado de títulos onde parte das perdas são patrimoniais e recuperáveis: se a pessoa não precisar de vender as ações no curto prazo, pode esperar melhores condições de mercado mesmo que isso leve anos. Já no mercado de dívida bancária a situação é diferente.

A especificidade da crise atual é que ela resultou de especulação no coração do sistema bancário americano e mundial. Os bancos ofereceram créditos, embrulharam os créditos em títulos arriscados, embaralharam títulos com outros títulos, venderam para seguradoras e fundos, recompraram de seguradoras e fundos, e sancionaram a especulação imobiliária na base oferecendo empréstimos para quem não podia pagar. A partir de 2007, os mais espertos já sabiam que isso não ia durar muito. Com efeito, em 2008, a crise estourou quando o Lehman Brothers, o quinto maior banco de investimento dos Estados Unidos, simplesmente quebrou com bilhões de títulos podres em carteira.

Nos Estados Unidos, as autoridades do Tesouro e do Fed imaginaram inicialmente poder deixar que o mercado “liberal” resolvesse a crise. Logo verificaram que, sem interferência oficial, todo o sistema capitalista, a partir do núcleo bancário, colapsaria. O Bank America e o Citigroup, os dois maiores, estavam em pior situação: o Governo teve que estatizá-los parcialmente. Em seguida, foi feito um teste de stress em relação aos outros 17 maiores conglomerados bancários comerciais, constatando-se que o Fed teria que manter suas torneiras de crédito subsiado abertas para garantir o sistema funcionando.

Nos Estados Unidos, porém, depois do custo inicial de US$ 800 bilhões ainda no governo Bush, a sustentação do sistema ficou em sua maior parte a cargo do Fed, sem que isso caracterizasse um subsídio irrecuperável. De qualquer forma, o sistema se beneficiou largamente de condições financeiras que permitiram, e ainda permitem, excelentes condições de arbitragem: os bancos tomam dinheiro a um custo de quase zero por cento do Fed e o aplicam, sem risco, nos títulos do Tesouro rendendo 3,5%. É uma simples operação eletrônica, sem qualquer custo. Com isso, facilitou-se o processo de financiamento requerido pelo pacote fiscal – este, sim, à conta do Tesouro e do cidadão – de US$ 787 bilhões do governo Obama, lançado no início de 2009.

Entretanto, a salvação bancária americana é um fato que está longe de ter sido superado. Giram no mercado cerca de US$ 6 trilhões em hipotecas, estimando-se que algo como US$ 1,5 a US$ 2 trilhões sejam de perda certa quando chegar seu vencimento. Os bancos terão de renegociá-las e, principalmente, fazer lucro a curto prazo ou captar no mercado os recursos necessários para cobrir essas perdas pois, caso contrário, quebram. Como são grandes demais para quebrar, eventualmente terão de ser salvos pelo governo, a despeito do risco moral e da indignação dos cidadãos que se verão espoliados pela especulação privada em mais essa rodada.

Na Europa o comprometimento estatal foi mais longe. Os governos tiveram que salvar seus bancos injetando bilhões de dólares em seus caixas. Alguns, como os ingleses Royal Scotland Bank e o Barclays tiveram de ser estatizados. O mesmo destino tiveram os bancos irlandeses. Neste caso, para evitar sua quebra efetiva, foi o Estado que virtualmente quebrou. Na pequenina Islândia, o governo, pressionado por plebiscitos, foi mais sábio: deixou quebrarem três bancos que, em comparação a seu PIB, eram gigantescos. Até na Alemanha o segundo maior banco, o Commenzbank, teve que ser parcialmente estatizado. Note-se que, na zona do euro, a salvação dos bancos ficou quase totalmente a cargo dos tesouros – portanto, dos cidadãos -, já que o BCE limitou a compra de títulos públicos dos governos.

O circuito da crise financeira é, pois, o seguinte: especulação exagerada no mercado de hipotecas, inadimplência, quebra ou ameaça de quebra dos bancos mais expostos e mais ambiciosos, intervenção dos governos para impedir a quebra dos muito grandes (oito centenas de médios e pequenos foram deixados ir à garra só nos Estados Unidos), programas de ajuste fiscal para reduzir o consequente déficit e a dívida pública dos governos a pretexto de tranquilizar os mercados quanto a seu pagamento, destruição do estado de bem-estar social. Isso funcionará? Claro que não, bastando ver a situação de Irlanda, Portugal e Grécia, todas vítimas dos programas de ajuste, e todas sem saída. E não é preciso esperar muito para surgirem as consequências do desastre não só nas ruas de Atenas; é que se verá, no resto da Europa, que de te fabula narratur.