13/12/2010

Mais uma crítica ao texto do IGEA sobre a situação da língua

Tirado do Facebook de Celso Álvarez Cáccamo. A nota fai referência ao seu artigo reproduzido no nosso blogue e que comentou Henrique Monteagudo no seu próprio Facebook após um servidor ter partilhado a devantita ligaçom com ele. Segundo Monteagudo: "sinceramente, coido que o texto de Celso non achega nada especialmente novo: é claro que vincular de xeito excluínte a lingua co nacionalismo tivo e ten resultados catastróficos para o galego, e GPH e este inform...e parten precisamente da premisa de que a normalización da lingua interesa ao todos os galegos, independentemente da súa ideoloxía (e ao nacionalismo interésalle especialmente que a xente o vexa xusto así); é claro tamén que bilingüismo pode entenderse como competencias ou como usos (mira que sopresa!!) e iso está explicitado no informe do IGEA... Porén, todos os contributos, sempre que non recaian na furia cainita, son ben recibidos, aínda que algún redundeun pouco no consabido...".
Recomendamos para nom perder o fio do debate ler também o informe IGEA original, como nom, mais outros artigos de pessoas próximas à UPG ou a +BNG. Que cada quem julgue de por si. e tire as suas conclusons. O negrito, o itálico e todo o texto representa-se no original (convém aclará-lo porque á que na maioria dos artigos o negrito é nosso para resaltar o que nos parece interessante). Um de Robert Neal Baxter, outro de Eladino Cabanelas Fernández, Craig Patterson, Anxo Quintana, Henrique Monteagudo, Pilar García Negro e ainda mais algum artigo que com certeza nos deixamos no tinteiro.
Em nossa opiniom  a ciência sempre avança no debate no espaço público, mas nesta polémica nom há debate nengum por parte de boa parte dos que nela intervenhem, com desqualificaçons e a clássica pose dos que se apresentam como os únicos depositários da verdade revelada. Gera profunda tristura que empreguem [e nom falo do Celso e do Henrique desde logo, para mim dous bons e generosos] a língua na sua teima de depuraçom do "inimigo interno" para controlar um cada vez mais cadavérico aparato. Isso, também é bem certo, é algo que se produze em todas as forças políticas em descomposiçom e o BNG nom ia ser umha excepçom. Já com a polémica aquela do "hibridismo" me comecei a preocupar seriamente, mas isto é já é cousa do esperpento de Valle-Inclán. Ainda que com muito pouco a ver com a polémica actual acho que algumhas cousas som ainda aproveitáveis dumha reflexom dum servidor exprimida naquela altura e com motivo do Decreto de Plurilingüismo.



Afirmei nalgum lugar que o documento do IGEA sobre a língua ("Por un proxecto de futuro para o idioma galego. Unha reflexión estratéxica", http://igea.eu.com/fileadmin/publicaciones/igea_informe_00_def2_02.pdf ) não podia produzir nada novo para o debate. A mesma crítica me faz o autor desse texto, Henrique Monteagudo, no seu Mural de Facebook, a respeito dum texto meu que anda por aí, ("Monolinguismo, bilinguismo, hegemonia: Não são só palavras" http://celso.blogaliza.org/2010/12/05/monolinguismo-bilinguismo-hegemonia-nao-sao-so-palavras/ ): que não digo quase nada novo ;-).  Quisera reiterar por que sim penso que em "Monolinguismo..." se diz algo, com muita clareza, nomeadamente: (a) Que nem o documento do IGEA nem a planificação nem o ativismo linguístico consideram nem compreendem as complexas bases sociais reais das condutas linguísticas, e sem esse trabalho é impossível "normalizar" nada; e (b) que o único que faz o texto do IGEA é querer introduzir uma etiqueta muito problemática, "bilinguismo restitutivo", como se nisso só consistisse o debate e o discurso.  O resto do documento do IGEA contém ora outras ideias velhas, questionáveis, ora contradições. As minhas críticas continuam a ser bastantes, além da discordância com o enquadramento geral do acontecido com a planificação linguística nestas décadas.  Há sérias questões de fundo que dificultam que esse documento em si possa ser tomado, se lido com atenção, como um texto sociolinguístico útil para a promoção da língua.  Portanto, declaradamente, procuro argumentar que não é ;-) e sugiro, em qualquer caso, que se o ativismo linguístico (não as liortas partidárias) quer propor estratégias "novas" efetivas, deveria considerar começar por algum outro documento-base, não precozinhado.   Tentarei resumir as minhas críticas ao texto do IGEA:

(1) A centralização da "vontade" dos falantes para a "normalización": "O proceso de normalización da nosa lingua precisa de moitos puntos de apoio, mais entre todos eles hai un imprescindible: a vontade individual dos cidadáns galegos que utilizan todos os días, en todas e cada unha das súas actividades, o galego". (p. 7). Não: Os usos linguísticos reais (e portanto a sua expansão) não estão determinados por "vontades", mas por dinâmicas situadas (interacionais) mais complexas, que o documento não trata, onde entram em jogo disposições, ideologias linguísticas, decisões ("escolhas"), dinâmicas interacionais, etc. etc.

(2) A caraterização geral do que é o conflito linguístico (aqui e em qualquer sociedade) e do "monolinguismo social", na realidade quase caricaturizado.

(3) A confusão terminológica no uso de "bilinguismo": às vezes refere-se às condutas ("restitutivo"), às vezes aos direitos de uso das línguas ("bilingüismo equitativo, con pleno recoñecemento de dereitos iguais para a lingua propia e a do estado", p. 9).

(4) A ênfase na "diversidade" ("Aposta pola diversidade"), que, em lugar de orientada para a defesa do galego, parece orientada a desmontar a caricaturização do projeto de hegemonia do galego como uma ameaça a essa "diversidade" (isto é, ao uso do espanhol), numa preocupante reversão na interpretação da situação da língua.

(5) A confusão entre práticas linguísticas e grupos, estabelecendo categorias estancas de "grupos galego-falantes" e "espanhol-falantes", e sempre dirigindo-se a argumentação ao tratamento destes últimos.

(6) A renúncia à intervenção positiva dos poderes públicos em setores chave como os meios de comunicação privados (p. 11), perfeitamente suscetíveis de intervenção legislativa quanto ao uso da língua: "...que veñan a compensar a posición subordinada en que [o galego] se atopa noutros (nalgúns dos cales, coma os medios de comunicación privados, pola propia lóxica das cousas, dificilmente poderá equiparase co castelán)", p. 11.

(7)  A renúncia (contraditória) à possibilidade de condutas monolingues em galego ("Debemos ter en conta que o sector galegofalante da poboación xa é necesariamente bilingüe, pois a presenza pervasiva do castelán na vida pública e nos medios de comunicación garante que é aprendido por todos e asegura que todos deben usalo nun ou outro contexto social", p. 11, ênfase minha), em lugar de destacar a necessária superação desse "dever" de uso, que na realidade é fruto de um conjunto de fortes constrições na escolha de língua.

(8) A ênfase nas competências linguísticas, e também as competências em castelhano, o qual não deveria ser preocupação do galeguismo: "O bilingüismo restitutivo que propoñemos implicará a difusión da competencia comunicativa en galego e castelán ao conxunto da poboación, basicamente (pero non só) a través do medio educativo". (p.11)  (Isto, a propósito, já pode garanti-lo o Decreto de Plurilinguismo de Anxo Lorenzo).

(9) As generalidades quase-vazias, muito velhas em todo o discurso ativista sobre a língua: "O único xeito de garantir a igualdade entre os dous idiomas é incrementar a presenza, visibilidade e utilidade do galego e non reducila" (p. 11). "Hai que procurar as fórmulas axeitadas para fomentar esas actitudes positivas, refugando fomentar o rexeitamento cara ao galego, e apoiarse nesas actitudes favorables para facilitar a adquisición de competencia comunicativa na lingua, e traducir esta nun uso efectivo do galego ao menos nalgunhas interaccións sociais" (p. 11).

E (10), em conjunto e em resumo, uma ausência total de precisão sobre os mecanismos específicos de promoção dos usos do galego (isto é, da realização das competências em práticas sociais reais, que não consiste na in-corporação ideológica duma dada definição da situação sociolinguística) com base, talvez, a uma concepção quase supersticiosa ;-) de que a "renovação" do discurso público a meio da etiqueta "bilinguismo restitutivo" vá causar na cidadania uma disposição maior ao uso do galego, que é o que interessa. Não o creio assim. Todo o contrário: "bilinguismo restitutivo", na descrição feita, encaixa com a história da política e planificação linguística até agora, de resultados nefastos, de pretensa "normalización lingüística" (não "do galego") pretensamente "progressiva".  É exatamente o que diz querer o Decreto de Plurilinguismo e as medidas pontuais, fragmentárias, propagandístico-simbólicas a que nos tem habituado o departamento correspondente de Política Linguística.

Parece-me útil qualquer debate genuíno sobre a crise da língua. Mas continuo a considerar que esse texto do IGEA é deficiente para centralizar um debate produtivo, sobretudo quando parece que o único que se pretende na polémica que surgiu é a consagração duma etiqueta, "bilinguismo restitutivo".

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