28/03/2011

Direito à organização (outra vez)

Óscar de Lis. Artigo tirado de aqui.

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Na última época estamos a assistir a diversos movimentos internos nas organizações nacionalistas que suscitam um interesse certo entre a militância própria e entre aquela outra que milita contra. O último desses movimentos verificou-se apenas a semana passada com a criação da Liga Estudantil Galega (LEG) depois de militantes independentes e de Isca! abandonarem os Comités, que eram a organização referencial do estudantado galego embora a já anterior recuperação do MEU por +Galiza. A questão, embora se apresentar de maneiras diversas segundo quem a narrar, parece confluir por volta de uma ideia principal que poderia expressar-se do seguinte modo: “mais uma cisão no seio do nacionalismo galego”.

Pode dizer-se assim, como de facto diz a maior parte dos meios de comunicação aparentando um modo de dizer asséptico e livre que, na realidade, oculta uma poderosa potência comunicativa na palavra “cisão”. É sobre isto que hoje tratamos, trazendo de volta duas notas anteriores a respeito das acusações de “minifundismo” que também estiveram presentes quando apareceram o EI e o MGS (Da esquerda, das diferenças e das seitas) e a FOGa (Direito à organização vs. Outra vaca no milho).

Verbalizar “mais uma cisão no seio do nacionalismo galego” significa, em primeiro lugar, dotar de unidade orgânica a uma corrente, a do nacionalismo galego, que passa a entender-se como monolítica, conforme com a poderosa e quase incontornável tendência à simplificação dos problemas utilizando equivalências do tipo “nacionalismo = BNG”, “socialismo = PSOE” e “direita = PP”, que prescindem de qualquer complexidade: por exemplo, que no seio do BNG também há direita, que a instalação do PSOE no sócio-liberalismo está já mais que consumada ou que o PP também representa uma opção nacionalista oposta polo vértice à opção fundamental do nacionalismo galego; e que obviam até que não todo o nacionalismo galego está no BNG. Nessas coordenadas tão determinadas, que haja cisão significa, em pureza, que rompe o que antes estava unido (unificado), totalizando mais uma vez a equação “nacionalismo = BNG”. De modo que a cisão aparece como uma questão intrinsecamente má, prejudicial, perigosa e, aliás, surpreendente. Por outras palavras: uma cisão é um acontecimento inesperado, que não deveria acontecer porque se entende que a linha operativa e a existência das organizações políticas deveria ser uma linha mais ou menos recta, como de facto parece ser nos principais partidos do sistema, onde qualquer inconsistência interna permanece no interior e se oculta sistematicamente para preservar a inteireza do monólito.

Porém, o que nós necessitamos é uma análise mais reparada. Uma análise capaz de levar em conta a necessária existência de contradições entre militantes e que as não considere negativamente, mas, antes ao contrário, como uma realidade fundamental para que essa militância continue viva e não se necrose. Pode que muitas cisões demonstrem uma determinada incapacidade para sagrar uns determinados objetivos, neste caso políticos; mas, em qualquer caso, apenas se trata de uma incapacidade com implicações estratégias, nunca intrínsecas, facilmente solucionável desde que as diversas organizações queiram trabalhar com lealdade mútua por aqueles pontos em que as convirjam.

De resto, as acusações de minifundismo e cainismo volverão ocupar, nestes dias, o tempo e as forças da militância. Mas, ninguém pense que se trata de qualquer novidade. Ao contrário, são tão repetitivas que até é possível repetirmos exatamente a mesma conclusão dos artigos referidos: é certo que há multidão de correntes/partidos, e que amiúde o confronto se baseia em matizes e temas subalternos, quando não claramente prescindíveis. E é certo que entre certas pessoas podem calhar sentimentos de aborrecimento mútuo, não vamos ser nós os cândidos que não o vejamos. O nosso erro é esse nível de ódio interno, mas também a falha de perícia para comunicarmos que uma multidão de correntes prevê contra a tendência suicida à homologação, que debater não significa necessariamente parar de trabalhar e que, em qualquer caso, a confrontação é uma cousa e o ódio generalizado uma outra bem diferente. Um amigo disse-me uma vez: tudo soma. Até as discussões somam. E se não compreendermos isso, será melhor que deixemos de pensar em transformar nada.

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